terça-feira, 25 de novembro de 2008

A TRAVESSURA.


Em nota pública do dia 12 de novembro 2008, o prefeito Diomário deixa explícito que: "é uma travessia penosa, dura, difícil e cruel, mas temos que fazê-la". Demonstra que está vivendo um grande momento de angústia e pesar. Só faltou chorar.

Eu digo que é muito mais uma travessura e que esse negócio de "penosa, dura, difícil ..." são expressões usadas para fingir que está sentindo no fundo d’alma, mas a decisão que tomou foi a desejada no fundo d’alma, senão jamais seria tomada. Vamos aos equívocos de um sofredor.

O que ganha saliência na nota do gestor do município de Ipirá é a sua rigorosa devoção e desmedida intransigência ao cumprimento da LEI. Esclarecendo com um dito popular, seria o seguinte: "o prefeito se pela diante da LEI". Mas, nem tanto assim.

É notório que o gestor público tem que está no limite previsto na Lei de Responsabilidade Fiscal e disso o prefeito Diomário não abre mão. Afirma, na nota, que ocorreu uma queda na arrecadação municipal, fato que deixou as despesas com o pessoal acima do limite legal. Parece que não despencou tanto assim, por isso estou preparando uma nota com toda arrecadação municipal deste ano, mês a mês. Mas, o fato é que este acontecido vem do mês de AGOSTO 2008 e neste caso, fica necessário um grande esclarecimento: ou o prefeito não percebeu na época, ou apenas três meses fora-da-lei não é problema para quem tem tanto medo da Justiça, ou o prefeito foi de uma sagacidade política brilhante, ao ponto de não tomar uma atitude que lhe prejudicasse eleitoralmente, pois a LEI..., não mete tanto medo assim.

Certo que o prefeito Diomário é um aficionado pela LEI e às vezes até exagera nessa busca obsessiva pela legalidade, chegando ao ponto de ameaçar demitir servidores estáveis. Isso é ilegal e é abuso de poder. O gestor municipal tem que cortar e enxugar a folha é nos seus excessos administrativos e eleitorais, que incham o quadro funcional municipal com contratados e ocupantes de cargo de confiança. Está claro que o prefeito de Ipirá quando diminui as despesas exonerando o excesso de funcionários admitidos em sua administração em determinado momento, está tendo que compactuar muito mais com o interesse político do que com o cumprimento da lei, até então negligenciada.

A exoneração de secretárias e de ocupantes de cargos que são necessários e indispensáveis às ações administrativas demonstra a habilidade política de quem deseja abrir os espaços para o novo mandato que começará em 2009 e preenchê-los com o novo arco de aliança eleitoral. Se não for por isso, não vai contratar mais ninguém, porque a crise é profunda e longa, além do mais, a arrecadação municipal não vai subir messes poucos meses, se é que caiu. O prefeito Diomário demonstra que não vacila na hora que lhe interessa.

A adequação orçamentária levou à suspensão temporária dos serviços com as Clínicas. Uma medida temerária, porque canaliza para duas situações: ou gasta mais do que gastou com as clínicas para que o Hospital de Ipirá torne-se eficiente ou a população de Ipirá tem que deixar de ficar doente por esta, sei lá quanto, temporada.

Eu não acredito que um prefeito do quilate do administrador Diomário, que é temente à LEI, que só faz tudo nos limites da LEI, tenha deixado a Prefeitura de Ipirá gastar mais de um milhão e meio de reais A MAIS do que a LEI determinava. Não foi ele, foi o sistema eleitoral de Ipirá.
Entre o choro do prefeito e a sua compreensão, que ele solicita; eu espero que você compreenda que a crise financeira do capitalismo faz os seus estragos em todo o mundo e, o desemprego é a sua face mais cruel. Também se faz necessário que o prefeito de Ipirá implemente as suas medidas e o seu programa para desenvolver este município, se é que os têm, caso contrário, ficará a gerir uma receita que é a conta de atender a uma folha funcional. E neste caso terá que "adotar as providências que a LEI impõe ou sofrerá sanções da Justiça". Mesmo sofrendo muito, o prefeito Diomário mostrou que é político e determinado, porque "não resta outra alternativa ao gestor senão cumprir a LEI e obedecer as ordens do TRIBUNAL", até que a crise mundial termine no início ou meados de 2009, se não no mundo, pelo menos em Ipirá.

