sábado, 30 de novembro de 2019

A TENTAÇÃO DE JORGE


Tudo pode ser explicado sobre a conquista da América. Foi um jogo ensebado, amarrado, empacotado e embrulhado. Mesmo apinhado de gente, lotado e apilado, o Monumental de Lima, que fica no alto de um morro, num deserto, pela aridez do local, tornou-se um ambiente favorável para a provação de Jesus (Jorge).

Uma voz agourenta, maligna e satânica sobrevoava o espaço e buzinou no pé de ouvido de Jesus (Jorge): “Jorge! Tu és um fidalgo português de elevada estirpe, mostra o teu quilate, veste aquele teu colete e conquistarás os altos píncaros e mais ainda, sublimes e altivos prazeres”

Aos quatorze minutos, num vacilo, com lapso de entendimento e falha de comunicação dentro da área, o aproveitamento de Borré foi suficientemente aproveitado. A partir daquele instante e imprevisibilidade, pois não estava escrito nos planos de Jesus (Jorge), o time comandado por ele, deu caruara, suadeira e rabichola. Não chutou uma bola no primeiro tempo.

Jesus (Jorge) chamou o seu auxiliar João de Deus e disse: “Deus (João) anote todas as falhas e comportamentos indevidos da nossa equipe, para modificá-los no intervalo, senão não conseguiremos alcançar o nosso intento.”

Deus (João) observou Jesus (Jorge) naquela aflição e fez uma observação significativa: “Tenha fé!” Terminado o primeiro tempo, com um placar adverso, a voz maligna voltou a atacar Jesus (Jorge): “Tira GG (Gabigol) e BH, que não fizeram nada e bota Marcelo Brandão enfiado e Dudy no apoio que a gente vira esse jogo”

Jesus (Jorge) não deu ouvidos; tirou o colete e jogou-o no canto, vestiu o velho e surrado paletó. Isso explica muita coisa. O Bahia vinha em alta voltagem, depois que um time da Série B jogou na Fonte Nova, o futebol do Bahia derreteu e virou jogo de bola da série D. O banho das folhas da grama da Fonte tem que ter uma irrigação com mais sal grosso do que água. Jesus (Jorge) voltou para o segundo tempo com o paletó.

Jesus (Jorge) orientou: “BH passa sebo nas canelas!” BH avançou, presenteou Arrasca, que furou; Gabi chutou, ia entrando, acertou em La Cruz; na sequência, Everton atrasou para o goleiro deles. A voz sinistra gargalhou: “O corpo está fechado, hoje não tem descarrego.” Foi o melhor momento para o empate.

A voz maligna voadora atormentava a concentração de Jesus (Jorge): “Tira Gabi e BH, bota Marcelo Brandão enfiado e Dudy no apoio, que tudo vai dá certo” O jogo estava trancado. Jesus (Jorge) comentou: “Esses dois não deram certo em Ipirá, imagine na nossa equipe. Xô Satanás, desaparece daqui coisa ruim!”

Com trinta minutos, a voz maligna escorraçada fugiu para o banco adversário: “Gallardo você é o maior técnico da América, o jogo está ganho. É nós, é só sossego. Bota Pratto no jogo e vamos correr para abraçar a taça. Só dá nós, los arrentinos somos campeones!” Pratto entra em campo.

Quarenta e quatro minutos; faltam 1 + 4 minutos (acréscimos) para o fim do jogo. A Maquininha de Aposta pagava 10 para 1 no River Plate. Quem apostasse um real na vitória do Flamengo ganharia dez reais, quem jogasse mil reais, ganharia dez mil reais. Não apareceu um flamenguista, a fé estava sendo esvaziada de forma acelerada. A maquininha não foi quebrada.

Jesus (Jorge) chamou Deus (João) e falou: “Prepare Lincoln, ele vai entrar agora, é tudo ou nada, só um milagre nos salvará!” Deus (João) olhou e observou: “Está certo! Tenha fé!” Em campo, os jogadores do Flamengo observaram uma bola num Pratto, e pensaram: “Essa bola é um presente prá nós.”

Faltava 1 minuto. Diego encostou, Arrasca fechou e tomaram a bola do Pratto; Arrasca passa para BH, que passou para Arrasca deixar Gabi na cara do É GOL. Jesus (Jorge) pulou e gritou “Lincolm não!” Com 1 minuto do tempo complementar, Diego pegou a bola prá cá do meio do campo, lançou, chutou, deu uma bicuda, deu uma ‘bola pru mato que o jogo é de campeonato’ que caiu na cabeça do argentino Pinola, que tabelou com Gabi e É GOL!

Faltavam 2 minutos para a conquista da América. Jesus (Jorge) chamou Deus (João) e falou: “Bote o Piris (da Mota) para colar no Pratto, que o jogo é nosso!” O juiz apitou. Foi um teste para o coração. Um jogo épico! A perplexidade era a tônica dos argentinos, que não acreditavam. Não tem um argentino que entenda o que está escrito.

Na hora das entrevistas, o repórter fez aquela pergunta manjada: “O que se passou na sua cabeça naquele final da partida? Dá para explicar?"

Marcelo Brandão, o entrevistado, olhou para o reporte e disse: “Cara! Eu não tenho palavras, foi muito difícil, foi uma batalha de titãs, eu fiquei quatro anos nesta administração e fiz muito, espero ficar mais quatro anos para fazer o dobro de gol (obras) que eu fiz no primeiro mandato. Anote aí, Se eu for eleito, vou comemorar minha vitória com uma apresentação do Flamengo, aqui em Ipirá! Agora é só comemorar essa ótima gestão de três anos’.

No prosseguimento da entrevista, o reporte fez a tal da pergunta manjadíssima: “O que se passa na sua cabeça nesse momento de grande conquista?”

O entrevistado Dudy não perdeu tempo e foi dizendo: “A emoção é muito grande, foi um jogo emocionante; das outras vezes eu era reserva e nunca fui escalado, mas dessa vez, eu sou titular e não vou desistir do meu sonho e nessa grande emoção eu prometo, escreva aí, se eu for eleito em 2020, no campeonato municipal de 2021 o Flamengo participará do nosso grande campeonato local.”

Na festa do Rio de Janeiro, a polícia carioca comemorou com bombas de gás lacrimogêneo. Em Ipirá a festa foi tranqüila. Campeão do Brasileiro e da América em 2019, faltando o mundial para completar a festa; o Flamengo conquistando todos os títulos e em Ipirá, Jacu & Macaco querendo surrupiar o título de eleitor da torcida do Flamengo. Entenda uma bagaceira dessa!

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