domingo, 27 de fevereiro de 2011

É DE ROSCA


Estilo: ficção
Natureza: novelinha
Capítulo: 32 (mês de maio 2010) – incrível, apresentação do novo capítulo da novelinha esculhambada com, simplesmente, 10 meses de atraso e observe que ela tem 2 anos e 8 meses e não acaba. Nem satanás acaba essa novelinha.

Em alto mar, em meio à maresia, o cruzeiro navegava sereno e garboso. Em seu interior a polêmica ganhava envergadura e por três dias e noites consecutivas as argumentações eram apresentadas, retificadas, reapresentadas e não logravam êxito:

- Não, infelizmente não tem como eu aceitar uma candidatura de meu irmão Luciano – batia o martelo o prefeito Dió.

- Mas, por que nosso irmão Luciano não pode contar com seu apoio prefeito Dió, se fomos nós que articulamos para você chegar ao poder ? – indagava C.C. da Justiça.

- Ele não é um candidato leve, carismático e com penetração junto ao povo, aí eu não posso arriscar perder o poder para os jacus – disse o prefeito Dió.

- Mas, prefeito Dió, não estou entendendo! se até Luiz do Demo, que só quer ser PMDB, já dá apoio a nosso irmão e o Toinho dos Macacos também vai ficar com nosso irmão Luciano, por que você não? – questionou C.C. da Justiça.

- C.C. da Justiça! com você eu tenho que ser sincero. O problema é que eu não quero não, vou não, com nosso irmão não, deixo não, não pode não, não vai não, macaco não deixa não, e aí só pode ser não – disse o prefeito Dió.

- Sem essa, prefeito Dió! Você vai apoiar o seu irmão Luciano, caso contrário não vai sair sua nomeação para a Tribuna das Contas e é mais de vinte paus que você está jogando fora – disse o J.W. do Governo.

Aí o prefeito Dió mudou de cor, sentiu o frio da maresia entrar pelas vias respiratórias e pressentiu que ia cair devido ao balanço do mar. Segurou-se a tempo e foi dizendo:

- O nosso irmão Luciano poderá ser um candidato com grandes possibilidades de vitória no decorrer da campanha.

C.C. da Justiça ouviu aquele pronunciamento sem muito surpresa, pois conhecia o prefeito Dió do mesmo jeito que a palma de sua própria mão e não perdeu tempo, arrematando:

- E tem mais, o nosso irmão Luciano dá todas as garantias de que você será o nosso candidato a deputado.

Toda aquele conversa indefinida, que varou noites e dias, chegava a um denominador na maior facilidade deste mundo e quando ninguém esperava. A alegria voltou a reinar absoluta no recinto.

- Eu procurei um candidato à altura do meu governo e de Ipirá e não achei ninguém com o perfil do nosso irmão Luciano; eu já estava pleno de convicção de que não poderia apoiar outro nome. Vamos comemorar, vamos à nossa pescaria – gritou esfuziante o prefeito Dió.

Foram para a borda do navio. J.W. do Governo jogou o anzol e foi logo puxando um peixe.

- Olha que beleza! Peguei um cavalo marinho.

C.C. da Justiça lançou o anzol e trouxe outra beleza:
- Opa! Peguei um peixe-boi.

- E tem peixe-boi em água salgada? – indagou o prefeito Dió que atirou o anzol e sentiu o sacolejo.

- É todo lanzudo! É todo lanzudo! Eu vi, é todo lanzudo! – gritava o prefeito Dió.

O peixe debatia-se na água com uma força violenta. O navio cedia à força do peixe e balançava muito. Quando o peixe fisgado saía em direção ao alto mar, o navio começava a inclinar puxado pela força do peixe fisgado e o prefeito Dió estava reticente em não soltá-lo por nada neste mundo:

- É todo lanzudo! É meu, é lanzudo! Não solto, vou trazê-lo.