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

É DE ROSCA


Estilo: ficcão.
Natureza: novelinha.
Capítulo 13 (mês de outubro 2008, com um mês de atraso)

A residência do prefeito Dió já estava arrumada para o grande dia da festança. Logo na entrada, a empregada Natalina colocou um jacú com um rabo amarelo de um metro, pendurado em um círculo, dizendo ela que "o prefeito Dió sempre deu sorte com jacú".

Até que enfim chegou o mais belo dos dias. O dia do grandioso, aguardado e prometido banquete, em comemoração à espetacular vitória do prefeito Dió. Sua casa estava repleta de autoridades e não havia nenhum puxa por perto, para não "entulhar o ambiente" como pensava a empregada Natalina.

Pratos de porcelana inglesa em seus devidos lugares, acompanhados de talheres da Escandinávia, que luziam feito vidro do mais puro teor. A empregada Natalina tinha sido alçada ao posto de maître da cozinha, para ter a enorme incumbência de explicar a substância e a essência do paladar de cada iguaria a ser servida.

O prefeito Dió era só alegria e entusiasmo com aquela extraordinária vitória e a sua satisfação era maior ainda com a nova oportunidade para administrar por mais quatro anos este município que ele trazia lacrado no peito com muito orgulho e dedicação. O prefeito Dió comentava para que todos escutassem:
- Neste novo mandato vou ter uma devoção bem mais aprimorada pelo povo desta terra, bem mais do que no primeiro mandato, porque meu objetivo é ser o melhor prefeito da Bahia... – parou, quando foi obrigado a interromper o seu raciocínio, por ter ouvido uma voz feminina.

- Se vosmicê fizer o Matadouro de carneiro em Ipirá, vosmicê vai ser o melhor do Brasil – era a voz de Natalina interrompendo a frase do prefeito Dió.


O prefeito Dió observou que o pitaco tinha sido da empregada Natalina; fechou os olhos, balançou a cabeça, ao tempo em que, passava a mão pelos cabelos procurando alinhá-los, mas aproveitando a oportunidade foi dando as ordens:
- Prezada empregada Natalina providencie o primeiro prato, que essa nata da sociedade baiana, aqui presente, está querendo degustar e apreciar o manjar dos deuses feito à capricho por vossa experiência.

- Pois não prefeito Dió, vosmicê é quem ordena e eu é quem obedece, tô aqui é prá ajudá.


Alguns minutos depois, a empregada Natalina apareceu na sala do banquete, suas mãos estavam ocupadas com uma bandeja, que continha um monumental peito de ave com duas coxas esticadas e pontiagudas, apresentava uma cor de bronze platinada e estava rodeadas e embelezadas por cenouras gigantes e beterrabas perfeitamente redondas e folhas artesanalmente trabalhadas em figuras de macacos. Era uma tentação aquele brilho magnético e aparência lascívia para provocar os paladares e os desejos exacerbados da gula. A empregada Natalina, acompanhada de mais de cem garçonetes, foi entrando e gritando:
- Ui ! ui ! uiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii prefeito Dió, as delícias já está na mesa.


O governador, que estava junto ao prefeito Dió, indagou-lhe:
- O que está acontecendo ?

- É que esse aí é o prato ui ! ui ! uiiiiiiiiiiiiiiiii que está sendo servido agora. Minha empregada Natalina fez isso para mostrar que esse foi o prato mais ingerido em Ipirá de outubro para cá – explicou o prefeito Dió.

- Como assim ? – indagou o governador, que chamou a empregada Natalina e pediu para que ela falasse do prato.

- Dotô otoridade governadô ! é qui esse prato foi servido em muitas casa aqui na cidade, até mesmo nas casa qui não tinha o qui comê, aí as criançada e os adulto se assentava ao redó da mesa e começava a gritá, ui ! ui ! uiiiiiiiiiii e todo o mundo impazinava a barriga.


Todos estavam com água na boca e a disputa pelo primeiro prato servido foi sem cerimônia. A cúpula do PT de Ipirá caiu prá cima e comentavam uns com os outros: "isso aqui só pode ser jacú temperado com azeite vermelho do Conde" e soltavam gargalhadas; "farinha pouca meu pirão primeiro e com jacú baleado é melhor ainda, vamo cair de pau turma" e saboreavam gargalhadas; "vamo cascatá o bico desse jacú agoureiro em Ipirá" e tome-lhe gargalhada; "eu não sei onde era que eu estava que não vim para os macaco bem antes" e a sinfonia de gargalhadas dominava o ambiente.

