sábado, 24 de maio de 2008

COMENDO CORDA.


Existem alguns ditos populares que são extremamente exemplares, como "TU TÁ COMENDO H", ou aquele "TU TÁ COMENDO CORDA", bem como "SENTADO NA GRAXA", e até mesmo o tal do "CISCANDO IGUAL A GALINHA", também "TÁ DE BOBEIRA", ainda mais "COBRA NA BOCA DE CACHORRO", tem mais "A ONÇA VAI BEBER ÁGUA", sem esquecer o famoso "BOTANDO PILHA".

Achei interessante fazer uma ligação destes
ditos populares com a atual conjuntura política no município de Ipirá, até porque, a politicagem local está "CISCANDO IGUAL A GALINHA NO TERREIRO". Faltando 5 meses para o pleito eleitoral, justamente na hora da "ONÇA BEBER ÁGUA", e até o momento não se fez outra coisa, a não ser ciscar, ciscar, ciscar, e não se tem nenhuma definição. E por que não se define, desde quando já existem elementos concretos suficientes para isso ? É porque tem gente "COMENDO CORDA".

O povo, como sempre, está fora do poder de discussão e decisão, por isso, atrevo-me a separar naturalmente com sua ajuda e participação, caro leitor, o que é verdade e o que é fofoca nesse insosso angu de caroço (como catingueiro gostei desse nome).

Ponto 1. Considero verdadeiro, com 99,9 % de certeza, que o macaco não aceita Diomário na "cabeça da chapa" nem pintado de ouro e muito menos ( aí 100%) a chapa Diomário-Ademildo. Só se ilude quem gosta ou não enxerga. Você acha o que ? Sim ou não ?

Ponto 2. Diomário jura de pés juntos que será candidato à reeleição e que irá até o fim com Ademildo na vice para o que der e vier. Você acredita ? Se você acredita vamos para a lógica: junte a verdade do ponto 1 com a do 2 e elimine qualquer motivo para não haver uma definição já. Se Diomário vai ser candidato com Ademildo, será sem o apoio do macaco. Isso já está claro e consumado. Vai esperar por que ? Se não for assim, tem gente "COMENDO CORDA". Eu não acredito que ele saia candidato sem o macaco. Tem gente que aposta que não sai candidato sozinho. E você ? Sim ou não ?

Ponto 3. Vamos a uma conclusão verdadeira: se Diomário não sair candidato sem o macaco, o PT em Ipirá "SENTOU NA GRAXA". Outra conclusão para quem escolheu o NÃO nos pontos 1, 2 e 3, tudo não passou de fofoca. Você escolheu o que ?

Ponto 4. O macaco está "COMENDO CORDA" enraivado e fala até em juntar-se ao jacu. É aí que Diomário fica de "BOBEIRA" até mesmo depois de dizer aos quatro cantos que a macacada é incompetente, agora tem que admitir que o bicho também é besta e tem o miolo mole, pudera, quem mandou futucar o bicho com vara curta. Para mim isso é 10% fofoca. E para você ? Mais uma conclusão: se não for fofoca a macacada deverá lançar candidato do próprio grupo. Sim ou não ?

Ponto 5. O defunto jacu anda doido para ressuscitar. Sem eira nem beira, pois não tem poder nenhum, e com a cuia na mão largou o carlismo e pongou na garupa de Geddel, curvando-se para lamber suas botas, atrás de uma graninha para a campanha, vive momentos de euforia com a divisão da situação, pois é a única maneira de não colocar um candidato só para constar. Dizem que Maurício estica a corda com Luís Carlos. Para mim isso aí é 50% fofoca e para você ? Sim ou não ?

Ponto 6. Resta o PCdoB em Ipirá, que está firme no propósito de lançar candidato próprio para prefeito, enfrentando as oligarquias (jacu e macaco) e também, mantém-se firme no propósito de discutir uma aliança no campo da esquerda ou até mesmo numa frente mais ampla que viabilize uma Terceira Via mais robusta, mas não nesse "jogo de empurra" e sim, com a participação do povo e mantendo uma postura democrática, corajosa, ousada e de quem tem vontade para lutar, saindo desse "jogo de compadre", onde só se faz "COMER CORDA".