- Solta prefeito Dió ou o navio vai emborcar – gritou C.C. da Justiça.

- Não solto não! Deixo não! Lanzudo não! Macaco não.

Toda a tripulação, comandante e passageiros vieram para a superfície do navio e perceberam que o navio ia naufragar. C.C. da Justiça deu as coordenadas:

- Tragam uma corda e lacem esse peixe.

Enfim, um marinheiro laçou o peixe; outro deu uma fisgada; alguém deu um tiro de metralhadora; um menino deu uma facada e uma senhora deu uma porretada no peixe lanzudo, que exausto, dava seus últimos suspiros. O prefeito Dió, que estava muito cansado, perguntou:

- Que peixe é esse?

- É um peixe-carneiro.

- Uai, uai, uai, eu quero morrer no Titanic! Eta bicho que me persegue é esse tal de carneiro e eu disse que não ia matar um carneiro em Ipirá, e não é que essa desgraça vem morrer justamente num cruzeiro. Uai, uai, uai, eu quero ir para terra agora mesmo, atraquem esse navio, eu vou embora para Ipirá e vou mandar pescar todos os ovinos daquela terra e jogar no mar. Uai, uai, uai, eu quero morrer no Titanic!

Suspense: e agora ? o que será que vai acontecer ? Em quem o prefeito Dió vai dar a facada? Na macacada ou no irmão? Com crime toda novela aumenta a audiência. Agora é que essa novelinha vai ter morte e não acaba nunca. Êta coisa de rosca, essa novelinha e o Matadouro de Ipirá.

Leia o capitulo 31 (abril 2010) bem abaixo.

Observação: essa novelinha é apenas uma brincadeira literária, que envolve o administrador e o matadouro e, sendo assim, qualquer semelhança é mera coincidência.

domingo, 20 de fevereiro de 2011

INSS QUER GRILAR PRAÇA EM IPIRÁ (01).

Quando os vendedores ambulantes apresentam-se na Praça querendo tirar o sustento da sua família são considerados como destruidores que querem acabar com a praça. NÃO PODE.
Quando o INSS vai destruir e acabar uma Praça! AÍ PODE.
Que Lei do Cão é essa?
Pela Lei do Cão o povo está ferrado. Vamos aos esclarecimentos do prefeito Diomário Sá, que apresentou uma nota “Aos moradores da Praça Santana”, com dez pontos, vamos analisar um por um. Primeiro ponto.

1. O prefeito Diomário havia se comprometido a fazer uma reforma na Praça Santana. Ao iniciar os trabalhos foi procurado pelo INSS que lhe exibiu uma escritura pública de doação de uma área de 600 metros quadrados no centro da Praça, assinada pelo ex-prefeito Roberto Cintra, devidamente registrada.

Pensando pela Lei do Cão: quando o prefeito Diomário comprometeu-se a fazer a reforma na Praça Santana ele não tinha conhecimento do tal documento do INSS, pois se o tivesse não teria se comprometido, se esse documento era do seu domínio agiu como Judas na tal reunião. Procura fazer crer que foi pego de surpresa. Ele era carne e unha com o ex-prefeito Roberto Cintra. Para ele não saber teria que ser um segredo fechado a sete portas. Acreditar não paga vintém.

O INSS não comprou a Praça, mas apresentou um documento registrado, como todo grileiro que procura apossar-se de terras alheias, mediante “verdadeiras” escrituras de propriedades, assinada pelo ex-prefeito Roberto Cintra, que foi prefeito de 1982 a 1988. O INSS veio para Ipirá na década de 90, na gestão do prefeito Amenar Costa, e bem antes de aqui chegar já estava com um documento de doação de um bem público assinado por um ex-prefeito! Isso está cheirando a gato do tamanho de um jumento. Tudo parece indicar que o INSS exigiu como moeda de troca, um terreno, se assim não foi, torna-se necessário que se apure a autenticidade e veracidade deste documento passado na cara do atual prefeito.