A autoridade da Justiça brasileira, cheia de melindres, solicitou de uma garçonete uma porção daquela iguaria; cortou um pedacinho da delícia que estava em seu prato e colocou-o na pontinha da língua, com a boca fechada, os olhos cerrados e a cabeça para cima, saboreava com grande primor. A empregada Natalina que não perdia um detalhe, comentou baixinho no ouvido da garçonete que estava ao seu lado: "olha prá quela dita cuja, parece uma galinha bebendo água". A autoridade da Justiça brasileira não perdeu tempo para esnobar a sua grandeza e a sua satisfação e, em voz alta, para que todas as atenções voltassem em sua direção, falou:
- Que delícia ! isto parece a trajetória suprema para o paraíso. Nunca provei algo tão palatável e que desintegrasse do sólido para o líquido de forma tão doce, tão sublime e pacientemente sedutor. É simplesmente divino. Nem em Paris, quando estive lá, nos mais granfinos restaurantes da avenida Champs-Élysées, quando cotidianamente e intensivamente saboreei salmão ao molho de alcaparras; filé de avestruz ao molho de cumberland; pato rosé ao molho de agridoce; não posso deixar de lembrar, o Foie Gras, para quem não sabe, é feito com fígado de um pato ou ganso que foi super-alimentado, e é bom que se diga, tudo isso no Le Procope, no Moulin Rouge, no Le Fouquet’s, no restaurante do Hotel Le Meurice, no restaurante Paris Clermont, sempre acompanhado por um bom vinho Malbec de France, ou Impernal, ou Le Paradis, ou Beaujolais, que era o que eu mais gostava, por ser elegante, fino e excepcional no seu frescor inconfundível.


A empregada Natalina ouvia toda aquela verborréia consubstanciada e refinada na preciosidade da cozinha francesa, mas não ficava nem um pouco impressionada e acabrunhada, ao tempo em que ia pensando: "êta sujeita lutrida ! só qué sê a dona do louro José, nem sabe ela que tá saboreando um urubu, que é bicho super-alimentado aqui nesse Ipirá seco pur nascenaça" e só parou de pensar quando a autoridade da Justiça brasileira pediu para que ela chegasse até à mesa. O coração de Natalina quase parou.

SUSPENSE: o que será que vai acontecer com a empregada Natalina ? será que a autoridade vai desconfiar do que está comendo ? E o prefeito Dió, será que está por dentro do que está acontecendo no seu banquete ?

Leia o capítulo 12: mês de setembro 2008, logo abaixo.

OBSERVAÇÃO: essa novelinha é apenas uma brincadeira literária que envolve o administrador e o matadouro e, sendo assim, qualquer semelhança é mera coincidência.

sábado, 8 de novembro de 2008

IPIRÁ PERDEU PARA SERRINHA.


Eu aguardei o debate eleitoral para dar destaque a essa questão. Não houve o tal debate. Darei o destaque com este artigo e em outro tom. Uma pessoa de grande credibilidade disse-me, "Ipirá perdeu para Serrinha ...".

Eu pensei, "não é possível que isto tenha acontecido !" e fiquei com aquilo na mente, sempre procurando descobrir algo mais, pelo menos, que me desse uma explicação mais detalhada e profunda do que tinha acontecido.

A surrada discussão jacú-macaco em Ipirá é por demais ridícula, mesquinha e pré-histórica, por isso não abriu as cortinas para o que realmente tinha ocorrido. Dessa forma, continuei naquela expectativa e na busca interminável por informações que elucidassem o paradigma da derrota ipiraense.

Quando da vinda do governador Wagner a Ipirá (da primeira vez), ele tocou no assunto de relapada, quando disse, "Vamos fazer uma escola de tecnologia do semi-árido em Serrinha". Eu pensei, "é por este lado que a banda toca".

A partir desse momento, orientei minha curiosidade investigativa nesse sentido e comecei a descobrir muitas coisas; uma delas, foi a existência de um projeto inspirado no Instituto Internacional de Neurociência de Natal. Até aí tudo bem, não dizia muita coisa, mas continuei descobrindo algo mais: o Brasil tem como meta criar 12 institutos de ciência espalhados por todo o país. O grande objetivo é descentralizar a produção científica no Brasil, que fica encambitada lá no sul / sudeste e, imprimir o estudo da ciência como um agente de transformação.

Nesse contexto, descobri que o governo do Estado firmou uma parceria para trazer para a Bahia um projeto científico e social, que redundaria na implantação de uma escola de educação científica infanto-juvenil, que seria a Escola de Ciências na Bahia, na região do semi-árido, justamente no município de Serrinha.