Vou terminar esse artigo com uma fofoca quentíssima; lá vão os nomes dos três futuros candidatos ao pleito municipal 2008 em Ipirá: Luís Carlos Martins (se a Justiça Eleitoral deixar); Antônio Colonnezi (se a Justiça Eleitoral deixar) com apoio de Diomário e enganchado com o PT; e pela esquerda o candidato do PCdoB. Aguardem só mais um mês de fofoca, até o fim de junho.
Alô, você ! gostou da fofoca ? Alô, cumpade ! não se arrete comigo não, filho de Deus, eu sou assim mesmo, sempre com a língua solta. Não se "azangue" não companheirada, na democracia a gente não enxerga direito as coisas e fica achando que "COBRA NA BOCA DE CACHORRO VIRA LINGUIÇA" e eu "SÓ TÔ BOTANDO PILHA" para divertir os leitores desse blog.

segunda-feira, 19 de maio de 2008

O CRÉU.




O que é o sucesso ? Consta no dicionário que "é uma obra ( livro, filme, espetáculo, música) que consegue grande êxito"; e ainda mais, " autor ou artista de grande popularidade".

Fico a indagar: se uma porcaria literária ou de espetáculo pode fazer sucesso ? Tudo é possível. Penso na penetrabilidade, na durabilidade e nas manipulações que ocorrem nessa área, mas se não houver um mínimo de eficiência as coisas não acontecem. Ou não é assim ?

Vamos aos fatos. Quero retratar o sucesso do Créu nestas bandas de cá, ou seja, na cidade de Ipirá, que fica no semi-árido baiano. Toda vez que passo pela travessa São José, que fica entre a Praça da Bandeira e a Praça São José, vejo Créu, sempre de cócoras ou sentado em uma cadeira na porta de sua casa, tirando baforadas de um cigarro de palha, que espalha uma fumaça e um aroma forte de fumo, defumando todo o ambiente.

Observo aquela figura humana entregue ao definhamento físico que sofre todo ser humano com o passar do tempo e vejo que o desgaste natural está bastante acentuado no aspecto facial, muscular e no vigor, mas nem sempre notado pelos passantes, sejam eles, homens, jovens ou madames, que nem sequer olham para a cara do Créu, nem ao menos, dão um "bom dia seu Créu !" nem mesmo indagam "como vai seu Créu ?"; devido a isso, Créu vive um anonimato profundo em Ipirá.

Na década de 1960, chegou nesta terra o Circo Garcia com grande barulho e muita novidade. Havia um grupo de lutadores de luta-livre que fizeram o maior sucesso, tendo como expoente máximo a lutadora Salomé Garcia, com quase dois metros de altura e uma coxas robustas e musculosas. Em sua primeira luta, Salomé enfrentou o astro do telequete Ted Boy do Mar, vindo diretamente do Rio de Janeiro, pelo menos, foi o que eles disseram, e aplicou-lhe uma surra magistral, acompanhada de perto por todo o circo, que estava com sua lotação completa, que no final ouviu o desafio do apresentador: "se nesta terra tem homem, que ele apareça para enfrentar esta mulher guerreira, a graaaande SALOMEEEÉ GARCIIIIA". Esta frase teve o efeito de uma bomba atômica sobre a cidade.

O prefeito reuniu os vereadores, autoridades e personalidades notórias da cidade, que indicaram como melhor solução para enfrentar o desafio que se tornou uma questão de honra para a boa reputação da cidade, a escolha de um soldado, naturalmente baseados na valentia dos praças que atuavam em Ipirá. A reunião do delegado com os praças que trabalhavam no município foi um tremendo fracasso, pois o que se ouviu foi um quase unânime "comigo ela não aguenta dois sopapos, mas eu estou com esse braço machucado e eu vou ter que botá na tipóia hoje mesmo; senão ela ia vê o bom prá tosse", até o praça Matias, acostumado a enfrentar a mulher em casa saiu pela tangente "se a jararaca lá de casa não tivesse botado minhas parte baixa do tamanho de uma jaca ela ia vê" e saiu com as pernas abertas, capengando e gemendo.

O insucesso da reunião da delegacia foi preocupante e depois de dois dias de reunião do Conselho, uma voz iluminada tirou o grupo do desalento "e por que a gente não bota o Créu para enfrentar essa mulher ?". O desafogo tomou conta do salão e os sorrisos voltaram a estampar em todos os rostos.

