Fato no.1 ocorreu quando os meninos da Vila (do Santos), em seus arroubos infantis, ou quem sabe, vislumbrados na presunção cotidiana, mostravam uma predileção pelo grandioso. Comemoravam na Internet e arrotavam uma grandeza desmedida, mas real e concreta. Comentavam: “O que você ganha num mês, eu gasto de ração com meu cachorro”.
O lógico: “Não é que é verdade! O que eu ganho em minha profissão em um mês, essa meninada gasta em numa saída noturna; em meia hora de curtição; ou mesmo, levando o cachorro para passar um pente nos pelos.”
Vamos ao dia-a-dia do meu trabalho: na minha sala ficam varias pessoas de ambos os sexos, são pessoas pobres, embora, considerar que uma pessoa seja pobre esteja no enquadramento do preconceito, afinal, acabaram a pobreza do país, mas em Ipirá, a pobreza é avassaladora, 45,42% da população é considerada pobre; 37,54% situa-se abaixo da linha de pobreza (até 1 dólar por dia) – (dados do IBGE)
Vamos ao meu trabalho. Todas as pessoas que estão em minha sala possuem celular. Todos. Ouvi até o comentário de um deles:
- Qolé doidim! dei um baculejo no celular de um preiboizim, ta ligado, ta em cima, é a maió baguio, véi...
Não possuir celular é o descredenciamento numa espécie de “status de fingimento”; ‘mostra-me o teu celular e eu direi quem tu és’. Tem um caso de amostragem de um celular quebrado para suprir aparentemente um vazio que não pode esvaziar; ‘saco vazio não fica em pé’. Saquei até uma conversa: “pô meu! Iscapuliu, hoje, e bateu numa pedra; parou, num qué funcioná”. Tinha uns dois meses que era apresentado mudo.
É um atrativo fatal e devasta qualquer atenção. Toca quando é menos esperado; conversa num momento que não é de muito conversar; é digitado como um imã dilacerante. É inconveniente e inconseqüente. Tornou-se uma espécie de fetiche.
O que eu falava, em meu trabalho, não originava aplicativo. O interesse estava canalizado para aquela ferramenta da imprevisibilidade. Olhinhos dirigidos; concentração completa. Meu esforço era infrutífero. Observei o alvo de tanto interesse coletivo. Peguei o celular. Era um homem transando uma jega. O que se faz, em meu trabalho, é por mero divertimento e não por necessidade.
Você acha que eu deveria falar da bestialidade humana, mesmo sem os ouvidos estarem abertos? É coisa para se pensar, pois eu iria pregar num deserto. Uma coisa eu fiz: não falei da jega, nem mesmo que ela era descarada, para não ter o IBAMA no meu encalço. Também, não discriminei quem gosta de comer jega; vê se eu seria tão infantil para cometer um preconceito dessa natureza! Isso poderia dar um processo do tamanho de uma semana nas minhas costas. Não tem outra, eu tenho que aprender a situar-me nos tempos de hoje, posso terminar provocando injustiças ou causando prejuízos aos freqüentadores de minha sala, afinal são senhores de si.
Não dá outra, tenho que recorrer ao fato no. 2: O Imperador estava sentindo-se muito triste e infeliz, aí não pensou duas vezes, largou tudo como se fosse um nada. Esse tudo era uma coisa simplesinha, mais de um milhão por mês, a cidade de Milão, a vida mansa, mordomia, etc.
Aí eu vou ter que pensar mais do que o que eu penso, ou seja, o que eu ganho num mês é uma bufunfa em comparação com o que o Imperador mandou para os ares, assim sendo, vamos supor que eu esteja infeliz no meu trabalho e se eu não tiver a coragem de jogar tudo para os ares como fez o Imperador, significa que eu estou aprisionado por grilhões escravizadores, que me deixam subalterno ao Reino da Necessidade.
PROFESSOR ESTÁ SEMPRE ERRADO
ResponderExcluirJô Soares
O material escolar mais barato que existe na praça é o professor!
Se É jovem, não tem experiência.
Se É velho, está superado.
Se Não tem automóvel, é um pobre coitado.
Se Tem automóvel, chora de "barriga cheia'.
Se Fala em voz alta, vive gritando.
Se Fala em tom normal, ninguém escuta.
Se Não falta ao colégio, é um 'Caxias'.
Se Precisa faltar, é um 'turista'.
Se Conversa com os outros professores, está 'malhando' os alunos.
Se Não conversa, é um desligado.
Se Dá muita matéria, não tem dó do aluno.
Se Dá pouca matéria, não prepara os alunos.
Se Brinca com a turma, é metido a engraçado.
Se Não brinca com a turma, é um chato.
Se Chama a atenção, é um grosso.
Se Não chama a atenção, não sabe se impor.
Se A prova é longa, não dá tempo.
Se A prova é curta, tira as chances do aluno.
Se Escreve muito, não explica.
Se Explica muito, o caderno não tem nada.
Se Fala corretamente, ninguém entende.
Se Fala a 'língua' do aluno, não tem vocabulário.
Se Exige, é rude.
Se Elogia, é debochado.
Se O aluno é reprovado, é perseguição.
Se O aluno é aprovado, deu 'mole'.
É o professor está sempre errado, mas, se conseguiu ler até aqui,
agradeça a ele!
Jô Soares retratou bem o que passa o professor