Essa escola tem um objetivo claro: que é proporcionar às crianças das escolas públicas uma educação de alto nível científico; não para transformá-los em cientistas, mas para que aprendam o método científico, se habituem com os conceitos elementares da ciência e possam utilizar esse conhecimento para o resto da vida no semi-árido.

Uma outra meta é a transformação da sociedade do semi-árido, na medida em que haja uma transferência de todo conhecimento descoberto para os agricultores familiares, para as pequenas propriedades agrícolas e não para as empresas, naturalmente isso irá implicar na transformação da realidade da economia agrícola do semi-árido, aí o catingueiro terá condições de permanecer no seu chão aliado às condições para que seus filhos possam ser educados.

O semi-árido não pode ser mais desprezado do que já é, afinal de contas, esse é o bioma mais brasileiros de todos e tem que ser visto como um potencial de segredos e riquezas de sobrevivência insubstituíveis para a economia da região. Isso é muito bom.

A idéia básica "é entender certas cadeias produtivas e peculiaridades do semi-árido que possam auxiliar no desenvolvimento da economia da agricultura familiar", afirmou o cientista brasileiro Miguel Nicolelis.

"Vamos explorar o semi-árido baiano. Vamos criar um projeto, um plano de pesquisa, recrutando cientistas do Brasil inteiro que queiram participar desse processo", afirma o cientista.

"A instituição atenderá estudantes do ensino fundamental e médio da rede pública municipal e estadual. No turno oposto ao da escola regular, os estudantes participarão do ensino de física, química, biologia, informática e robótica, dentre outras disciplinas em laboratórios especializados", diz o cientista.

Tratando-se da tecnologia do semi-árido; de um Instituto Internacional de Biotecnologia e Bioprospecção do semi-árido baiano, naturalmente que a escolha privilegiaria uma cidade localizada no semi-árido. Além do mais, aescolha de cidades nordestina para a implantação de projetos desse porte tem a ver com o objetivo de descentralizar a produção científica, ou seja, trazer para todas as regiões do país a oportunidade e os caminhos para gerar oconhecimento de ponta. A disputa final ficou entre Ipirá e Serrinha.

Quanto custa uma Escola dessa ? O Instituto Internacional de Neurociência em Macaíba, cidade na periferia de Natal, com previsão para funcionar em março de 2009 para 400 crianças, tem um custo orçamentário de R$ 20 milhões, mas já passou de R$ 90 milhões. É muito difícil estipular um valor. Observem que o Matadouro de Ipirá é de R$ 2 milhões.

Quais são as fontes de recursos para a manutenção desses projetos ?A Associação Alberto Santos Dumont para o Apoio à Pesquisa – que é a sociedade mantenedora, é eminentemente privada. 70% da receita é privada. São trabalhos e projetos de pesquisa realizados. Também doações de fundações do mundo inteiro, européias, americanas, brasileiras.

Minha fonte de informação é criteriosa e de grande credibilidade, " Ipirá perdeu para Serrinha uma escola de tecnologia do semi-árido e a palavra final na indicação coube a UNEB".

Eu fico a pensar: "tenho a impressão que a maioria da juventude de Ipirá não acredita em sonhos, talvez por isso ela não tenha passado batida com essa perda. Não sei se é porque eu saí, tem um mês, justamente, desse processo de forte conteúdo alienante que esteja pensando assim, não sei, talvez sim, mas seria bom um aprendizado do método científico para que a juventude ipiraense pudesse dispor de uma grande ferramenta intelectual para que ela possa desenvolver suas aptidões de forma livre e libertária, sem os grilhões do jacú e do macaco". É só um sonho.

Porque na realidade, para a grande maioria dos jovens de Ipirá, talvez falte interesse pela ciência, até mesmo por conta da educação precária, que se preocupa em empurrar "guela abaixo" do estudante um tal de "RALO U I" como se essa desgraça tivesse alguma coisa a ver com a realidade do Brasil, do Nordeste e do semi-árido e, além do mais, há um grande interesse de vê-los pulando na chapa quente do jacú ou do macaco, porque se não for desse jeito muito graúdo em Ipirá vai perder a mamata e a vida fácil.

O jovem ipiraense que tenha talento e talento humano tem em todo lugar, tem que ir para Serrinha, porque é lá que existe as oportunidades para que os talentosos possam demonstrar suas aptidões. No meu parecer Ipirá perdeu.

