Da terra fértil brota jaqueira, mangueira, bananeira e
tudo mais. Aroeira, Angico e Mulungu e muito mais. Tudo que se planta nasce.
Assim é a Mata da Caboronga. Assim deveria ser a Mata da Caboronga. Assim
caminha a Mata da Caboronga: padecendo. Não é fácil levar pancada, muito menos
receber golpe atrás de golpe; sentir dor. Pode a natureza sentir dor?
A Mata da Caboronga registra danos e acumula
prejuízos. A água sumiu; escondeu-se nas profundezas da terra. O sangue deixou
de escorrer com gratidão pela terra. O desmatamento vai andando, às vezes
galopando, na maioria das vezes, sentenciando a degradação e a decadência. A
natureza só tem a perder, com dor ou sem dor.
A Mata da Caboronga experimenta um declínio com uma paciente
resignação. Consegue tolerar o tolerável e agüenta mais do que é possível
suportar. Não é tarefa fácil recompor a Mata da Caboronga. Não é tarefa fácil
matar a Mata da Caboronga. A resistência tem raiz profunda. Os mateiros não
aceitam. Muitas pessoas não admitem. A mata não se permite.
No meio da mata, plantou-se uma semente diferente. A Reserva
Ecológica Caboronga Rachel Carson está sendo implantada. Esta semana, brotou da terra uma nova
planta: um ANFITEATRO, bem no meio da mata. Aberto à natureza, sob os olhares
protetores da Lua e do Sol; benzido pelos pingos da chuva; acariciado pela bisa
da noite. Seja bem-vindo anfiteatro. Uma centelha para a cultura.
A cultura humana pode regozijar-se por ter o seu santuário. Teatro,
música, poesia, aulas, palestras, cultos, exposições, mitologia e ciências
encontraram o solo da mata e ganharam o seu espaço. A casa velha em fase de
restauração será mantida em sua originalidade. Funcionará um laboratório com
microscópio; uma biblioteca; uma sala para botânica e zoologia; sala de
informática; uma lojinha de souvenir. Ecologia, História, Botânica, Zoologia, Ética,
Direito poderão aflorar no meio da mata. Seria interessante que tivesse uma
sala para a implantação de um museu.
Tem muita coisa para acontecer. Nunca tinha pensado em escrever
uma peça de teatro. Fui sensibilizado. O texto da peça já está pronto. Caso
tenha que acontecer, acontecerá no meio da mata, em um anfiteatro e num cenário
ao ar livre, com caixas de som brotando das árvores como mangas de uma
mangueira da Caboronga. Não pode ter nada mais original e natural. A Mata da
Caboronga agradece.