domingo, 12 de outubro de 2014

É DE ROSCA (5)


Estilo: ficção
Modelo: mexicano
Natureza: novelinha
Fase: Não sei se vale a pena ver de novo
Capítulo: 05 (mês de outubro 2014) (um por mês)

NO PÁTIO DA PREFEITURA estavam conversando sobre os resultados eleitorais dois grandes amigos inseparáveis, melhor dizendo, dois gigantes do poder municipal: o ex-prefeito Dió e o prefeito Déo. Em certo momento, ouviram uma cantoria que aumentava o som à medida que se aproximava da prefeitura: “É Jura, é Jura, é Jura. É Jura, camisa nove da seleção”

- Olha quem vem lá! É o nosso deputado, o mais votado de Ipirá – falou o ex-prefeito Dió.

- Te desconjuro! Lá ele! Molungú ponta virada prus quinto, qui o bicho tem fucinho de porco virado prá lua cheia – recitou o prefeito Déo.

- Ele tem que agradecer a nós dois pela votação que ele teve aqui – argumentou o ex-prefeito Dió.

- Lá isso é verdade! E ninguém pode sonegar esse fato contundente – complementou o prefeito Déo.

Neste instante, o deputado Jura aproximou-se sem perder a melodia, nem o ritmo, nem a sintonia com a alegria que lhe transbordava o semblante: “É Jura , É Jura, camisa 9 da seleção”.

- Por que esse 9 da seleção, deputado? – indagou-lhe o ex-prefeito Dió.

-Ora, ora, meu prezado correligionário, ex-prefeito Dió! Eu sou o cracaço da seleção da eleição; comecei com a camisa 1 e já estou na 9, em 2018, vestirei a camisa 10 e em 2022, envergarei a camisa 11.

- Desse jeito, também, o deputado Jura, daqui a cinqüenta anos, com a vela na mão, o deputado vai ficar  pensando em candidatura de deputado – disse o prefeito Déo sorrindo.

- Aí também não, não é prefeito Déo! Cinqüenta é demais, agora, quarenta e nove ainda dá para encarar uma candidatura, porque quanto mais o tempo passa mais a gente vai ficando experiente e fica sabendo onde as cobras que tem votos dormem, ai eleição vira coisa de criança.

O prefeito Déo ficou pensando: “como é que eu vou me livrar desse sujeito! O ex-prefeito Dió armou o bote:

- Com meu apoio o deputado Jura ainda vai se eleger para mais uns dez mandatos e sempre aumentando a votação. Com minha ajuda o deputado Jura subiu de 8 para 9 ... – Disse o ex-prefeito Dió, que foi cortado pelo prefeito Déo.

- Alto lá, ex-prefeito Dió! O deputado Jura aumentou para 9 porque eu sou o prefeito e trabalhei para esse aumento e não foi pouco, é bom que você fique sabendo – falou em boa tonalidade o prefeito Déo.

- Como assim? – perguntou o ex-prefeito Dió.

- Eu deixei com ele a Assistência Social e mandei sete vereadores apoiá-lo – explicou o prefeito.

O deputado Jura pediu a palavra e intrometeu-se na conversa para evitar um conflito de morte e foi dizendo:

- Calma, meus amigos! Eu agradeço aos dois pelo esforço que ambos fizeram na minha campanha. Ao ex-prefeito Dió pela dedicação diuturna que teve e ao prefeito Déo pela militância aguerrida de petista que depositou na minha campanha. Se o prefeito não desse a contribuição financeira que deu, eu não sei se teria essa votação.

O prefeito entufou, o deputado Jura pediu licença e caiu fora. O ex-prefeito Dió ficou imaginando: “como é que eu vou me livrar desse prefeito? Esse sujeito vai ser um calo no meu sapato”. Por sua vez, o prefeito Déo ficou pensanto: “como é que eu vou me livrar desse ex-prefeito? Esse elemento vai ser a pedra no meu caminho”.

Ambos olharam as duas Samu no pátio da prefeitura e tiveram a certeza de que por estas duas ambulâncias não tem milagres em Ipirá, quem precisar embarca. O ex-prefeito Dió pensou num jeito de nocautear o prefeito. O prefeito Déo pensou  no mesmo sentido: “vou dizer uma coisa que ele não gosta, ele vai desmaiar, a ambulância do Samu vai demorar de chegar e ele embarca”. O ex-prefeito tinha pensado do mesmo jeito e soltou o verbo primeiro:

- Ô prefeito Déo! V. Exa. não tem condições de vencer o locutor.

O prefeito Déo sentiu uma tontura e foi caindo da realidade, mas ainda teve tempo de soltar o verbo:

- Ô ex-prefeito! Eu vou inaugurar o matadouro de matar carneiro.

O ex-prefeito Dió ao ouvir a palavra carneiro, fez uma associação a ovelha e sentiu que estava no matadouro, pendurado com uma peixeira enfiada na goela e desmaiou. Quando os funcionários da prefeitura chegaram para o trabalho viram aqueles dois corpos estirados no pátio e foram argumentando ao seu modo.

- Oxente! O que é que o prefeito Déo e o ex-prefeito Dió estão dormindo nessa quentura do pátio e no cimento duro?

- Isso é cansaço, esses dois homens trabalharam dia e noite para que o deputado Jura tivesse 9 mil votos – argumentou com toda convicção outro funcionário.

Suspense: e agora, esse matadouro sai ou não sai?

O término dessa novelinha acontecerá no dia que acontecer a inauguração desse Matadouro de Ipirá. Inaugurou! Acabou, imediatamente.

Observação: essa novelinha é apenas uma brincadeira literária, que envolve o administrador e o matadouro e, sendo assim, qualquer semelhança é mera coincidência. Eles brincam com o povo e o povo brinca com eles.

 

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