domingo, 15 de março de 2020

É DE ROSCA. (59)


Estilo: ficção
Modelo: mexicano
Natureza: novelinha
Fase: Querendo imitar Malhação, que não acaba nunca, sempre criando uma fase nova, agora é a do prefeito Marcelão.
Capítulo 59 (mês de abril 2019)(atraso de onze meses) (um por mês)

Quando deu o primeiro pipoco, o Matadouro de Ipirá saiu de sua casa, quando o último pipoco estava para ser estourado, encontrava-se na avenida César Cabral, diante do prefeito  Marcelão, que gesticulava com os braços para o alto e o povo aplaudia eufórico: “prefeito Marcelão disse que ia trazer o asfalto e trouxe, êta prefeito retado!” “Parabéns prefeito!” “Muito bem, prefeito Marcelão!”

- E com recursos próprios! – Frisou o prefeito Marcelão falando num tom elevado – e tem mais, vamos subir a avenida até a praça RC que tá tudo dominado – acrescentou o prefeito Marcelão em sua alegria incontida.

O Matadouro de Ipirá foi encostando, quando ouviu um eleitor dizer: “prefeito Marcelão na entrada da praça vamos colocar uma bomba atômica de foguete” ainda deu tempo de ouvir o prefeito Marcelão dizer: “não isso não, não tem necessidade disso não!” Em seguida o eleitor jacu arrematou: “o senhor não pode, mas nós podemos.” O prefeito Marcelão não pagou a girândola e o foguetório não aconteceu. O Matadouro de Ipirá aproveitou e perguntou:

- Ô prefeito Marcelão! V. Exa., está fazendo o asfalto no espaço do projeto do governo do Estado, que mal eu lhe pergunte, isso não é contra  a Lei?

- Eu sou o prefeito da cidade e a maior autoridade da cidade sou eu, então quem manda nessa cidade sou eu, a voz dessa cidade sou eu, a lei dessa cidade sou eu. Pode subir a avenida que quem manda nesse pedaço sou eu.

- Mas, prefeito Marcelão! A licitação dessa avenida e da praça é do Estado e V. Exa., está fazendo o seu asfalto justamente no local da obra do governo e quem vai pagar essa conta e como é que sua prestação de conta dessa obra vai ser aprovada se a obra é irregular?

- V. Pessoa fez uma boa pergunta seu Matadouro de Ipirá! Eu pago o asfalto com recursos próprios e o Estado paga a parte dele, não tem a menor importância o local onde o asfalto é feito, o que importa é que a comunidade ganhou o asfalto do centro da cidade, que era um desejo antigo da comunidade e eu disse que ia fazer e fiz; fale com o sujeito do Blog para ele escrever que o asfalto do centro da cidade foi realizado na minha gestão e que doze anos não fez nem uma borra de asfalto nessa terra.

- Alto lá, prefeito Marcelão! Eu não sou moleque de recado, eu não tenho nada a ver com esse sujeito do Blog, agora o que deu para entender pelo meu entendimento, é que V. Exa., acha que o governo do Estado vai pagar esse asfalto feito por V. Exa., na avenida e na praça e que V. Exa., vai pagar o asfalto feito pelo deputado Jura na periferia do centro da cidade, é isso mesmo?

- Oxente, seu Matadouro de Ipirá! O povo está alegre e satisfeito com o asfalto no centro da cidade, uma obra de minha gestão e da batalha incansável do deputado Jura, isso eu não posso negar de jeito nenhum, eu tenho é que lhe parabenizar pelo seu grande empenho; agora porque aconteceu um errozinho besta no local, V. Pessoa acha que o governo do Estado e a prefeitura vão ficar  criando embaraço, justamente para prejudicar a prestação de conta. Se eu cometi uma ilicitude, o governo do Estado também cometeu, porque eles vão fazer a Rua Rui Barbosa e a Praça do Mercado que não estava no projeto deles, então eles também vão desrespeitar a Lei de Responsabilidade Fiscal, então seu Matadouro de Ipirá, para não ficar nenhuma dúvida e ficar na maior transparência, o governo do Estado paga o projeto deles com aquelas ruas que eu asfaltei e eu pago o projeto dos recursos próprios com as ruas que o deputado Jura asfaltou. Uma mão lava a outra, o Tribunal de Contas engole tudo, porque o asfalto foi feito e a comunidade foi quem ganhou com isso.