É DE ROSCA.


Estilo: ficção.
Natureza: novelinha.
Capítulo: 12. (mês de setembro 2008, com dois meses de atraso)

A empregada Natalina preparava as iguarias para o grande banquete da vitória, que será realizado na residência do prefeito Dió, para os ilustres (só os ilustres) convidados. O prefeito Dió gritou da sala onde estava descansando:
- Ô minha idolatrada empregada Natalina ! venha até aqui, porque eu preciso perguntar-lhe uma coisa.

- Pronto prefeito Dió, já tou na sua inteira adisposição para a sua indagação.

- A minha eficiente empregada Natalina já preparou – pediu para Natalina aproximar-se com mão e falou baixinho ao seu ouvido – você já preparou aquele galeto de carne de urubu que eu encaminhei o pedido à minha extraordinária cozinheira ?

A empregada Natalina pensou, "êta que a vitória deixou o prefeito Dió sem os tutano. Isso deve sê as pressão do Luís do Demo fantasiado de 15 que deixou o prefeito Dió apertado de medo", mas a empregada Natalina não queria desapontar o prefeito Dió no seu pedido de carne de urubu; pensou muito no que ia dizer, porque não queria contrariá-lo depois daquela grande vitória e sabia que ele estava eufórico com a cacetada que deu na jacuzada e no sujeito do blog. Estava na maior dúvida: se falava a verdade ou ia pelo caminho da brincadeira.

- Ui! Ui! Uiiiiiiiiiiiiiiiii! prefeito Dió – retorceu a boca – urubu ! vosmicê esqueceu de comprá na feira, mas não se avexe não, homem de Deus, que eu vou lá no matadouro e laço um pelo pescoço, porque é lá que tem um bando.

- Ui !, Ui !, Uiiiiiii ! – gritou o prefeito Dió, extrapolando alegria.

- Vosmicê não arria de comemorá a vitória prá riba da jacuzada ?

- Não Natalina eu tô é gemendo mesmo. Ui ! Ui ! Uiiii! – gemeu o prefeito Dió, retorcendo o corpo, depois completou indagando – como é que eu vou acabar com tanto urubu naquele matadouro ?

- Intonce é prumode disso que vosmicê tá nesse avexamento prá comê carne de urubu. Se vosmicê num se importá eu tenho uma boa idéia prá dá. Agora, só posso dissimbuchá se vosmicê me autorizá – disse a empregada.

- Pode dizer, diga logo.

- É só fazer de Ipirá um exportador de urubu.

- Como assim ? Quem vai querer urubu ? solte a língua e diga logo.

- Óia, seu prefeito Dió ! quem gosta de urubu é a torcida do Flamengo, aí é só mandá os bicho lá prá o Rio de Janeiro, que eles vão comprá prá criar, do mesmo modo, que a gente cria galinha aqui em Ipirá.

- Ora minha querida empregada Natalina, se era para dar uma idéia estapafúrdia dessa seria melhor você ficar calada. Logo não está vendo que o Ibama não vai permitir que isso aconteça.

- O que sai da minha cabeça vosmicê pode fazê bom uso, agora eu não tenho curpa do Ibama e do CRA ser seu calo na cabeça do dedão do pé esquerdo.

- Tá certo minha inestimável empregada Natalina.

- Eu me aderreto toda quando o prefeito Dió diz essas coisa e fico até mais acesa nos pensamentos, prá pensá as coisa boa. Por que vosmicê não ensina o povo a comer carne de urubu ?

- Só eu mesmo para aguentar um disparate desse. É proibido carne de carneiro; imagina carne de urubu. Como era que ia ser o abate desses urubus ?

- Vosmicê me apergunta as coisa, porque qué aperguntá, e eu arrespondê porque eu tenho que arrespondê. Quem proibe carne de carneiro é porque adesconhece o que é comida de pobre. Me diga seu prefeito Dió, se tem nada mió do que um fresco de carneiro, com angú de farinha e com aquele cardo bem amarelo por riba ?. Agora, quem adisconhece é que fica aprisilhando a barriga do pobre.

- E como é que vai abater os urubus ? É disso que eu quero saber, não é de carneiro não.

- É só matá como se mata galinha. Entorta o pescoço, passa a faca afiada no dito cujo, deixa o sangue escorrer, bota o corpo na panela com água fervendo, arranca as pena...

