Estilo: ficcão.
Natureza: novelinha.
Capítulo 13 (mês de outubro 2008, com um mês de atraso)
A residência do prefeito Dió já estava arrumada para o grande dia da festança. Logo na entrada, a empregada Natalina colocou um jacú com um rabo amarelo de um metro, pendurado em um círculo, dizendo ela que "o prefeito Dió sempre deu sorte com jacú".
Até que enfim chegou o mais belo dos dias. O dia do grandioso, aguardado e prometido banquete, em comemoração à espetacular vitória do prefeito Dió. Sua casa estava repleta de autoridades e não havia nenhum puxa por perto, para não "entulhar o ambiente" como pensava a empregada Natalina.
Pratos de porcelana inglesa em seus devidos lugares, acompanhados de talheres da Escandinávia, que luziam feito vidro do mais puro teor. A empregada Natalina tinha sido alçada ao posto de maître da cozinha, para ter a enorme incumbência de explicar a substância e a essência do paladar de cada iguaria a ser servida.
O prefeito Dió era só alegria e entusiasmo com aquela extraordinária vitória e a sua satisfação era maior ainda com a nova oportunidade para administrar por mais quatro anos este município que ele trazia lacrado no peito com muito orgulho e dedicação. O prefeito Dió comentava para que todos escutassem:
- Neste novo mandato vou ter uma devoção bem mais aprimorada pelo povo desta terra, bem mais do que no primeiro mandato, porque meu objetivo é ser o melhor prefeito da Bahia... – parou, quando foi obrigado a interromper o seu raciocínio, por ter ouvido uma voz feminina.
- Se vosmicê fizer o Matadouro de carneiro em Ipirá, vosmicê vai ser o melhor do Brasil – era a voz de Natalina interrompendo a frase do prefeito Dió.
O prefeito Dió observou que o pitaco tinha sido da empregada Natalina; fechou os olhos, balançou a cabeça, ao tempo em que, passava a mão pelos cabelos procurando alinhá-los, mas aproveitando a oportunidade foi dando as ordens:
- Prezada empregada Natalina providencie o primeiro prato, que essa nata da sociedade baiana, aqui presente, está querendo degustar e apreciar o manjar dos deuses feito à capricho por vossa experiência.
- Pois não prefeito Dió, vosmicê é quem ordena e eu é quem obedece, tô aqui é prá ajudá.
Alguns minutos depois, a empregada Natalina apareceu na sala do banquete, suas mãos estavam ocupadas com uma bandeja, que continha um monumental peito de ave com duas coxas esticadas e pontiagudas, apresentava uma cor de bronze platinada e estava rodeadas e embelezadas por cenouras gigantes e beterrabas perfeitamente redondas e folhas artesanalmente trabalhadas em figuras de macacos. Era uma tentação aquele brilho magnético e aparência lascívia para provocar os paladares e os desejos exacerbados da gula. A empregada Natalina, acompanhada de mais de cem garçonetes, foi entrando e gritando:
- Ui ! ui ! uiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii prefeito Dió, as delícias já está na mesa.
O governador, que estava junto ao prefeito Dió, indagou-lhe:
- O que está acontecendo ?
- É que esse aí é o prato ui ! ui ! uiiiiiiiiiiiiiiiii que está sendo servido agora. Minha empregada Natalina fez isso para mostrar que esse foi o prato mais ingerido em Ipirá de outubro para cá – explicou o prefeito Dió.
- Como assim ? – indagou o governador, que chamou a empregada Natalina e pediu para que ela falasse do prato.
- Dotô otoridade governadô ! é qui esse prato foi servido em muitas casa aqui na cidade, até mesmo nas casa qui não tinha o qui comê, aí as criançada e os adulto se assentava ao redó da mesa e começava a gritá, ui ! ui ! uiiiiiiiiiii e todo o mundo impazinava a barriga.
Todos estavam com água na boca e a disputa pelo primeiro prato servido foi sem cerimônia. A cúpula do PT de Ipirá caiu prá cima e comentavam uns com os outros: "isso aqui só pode ser jacú temperado com azeite vermelho do Conde" e soltavam gargalhadas; "farinha pouca meu pirão primeiro e com jacú baleado é melhor ainda, vamo cair de pau turma" e saboreavam gargalhadas; "vamo cascatá o bico desse jacú agoureiro em Ipirá" e tome-lhe gargalhada; "eu não sei onde era que eu estava que não vim para os macaco bem antes" e a sinfonia de gargalhadas dominava o ambiente.