- Mas, prefeito Marcelão? No meu pouco entendimento, V. Exa., cometeu um crime de improbidade administrativa ao não respeitar a licitação e o projeto do governo do Estado, isso pode ser configurado em crime por descumprimento da Lei de Responsabilidade Fiscal; no meu fraco entendimento, V. Exa., cometeu um ato de ilicitude e suas contas não serão aprovadas e V. Exa., vai ser obrigado a ressarcir um milhão e quatrocentos mil do seu bolso porque o dinheiro público foi aplicado inadequadamente e, além do mais, com sua ação intempestiva, inadequada, impulsiva e inconseqüente,  V.Exa., obrigou ao governo do Estado a cometer desvio de conduta e cometer atos ilícitos desrespeitando a Lei.

- Ora, seu Matadouro de Ipirá! Tô nem aí! O que importa é que o povo foi contemplado com esta grande obra trazida por mim e pelo deputado Jura e se pique de minha frente que eu não quero ouvir essa conversa mole, em abril será a sua vez. Como é meu povo, quem fez o asfalto do centro da cidade?

A voz da multidão soava estridente: “prefeito Marcelão! E a macacada vá se f...” O engenheiro da obra chamou o prefeito Marcelão e fez um comentário: “prefeito Marcelão! Com esse povo aqui em cima não dá para continuar o asfalto. Eu estou impressionado, nas outras cidades que a gente tem asfaltado o povo fica dentro de casa por causa da poeira e o fedor, aqui o povo vem é para cima” responderam: “você ainda não viu nada” e o matadouro saiu de fininho para a outra obra do asfaltamento.

- Deputado Jura! Que negócio é esse, o prefeito Marcelão botou o asfalto dele no local do asfalto do governo do Estado e V. Exa., não diz nada, não toma nenhuma atitude? O que é isso deputado? – perguntou o matadouro.

- Seu Matadouro de Ipirá! Deixa ele fazer o dele lá e nós vamos fazendo o nosso aqui, essa é uma obra que o povo de nossa terra esperava há muito tempo e eu agradeço ao governador De Costa por ter acatado o meu pedido e eu estou muito feliz em servir ao povo de minha terra.

- Mas, deputado Jura! O prefeito Marcelão não respeitou a lei e V.Exa., não vai tomar nenhuma medida na Justiça? Como é que vai ficar a prestação de contas desses projetos se tá tudo embananado?

- Isso tudo se resolve. As contas serão aprovadas sem nenhum percalço, se houve algum erro no percurso, cumpre-se o que estava previsto no projeto e fica tudo resolvido. Esse prefeito Marcelão é danado! Eu quero mim encontrar com ele é nas eleições, aí a gente vai ver quem é que tem farinha no saco.

- Ô deputado Jura, eu posso lhe fazer uma pergunta? A macacada vai deixar V. Exa., indicar a vice do grupo, no caso a pré-candidata Dinina?

- Taí macho, uma coisa que eu quero ver! Depois dessa obra do asfalto não tem espaço prá mais ninguém; aqui prá gente, não conte prá ninguém, se a macacada não tiver um pai para esse asfalto a coisa vai pegar e, nesse caso, o pai é o deputado Jura; se o ex-prefeito Dió ficar criando embaraço eu posso mim juntar com a jacuzada e essa macacada vai ter condições de enfrentar dois asfaltos, o do deputado e o do prefeito?