Suponhamos que o documento seja verdadeiro, torna-se necessário que verifiquemos a legitimidade. Não se trata de uma doação de um terreno qualquer, mas da doação de uma praça pública. Um prefeito tem poder para dar qualquer espaço público a quem quer que seja ao seu bel prazer? Um prefeito no seu querer individual pode suprimir um bem público consagrado? Um prefeito é o dono da coisa pública em demérito da coletividade? Um prefeito pode utilizar-se do seu arbítrio em detrimento do povo?

Se pode tudo isso, tudo é possível e legítimo; se não pode tudo, alguma coisa é questionável e o direito do povo não pode ser violado. Se o prefeito com seus vereadores subordinados podem tudo, naturalmente, cria-se um estado ou caráter do que é incerto para o lado da cidadania. O que está posto pela tradição, cultura, vivência e experiência popular não vale nada e pode muito bem ser desfeita, desmanchada, acabada, retalhada, desalinhada, desatada, quebrada, desfigurada, arruinada, extinta, dissipada, anulada, derretida, fragmentada, basta sua majestade o ditador prefeito querer.

A incerteza é que predomina na mente das pessoas; a capitania hereditária dos prefeitos é a única e impreterível verdade. Eu fico pensando: “o povo da Praça da Bandeira já pode ficar com o redondo piscando” só de imaginar que qualquer prefeito com seus asseclas vereadores podem doar um lado da praça para uma igreja evangélica, o outro lado para o seu time de futebol, o fundo da praça para uma zona, e a frente para uma obra insignificante qualquer.

Lembro-me quando cercaram a Praça da Bandeira para a reforma de quase um milhão de reais, encontrei meu espaço reduzido, naturalmente, fiquei com a vista curta, um compensado impedia a visão nítida dos objetos situados além do tapume. É o que querem fazer com os moradores da Praça Santana.

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

É DE ROSCA

Estilo: ficção
Natureza: novelinha
Capítulo: 31 (mês de abril 2010) – incrível, apresentação do novo capítulo da novelinha esculhambada com, simplesmente, 10 meses de atraso e observe que ela tem 2 anos e 7 meses e não acaba. Nem satanás acaba essa novelinha.

- UAI, UAI, UAI, UAI, UAI, UAI, UAI, UAI!
Essa gritaria conseguiu espantar toda a vizinhança, principalmente, isso acontecendo em pleno silêncio da madrugada. Muitos levantaram para saber o que era que estava acontecendo e todos aguardando a iniciativa de alguém, pois, poderia ser uma coisa grave.

- Vem de onde esses gritos? – indagou alguém.

- Parece briga de marido e mulher – acrescentou uma vizinha mexeriqueira.

- Vem da casa do prefeito Dió; só pode ser coisa grave – disse alguém que deixou as indagações de lado e tomou a iniciativa de bater na porta e ser atendido.

Foi o próprio prefeito Dió quem abriu a porta: “Uai, uai, uai!”

- Mas, prefeito Dió o que foi que aconteceu? – perguntou o vizinho querendo ser solidário.

- Uai, uai, uai!

- Já sei! O senhor estava sonhando com o Matadouro de Ipirá?

- Uai, uai, uai! Antes fosse. Eu quero discutir o Matadouro de Ipirá, no
rádio, no blog, em qualquer lugar.

- Mas, prefeito Dió! Quem mais sabe que esse Matadouro de Ipirá não vai sair é o senhor mesmo. O senhor já enrolou o povo de Ipirá até hoje, com esse assunto e ainda quer enrolar mais? O que foi que aconteceu mesmo? Foi um pesadelo ou é mais enrolação prá cima do povo? – questionou o vizinho.

- Uai, uai, uai! Quem ta enrolado sou eu. Uai, uai, uai!

- Para de chorar, homem de Deus! E diga logo o que está acontecendo. O senhor nunca quis saber do Matadouro de Ipirá e agora, acorda uma hora dessa da noite querendo falar de Matadouro de Ipirá! – falou o vizinho.

