Feira de Ipirá, toda quarta; meio de vida, sobrevida,
bem mais sobrevivência. Sol a pino; ruas aguardando saneamento e sonhando com
asfaltamento. O Demo sobe a Avenida.
Faltando cabelo para pentear, botou a domingueira e
perfume para disfarçar; Rolex reluzente ao sol; sapato Rafarillo espelhado pelo
brilho; camisa italiana indobrável. Lá vem o Demo subindo a Avenida.
Garboso e sorridente! Sorrateiramente a mão do
malandro acenava prá lá e prá cá espalhando o vento. Acena prá lá! Vai prá lá
fedegoso da silibrina. Acenava prá cá! Te desconjuro, oh, ‘maledito finório!’
Tu não me enganas espertalhão da UDN, da ARENA, do PDS, do PFL, do Demo da
maldição. O Demo percorrendo a Avenida.
O folgado cambaleia, o gingado não tem samba no pé,
vai como um trem no trilho em tempo de chuva, ensaboado. Bem ensaboado e
ceboso! Escorregadio como traíra que não se deixa agarrar. O sujeito tem
rebolado na língua. Língua de cobra criada. O Demo deixa a Avenida, adentra
pelo calçadão.
O trapizuma mostra-se solícito. Um flash atrás do
outro. A máquina Yashica profissional que objetiva a foto que se quer, serve
mais do que a que se tira, enquadra, preenche, triplica e multiplica; uma trempe
vira uma multidão. O Demo sapateia serelepe no calçadão.
O espertalhão solta a sua lábia cheia de sutileza: “Eu
não esqueço essa Ipirá, que não me sai do coração e do pensamento”. Quem não
era passou a ser filho de Ipirá. Ipirá nunca teve tanto “filho ilustre” junto.
Tu já viu que engana tolo desarranjado? Chega prá lá jacaré, que rabo de lagartixa
não cabe em lata de sardinha. O Demo estribuchando no galpão do Caboronga
cheio, com trezentas pessoas.
O matreiro soltando a isca, palavras que voam sem asas
em busca de ouvidos abertos, viajam suavemente pelo ambiente: “É verdade! É verdade!”
Engoliu a isca um desavisado, meio desatinado e sempre desantenado. O Demo
passou por Ipirá. São tempos em que o encantamento está galopando em ritmo de
preguiça. O povo não tem porque acreditar.
Prefeito Ademildo, não perca seu sono! O Demo subindo
pela Avenida, em Ipirá, foi uma trempinha de gente. Se V. Exa. está com uma
pulga atrás da orelha por causa das pesquisas, aí é outra conversa; porque eu
fico imaginando: V.Exa., prefeito de Ipirá, dormindo dois anos com o Demo,
governando a Bahia! V. Exa. deu um recado certo: “macaco que tem vergonha na
cara não vota em Paulo Souto”.
O
macaco que votar contra o seu candidato está na contramão do seu governo, não é
da história, eu considero isso, querer botar V. Exa. no colo do Demo; vê lá se
V.Exa. vai agüentar uma espetada dessa! Perseguição à vista. Se o macaco
pequeno vai ser perseguido, penso que vai, quero ver o que V. Exa. vai fazer
com macaco graúdo! Espero que não seja um discurso elogioso. Espero.
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