É uma situação complicada. Não há transporte para trazer os
alunos da zona rural para assistirem aulas da rede estadual, este mês, em Ipirá.
É incompreensível. Não tem quem pague o transporte! Imagine se isso é possível.
Não tem quem pague a conta do transporte!
A Secretaria de Educação do Estado não se pronuncia a
respeito. O Estado faz de conta que o problema não existe e que não é da sua
alçada. A Prefeitura Municipal age como se o problema estivesse acontecendo em Quijingue;
não quer nem saber. Enquanto isso, mais de duzentos alunos matriculados nas
escolas estaduais no município de Ipirá não estão comparecendo às aulas, que
não estão acontecendo, porque esses alunos que moram no interior do município não
estão comparecendo. Veja que situação. Parece estória da carochinha ou de Neco
Atrapalhado de Ipirá: “tem, mas não tem”.
É um descaso completo. O Estado, na prática, nega e sonega o
direito dos adolescentes de freqüentar a
escola em Ipirá. O Estado negligencia o acesso dos jovens à educação, depois de
lhes permitirem a matrícula na rede estadual. Agora, não tem transporte e se
virem que o problema é de vocês. Observem que esculhambação! Um poder público
que não consegue dar sustentação a uma questão fundamental e elementar para o
jovem: o direito à educação.
Um simples transporte, ou seja, algo em torno de 50 mil
reais, o que representa, podemos afirmar sem medo, um valor insignificante para
o Estado e, de repente, torna-se uma coisa tão difícil que parece que é um
dinheiro do outro mundo. É coisa para as pessoas ficarem indignadas. Com tanto
dinheiro saindo pelo ralo, não é possível suprir um montante ridículo desse.
Tem mais, não adianta esperar pela Prefeitura Municipal,
porque não é um problema de sua responsabilidade, mesmo sendo um problema que
está acontecendo no município de Ipirá. É incrível como as coisas acontecem
neste país. Ninguém é responsável por nada. Até um gasto público num montante tão
insignificante é “joga prá lá que o mandu é teu”. Se a Prefeitura Municipal de
Ipirá está tão deficitária e não pode arcar com esta despesa do seu parceiro na
política, o governo estadual, pelo menos, tome a iniciativa de cobrar junto às
autoridades estaduais uma solução para o problema que atinge parcela
significativa da juventude rural de Ipirá, que não pode sofrer as conseqüências
devido a uma negligência de quem tem por obrigação de suprir os encargos
determinados na Lei. Ou esses jovens não são merecedores desta atenção e
disposição do poder público municipal? Mesmo não sendo responsabilidade do
poder municipal, não deixa de ser um problema do mesmo.
É um desrespeito à Lei. Os órgãos públicos não querem
obedecer à Lei, embora afirmem que a educação é uma prioridade e um princípio
fundamental para o desenvolvimento da nação. Fico pensando no balaio de
quermesse que querem transformar a educação em Ipirá. Quando quem tem a obrigação
de resolver o problema não o faz, dá margem para que apareçam as mais estapafúrdias
soluções. Já ouvi de “boas bocas”: “não é nada não, é só passar um trabalho
para eles fazerem em casa, depois eles entregam na quarta-feira, que é quando
tem transporte e recebem suas notas”. Eu só posso dizer o seguinte: “Ô lá em
casa! Que saudade de uma quitanda da educação que vendia diploma a preço de
banana”. Aquilo é que era tempo.
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