O jovem Créu que tinha saído do exército apresentava um conjunto de músculos salientes, ainda mais quando vestia uma camisa apertada, e tinha a força de um tanque-de-guerra. Créu tornou-se uma unanimidade no Conselho e na cidade. Chamado perante o prefeito, falou pouco, mas disse a verdade "seu doutor, eu não sei lutar" e ouviu muito "não é por isso, Zelito de Édson vai te ensinar uns golpes salvadores" e tem mais "você vai ser funcionário da prefeitura só para ficar de sobreaviso e enfrentar esses cantadores de valentia que se atrevam a chegar na cidade" e mais "você vai ter uma estátua na frente da Matriz, pisando na cabeça de uma cobra, engarguelando um leão e dando uma dentada numa onça" e mais ainda, "você vai ganhar uma lambreta de presente, pelo reconhecimento de sua valentia e de ter salvo a honraria e a machitude desta cidade.

Foi providenciado e Créu recebeu um saco de farinha e um caixote de rapadura para reforçar a sustança. O treinamento foi duro, pois o descanso era pouco e todo dia, Créu ia correndo até a Caboronga e retornava carregando um saco de manga e duas jacas. Subia o Monte Alto pelo menos seis vezes ao dia. Na primeira luta, Créu dorrotou um tal de Parrudo, que era lutador do circo. A partir desse instante Créu virou celebridade e todos queriam ver, pegar e falar do Créu. As crianças eram levadas para ver o Créu, que não negava um autógrafo a ninguém.

Chegou o grande dia da luta entre Créu x Salomé Garcia. O circo estava lotadíssimo. Na fila de cadeiras de frente para o ringue ficavam o prefeito, juiz, promotor, delegado de polícia, vereadores e demais autoridades, com suas respectivas esposas. O galinheiro do circo não tinha espaço para uma mosca. Por orientação de Zelito de Édson, o lutador Créu, digno representante do povo de Ipirá, tomou um banho-maria com banha de porco e ficou lustroso e escorregadio.

A luta começou e o juiz da contenda era do próprio circo, o que deixou cismada as autoridades locais, que rapidamente definiram, "qualquer descaração vai parar todo mundo na cadeia". Salomé Garcia, num golpe de esperteza, tentou segurar com firmeza o adversário e sua mão escorregou pelo corpo do ensaboado Créu, que estava com toda potência do seu vigor físico e segurava, derrubava, levantava, deitava e rolava Salomé, que se sentia dominada. A platéia delirava. Créu agia rápido e, num golpe de mestre, conseguiu abrir as pernas de Salomé e a platéia pulando e ovacionando, gritava enlouquecidamente em uma só voz: "lasca ! lasca! lasca! lasca !". O Créu parou por um instante, estava lânguido, e isso foi o tempo suficiente e esperado por Salomé Garcia para sair daquela posição e mudar para outra posição e, o que se viu a partir daí, foi a maior recuperação já vista num ringue, momento em que Salomé aplicou pernada, embolada, rabo-de-arraia, cotovelada, dentada, cacetada, mãozada e muito mais, derrotando o Créu, o maior representante que teve Ipirá nos tapumes do Circo Garcia. A tristeza foi geral; muitos choravam; outros não acreditavam. O sucesso do Créu foi meteórico. Depois desse dia foi um anonimato profundo e distante que Créu sentiu nessa cidade.

O tempo passa e as cortinas ficam fechadas nos palcos da vida. Muito tempo depois, vem o reconhecimento dessa figura humana extraordinária que é o Créu e, agora com reconhecimento nacional, na forma poética e musical. Com isso, lembro-me do jornalista e escritor Sérgio Porto, que usava o pseudônimo de Stanislaw Ponte Preta, e escreveu FEBEAPÁ (Festival de Besteira que Assola o País), e aqui eu termino este causo, pensando em fazer sucesso com ele, até mesmo entrando no FEBEAPÁ.

sexta-feira, 9 de maio de 2008

A VIDA COMO ELA É.

Na democracia.
Foi nesse período que o imperador ACM tomou a maior vaia já observada na cidade de Ipirá. Era um dia de quarta-feira, o dia da feira pública na cidade, aproximadamente uma hora da tarde e um sol de lascar; a multidão impacientemente acotovelava-se na rua de Cima. Era um comício da jacuzada em prol da candidatura Maurício Brandão para prefeito do município. A jacuzada estava esfuziante, lépida e fagueira com a chegada do Toninho Malvadeza. A cúpula dos jacus adorava, idolatrava e santificava o Toninho Ternura, não sabíamos, nem imaginávamos, que era enquanto poder e vida tivesse, como a realidade veio mostrar-nos mais tarde. A macacada estava indócil, apreensiva e saçaricando em chapa quente.

