sábado, 2 de janeiro de 2016

DESPEDIDA, EM BOM ESTILO!

Excelente a entrevista do político Antônio Diomário Gomes de Sá ao Site Ipirá Negócios. Foi claro, sincero, não jogou o laço, nem armou a arapuca. Foi uma despedida inteligente, generosa e provida de argúcia, porque abdicou de qualquer candidatura num momento em que carrega a Tríplice Coroa (duas vezes prefeito e a garantia de um sucessor) e afirma-se como o político de Ipirá com maior representatividade, respaldo e prestígio junto à cúpula petista que governa o Estado.

Diomário chegou à Ipirá na década de 1960, com uma calça Lee desbotada, duas mudas de camisa, uma carteirinha de militância no Partidão; trouxe régua, compasso e a sabedoria que conseguiu extrair dos bancos escolares. Tornou-se uma referência na advocacia. A ditadura militar de 1964 tinha a sua ferocidade, Diomário tinha a sua sagacidade camaleônica. Lacrou a boca e fechou os ouvidos. Omitiu-se, quieto ficou o tempo todo.

Imiscuiu-se na politicagem local pelas entranhas do grupo de Delorme, uma oligarquia que, hoje, até que enfim, ele considera, corretamente, aristocrática, conservadora, fechada, propriedade de um senhor, uma coisa que tem dono. Aí conviveu docemente por longas décadas como bom e fiel serviçal, sempre agradando ao cacique oligárquico da família Martins: fazia o papel de guardião dos interesses dos Martins no Cenecista; foi o preposto da oligarquia Martins na tomada do PMDB local, pois a ditadura começava a dar sinais de exaustão devido a luta e a resistência popular, Diomário foi o pau-mandado nesta empreitada para servir aos interesses escusos dos Martins; num ato de extrema bajulação à oligarquia Martins, Diomário encabeçou a mudança do nome da Praça da Bandeira. São alguns de seus feitos.

Ciente dos bons e largos serviços prestados, metodicamente e diuturnamente, Diomário achou que era merecedor do bom reconhecimento e que merecia uma oportunidade por parte dos Martins, lançou-se candidato a deputado estadual. Foi rejeitado pelo grupo e desistiu da candidatura. Recebia a boa-paga da oligarquia Martins, que não dá prego sem estopa.

Diomário nunca foi burro, aprendeu a lição. Sem pestanejar, soube aglutinar as insatisfações dentro do grupo Martins e arribou com a mala, cuia e os votos de uma parcela significativa de eleitores para a outra oligarquia, chefiada por Antônio Colonnezi. Virou prefeito.

Um administrador ardiloso. Combateu a prática da agiotagem que dominava a prefeitura e implementou o sistema de terceirização que canaliza o dinheiro público para empresários genéricos do grupo, num patamar que não resiste a uma investigação mais apurada. Fez fama como gestor que pagou ao funcionalismo em dias, principalmente, devido ao calote passado no funcionalismo pelos prefeitos anteriores: Antônio e Luiz Carlos.

Um administrador matreiro. Ganhou a reeleição com o campo de futebol e cercando duas praças de um milhão de reais cada. Conseguiu vários convênios com a União, principalmente na área de habitação popular, quadras esportivas, UPAS. Administrou Ipirá na abestunta, no ‘vamo que vamo’, pois ao lado da fábrica Paquetá instalou um conjunto residencial, numa área nobre e favorável à concentração de fábricas. Não teve a perspectiva do progresso de Ipirá, sua bitola era a do favorecimento ao grupo.

Diomário foi um vencedor. O seu governo não representou nenhum momento de libertação e participação da população ipiraense. Pontuou e pautou sua gestão pela concentração do poder e pelo atendimento ao grupismo. Não se desligou do sistema. Não virou cacique ou chefe único do grupo, mas transformou-se num dos líderes. Não sei se ele acredita na luta e emancipação popular, não acreditando, sua vida politica foi vitoriosa.

Diomário quer continuar contribuindo de forma humilde, modesta e simples. Com esse gesto, isenta-se de qualquer responsabilidade de uma derrota em 2016 e demarca o seu interregno vencedor diante dos Martins por 12 anos consecutivos. Diomário continua sendo o articulador-chave, imprescindível ao grupo por ter conhecimento de causa. Tem mérito o suficiente. Com a entrevista indica a essência e pontua o imprescindível, mas não concentra sob seu tacão todo o rigor de uma próxima disputa política, seja pela vitoria ou, muito menos, pela derrota. Tem a noção de que chegou o momento exato de passar o bastão para outro.

A Era Diomário consta da marca que registra 12 anos dos Martins fora do poder municipal. Com essa entrevista Diomário redime-se de qualquer culpa por qualquer resultado em 2016.

Diomário agradeceu. Disse ser portador de um débito de gratidão impagável e que não tinha espaço no seu coração para qualquer mágoa ou ódio. Que Diomário tenha a paz merecida até para escrever sua biografia ou suas memórias, que será densa pelo protagonismo, porque foi um coadjuvante que trilhou com eficiência nos seus propósitos pessoais.

Tem muita gente utilizando-se da estratégia de Diomário, querendo comer o grupo oligárquico como se come mingau quente, pelas beiradas. Diomário teve habilidade, competência e a paciência necessária para que isso ocorresse corretamente e nos conformes do seu projeto político pessoal. Hoje, pode tranquilamente despedir-se, agradecer de forma generosa ao povo de Ipirá e descansar em paz nas delícias de Praia do Forte como um ato merecedor ao maior articulador político que já apareceu nestas terras ipiraenses. O resto é conversa.

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