Ipirá foi atingida no coração e no pulmão. Foram dois acontecimentos
lamentáveis e tristes. O primeiro caso aconteceu com a Igreja Matriz, que teve
toda estrutura do seu telhado atacada por cupins, que produziram um estrago
avassalador no teto da igreja, que iria desabar literalmente.
A Igreja Matriz é uma construção centenária. É dos primórdios
do povoamento. Uma choça de palha e um curral formavam a sede da fazenda ao Pé
da Serra; uma choupana de taipa, uma quitanda de taipa, uma capela de palha a
certa distância, viriam formar, mais tarde, o traçado português urbanístico de
uma praça, que seria o primeiro sinal do povoamento. Era o Marco Zero do
povoado e a capela o seu coração.
O melhoramento da construção foi acontecendo, até a reforma
com as características atuais na década de 1940 e algumas reformas mais
recentes constituíram uma arquitetura de linhas retas com torre côncava e arcos
redondos. Uma obra simples, mas monumental no centro da praça, representando o
alto símbolo do poder da fé cristã católica.
Hoje, encontra-se em reforma, com custos cuidadosamente
pesados, em torno de 500 mil reais, com um trabalho apurado e racionalizado,
para colocar o espaço litúrgico aberto aos seus ofícios. Ipirá e a Praça da
Bandeira não poderão ficar sem a sua Igreja Matriz em pleno funcionamento; não
podem viver sem o seu sagrado coração.
O segundo caso, é o do
Mercado de Arte, uma obra mais recente, de mais de meio século, situada no
centro da Praça do Mercado. Uma obra tamanho G; imponente e majestosa,
imperando no meio da praça; construída com tijolos na administração do prefeito
José Leão dos Santos, num tempo que se fazia obras com recursos próprios, muito
diferente dos últimos tempos, que Ipirá recebe muito dinheiro e não tem recurso
para fazer um prédio escolar de uma sala, para qualquer obrinha tem que ter
convênio.
Esse mercado foi construído para ser o Centro principal da
atividade comercial de Ipirá, numa praça que se
tornou o principal vetor econômico do município e, assim o foi por muito
tempo, não entrou em decadência e sempre mostrou a sua força e pujança, não
houve desvio de finalidade em qualquer momento. Tinha utilidade e função. Era o
centro vital e o pulmão da economia local.
Recentemente, houve a transferência da feira livre para o
Centro de Abastecimento, numa reforma da praça de um milhão de reais, e o
mercado foi transformado em Mercado de Arte, não tendo mais a função definida,
positiva e eficaz que tinha anteriormente. Perdeu o eixo e vivenciou a crise, a
inoperância e a dubiedade entre o vício e a contravenção.
Esta semana o mercado virou uma fogueira e as chamas não
tiveram complacência; o fogo torrou grande parte do mercado. Foi algo com a
força do sinistro. O teto cedeu diante do fogo e virou cinza e entulho,
enquanto a fumaça asfixiante, com cheiro
acre ia sendo levada pelo vento para dá notícia do pesado desalento.
Ipirá mostrava seu despreparo em todos os sentidos.
Ipirá está totalmente despreparada para dá curso a qualquer
tragédia, seja por acidente, fogo ou água e, é bom que se diga que, tragédia
não manda convite e nem avisa o dia de acontecer. Ipirá não tem planejamento para
qualquer tipo de eventualidade, está entregue ao acaso e à sorte. Predomina o
espontaneísmo.
Este acontecimento não pode ficar sem uma conclusão definida
e transparente sobre suas causas. Uma perícia por especialistas em incêndio é
imprescindível. Resta saber se o Poder Público Municipal providenciou todas as
garantias para que uma perícia especializada fosse ou venha a ser realizadas.
Caso não tenha sido feita, o Poder Público Municipal vai
ficar devedor, e devedor deslavado, porque de inoperância o poder municipal é
um devedor contumaz há anos. Observem que em frente ao mercado tem dois
mondrongos, feitos para o período junino, como algo sui generis, criativo e
sugestivo, mas passado o período apropriado, torna-se um estorvo e uma
degeneração da praça. É necessário e com
prioridade retirá-los, mas o poder publico nem tum.
A Igreja e o Mercado têm um significado muito grande para a
nossa comunidade, representam muito para o esplendor e a harmonia das suas
respectivas praças. Sensibilizam a nossa gente na profundidade da alma. Significam
o coração e o pulmão da nossa cidade. Os esforços exigidos em ambos os casos
são tantos, que só uma sociedade em plena expansão econômica e com estabilidade
política poderá reerguê-los. Assim esperamos.