Por trás da multidão havia uma faixa da APLB-Sindicato cobrando os salários atrasados dos professores ao prefeito Luís Carlos. O imperador ACM pegou o microfone, saudou o povo de Ipirá e apertou os olhinhos e fitou a faixa e rugiu com a voz da prepotência "o que eles querem é roubaaaaaaaaaaá", falou apenas um minuto, não disse mais nada, a vaia não deixou. Foi impressionante o que se viu; a multidão de trás encurralou a jacuzada na frente do palanque e soltou uma estrondosa, persistente e avassaladora vaia que deixou ACM atônito e sem entender nada, na sua última aparição nesta cidade. Não teve polícia para amordaçar o povo e a liberdade expressou-se apagando o rugido intolerante e prepotente do velho imperador da Bahia.

Quem foi o protagonista dessa ação foi a macacada, o povão que forma a base da macacada, não a cúpula dos macacos que sempre foi humilhada, pisoteada e desprezada, mas nunca deixou de lamber as botas do carlismo. Diomário era o candidato dos macacos e foi o vencedor do pleito. Pode até dizer que não era carlista, mas que gostava e adorava os amigos do carlismo que estavam no poder, isso lá, é pura verdade, que o diga Paulo Souto, enquanto foi governador. É assim no tempo da democracia.

Nos dias atuais estamos vivendo um tabuleiro de acarajé. Diomário quer Ademildo e também quer Antônio, que quer o PT, mas não quer Ademildo, que quer ser vice de Diomário, com apoio de Antônio, que quer a cabeça com a vice do PT, com apoio de Diomário, que não abre mão da cabeça e não dispensa a macacada, que não quer Diomário na cabeça, mas aceita Antônio com a vice do PT, que não quer largar Diomário, que não desiste da reeleição, nem do PT, nem de Antônio, nem dos macacos; e todos eles juntos querem Jaques Wagner que é o único que sabe o que quer: o mais votado. Tá confuso ? É assim mesmo, quando se discute só nomes e nem de longe se toca em programa, o beco fica sem saída. É assim no tempo da democracia.

Neste vatapá ipiraense quem comanda o tabuleiro é o prefeito Diomário Sá, que esfriou o dendê ao seu gosto e preparou a massa do acarajé do jeito que bem entende. Só vai decidir no tempo certo e que lhe convém, ou seja, nas proximidades das convenções; e não adianta ultimato, nem exigência da concordância de um programa mínimo, como quer o PT, porque o tabuleiro que era de acarajé virou um tabuleiro de xadrez e é preciso ter calma, paciência, tolerância e pensar muito, porque isso Diomário faz muito bem, e muito mais do que muita gente junta.

Quando o PT exige uma decisão de sua parte, Diomário, simplesmente, pede paciência e jura que vai até o fim com o PT para o que der e vier. Vai ter que esperar para ver. Quando Antônio diz que é candidato, Diomário, simplesmente, fala da união dos macacos e que vai junto até o fim, que é a vitória. Vai ter que esperar para ver. Nessa geléia quero ver quem tem coragem para derrubar o rei. O chefe do tabuleiro de xadrez, Diomário, joga com um só xeque-mate: ele na cabeça. A vice ? pode ser Ademildo, com a macacada aceitando uma secretaria ou Antônio, com o PT aceitando uma secretaria. Aí não dá outra; o PT vira PeTeca ou o macaco vira saguim. Na democracia é assim.

Em 2000, o PCdoB lançou a sua segunda candidatura para prefeito de Ipirá, foi a do camarada Nadilson, numa coligação com o PT, sendo uma campanha difícil e cheia de dificuldades, mas tivemos a coragem de saudar os ipiraenses que tinham coragem para lutar. Em 2008, estamos vivenciando novamente, uma conjuntura extremamente complexa e de difícil conclusão. O PT teve pressa em lançar um pré-candidato para diluí-lo e desgastá-lo pouco tempo depois, quando tal proeza só fazia sentido, no nosso entendimento, na viabilização de uma terceira força num campo mais amplo para enfrentar os candidatos do jacu e do macaco, e esperar isso de Diomário é mesmo que botar a mão na fogueira e queimar todo o corpo, de tanto esperar. Diante da situação política que se apresenta em Ipirá, o Diretório do PCdoB de Ipirá definiu pelo lançamento de um candidato próprio para a disputa democrática contra o jacu e o macaco e o enfrentamento no campo das idéias e programático, para fazer Ipirá desenvolver e aumentar a consciência política de seu povo. Esperamos compartilhar nessa luta com os valorosos companheiros do PT de Ipirá e também, estamos abertos para a formação de uma frente mais ampla contra jacu e macaco, mas que essa Terceira Via seja um caminho concreto, democrático e de quem tem coragem para lutar.

