sábado, 8 de junho de 2013

IPIRÁ NA PIRAMBEIRA.


Ipirá é um município que corre perigo; está à beira do abismo... do abismo das dificuldades. Corre perigo de empobrecer ainda mais. Está em situação de risco e precariedade; falando sem meia-volta, desliza para o abismo de uma crise econômica sem precedentes. As ameaças estão vivas, latentes e se encontram em posição de ataque. Ipirá tem três ameaças na corcunda:

Primeiro, a seca. Estas chuvas de inverno, no mês de junho, não minoram as dificuldades, simplesmente, abrandam temporariamente uma crise. A partir de agosto entraremos na constante, intensa e cruenta realidade do semi-árido que vem acabando com a economia rural de Ipirá, numa sequência de cinco anos sem previsão de término. A permanência da seca significa o baque total da produção da zona rural de Ipirá. Serão necessários 20 anos para uma recuperação em patamares anteriores.

Segundo, a pirâmide, que já levou 5 milhões de reais do município de Ipirá, com um retorno de 20%, numa situação duvidosa, insegura e de risco absoluto. Um aplicador da pirâmide diz que ganha 15 mil reais por mês para postar alguns minutos de propaganda pela Internet. Isso é salário de funcionário de nível superior em muita empresa de porte. Que beleza! Cada investimento de 3 mil reais dá um retorno mínimo de 800 reais e em quatro meses o investimento já está reembolsado. Que felicidade!

Numa economia capitalista é fato inusitado, além do mais, o produto de publicidade é tão bom que nenhum dos funcionários-investidores adquiriu este produto aqui em Ipirá. É uma transação puramente financeira. A pirâmide é uma trapaça bem arquitetada, onde milhares perdem para poucas e espertas cabeças ganharem. Caso eu esteja errado, que não estou, o desemprego no sistema capitalista estaria sanado, pois seria uma forma milagrosa de todo trabalhador virar investidor, ganhar bem acima do salário mínimo sem contratempo. O capitalismo encontrando a perfeição.

Esse dinheiro faz falta em qualquer economia. Se ele não for retornado, Ipirá pagará um preço altíssimo pela sangria de sua economia por um golpe sujo. No momento em que a pirâmide deixar seus aplicadores a ver navios será um duro golpe na economia do município paralisado e esgotado. A pirâmide tem um poder de sedução pela facilidade com que se apresenta e esse encantamento já conseguiu sugar de Ipirá cinco milhões e nessa atuação não tem um olho gordo que não fique cativo de um mundo tão fácil e atraente. Caminhamos para o esgotamento de uma economia num só lance; obscuro e sujo.

O terceiro ponto é a gestão pública. O que pode fazer por Ipirá o poder público municipal? Tudo, quase tudo ou nada. Se qualquer gestor for ineficiente, incapaz e incompetente e não tiver um projeto de governo. Adeus, Corina! É o encontro do atoleiro em qualquer município. Ipirá tem este ferrão na carne com administrações dos jacus e macacos.

O Poder Público pode dar um empurrão fatal em Ipirá; nas palavras e palavrórios: o prefeito Ademildo Almeida, do PT, fêz um pedido à deputada Neusa Cadore, que esta conseguisse indústrias para Ipirá junto ao governo do Estado. Pedido feito. O gestor parece que não sabe que o governo estadual negou dois galpões à Paquetá em nossa cidade, coisa de duzentos empregos, e sugeriu que a empresa utilizasse galpões vazios em Riachão ou Itapetinga.

Declaração do prefeito Ademildo Almeida, do PT: ”Não quero marcar minha administração em Ipirá só por fazer melhorias na infra-estrutura da cidade e melhorar a vida do homem do campo. Quero marcar nossa passagem como gestor de Ipirá com um grande investimento na educação do município, para mudar as vidas das pessoas para melhor e ajudar as famílias a formar cidadãos e ter um futuro melhor.”

Melhorar a vida do homem do campo com a situação de seca não é nada fácil. Se falhar na apresentação de obras de infra-estrutura, a válvula de escape para a melhor administração do mundo será dizer que fez a melhor educação em um município do Brasil. Palavrórios e palavras.

Como? Com quem? Com professor macaco? Com direção escolar exclusiva de macacos? Com diretores apontados de dentro do grupo dos macacos por vereadores? Qual é o interesse dos vereadores: ensino de qualidade ou a questão eleitoreira?

Se o gestor não tiver clareza quanto a isso, o que Ipirá deve esperar da educação dessa gestão? Governar para macacos não é a mesma coisa que governar para Ipirá. Esse é o grande perigo porque passa Ipirá. Palavras que vendem ilusões e que refletem muito bem os vendedores de ilusão. Ipirá bate cabeça entre a realidade e o virtual. Estamos na beira do abismo. Quem vai empurrá Ipirá ladeira abaixo: a seca, a pirâmide ou a gestão pública?

 

3 comentários:

  1. Parabéns pelo texto Agildo,

    Pensei que só eu enxergava o quão nocivo era esse tipo de "atividade" que vem sendo desenvolvida em muitos municípios da Bahia (senão todos). Num local onde a economia já sofre com a escassez de recursos e com necessidades ilimitadas, como Ipirá, esse tipo de "negócio" tende a ter consequências ainda mais devastadoras. A economia para, uma vez que não é gerada riqueza alguma para o município e muito menos para os munícipes que aqui residem. Um negócio de marketing, no qual não há oferta de produtos ou de serviços, e que a totalidade do financiamento é advinda da entrada de novos "divulgadores", não tem como ser enquadrada em outra modalidade que não seja Pirâmide. Os argumentos de que pessoas estão ficando milionárias convencem a grande massa, que anda na busca incessante da "grande oportunidade", do seu eldorado, de vencer na vida. Buscam-na sem o mínimo de senso crítico de se perguntar: de onde vem o dinheiro?
    Sinceramente prefiro ficar com essa versão de que esses cidadãos são vítimas de suas inocências, a acreditar que são gente de má fé perpetuadores de um grande golpe.

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  2. Como é bom ler um texto que transparece lucidez... Também comungo com essa análise crítica. E me preocupo principalmente quando se trata do retrocesso da gestão do ensino em nosso município.
    E com relação à pirâmide é impressionante como pensei a mesma coisa: o capitalismo encontrando a perfeição. Será que dessa forma encontrou-se a solução para o processo devastador do desemprego? Isso, pra mim, é um perigo econômico...

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