Coloquei essa afirmativa com a melhor boa intenção do mundo.
Logo, vieram os esculachos: “Isso é conversa prá boi dormir, logo não ta vendo
que Ipirá não tem nada para ensinar a São Paulo!” É mesmo? Vamos ver! Até aí eu
vou levando na esportiva, agora, azuretado mesmo, eu fiquei quando eu ouvi:
“Quem é Ipirá, para dar lição a São Paulo!” Uma espécie de repeteco do que
diz ‘azotoridade de Ipirá’ quando
repicam igual a badalo de sino: “Quem é fulano para falar de mim!”
Arrogância não enche barreiro, mas para início de conversa,
Ipirá não tem inveja dos São Paulo era chuva demais; Ipirá é chuva de menos. Ultimamente, em Ipirá, tem cinco anos que acontece o seguinte, as chuvas de trovoadas, as mais aguardadas, chegam cedo, de outubro a dezembro, são setorizadas, enchem as presas e não tem sequência nos meses pós-chuva, aí ocorre o que estamos observando agora, choveu em novembro 14, não teve mais chuva até janeiro 15, as pastagens já estão sem alimento nesta área que vai até o Bravo. Seca é o cotidiano de Ipirá.
São Paulo está planejando a sua ação para enfrentar a crise
hídrica, dois dias com água e cinco sem, na semana; Ipirá são cinco dias com
água num mês; vivemos eternamente com ou sob a crise hídrica e sem solução com
planejamento, espero que São Paulo não chegue lá. Nossa Embasa não brinca em
serviço, vende vento e duvida de qualquer ser vivente que gasta pouca água. A
Sabesp tem que sentar na mesa com a Embasa e aprender como sobreviver em tempos
de pouca chuva e muito lucro.
Mas, vamos deixar de lero lero e partir para os entretantos
que São Paulo tem tanto interesse em assuntar para aprender. No meu entender, o
problema de São Paulo é que nas banda de lá, com a estiagem, entra um caneco de
água e o gasto é dez baldes aí, tenha paciência, a conta não vai fechar. Ipirá
vive décadas de estiagem, já aprendeu a fazer essa contabilidade, é simples.Quando Ipirá era vila e a população ia aumentando, a solução encontrada foi fazer tanques em volta da povoação, era o tanque de Beber, tanque de Santana (para lavar roupa) e o tanque Velho, que era um campo de nudismo masculino para banho. É verdade que isso não dá certo em São Paulo, porque não deu aqui, era um centro de verminose, esquistossomose e outras esquisitices provocada pela contaminação a céu aberto. Entupiram os tanques.
Apareceu um cidadão, conhecido por Dé Fonseca, não tem nem nome de rua na cidade, que bolou um inusitado e auspicioso sonho de trazer água das nascentes da Caboronga para a zona urbana por gravidade. Ninguém acreditava, mas ele trouxe. A cidade entrou na era da lata na cabeça, carote e barril rolando pela cidade. Eu fico imaginando São Paulo com engarrafamento de barril carregando água e a impaciência de carros e motos num buzinaço terrível achando-se donos das ruas. Os carros são donos das ruas. Barril é barril, chega de problema.
Chegou a água do rio Paraguaçu em Ipirá. Isso rendeu voto que foi uma beleza, não era para menos. Com a água veio a Embasa. Com a Embasa chegaram as contas de água e vento. A crise hídrica não parou de existir. Na falta de chuva, Vavazinho, que foi o mais determinado e aguerrido preposto da Embasa em Ipirá, corria para fazer barragem de saco de areia em um braço do rio Paraguaçu. Foi um período de um dia de água por rua e por mês. Se São Paulo chegar a esse ponto vai ver o que é bom pra tosse.
Hoje, em Ipirá, estamos no céu, damos descarga com água da Embasa. Empurramos água tratada no esgoto para ‘purificar o esgoto e poluir a água’. Temos uma costela de serra que vai do São Roque a Nova Brasília (uns
Aqui é assim, uma cisterna de captação de água deve ficar em
torno de R$ 1.500,00 acontece que o produtor rural não dispõe desse recurso
para fazê-la, tem que ser assistido. São Paulo não tem essa problemática da
falta de recursos, mas o sistema de captação de água por cisternas é
praticamente impensável. Carro-pipa virou a solução daqui e tornou-se a de lá.
São Paulo não siga nossos passos; faça o que não conseguimos
fazer. Não bebam essa água do Cantareira, eu observei pela televisão, que tem
gado bovino bebendo e despejando dejetos nessa água que está poluída com tanto
detrito plástico e lixo. Se for possível um bom conselho, eu digo, poupem água,
no banho peguem um caneco de água que é o suficiente para limpar o quiquio,
também conhecido, em nossas bandas, por subaqueira (sovaco), depois atochem um
perfume e vamo que vamo. Se vive também de aparência, pelo menos para pagar o
que fazemos de errado, sem eficiência e organização.
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