quinta-feira, 1 de maio de 2008


A VIDA COMO ELA É.


NA DITADURA.
Em 1982, o jornal Correio da Bahia, com seu espírito patrulhador, denuncista ou dedo-duro, ou até mesmo ameaçador, colocou uma matéria apontando os candidatos comunistas na Bahia, com a intenção de criar dúvida ou temor no eleitorado. Constava os nomes de Haroldo Lima, Luiz Nova e Luiz Marques, que era candidato a prefeito em Ipirá pelo PMDB.

É bom salientar que o PCdoB estava na ilegalidade por imposição do regime ditatorial e atuava dentro do PMDB. Numa eleição com imensas dificuldades e voto vinculado, que é uma camisa-de-força, conseguimos 510 votos que expressavam um anseio de liberdade. Então, para início de conversa, Luiz Marques foi o primeiro candidato a prefeito pelo PCdoB em Ipirá e eram tempos de ditadura.

No Brasil, toda vez que ocorriam eleições, a oposição dava uma cacetada que atordoava os donos do poder. Na Bahia, os lacaios da ditadura queriam mostrar a qualquer custo que tinham respaldo junto ao povo baiano e a estratégia que usavam era avançar sobre o interior, que era visto e tido como o maior curral eleitoral do PDS. Ipirá era a vitrine da vez e serviria para essa amostragem. O cenário estava montado. Seria a inauguração da água do Paraguaçu na cidade. O esquema empregado era avassalador e aconteceu com a intenção de não perder um só voto no município. Essa era a vontade do imperador da Bahia e dos seus apaniguados locais.

Na entrada da cidade, bem em frente ao Posto Médico atual, montaram um outdoor que era do tamanho do mundo, com as caras de ACM, João Durval e Josafá. Pense em algo convidativo para uma melança. Um dia antes ao evento, a cidade ficou infestada de policiais secretas e gorilas para amaciarem o terreno e evitar qualquer tipo de manifestação contrária, por menor que fosse, ao poder.

Na porta do comitê do PMDB, que ficava vizinho ao local onde hoje fica a padaria de Dudi, ali na Praça da Bandeira, ficou um carro, com placa de Salvador, estacionado durante todo o dia e parte da noite, como se quisesse dizer "olha lá ! eu estou aqui", naturalmente, fazia a sua espionagem. Luiz Marques não aguentou a tentação e planejamos a ação do bando de assaltantes do céu. Fechamos o comitê por volta de 7 h da noite, e sorrateiramente adentramos pela porta dos fundos, fazendo um trabalho silencioso, no preparo da cola com o diabo-verde engolindo uma dosagem reforçada de farinha do reino, para a sujeita ficar pegajosa e aderente.

Por volta de 1 h da madrugada, a cidade dormia o sono dos justos e dos inocentes. O caminhão de Valnei encostou na porta do comitê, que cuspiu um bando de jovens, com escadas, latas de cola, rolos e a rapidez de um relâmpago para cima da carroceria, onde todos ficaram deitados no lastro. Descemos pela rua de Cima e quando passamos pela quadra do Fomento, havia um carro parado, com quatro elementos dentro; seguimos e paramos embaixo do outdoor; o carro da quadra acendeu os faróis e veio em nossa direção; Valnei ligou o caminhão e seguiu pela estrada do Feijão em direção à Feira de Santana; outro carro, no Posto São João, acendeu os faróis e veio para a pista; quando passamos pela subestação de energia, tinha um carro parado no acostamento, com uma pessoa em pé ao lado e um transmissor nas mãos, seguimos igual a uma flecha e os três carros vieram atrás do caminhão. Valnei, que era bom de volante, dirigia pelo meio da pista para não dar passagem aos três carros. Quando chegamos na entrada do Pau-Ferro, Valnei cerrou e entrou no povoado, os três carros passaram diretos e o que se ouviu foi a cantoria dos pneus no asfalto com as freadas.