A autoridade da Justiça brasileira, cheia de melindres, solicitou de uma garçonete uma porção daquela iguaria; cortou um pedacinho da delícia que estava em seu prato e colocou-o na pontinha da língua, com a boca fechada, os olhos cerrados e a cabeça para cima, saboreava com grande primor. A empregada Natalina que não perdia um detalhe, comentou baixinho no ouvido da garçonete que estava ao seu lado: "olha prá quela dita cuja, parece uma galinha bebendo água". A autoridade da Justiça brasileira não perdeu tempo para esnobar a sua grandeza e a sua satisfação e, em voz alta, para que todas as atenções voltassem em sua direção, falou:
- Que delícia ! isto parece a trajetória suprema para o paraíso. Nunca provei algo tão palatável e que desintegrasse do sólido para o líquido de forma tão doce, tão sublime e pacientemente sedutor. É simplesmente divino. Nem em Paris, quando estive lá, nos mais granfinos restaurantes da avenida Champs-Élysées, quando cotidianamente e intensivamente saboreei salmão ao molho de alcaparras; filé de avestruz ao molho de cumberland; pato rosé ao molho de agridoce; não posso deixar de lembrar, o Foie Gras, para quem não sabe, é feito com fígado de um pato ou ganso que foi super-alimentado, e é bom que se diga, tudo isso no Le Procope, no Moulin Rouge, no Le Fouquet’s, no restaurante do Hotel Le Meurice, no restaurante Paris Clermont, sempre acompanhado por um bom vinho Malbec de France, ou Impernal, ou Le Paradis, ou Beaujolais, que era o que eu mais gostava, por ser elegante, fino e excepcional no seu frescor inconfundível.
A empregada Natalina ouvia toda aquela verborréia consubstanciada e refinada na preciosidade da cozinha francesa, mas não ficava nem um pouco impressionada e acabrunhada, ao tempo em que ia pensando: "êta sujeita lutrida ! só qué sê a dona do louro José, nem sabe ela que tá saboreando um urubu, que é bicho super-alimentado aqui nesse Ipirá seco pur nascenaça" e só parou de pensar quando a autoridade da Justiça brasileira pediu para que ela chegasse até à mesa. O coração de Natalina quase parou.
SUSPENSE: o que será que vai acontecer com a empregada Natalina ? será que a autoridade vai desconfiar do que está comendo ? E o prefeito Dió, será que está por dentro do que está acontecendo no seu banquete ?
Leia o capítulo 12: mês de setembro 2008, logo abaixo.
OBSERVAÇÃO: essa novelinha é apenas uma brincadeira literária que envolve o administrador e o matadouro e, sendo assim, qualquer semelhança é mera coincidência.
Natureza: novelinha.
Capítulo 13 (mês de outubro 2008, com um mês de atraso)
A residência do prefeito Dió já estava arrumada para o grande dia da festança. Logo na entrada, a empregada Natalina colocou um jacú com um rabo amarelo de um metro, pendurado em um círculo, dizendo ela que "o prefeito Dió sempre deu sorte com jacú".
Até que enfim chegou o mais belo dos dias. O dia do grandioso, aguardado e prometido banquete, em comemoração à espetacular vitória do prefeito Dió. Sua casa estava repleta de autoridades e não havia nenhum puxa por perto, para não "entulhar o ambiente" como pensava a empregada Natalina.
Pratos de porcelana inglesa em seus devidos lugares, acompanhados de talheres da Escandinávia, que luziam feito vidro do mais puro teor. A empregada Natalina tinha sido alçada ao posto de maître da cozinha, para ter a enorme incumbência de explicar a substância e a essência do paladar de cada iguaria a ser servida.
O prefeito Dió era só alegria e entusiasmo com aquela extraordinária vitória e a sua satisfação era maior ainda com a nova oportunidade para administrar por mais quatro anos este município que ele trazia lacrado no peito com muito orgulho e dedicação. O prefeito Dió comentava para que todos escutassem:
- Neste novo mandato vou ter uma devoção bem mais aprimorada pelo povo desta terra, bem mais do que no primeiro mandato, porque meu objetivo é ser o melhor prefeito da Bahia... – parou, quando foi obrigado a interromper o seu raciocínio, por ter ouvido uma voz feminina.
- Se vosmicê fizer o Matadouro de carneiro em Ipirá, vosmicê vai ser o melhor do Brasil – era a voz de Natalina interrompendo a frase do prefeito Dió.
O prefeito Dió observou que o pitaco tinha sido da empregada Natalina; fechou os olhos, balançou a cabeça, ao tempo em que, passava a mão pelos cabelos procurando alinhá-los, mas aproveitando a oportunidade foi dando as ordens:
- Prezada empregada Natalina providencie o primeiro prato, que essa nata da sociedade baiana, aqui presente, está querendo degustar e apreciar o manjar dos deuses feito à capricho por vossa experiência.
- Pois não prefeito Dió, vosmicê é quem ordena e eu é quem obedece, tô aqui é prá ajudá.
Alguns minutos depois, a empregada Natalina apareceu na sala do banquete, suas mãos estavam ocupadas com uma bandeja, que continha um monumental peito de ave com duas coxas esticadas e pontiagudas, apresentava uma cor de bronze platinada e estava rodeadas e embelezadas por cenouras gigantes e beterrabas perfeitamente redondas e folhas artesanalmente trabalhadas em figuras de macacos. Era uma tentação aquele brilho magnético e aparência lascívia para provocar os paladares e os desejos exacerbados da gula. A empregada Natalina, acompanhada de mais de cem garçonetes, foi entrando e gritando:
- Ui ! ui ! uiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii prefeito Dió, as delícias já está na mesa.
