‘Ói
nóis na área Marcelão, se derrubá é penalte!’ Vamos começar com um ponto de
vista que chega a ser notório e consenso: a festa do interior é o São João. É o acontecimento maior e
quando acontece uma arribação de gente da capital para o interior.
Os
festejos juninos fazem com que haja uma migração massiva para o interior e as
cidades interioranas que fizerem uma programação atrativa são invadidas, mas não
vou focar no São João nesta postagem, o farei em outros artigos, em breve.
A pauta
desta postagem é a abordagem de uma festa popular, o carnaval, e um festejo genérico,
a micareta. No século passado, que não se distancia duas décadas ainda; duas
festas populares, uma profana e outra misturada com a religiosidade, faziam a
animação, a alegria e a festividade da população de Ipirá: o São João e o
carnaval, ambos realizado no formato tradicional.
O
carnaval em Ipirá era simples, mas participativo e era um bom carnaval na região.
Realizado com batucadas, cordões, bandinhas de músicos, pequenos blocos de
mascarados que saiam de casa em casa para tomar mé, as cantigas da moda e da
dança eram as marchinhas, sendo que o ápice era o grande baile à noite. Tudo
isso realizado a custo acessível a qualquer pessoa e ao poder público. O clima
era de carnaval e a tônica era a alegria e a confraternização entre as pessoas.
Era um festejo popular feito pelas pessoas por livre e espontânea vontade, com
a participação das famílias, onde prevalecia a solidariedade, a interação, a
espontaneidade e o congraçamento humano. Virou coisa do passado.
Quem
jogou a pá de terra foi a jacuzada. Acabou o carnaval e veio a micareta.
Venhamos e convenhamos, é necessário que se analise os acontecimentos. Neste
período, era a fase inicial da incrementação do carnaval de Salvador em um
enquadramento capitalista para que o espaço urbano fosse privatizado pela indústria
de entretenimento e os investidores auferissem lucros estratosféricos. Assim foi
feito.
O tripé (mídia; empresários de trios, blocos, camarotes e cervejaria;
com o apoio do poder público) montou a estrutura de uma festa gigantesca, que
aglomera mais de dois milhões de pessoas, num espaço que vai do Pelourinho à
Ondina, e que vomita lucro em todo seu percurso e esta grande massificação
humana perdeu a ingenuidade e a alegria natural, transformando-se numa aventura
que pode ter o sabor de doce veneno para a alegria ou tristeza. Esse tsunami carnavalesco
nesta fase de implantação e consolidação varreu e acabou todo o carnaval do
interior.
Coube
a jacuzada jogar a pá de terra no carnaval de Ipirá. O trio elétrico da capital
era a bola da vez no espaço público. Fizeram a micareta, um carnaval fora de época.
Morreu na terceira tentativa. Ipirá ficou sem micareta e sem carnaval. Botar
trio na rua não é e nunca foi micareta. Micareta é clima.
Outro
fator saliente nesta produção articulada em busca do lucro foi a transformação
de cantores de trio em estrelas com um custo superfaturado, o que inviabiliza
eventos grandiosos com superstar do axé para que o poder público banque sozinho
essa dinheirama com um orçamento municipal apertado e comprometido com outras
questões sociais necessárias e prioritárias.
As
grandes micaretas são bancadas por foliões que pagam o bloco, que contrata a
estrela a peso de ouro. Alagoinhas que tem uma micareta tradicional não teve
condições de realizá-la este ano, devido ao custo elevado. Feira de Santana
cambaleia nesta questão. Carnaval é feriado nacional, micareta não, isso faz
com que se reduza drasticamente o turismo. E o poder público de Feira não tem
condições e por que bancar sozinho um grande evento? Isso já demonstra muita
coisa.
Na
minha opinião, Ipirá tem mais campo para um carnaval do que para uma micareta,
desde que, seja bem planejado, bem organizado e com uma ótima divulgação. O
grandioso e gigantesco carnaval de Salvador não está conseguindo atropelar o
carnaval de mascarados de Maragogipe que, com três meses antes, não deixa uma
diária hoteleira disponível. São os espaços e oportunidades se oferecendo.
Marcelo
Brandão, uma coisa é certa! Pelo menos nós dois temos a coragem de colocar
nossas opiniões e propostas a respeito de Ipirá. Seria ótimo que outras pessoas
assim o fizessem. De forma aberta, democraticamente, para o engrandecimento de
Ipirá. E, também, aproveito a oportunidade para colocar esse blog como um
espaço de exercício democrático à sua valiosa e importante participação,
bastando para tal, um clique em comentários e a digitação de suas brilhantes
opiniões. Uma Ipirá desenvolvida será fruto do debate livre, respeitoso e
democrático e não da mudez conveniente.
Jacu=Macaco e Macaco é igual a Jacu, modelos de gestões semelhantes; já ocupam a administração totalmente engessados com conveniências previamente comprometidas. Interesses particulares(individuais) sobrepõem os interesses públicos(coletivos) e assim seguem essa novela.#minhaopinião
ResponderExcluirMais uma reflexão oportuna ainda que guiada pelo saudosismo de uma feliz lembrança de tempos que não voltarão. Infelizmente hoje não entendo a " micaretização" dos carnavais do interior como fato cultural e sim como uma oportunidade de se produzir documentos contábeis sob a condição imaterial das atrações levadas para esses eventos que torna mais difícil se contestar os valores efetivamente investidos. Picaretagem conhecida e praticada pelos quatro cantos do país para justificar, quem sabe, gastos de campanha??
ResponderExcluirPrezado Agildo,
ResponderExcluirMuito preciosa sua análise. Sua descrição do antigo carnaval de Ipirá é perfeita. Não consigo dissociar minha puberdade juventude do Carnaval de Ipirá.
Parabéns.
Normando Leão Sampaio
Assino em baixo no comentário postado por NORMANDO LEÃO!!
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