Pegamos uma estrada de chão e viemos sair cá no Anum e os três carros ficaram estacionados na entrada do Pau-Ferro esperando nosso retorno. Paramos embaixo do outdoor; escadas foram erguidas e o mascote do bando era Besourão, que com a rapidez de um gato, subiu no lastro superior do outdoor para segurar os cartazes e os rolos encharcavam com cola, gosto e boa vontade, a cara de Toninho Malvadeza. Era um retrato atrás do outro e o grande painel ficou democrático e combativo, com a fachada de Roberto Santos, Waldir Pires, Haroldo Lima, Luiz Nova e Luiz Marques. De ponta a ponta, a galera do bando de assaltantes do céu mostrou os dentes, num sorriso cúmplice e camarada. Ipirá também dizia não à ditadura.

Subimos pela rua de Feira, em direção ao Campo do Gado. A madrugada de Ipirá estava infestada de jagunços, paus-mandados, gorilas e a peãozada que colava cartazes do PDS em todas as casas, de todas as ruas, por onde ia passar o cortejo. Era um verdadeiro acinte, abuso de poder e desrespeito, porque não pediam autorização aos moradores. No Campo do Gado deparamos com um grupo que começava a colar cartazes do Malvadeza em cima de um painel que fizemos na parede de Menininho, com sua permissão: "Essa chama não se apaga" com a sigla do PMDB e uma chama saindo do nome. Valnei brecou o caminhão e saltamos o mais rápido possível. Raimundinho foi logo gritando "não toquem nessa parede ! pode tirar esses retratos daí". Luiz Marques foi logo arrancando os três retratos que estavam colocados no nosso painel.

Em meio a essa confusão, Ivan Lima atacou, pelo quintal de sua casa, com pedras, um grupo de paus-mandados que estavam fazendo colagem na rua do Cenecista e eles tiveram que correr para o Campo do Gado. Sem entender como tinha acontecido, um deles dizia: "poxa véio, ali teve uma chuva de pedra prá cima da gente, não sei de onde veio". Assustados, os coladores resolveram concordar conosco e um deles, mais compreensivo, disse: "é meu irmão, a gente não vai mexer na pintura de vocês não, podem ficar no sossego; a gente nem vota nesses cão, agora, a gente precisa de grana e tá nesse serviço, prá descolar uns trocados". Mantivemos guarda durante o resto da madrugada circulando pelas outras propagandas que tínhamos na cidade, enquanto a tropa de ACM pesteava e emporcalhava todas as casas com os estrumes da ditadura. Na Praça da Bandeira ficaram três casas sem o carimbo: o comitê, a casa paroquial e a minha.

Pela manhã, por volta das 7 h, o pessoal que ia de kombi para Feira de Santana, não entendeu nada. Mais de vinte homens no outdoor, tentando desgrudar as fotos do painel e um deles esbravejando dizia, "que cola da desgraça é essa ! se eu pego um comunista desse, eu ia fazer ele beber toda essa cola".

Quando o imperador ACM entrou na cidade, tudo estava em ordem; na frente do painel da parede de Meninho, eles colocaram um caminhão com lona alta na carroceria. O imperador ACM nada viu. Uma multidão aguardava-o em frente ao coreto da Praça da Bandeira. Com uma mangueira, o imperador da Bahia molhou o rosto com as mãos e jogou água no povo, dizendo-lhe: "Eu trouxe água para Ipirá, porque eu amo Ipirá e Ipirá vai me dá 100% de sua gratidão". O imperador ACM estava acompanhado do candidato a prefeito dos macacos, Humberto Colonnezi, e do candidato a prefeito dos jacus, Roberto Cintra, ambos, apoiando o poderoso chefão ACM, que apoiava a ditadura militar no Brasil. Ipirá foi a terceira maior frente que o PDS da ditadura obteve no estado, perdendo só para Juazeiro e Irecê.

E onde estava Diomário Sá neste momento ? Em Ipirá; na sombra e bebendo água fresca no meio da jacuzada; fazendo o possível e o impossível para agradar ao cacique político Delorme Martins. Eram tempos de ditadura.
Próximo artigo: Nos tempos da democracia.