quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

SÃO PAULO TEM QUE APRENDER COM IPIRÁ.


Coloquei essa afirmativa com a melhor boa intenção do mundo. Logo, vieram os esculachos: “Isso é conversa prá boi dormir, logo não ta vendo que Ipirá não tem nada para ensinar a São Paulo!” É mesmo? Vamos ver! Até aí eu vou levando na esportiva, agora, azuretado mesmo, eu fiquei quando eu ouvi: “Quem é Ipirá, para dar lição a São Paulo!” Uma espécie de repeteco do que diz  ‘azotoridade de Ipirá’ quando repicam igual a badalo de sino: “Quem é fulano para falar de mim!”
Arrogância não enche barreiro, mas para início de conversa, Ipirá não tem inveja dos 200 km de engarrafamento de São Paulo, até mesmo porque, quando tem um engarrafamento na rua de Cima, na sinaleira, com dez carros, é um ‘Deus nos acuda’, um aborrecimento que não tem tamanho. Inveja mesmo de São Paulo! Ipirá a tem quando observamos, pela televisão, as ruas da capital paulista alagadas: “Essa chuvarada não podia ser aqui?”

São Paulo era chuva demais; Ipirá é chuva de menos. Ultimamente, em Ipirá, tem cinco anos que acontece o seguinte, as chuvas de trovoadas, as mais aguardadas, chegam cedo, de outubro a dezembro, são setorizadas, enchem as presas e não tem sequência nos meses pós-chuva, aí ocorre o que estamos observando agora, choveu em novembro 14, não teve mais chuva até janeiro 15, as pastagens já estão sem alimento nesta área que vai até o Bravo. Seca é o cotidiano de Ipirá.

São Paulo está planejando a sua ação para enfrentar a crise hídrica, dois dias com água e cinco sem, na semana; Ipirá são cinco dias com água num mês; vivemos eternamente com ou sob a crise hídrica e sem solução com planejamento, espero que São Paulo não chegue lá. Nossa Embasa não brinca em serviço, vende vento e duvida de qualquer ser vivente que gasta pouca água. A Sabesp tem que sentar na mesa com a Embasa e aprender como sobreviver em tempos de pouca chuva e muito lucro.
Mas, vamos deixar de lero lero e partir para os entretantos que São Paulo tem tanto interesse em assuntar para aprender. No meu entender, o problema de São Paulo é que nas banda de lá, com a estiagem, entra um caneco de água e o gasto é dez baldes aí, tenha paciência, a conta não vai fechar. Ipirá vive décadas de estiagem, já aprendeu a fazer essa contabilidade, é simples.

Quando Ipirá era vila e a população ia aumentando, a solução encontrada foi fazer tanques em volta da povoação, era o tanque de Beber, tanque de Santana (para lavar roupa) e o tanque Velho, que era um campo de nudismo masculino para banho. É verdade que isso não dá certo em São Paulo, porque não deu aqui, era um centro de verminose, esquistossomose e outras esquisitices provocada pela contaminação a céu aberto. Entupiram os tanques.

Apareceu um cidadão, conhecido por Dé Fonseca, não tem nem nome de rua na cidade, que bolou um inusitado e auspicioso sonho de trazer água das nascentes da Caboronga para a zona urbana por gravidade. Ninguém acreditava, mas ele trouxe. A cidade entrou na era da lata na cabeça, carote e barril rolando pela cidade. Eu fico imaginando São Paulo com engarrafamento de barril carregando água e a impaciência de carros e motos num buzinaço terrível achando-se donos das ruas. Os carros são donos das ruas. Barril é barril, chega de problema.

Chegou a água do rio Paraguaçu em Ipirá. Isso rendeu voto que foi uma beleza, não era para menos. Com a água veio a Embasa. Com a Embasa chegaram as contas de água e vento. A crise hídrica não parou de existir. Na falta de chuva, Vavazinho, que foi o mais determinado e aguerrido preposto da Embasa em Ipirá, corria para fazer barragem de saco de areia em um braço do rio Paraguaçu. Foi um período de um dia de água por rua e por mês. Se São Paulo chegar a esse ponto vai ver o que é bom pra tosse.

Hoje, em Ipirá, estamos no céu, damos descarga com água da Embasa. Empurramos água tratada no esgoto para ‘purificar o esgoto e poluir a água’. Temos uma costela de serra que vai do São Roque a Nova Brasília (uns 40 km), boa de vento e não utilizamos um sistema eólico; temos sol o ano todo e não utilizamos placas solares; temos riachos e rios intermitentes e não fazemos a perenização com pequenas barragens. Quando chove esquecemos da seca. Quando estamos na seca temos pouco a fazer. É nossa cultura. Planejar não é nossa horta.
 
Aqui é assim, uma cisterna de captação de água deve ficar em torno de R$ 1.500,00 acontece que o produtor rural não dispõe desse recurso para fazê-la, tem que ser assistido. São Paulo não tem essa problemática da falta de recursos, mas o sistema de captação de água por cisternas é praticamente impensável. Carro-pipa virou a solução daqui e tornou-se a de lá.
São Paulo não siga nossos passos; faça o que não conseguimos fazer. Não bebam essa água do Cantareira, eu observei pela televisão, que tem gado bovino bebendo e despejando dejetos nessa água que está poluída com tanto detrito plástico e lixo. Se for possível um bom conselho, eu digo, poupem água, no banho peguem um caneco de água que é o suficiente para limpar o quiquio, também conhecido, em nossas bandas, por subaqueira (sovaco), depois atochem um perfume e vamo que vamo. Se vive também de aparência, pelo menos para pagar o que fazemos de errado, sem eficiência e organização.

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