terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Ouvi, sim !


Sou leigo. Nesta semana natalina e de festejos do ano que vem, o que me chamou à atenção foi a entrevista do próximo Secretário Municipal de Saúde do município de Ipirá, o médico Ademildo Almeida. Foi carregada de esclarecimentos, arroubos e extremamente salpicante. Eu diria até, muito parecida com tico-tico no fubá, jogando farofa prá todo lado. Salientou que o município de Ipirá viverá novos tempos com a aplicação da Gestão Plena de Saúde do Município, que será um fator determinante e um marco demarcatório do sistema de saúde deste município. Agora, a saúde em Ipirá passará a ser contada em dois momentos: antes e depois desta Gestão Plena.

O que ficou para trás ? Eu reflito e digo: os tempos românticos da medicina, em que a opinião geral da província satisfazia-se abnegadamente e regozijava-se quando os médicos da localidade mandavam um paciente para Feira de Santana e ouvia-se do povo "Fulano é um médico arretado, mandou Zeca de Joventina descer". Se acontecesse Zeca falecer na viagem, aí era que o povo reafirmava a fama da medicina local: "Zeca de Joventina não chegou em Anguera. Dr. Fulano é o melhor médico da Bahia, quando manda descer é que não tem quem dê jeito". O que era deficiência no atendimento de saúde virava sabedoria médica na boca do povo. Isso é página virada.

Na década de 1970, foi implantado um Hospital Regional em Ipirá, que não deixou de entrar na rota de interesses das clínicas particulares. Logo a medicina particular assumiu a direção do hospital controlando-o, ao mesmo tempo que, mantinha-se um complô que se tornou um entrave à eficiência e ao tratamento humano nas dependências do hospital, deixando-o dentro dos limites satisfatórios aos seus interesses particularistas. Isso é página dobrada.

O bom funcionamento do hospital atrapalhará outros interesses que povoam no entorno dessa questão. A fonte que dá mais votos em Ipirá é a saúde. Atuando nesta área encontram-se vários agenciadores que direcionam os doentes em troca de votos, são os cabos-eleitorais da saúde. Se o hospital funcionar poderá mitigar esses velhos interesses que se colidirão com os novos interessados. Isso é página borrada.

Deixando de lado o que ficou para trás, voltemos ao que vem daqui para adiante. Quanto tempo levará para o Hospital de Ipirá ter aparelho de tomografia computadorizada ? Um ano ! nem com mais seis anos de administração petista no Estado. Se aparecer uma clínica que queira fazer hemodiálise em Ipirá, fará. Nem com mais dez anos de PT no governo isso acontecerá. Quanto tempo necessitará o Hospital de Ipirá para ter o aparelho de radiografia funcionando 24 h ? Não será da noite para o dia ! Tem mais quatro anos do segundo mandato do prefeito, para que isso aconteça. Isso, ainda, é página em branco.

O hospital é para operar tudo e terá médicos para isso. Já está de bom tamanho se operar os casos mais simples, digo eu. Criar e manter essa infra-estrutura é tão necessária quanto manter uma equipe médica capacitada e isso não é fácil, precisa de recursos e todo mundo sabe que a administração do prefeito Diomário é centralizadora, chegando ao ponto de não dá autonomia a um antigo Secretário de Saúde para comprar uma gaze, imagine à sustentação de uma estrutura dessa, com cirurgias todo dia. Só mesmo o prefeito Diomário para abrir os cofres ! é ruim.

Não haverá terceirização. O hospital terá laboratório, ortopedia, fisioterapia, etc, tudo funcionando. O atendimento das clínicas só em último e necessário caso. Nesta perspectiva tem que haver a concordância do prefeito.

Ninguém vai mais para Feira. O Hospital de Ipirá será uma referência para os municípios do território, principalmente Pintadas e Baixa Grande, que poderão participar do atendimento aqui, com uma espécie de pactuação, em que eles botam dinheiro no sistema.

Para qualquer pessoa ser atendida em Feira ou Salvador vai ter que apresentar atestado de residência. Agora é que a desgraceira tá feita. Neste sentido, seria bom que Ipirá tivesse uma grana extra para fazer pactuação com estas duas cidades, porque o buraco fica mais embaixo.

Não custa lembrar que: 90% dos passageiros que se deslocam para Feira de Santana nos ligeirinhos é por motivo de saúde. Feira de Santana extrai da área de saúde um elevado percentual de seu PIB. Ipirá possui muitos usuários do Planserv, e para estas pessoas seria ótimo que na cidade tivesse clínicas particulares de alta eficiência e habilitadas por este plano. Além do mais, a administração do prefeito Diomário é bastante conservadora, não sendo digesta na questão das mudanças, principalmente quando elas ameaçam romper com o esquema do voto de cabresto, e quando ele começa a perceber que o cambão no pescoço da população só vai mudar de lado, ele poderá dizer que não é bem assim, que foi mal entendido, etc e tal. Devido a estes e outros fatores, o sistema de saúde pública na localidade tem uma certa complexidade.

Eu ouvi, fiz uma reflexão e falo, porque sou um ser humano, um cidadão. Vou acompanhar passo a passo e tenho que ver para crer.

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