- Uai, uai, uai! Me mataram! Acabaram comigo! Botaram no meu! Me lascaram! E sem cuspe. Uai, uai, uai!

- Quis cunversa atravessada é essa prefeito Dió? O prefeito Dió andou fazendo istripolia pelo avesso? – perguntou o vizinho esbaforido.

- Uai, uai, uai! Não, vizinho! Não é isso que o vizinho ta pensando não. É na política. Uai, uai, uai!

- Mas, prefeito Dió! O senhor acorda uma cidade, uma hora dessa, por causa da política! Logo o senhor, o Mestre dos Mestres, o Águia do Agreste da politicagem interiorana, o senhor, o Grande Maestro que dá nó em pingo d’água, o Carcará que pega com destreza os adversários e coloca-os no bolso, e agora está, em plena madrugada, a choramingar por causa da política! Me faça uma garapa, porque essa eu não engulo, eu vou é dormir – disse o vizinho.

- Uai, uai, uai! Não vá não, vizinho. Não me deixe só nesse tormento. Luiz do Demo, que só quer ser PMDB, quer acabar comigo. Não é que ele botou meu irmão Luciano como pretendente ao cargo de prefeito. Uai, uai, uai! O que é que eu faço? Eu quero morrer. Eu vou morrer. Uai, uai, uai!

- Não faça isso não prefeito Dió. Tenha calma, homem de Deus. Isso é lá hora de pensar numa desgraça dessa? – argumentava o vizinho tentando contornar aquela situação.

- O vizinho tem toda razão. Uai, uai, uai! Mas Luiz do Demo que só quer ser PMDB, quer acabar comigo. Eu tinha acabado com a jacuzada. A jacuzada estava no buraco, fritada em banho-maria, sem beira nem eira e, agora, esse Luiz do Demo que só quer ser PMDB, na hora de sucumbir afogado, botou meu irmão contra mim e agora eu não tenho saída, ou dou uma facada na macacada ou dou uma facada em meu irmão. Uai, uai, uai!

- Isso é fácil de resolver, prefeito Dió! O senhor coloca o candidato do PT de Ipirá que é o candidato do governador Wagner, todo mundo aceita e ponto final – sugestionou o vizinho para acabar com aquele chororô.

- Uai, uai, uai! Isso é o que o PT de Ipirá pensa que vai acontecer! Mas de tanto pensar morreu o burro e o dono do burro. O PT de Ipirá não é problema, esse ta grudado nas tetas da macacada, o problema é justamente o governador que virou macaco e agora vai virar jacu. Meu irmão tem o apoio do homem. Uai, uai, uai. Eu quero morrer. Uai, uai, uai.

- Eu vou dá um conselho ao prefeito Dió, não morra não prefeito Dió, tire umas férias, o senhor trabalha só dia de quarta-feira e deve estar muito cansado, tire umas féria, ande por esse mundo de meu Deus, respire outros ares e depois, ao invés de morrer, o senhor dá uma espetada em alguém e vamos que vamos – aconselhou o vizinho.

- Uai, uai, uai! Meu vizinho tem razão e é isso o que eu vou fazer, vou largar tudo aí, não quero nem saber. Amanhã mesmo, vou embarcar num transatlântico e vou pelo mundo gozando as delícias de um cruzeiro. Uai, uai, uai, ô vida boa!

- Que mal lhe pergunte: o senhor vai levar o PT de Ipirá? – perguntou o vizinho.

- Uai, uai, uai! Não estrague meu passeio, vizinho. Isso é uma reunião de cúpula, é coisa de família. Nós vamos para Cintra, em Portugal. Uai, uai, uai! Ô vida boa!

Suspense: e agora ? o que será que vai acontecer ? Em quem o prefeito Dió vai dar a facada? Na macacada ou no irmão? Com crime toda novela aumenta a audiência. Agora é que essa novelinha não acaba nunca. Êta coisa de rosca, essa novelinha e o Matadouro de Ipirá.

