segunda-feira, 20 de junho de 2011

NO LIMITE.

O Movimento Renova Ipirá abriu o debate sobre a saúde em Ipirá e foi uma discussão proveitosa. Apresentaram-se o Presidente do Conselho Regional de Farmácia Dr. Altamiro José dos Santos e o médico e Secretário Municipal de Saúde Dr. Ademildo Almeida.

O secretário apresentou os números: o município de Ipirá recebe +ou- 1 milhão e 100 mil mensal para a saúde. 860 mil é a folha de pagamento do pessoal; 100 mil para remédios; sobrando 100 mil para gasolina e contas fechadas.

Deu mais números: 350 mil para os médicos. Um PSF custa 20 mil reais. Seis médicos plantonistas recebem 200 mil reais. Três fontes alimentam o sistema de saúde com verbas: média complexidade 360 mil reais; pensão básica 350 mil e repasse da prefeitura de Ipirá 300 mil ou seja, 15%. Espero ter sido rigoroso nas minhas anotações, não quero faltar com a verdade dos números.

Na sua fala, o secretário deixou clara a sua desilusão com o PSF; disse que a corrupção predominava no sistema de saúde de Ipirá, não citou quem a fazia; argumentou que os médicos só querem ser as estrelas e só pensam em altos salários dificultando o desempenho a contento do sistema; salientou que a assistência à saúde em Ipirá nunca esteve tão boa como agora e, apresentando números mostrou a evolução dos atendimentos; disse que o Hospital de Ipirá é referência para três municípios da região, recebendo 25 mil reais.

Agora sou eu que vou dizer o que penso. Apesar de leigo, estou no campo dos que precisam e por isso tenho o direito e o dever de dizer o que sinto. Ipirá recebe 25 mil de três municípios e paga quanto aos famigerados hospitais (Clériston) (HGE) de Feira e Salvador? Fiquei com esta curiosidade, porque estes hospitais representam uma referência maior que o de Ipirá.

Antigamente, médico fazia fama ao mandar o “doente descer” (ir para Feira) e quando o distinto morria, apareciam os comentários: “ êta doutô arretado é fulano de tal, mandou sicrano descer e sicrano não chegou no Bravo, morreu no caminho. Mandou descer não tem mais jeito! O sujeito é um médico virado do capeta, não erra uma.” Isso representava mais a carência de recursos do que a capacidade profissional.

Hoje para os casos de alta complexidade, qualquer cidadão ipiraense tem que suportar por 1h até chegar à Feira de Santana. Não precisa dizer que em Jacobina, Itaberaba, etc, é assim, porque não explica e muito menos justifica, o que fica bem claro é a falta de recurso. Continuamos imitando antigamente nas questões mais complexas, em muito procedimento de média complexidade e em alguns casos simples. Assim sendo, estamos no limite; não sei se do bem ou do mal.

Antes de sua secretaria havia uma corrupção deslavada (fiquei na curiosidade) e faltava dinheiro; na sua secretaria não há corrupção, mas falta dinheiro. Eu acho o seguinte: é natural. Na medida em que existe a oferta, a tendência é crescer a demanda por assistência. Em Ipirá, existe uma necessidade adormecida e represada, que aflora e bate de testa com as migalhas repassadas pelo prefeito (15 ou 18%) que são insuficientes para manter o sistema funcionando a contento. Pelo que eu deduzo, se a universalização do SUS em Ipirá necessita, por exemplo, de 30% e o prefeito Diomário só solta 15% (o mínimo obrigatório por lei), pelo fato de ter outras prioridades, significa que saúde não é a prioridade maior do prefeito Diomário, não posso pensar de outra forma ou então estamos no limite imposto pelo prefeito Diomário; não sei se do bem ou do mal.

Os médicos abocanham 42% da folha de pagamento. Os seis plantonistas 24%. Seus proventos oneram os custos da saúde. Os médicos são as estrelas do sistema, não se sujeitam aos caprichos e imposições dos superiores hierárquicos. É o tipo de profissional muito requisitado no mercado. Qualquer melindre, eles abandonam a “mesa de operação”. Foi salientado que é difícil lidar com esses profissionais. Esse é o limite imposto por quem tem força

O secretário pode ter independência, mas não tem autonomia, apoio e força para atuar dentro dos meandros e combater as mazelas que o sistema oligárquico local impõe à saúde e ao SUS em Ipirá. Tem que lidar com as estrelas da medicina, que não são petistas e, além do mais, em Ipirá tem um estrelão médico, que é chefe político da macacada, Antônio Colonnezi, que não vai aceitar sujeitar-se aos ditames funcionais e hierárquico de um secretário, desde quando, o líder é chefe político em Ipirá e chefe político é chefe, seja aqui, em Itaberaba, Jacobina ou no inferno, se for preciso. Vive-se no limite.