O governador, que estava junto ao prefeito Dió, indagou-lhe:
- O que está acontecendo ?
- É que esse aí é o prato ui ! ui ! uiiiiiiiiiiiiiiiii que está sendo servido agora. Minha empregada Natalina fez isso para mostrar que esse foi o prato mais ingerido em Ipirá de outubro para cá – explicou o prefeito Dió.
- Como assim ? – indagou o governador, que chamou a empregada Natalina e pediu para que ela falasse do prato.
- Dotô otoridade governadô ! é qui esse prato foi servido em muitas casa aqui na cidade, até mesmo nas casa qui não tinha o qui comê, aí as criançada e os adulto se assentava ao redó da mesa e começava a gritá, ui ! ui ! uiiiiiiiiiii e todo o mundo impazinava a barriga.
Todos estavam com água na boca e a disputa pelo primeiro prato servido foi sem cerimônia. A cúpula do PT de Ipirá caiu prá cima e comentavam uns com os outros: "isso aqui só pode ser jacú temperado com azeite vermelho do Conde" e soltavam gargalhadas; "farinha pouca meu pirão primeiro e com jacú baleado é melhor ainda, vamo cair de pau turma" e saboreavam gargalhadas; "vamo cascatá o bico desse jacú agoureiro em Ipirá" e tome-lhe gargalhada; "eu não sei onde era que eu estava que não vim para os macaco bem antes" e a sinfonia de gargalhadas dominava o ambiente.
A autoridade da Justiça brasileira, cheia de melindres, solicitou de uma garçonete uma porção daquela iguaria; cortou um pedacinho da delícia que estava em seu prato e colocou-o na pontinha da língua, com a boca fechada, os olhos cerrados e a cabeça para cima, saboreava com grande primor. A empregada Natalina que não perdia um detalhe, comentou baixinho no ouvido da garçonete que estava ao seu lado: "olha prá quela dita cuja, parece uma galinha bebendo água". A autoridade da Justiça brasileira não perdeu tempo para esnobar a sua grandeza e a sua satisfação e, em voz alta, para que todas as atenções voltassem em sua direção, falou:
- Que delícia ! isto parece a trajetória suprema para o paraíso. Nunca provei algo tão palatável e que desintegrasse do sólido para o líquido de forma tão doce, tão sublime e pacientemente sedutor. É simplesmente divino. Nem em Paris, quando estive lá, nos mais granfinos restaurantes da avenida Champs-Élysées, quando cotidianamente e intensivamente saboreei salmão ao molho de alcaparras; filé de avestruz ao molho de cumberland; pato rosé ao molho de agridoce; não posso deixar de lembrar, o Foie Gras, para quem não sabe, é feito com fígado de um pato ou ganso que foi super-alimentado, e é bom que se diga, tudo isso no Le Procope, no Moulin Rouge, no Le Fouquet’s, no restaurante do Hotel Le Meurice, no restaurante Paris Clermont, sempre acompanhado por um bom vinho Malbec de France, ou Impernal, ou Le Paradis, ou Beaujolais, que era o que eu mais gostava, por ser elegante, fino e excepcional no seu frescor inconfundível.
A empregada Natalina ouvia toda aquela verborréia consubstanciada e refinada na preciosidade da cozinha francesa, mas não ficava nem um pouco impressionada e acabrunhada, ao tempo em que ia pensando: "êta sujeita lutrida ! só qué sê a dona do louro José, nem sabe ela que tá saboreando um urubu, que é bicho super-alimentado aqui nesse Ipirá seco pur nascenaça" e só parou de pensar quando a autoridade da Justiça brasileira pediu para que ela chegasse até à mesa. O coração de Natalina quase parou.
SUSPENSE: o que será que vai acontecer com a empregada Natalina ? será que a autoridade vai desconfiar do que está comendo ? E o prefeito Dió, será que está por dentro do que está acontecendo no seu banquete ?
Leia o capítulo 12: mês de setembro 2008, logo abaixo.
OBSERVAÇÃO: essa novelinha é apenas uma brincadeira literária que envolve o administrador e o matadouro e, sendo assim, qualquer semelhança é mera coincidência.
Hoje antes das 7 da matina passei em frente ao posto de "saúde",aquele que fica ali pertinho da Clínica Santa Helena.Uma mulher com uma barriga que aparentava estar no 6º ou 7º mes de gravidez práticamente deitada no chão lamentou-se comigo: "estou aqui desde às 4 da manhã,não estou bem e nem sei se vou conseguir ser atendida esse povo todo que tá aí deitado chegou antes de mim".Se eu soubesse que estava tendo esse banquete na casa do prefeito eu tinha ido lá buscar pelo menos um pedacinho de jacú ao molho caseiro e dar para aquele povo comer pois a essa hora ainda deve estar lá na esperança de conseguir as consultas que eles SUSpenderam.
ResponderExcluirTalvez eu seja a única Jacú que ainda tem pena...