Leia o capitulo 30 (março 2010) bem abaixo.

Observação: essa novelinha é apenas uma brincadeira literária, que envolve o administrador e o matadouro e, sendo assim, qualquer semelhança é mera coincidência.

sábado, 5 de fevereiro de 2011

SUCESSÃO MUNICIPAL.

A GRANDE PREOCUPAÇÃO!

“VOU LARGAR ESSE BALAIO DE GATO AÍ E CAIR NO MUNDO”

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

HOMENAGEM (parte 7)

Parte 7.
O menino Dodó da Zabumba ficou sem condições de continuar em Ipirá devido ao acontecimento com seu Roque, embora isso já passasse um bom pedaço de tempo, o perdão ainda não estava maduro. Foi para a cidade maravilhosa Rio de Janeiro.

Seus familiares moravam em Madureira e o menino Dodó deparava-se pela primeira vez com uma cidade grande. Tudo era impactante e desnorteador. A primeira aparição foi o mar, coisa nunca vista, muito menos imaginada. A maior aguada que o menino Dodó tinha visto até então era o tanque Velho e desde garotinho, quando tomava banho no tanque, ficava absorvido com aquele gigantismo. Agora diante do mar, encontrava-se arrebatado pela imensidão e sem explicação, exclamava para quem quisesse ouvir:
- Oxente! Essa lagoa engole uns dez tanque Véi.

O menino Dodó estava deslumbrado com o mulherio do Rio de Janeiro. Nunca tinha sonhado que houvesse algo parecido. A cada saída apaixonava-se trezentas mil vezes, virou um libertino. Nunca pensou que seu coração fosse tão fugaz e volúvel. Não foi correspondido uma vezinha sequer. Quando chegou a Copacabana pela primeira vez, sentiu um arrepio e um calafrio ao ver tanta mulher de maiô, não deixou por menos:
- Vixe, minino! Qui as mulé daqui anda tudo pelada. É tanta senvergonhice qui eu não sei porque não vim prá cá a mais tempo.

A televisão ainda não tinha expandido para fazer a unidade nacional. O menino Dodó vestia uma calça batendo no meio da canela e andava serelepe com aquele jeito interiorano e catingueiro. Adorava Copacabana e comparava-a ao paraíso, pelo menos naquilo que achava que não podia faltar em um paraíso de verdade e ali tinha em demasia. Quando via uma carioca começava a babar e um certo dia botou olho gordo em um grupo de patricinha, encheu-se de compenetração e azuretado da vida partiu para cima. Era uma seleção nacional da anatomia humana na sua forma mais esplendorosa e de uma beleza esculpida por mão divina. O menino Dodó nunca tinha visto algo tão glamoroso e apetitoso e pensou: “parece até as codornas que Sabiá mata em Ipirá”. Partiu com sua firmeza inabalável e foi dizendo à primeira que encontrou em sua frente:
- Eu tenho assuntado coisa bonita aqui no Rio, mas nem esse Pão de Açúcar tem a metade da tua beleza e eu quero saber a tua graça.

- Sai de mim baiano, nem de mocorongo eu gosto – disse a garota, que foi saindo acompanhada pelas outras aos risos.

O menino Dodó sofreu aquele impacto, mas foi tomado pelo questionamento: “Cuma é que ela sabe que eu sou baiano? Parece que minha fama já chegou aqui também!”

Passeando por Madureira, o menino Dodó bateu de frente com Zé do Norte, sanfoneiro da região do Pau Ferro, que tocava na Feira de São Cristovão para fazer uns trocados e o sanfoneiro foi dizendo:
- Mas esse mundo é pequeno mesmo, veja só quem eu encontro aqui no Rio, Dodó da Zabumba! Mas meu fio o que é que tu ta a fazer aqui no Rio justamente na hora que eu to na maior precisão de um zabumbeiro arretado. Ta pareceno até que foi o dedo daquele lá di cima qui atravessou vosmicê na minha frente.