- Pára, minha empregada Natalina !. Isso aí é abate clandestino e isso é crime; e quem faz isso aí é criminoso, e você é uma criminosa, que não tá vendo que eu já estou enrolado com um matadouro e quer que me enganche com outro.

- Bom seu prefeito Dió, aí num é mais com a minha pessoa; aí é com as otoridade da cidade. Isso aí quem vai desalinhavá é vosmicê que é otoridade nessa comarca. Meu negoço é matá do jeito que minha mãe me ensinou; que é do jeito que a mãe dela, que é minha vó, ensinou a ela; e a avó dela, que é minha bisavó, ensinou a avó dela...

- Pára, empregada Natalina ! Você quer parar e fechar essa matraca, não tem quem te aguente. Eu estou com um problema imensurável, que está atormentando minha cabeça, que é o Matadouro de Ipirá, que é os urubus, e você fica querendo colocar-me numa arapuca maior ainda.

- Olha prefeito Dió ! mim veio uma matutação na cabeça, qui vosmicê como bom administrador e vencedor que é vai gostá. Por que não fazê de Ipirá um pólo turístico ?

- Como assim ? Diga logo empregada Natalina.

- Não tem esse povo tirado a besta, que sai daqui de Ipirá e vai para São Paulo e, com uma semana lá, aprende falar a língua deles; e quando volta mais tarde, os guri deles, quando vê os urubu, pergunta prus pais: " ô maêê ê! quis penosa preta é aquelas qui avoa ?" aí a mãe arresponde: "é os orobós ! não apergunta o que tu não sabe na vista de gente, porque tu já tá acivilizado". Aí, prefeito Dió, é só vosmicê colocá uma placa "Venha conhecer os urubus, antes que morra", aí o Matadouro de Ipirá vai encher de turista.

- Antes que quem morra ? Desse jeito quem vai morrer sou eu. Já não sei o que é pior: se é governar Ipirá mais quatro anos ou ter você como empregada !

- Vosmicê diz isso prefeito Dió, mas o pió é qui vosmicê não larga nenhum dos dois.

- Vamos acabar com essa conversa, que eu já tenho com que me preocupar. Vá cuidar de seus afazeres na cozinha. Vá correndo preparar o banquete para os meus convidados.

SUSPENSE: o que será que vai acontecer nesse tão comentado e aguardado banquete da vitória ? o que será que o prefeito Dió vai servir no banquete da vitória: carne clandestina de carneiro ou carne de urubu ? Será que as autoridades vão gostar ?
Leia o capítulo onze: mês de agosto 2008, com três meses de atraso.

OBSERVAÇÃO: essa novelinha é apenas uma brincadeira literária que envolve o administrador e o matadouro e, sendo assim, qualquer semelhança é mera coincidência.

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

É DE ROSCA.


Estilo: ficção.
Natureza: novelinha.
Capítulo: 11. (mês de agosto 2008 com três meses de atraso)

O prefeito Dió tentava escrever os nomes dos convidados para o banquete da vitória, tinha em mente que não poderia esquecer nenhuma autoridade nacional, estadual e lideranças da cúpula da macacada e do PT de Ipirá, mas todo aquele trabalho estava sendo atropelado pela presença de populares na entrada de sua casa e, naturalmente, ele teria que dar uma atenção aos presentes para deixá-los satisfeitos e ao mesmo tempo acabar com a movimentação.

No sofá, o prefeito Dió, para agradecer aos presentes, repetia os acontecimentos do matadouro e da campanha, com a narrativa do milagre do urubu que ia batendo no pára-brisa da caminhonete sendo feita pela milésima vez e, quando a fila dos presentes enfraqueceu, ele chamou a empregada Natalina e perguntou-lhe:
- Tem mais alguém aí fora ?
-Tem só uma pessoa a mais e dois quarteirão de puxa – respondeu a empregada.
- Veja quem é, porque eu já estou cheio de repetir esse caso, se eu tivesse adivinhado que ia ser assim, eu tinha gravado um CD e colocava-o no som.

A empregada, prestativa, foi até o portão, abriu-o, e delicadamente perguntou:
- Num me leve a mal, mas vosmicê de quem se trata ?
- Eu sou um marchante de carneiro pirsiguido em Ipirá e eu trouxe um presente para o nosso prefeito vencedor Dió.
- Entonce, vosmicê me aguarde um instantinho – a empregada fechou o portão e entrou para conversar com o prefeito.
- Seu prefeito Dió ! vosmicê num sabe o que se assucede. Tem um marchante de carneiro impiriquitado aí no portão e quer por que quer entrar para entregá um embrulho, que ele trás escondido, para vosmicê.
- Isso não. Com essa gente eu não quero conversa. Diz qualquer coisa a ele, mas não deixe ele entrar – disse o prefeito Dió.

