A
contradição é cabeluda; cabeludíssima. O prefeito Ademildo não mediu a língua para
fazer apologia ao encaminhamento do Plano de Cargos e Salários dos Servidores Municipais
com a tinta que lhe foi conveniente, sempre no linguajar do ‘nunca, jamais,
isso foi apresentado’. Agora não, isso foi feito e que o seu governo tinha
apresentado à Câmara de Vereadores o mais importante benefício aos funcionários.
A
apresentação à Câmara foi colocada como uma espécie de respeito ao
funcionalismo, um resgate à dignidade do funcionário sonegado a largo tempo e
que não poderia perdurar essa injustiça e desrespeito. Pá e bife. Reconhecimento
e crédito ao valor do funcionário público. Sinal claro de novos tempos
administrativos, da evolução e progresso de Ipirá ao regulamentar a vida
funcional do empregado municipal. Modernidade ao incorporar e atender aos
anseios dos trabalhadores.
Tudo
reconhecido e encaminhado, mas só pode entrar em vigor em meados do próximo ano
(2015). Quando o funcionário pensa que está entrando no céu, vem a frustração: só
no ano que vem! Enfeitou e confeitou o bolo com cereja e só vai servi-lo daqui
a um ano! Vê se pode? Um doce para menino olhar! Galinha gorda assando em
televisão de cachorro para uma pessoa com fome admirar! Tanta grandiloqüência para
encher os olhos e a boca na metade do próximo ano.
Agora
não pode. Quem garante que será possível no ano que vem? Que palavra merece
confiabilidade? Que aval é merecedor de credibilidade? Quem poderá dar
garantias de que daqui a um ano a situação financeira da prefeitura estará
estabilizada e em boa acolhida? Será que vai acontecer algum milagre?
O
enterro não cabe no buraco. O sistema engole tudo, as belas palavras e até as
boas intenções. O sistema enquadrou as contas do município no limite do
estrangulamento. A administração bate cabeça. A Lei de Responsabilidade Fiscal
bota o gestor na parede. Tem que haver demissões para ficar enquadrado no
limite de 54% da arrecadação.
Ao
mesmo tempo que demite para diminuir o índice, faz concurso que elevará o índice
que tem que cair; ao tempo que apresenta o Plano que aumentará mais ainda o tal
índice que tem que cair. Durma com um barulho desse! As demissões já estão no
mural da prefeitura; o concurso já está oficializado; só sobra o Plano de
Cargos e Salários para ser empurrado com a barriga. Grande presidente do
Sindicato dos Servidores, Iaiá, abra os olhos e deixe-os bem aberto, porque a
cada ano tem sempre ‘na metade do ano que vem’. Na maioria das vezes é melhor
ser combativo do que vacilão.
Entra
administração, sai administrador na prefeitura de Ipirá e o problema não é
eliminado. Continua acontecendo o triste
e famigerado bota-fora de funcionários públicos. Quando aproxima-se o Natal e o
final do ano acontece a dispensa. Centenas de funcionários são postos no olho
da rua. Os demitidos culpam o prefeito, que culpa a Lei de Responsabilidade
Fiscal, que quer ser cumprida, nada mais do que isso. É um tormento para quem
perde o emprego. Para o prefeito é uma dor de cabeça. Para a Lei é um
desrespeito.
Esse
é o tripé: o prefeito, os demitidos e a lei. O gestor sabe que tem a lei, mas
de forma dolosa atulha a prefeitura de empregados para ganhar votos, depois
procurará ludibriar a lei; o demitido, vivendo no aperto do reino da
necessidade, topa qualquer parada, até ser funcionário tampão; a lei, dizem que
é para ser cumprida; o Plano de Carreira do Funcionalismo Municipal de Ipirá se
onerar a folha será engavetado; se impactar a folha será rasgado; se for objeto
de enroleixones, já deve estar preparando a carreira. O Plano de Cargos e Salários tem
um grande e mafioso inimigo: o grupismo.
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