Lá estava o menino Dodô na feira de São Cristovão do jeito que mais gostava, tocando zabumba e acompanhando o sanfoneiro Zé do Norte. Atraído pelo som do forró o povo ia chegando e aumentando a concentração. O zabumbeiro Dodó passou um olhar pela redondeza e viu uma lapa de mulher que não tinha comparação. Aí o zabumbeiro ficou saliente, aumentou o repique e as evoluções. Disparou um torpedo pelo olhar e foi correspondido. Aí o zabumbeiro endoidou de vez. Piscava o olho e aquele doce olhar derretia-se em sua direção. O zabumbeiro tentava puxar a musicalidade e cantava: “É hoje que eu só chego amanhã”. O sanfoneiro retrucava: “fica na tua zabumbeiro, é ipsilone,” e fazia “é ipsilone, hum, hum, hum, ipsilone”. O zabumbeiro ficou atrevido, não tirava o olhar, parecia enfeitiçado. O sanfoneiro, sem parar o som, ia acotovelando o menino da zabumba e falando: “sai debaixo zabumbeiro, tu ta escorregando na banana, depois tu não diz que a sanfona não te avisou”. O zabumbeiro estava rezado, parecia que tinha o coração cravejado por um milhão de flechas, pulava, rebolava, esperneava, era uma presa enlouquecida de um amor arrebatador. O sanfoneiro cantava, falava, chegou até a improvisar uma música para tirar o zabumbeiro da paixão desvairada: “a periguete ta atravessada, ela não é aranha, ela é espada”. O zabumbeiro estava hipnotizado e contrapôs com sua cantoria: “ Deu mole, eu vou atrás, um rebolado desse eu não perco mais”. Assim que a lapa de mulher saiu, sorrateira, piscando o olho e sorridente, o zabumbeiro foi atrás.

O zabumbeiro foi logo puxando conversa: - Você é a coisa mais linda desse mundo.

- Rum, rum – murmurava a lapa de mulher.

- Com você eu quero ser o homem mais feliz do mundo, quero atingir as mais alta altitudes do prazer.

- Hum, hum – continuava murmurando a lapa de mulher.

- Oxente, coisa linda! você não fala não? Só fica aí, rum, rum, rum! – perguntou o zabumbeiro, que partiu para o ataque mostrando atitude.

- Vem meu zabumbeiro serelepe que a tua flor desabrochada ta te querendo todinho – disse a lapa de mulher.

O zabumbeiro Dodó sentiu aquele calafrio e indagou:
- Oxente! Que voz grossa é essa no meu cangote ?

Mas estava esfogueado e correu a mão, ai deu um pinote, parecendo mula que costuma empacar, perdeu a voz, a vontade e tudo mais. Sacudiu a porrada na zabumba e foi andando de costa, ao encontro da sanfona, aí o forró foi sacudido, no capricho e na autoridade. O zabumbeiro foi dizendo: “ mas sanfoneiro, as mulé daqui gosta tanto de xeeém qui anda cum uns móio de cobra dentro das pernas”, o sanfoneiro não perdia tempo e mandava vê: “xeeém, hum, hum, xeeém, hum, hum, xeeém! é traveco meu zabumba”. O zabumbeiro arregalava o olho, nunca tinha visto isso, e dizia: “só vendo prá crê, meu sanfoneiro. O cão é quem fica aqui, eu vou cair fora, vou para o Paraguai”.
O sanfoneiro completava: “Não é que nós vai! sanfona, zabumba e triângulo é bicho de dá em doido, em quarquer lugá, na Bahia, no Rio e no Paraguai, e lá vamos nós, agora é no Paraguai meu povo, pode aguardá que a gente manda notícia de lá. Xeeém, hum, hum, xeeém!”.