O Matadouro de Ipirá ouviu o que tinha que ouvir e seguiu para a avenida. A apreciação do folclórico dia da chagada do asfalta é surreal e o Matadouro de Ipirá anotava tudo. O eleitor A estava sentado e a poeira tomava todo ambiente fazendo um redemoinho ‘brabo’ em cima dele, mas ele não arredava: “Daqui eu não saio, eu tenho que ver com esses olhos, não quero ouvir contado por ninguém, eu quero é ver com esses olhos!”

O eleitor B, pegou uma vassoura e varria a poeira de seu passeio, a maquina da limpeza jogava toda a poeira de volta ao passeio, mas B dizia: “aqui, em meu passeio quem manda sou eu e não adianta vim prá cá não que aqui quem manda sou eu!” O verdadeiro duelo da tecnologia em plena avenida de nossa terra.   

O eleitor C tinha dado o preço de uma casa na avenida de 500 mil reais, um dia antes. A pessoa apareceu com o asfalto ainda quente e perguntou: “ô C! como é mesmo o preço da casa? Não dá para fazer 490 mil não? C deu um pinote: “agora, é 700 mil!” A pessoa tomou aquele susto, mas indagou: “por que C?” O eleitor C respondeu por cima da bucha apontando para o chão: “ai, não tá vendo não, é! Aí, você não enxerga não, é?” O eleitor C estava tão emocionado que esqueceu e não teve jeito para se lembrar da palavra asfalto.

O eleitor D passou por um grupo de jacus e disse: “Olha bem! Vocês estão aqui, olhando o asfalto do prefeito Marcelão, amanhã quando começar o asfalto do deputado Jura não quero ver ninguém lá e quem aparecer lá vai levar chicotada no lombo, lá tem setecentos chicotes lambuzado com sebo de carneiro capado prá dá lapiada em jacu!”

O eleitor E era macaco e apareceu de forma distraída na avenida, a jacuzada apontou: “Olha quem tá ali, um macaco, sai daqui istrupício de Idalina, que teu lugar não é aqui!” ouviu uma sonora vaia.

O eleitor F acompanhava o maquinário sem perder um movimento; a máquina andava ele colado; colado e aprendendo, de forma que por dentro de toda técnica começou a orientar e dar ordem: “ô meu amigo! Você não está vendo que está fazendo o serviço errado, lado de cá tem um centímetro a mais do que o lado de lá, aí você tem que compensar o betume de lá prá cá” o trabalhador indaga: ”o senhor é engenheiro?” e ouviu a resposta: “não, mas também não sou burro!”

O encarregado da obra chamou o prefeito Marcelão e perguntou: “ô prefeito Marcelão esse povo daqui não tem uma trouxa de roupa pra lavar em casa não? Fica todo mundo em cima do trabalho e assim a produtividade fica prejudicada.”

O Matadouro de Ipirá foi saindo devagarzinho: “já deu prá mim, eu vou é pra casa.” Foi andando, passando por várias ruas e foi contando, quando deu fé, tinha passado por quarenta ruas da periferia, todas elas entregues à poeira no tempo de sol e dominadas pela lama no período da chuva. Como tudo nessa terra é voltado para a politicagem, o matadouro ficou pensativo: “será que a comunidade dessas ruas sem calçamento vai cair no conto do asfalto real, que chegou ao centro da cidade?” Eis uma questão.   
  
- Suspense: Veja que situação: a novelinha tá de correria, querendo chegar ao mês de março 20 sem nenhum capítulo em atraso. Um matadouro querendo ser obra e um prefeito querendo não ter problema! Onde vai parar uma desgraça dessa? O que é que eu tenho a ver com o desentendimento do prefeito Marcelão com o matadouro?

O término dessa novelinha acontecerá no dia que acontecer a inauguração desse Matadouro de Ipirá. ‘Inaugurou! Acabou na hora, imediatamente!’ Agora, o artista é o prefeito Marcelão, que foi grande divulgador da novelinha É de ROSCA pela FM.

Observação: essa novelinha é apenas uma brincadeira literária, que envolve o administrador e o matadouro e, sendo assim, qualquer semelhança é mera coincidência. Eles brincam com o povo e o povo brinca com eles.


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