A empregada Natalina saiu e dirigindo-se ao marchante de carneiro, falou:
- O prefeito Dió está, mas não estando, vosmicê entende. Prá vosmicê entendê mió, eu vou falá mió. É parecido com o matadouro: tá lá, mas não tá; tem, mas não tem. Vosmicê tá me acompreendendo ?
- É por isso dona, que eu sou clandestino. Entregue esse embrulho prá ele, não deixe ninguém vê. Muito agradecido – disse o marchante de carneiro.

A emprega Natalina entrou com o embrulho e foi logo abrindo, ao tempo que dizia ao prefeito Dió:
- É carne de carneiro.
- Isso aí, minha empregada Natalina, é carne clandestina. Como é que eu vou provar que eu não comprei essa coisa ? Ser pego com um troço desse aí, dá cinco anos de cadeia. Ui ! Ui ! Uiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii Natalina.
- O qui tá se assucedeno prefeito Dió ?
- É que esse Luís do Demo pactuado com Geddel do 15 está acusando-me de comprar voto, mandato, pesquisa, as autoridades, eleição, cabo-eleitoral, vereador, funcionário, macaco, jacú, farinha e agora, carne de carneiro. Natalina, jogue essa carne de carneiro fora imediatamente – ordenou o prefeito Dió.
- Vosmicê parece que num se assunta. Isso aqui é comida. Eu tenho aqui na minha cachola, a idéia de fazê uma comida deliciosa com essa carne de carneiro e com o sangue fazê um cardinho para vosmicê ganhá sustança prá guentá o ripucho de mais quatro anos. Prumode de que vosmicê num chama também o povo da justiça pra comê os banquete da vitória aqui, com vosmicê ?
- Você tá doida ! uma coisa dessa pode acabá com minha vida. Logo não tá vendo que eu não vou convidar a justiça para comer um banquete de carne clandestina em minha casa. Você tá ficando desmiolada ? Como é que eu vou provar que não comprei essa carne ? Esconda essa carne bem escondida e não deixe ninguém vê que tem carne clandestina aqui em casa, eu não quero nem saber dessa carne. E aproveitando a oportunidade, minha prestimosa empregada Natalina, já que eu estou com uma fome daquelas, traga-me uma moqueca de urubu - ordenou o prefeito Dió.

A empregada Natalina, com a carne de carneiro nas mãos, parou, arregalou os olhos, balançou a cabeça e ficou pensando " e eu é que estou sem os miolo da cabeça. Com uma carne de carneiro na minha mão, o homem de Deus pede carne de urubu !"...

SUSPENSE: o que será que vai acontecer ? o que será que o prefeito Dió vai servir no banquete da vitória: carne clandestina de carneiro ou carne de urubu ?

Leia o capítulo onze: mês de agosto 2008, com dois meses de atraso.OBSERVAÇÃO: essa novelinha é apenas uma brincadeira literária que envolve o administrador e o matadouro e, sendo assim, qualquer semelhança é mera coincidência.

PERIPÉCIAS DE CAMPANHA 1.


Estas são narrativas sobre a minha participação na campanha 08. Em visita eleitoral pela periferia de Ipirá, adentrei em uma casa popular e humilde, que se configurava por uma sala conjugada com a cozinha; dois quartos laterais; um sofá encardido; quatro cadeiras de madeira e um televisor velho, pequeno e preto e branco, em cima de uma pequena mesa retangular. Um quadro de Coração de Jesus, feito em papelão, sem moldura, enfeitava a parede e indicava a ambiência de fé.

Uma trabalhadora negra com aparência de meia-idade, nem que não seja, mas com estas características impostas e afirmadas pela vida dificultosa e áspera, fazia a cortesia da boa recepção. Apresentava um rosto enrugado, desgastado e maltratado pelo dia-a-dia. A sua voz era um lamento curto e suplicante, cada palavra e todas as frases eram emblematicamente uma embolada ríspida na tentativa de fazer aparecer o "salvador da situação" e dava para perceber que ela pressentia no político uma figura santificada ou um santo do pau-ôco, na forma em que olhava nos olhos após pronunciar: "esses pulítico não dá nada a ninguém, só qué cumê. Eu só ajudo a quem mi ajudá". Seus cabelos estavam escondidos por uma toca de meia que ajudava o rosto a ter um semblante arredondado e a boca esquivava ao transmitir um sentimento que refletia uma vida penosa "acordo 5 h da manhã e vorto 7 h da noite, só vivo no cansaço, já não aguento mais", demonstrando que estava encurralada pela vida, citava: "Nego toma conta de mãe enquanto eu vou para o serviço".