Com um chefe político no quadro funcional fica difícil para qualquer secretário exigir o cumprimento dos deveres ao pé da letra. Não podendo sacudir a peneira para cima das estrelas, a madeira canta sobre os de baixo, com uma vigilância exagerada contra o funcionalismo que está num nível inferior na hierarquia. É muito mais fácil cobrar desses setores laboriais mais fracos do que de profissionais que possuem alternativas e poder de barganha. Esse é o limite, não sei se dos funcionários ou do secretário.

A saúde é uma fabrica de votos. O sistema oligárquico local utiliza-se da saúde para garantir um grande cabedal de votos. A bancada da saúde na Câmara de Vereadores está sempre bem representada e isso simboliza a dependência da população pobre e a fragilidade do sistema de saúde do nosso município. O prefeito Diomário sabe muito bem disso e, talvez, faça bem pouco caso de que isso se acabe. Esses são os limites para quem aceita ser secretário dentro da esfera oligárquica jacu-macaco, mesmo que tenha boas intenções.

Quanto às filas? Elas existem em qualquer parte do mundo, não será Ipirá que não terá o privilégio de não tê-las. É bem provável. Mesmo com a informatização dando passos avançados no sentido de diminuí-las, resta-nos levantar um triste dilema: Qual é a pior fila de Ipirá? 1. A dos bancos. 2. A da Central de Marcação da Secretária de Saúde. 3. A do SAC, quando aparece em Ipirá. 4. A da matrícula das escolas estaduais. 5. A da Assistência Social de Ipirá. 6. A do inferno.

O debate foi de grande serventia para o Movimento Renova Ipirá. Deu para sentir a complexidade do problema. Temos que abrir uma discussão que contemple um elenco de propostas aplicáveis à nossa realidade. Tenho a impressão que um esforço grande tem que ser feito no sentido de avançarmos na implementação da ação preventiva. Temos que atacar as questões mais simplificadas: como a qualificação dos profissionais ligados à saúde, no sentido de termos um bom atendimento; facilitar a busca dos pacientes em sua residência com a utilização de ambulâncias; melhorar a qualidade da estrutura hospitalar e quem sabe, buscar através do esforço político um reconhecimento para o atendimento das necessidades de Ipirá no campo da saúde e, desta forma, furar o limite imposto pela burocracia, pela inviabilidade econômica, pelas insinuações técnicas, pela vontade política de quem quer que seja e a boa determinação para soltar as verbas no momento certo e atendendo às necessidades do município. Talvez esse seja o limite da saúde no município de Ipirá.

3 comentários:

  1. Bem companheiro Agildo, olhar para a #SAL úde de Ipirá, é o mesmo que olhar para um pobre miserável e vê-lo com as duas pernas quebradas. Não vai à lugar algum. Pois, como no passado, a desgraça continua, porque o descaso e desrrespeito com a saúde pública permanece o mesmo.Entretanto o secretário deiz que a SAL úde nunca esteve tão bem ( mal ), mas na verdade o que se vê são as filas constantes, ao invés de informatizar o sistema, sobre tudo a desorganização é total.E como vimos na quele debate do RENOVA, SAÚDE em Ipirá, tem menos prioridade (dinheiro), do que abastecer quase todos os carros e motos de Ipirá em época de eleição, onde se gasta #milhões. Issso nós não aguentamos mais.
    RENOVAR É PRECISO - 2012
    TINECK.

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  2. Meu caro professor Agildo, apesar de não estar na nossa cidade eu tenho verificado que Ipira cresceu gradativamente em varios termos,o que é percebivél que temos os impostos gerados para a saude! Saude que esta com uma doeça cronicanão só afetando a população mas ja deveriamos saber que o mal de alzheimer afeta o cerebro e acho que o desta cidade jaesta em fase terminal. ass: ademilson gonçalves

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  3. É companheiro Agildo, a saída é investir em funerária. Em Ipirá é morrendo que se vive para vida eterna.

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