Nego era um jovem da comunidade que estava sentado na cadeira localizada atrás da porta. Olhava sempre para o chão, enquanto mexia as pernas sem parar. Nego retinha as palavras e só balançava a cabeça para uma resposta negativa ou positiva quando alguém dirigia-lhe alguma pergunta. Segurava os santinhos de propaganda política com desconfiança e certa indiferença, pois transparecia que não sabia das coisas, mas sentia os estranhos no seu gueto.

A negra trabalhadora falou e indicou com o queixo "mãe taí no quarto, sentindo uma dor de dá pena, a coitada num tá guentano mais, entra aí prá vê ela". O quarto não tinha porta, um pano fino e barato servia de tampão. Era um quarto extremamente singelo. Uma luz turva emitia sombras. Tinha uma cama engolida por quatro paredes. Uma velha senhora deitada e enrolada por um cobertor felpudo e marron, gemia e balbuciava. Apesar dos pesares era uma fisionomia branda e amistosa, que parecia ter expelido os últimos ressentimentos profundos que povoam a alma humana. Transpirava uma áurea de tranquilidade e ternura, mesmo impregnada de dores. Ansiava por um ato de caridade salvadora ou por uma ajuda insofismável, sendo que, aquela era a oportunidade de sobressair-se do mundo do desprezo e das possibilidades restritas. Queria pouco e pretendia quase nada, para abrandar a sua agonia em meio a desesperos tempestuosos, quando pediu bem baixinho: "ô meu patrão ! eu tô aqui nu sufrimento, mi dá um dinheirim".

Estava perambulando pelo REINO DA NECESSIDADE. Ali estava a realidade crua e na ferida maior. É uma situação de precisão continuada de comida, de hospital, de remédio, de conforto, de esperança, de confiança, de quase tudo.. O querer é um acessório de quem vive apertado, jamais seria recalcitrante. É nesta chaga aberta que o politiqueiro pilantra e o traficante endinheirado plantam suas hortas. A comunidade só se torna visível neste período, que é a época de se fazer a política eleitoral.

Quem se hospeda nas correntes do REINO DA NECESSIDADE ingere muito bem das relações promíscuas entre os humanos. Sabe que esta e outras visitas só ocorriam naquele preciso instante e que, só daqui a quatro anos terá outra e outras incidências daquelas. Naturalmente as pessoas desse reino são personagens que não conseguem ultrapassar os limites que as cravejam e, atravessar a ponte para o patamar da cidadania é um transcurso meticuloso e cheio de tentações. Existe em cada esquina da vida humana em condições subumanas, um monte de vermes e pilantras que sugam e regozijam do fomento do reino cravando suas ventosas nesses tecidos para retirarem a seiva suculenta que lhes garantem o bem-estar pessoal, realimentado-o de quatro em quatro anos.

A política está em todo canto da casa: no lixo, na ração do meio-dia; na conversa com a vizinha. Falta o entendimento da verdadeira serventia da política, de que forma ela se dá no cotidiano e de como ser participante, não só na chapa quente do pula-pula. A política é um aprendizado para a vida, se em Ipirá não é assim, o povo vai ficar só na pirraça e não se chega nem na indignação, quanto mais na mudança. Se as pessoas forem capazes de perceber os problemas do bairro, da cidade, da vida humana, já é um bom começo para se pensar em mudar as coisas e além de ser pessoa virar cidadão. Um jeito de virar o jogo é achar que o seu mais ilustre empregado (o prefeito) tem que melhorar o bairro, o atendimento do hospital e ofertar casas a quem não tem e por aí vai.

Se for possível quantificar o REINO DA NECESSIDADE é importante que se coloque os números de Ipirá. CLASSE DE RENDIMENTOS MENSAL = SALÁRIO MÍNIMO.
è SEM RENDIMENTO = 49,2 %
=>ATÉ UM SALÁRIO = 34,6 %
==>DE UM A DOIS SALARIOS = 10,3 %
CONCLUSÃO = 94,1 % da população de Ipirá vive do bico a dois salários mínimo. Essa é minha Ipirá.