sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

PERIPÉCIAS DE CAMPANHA 3.


Duas drogas acabam com Ipirá.

Escrevo este artigo com a intenção de chamar à atenção da juventude ipiraense, para o perigo que corre suas vidas, desde quando, ronda por estas terras, um flagelo que degrada a humanidade das pessoas.

A primeira droga é a pedra de crack, que se alastra sorrateiramente e sem alarde pelas franjas da nossa sociedade e vai-que-vai penetrando mansamente, sem encontrar resistência, assistida pela desmedida indiferença dos poderes responsáveis e de um tecido social cada dia mais individualizado. Os náufragos cambaleiam em suas tocas. São as veredas do caos.

A segunda droga que corrói a coletividade desse município é a politicagem local, o tal do jacu-macaco.
Naturalmente, você pensará: “ O que é isso? Você ficou doido? Nada é mais belo, mais extraordinário, mais gostoso do que jacu-macaco”.

Com essa sua indagação, eu pergunto: e por que essa onda macaco-jacu só dura três meses? Sendo uma coisa tão boa, por que não dura quatro anos?

Mas, não quero ficar só com essa indagação, porque o fato é que jacu-macaco não dura, mas perdura por mais de 38 anos. Pretendo argumentar nos próximos artigos do “ Peripécias de Campanha”. Aguardem o nosso primeiro argumento, para provocar outros pontos de vista.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

É DE ROSCA.


Estilo: ficção.
Natureza: novelinha.
Capítulo: 16. (mês de janeiro 2009, - atualizado)

O governador virou ave de arribação e caiu fora desta cidade sertaneja, que se chama Ipirá. A comitiva foi atrás. A empregada Natalina ficou cara-a-cara com o prefeito Dió, que tinha ficado azuretado com ela. A empregada Natalina mostrava-se empolgada e não economizava palavras:
- Viu prefeito Dió ! como o pessoal todo adora carne de carneiro. A dona da justiça de Ipirá chegou a lamber os beiços.

- Deixe de lutrimento empregada Natalina, você me estrepou ? - afirmou o prefeito Dió.

- Eu ! o que é isso prefeito Dió ? Eu só fiz levantar sua guia com o governador. Não medi uma só palavra, prá mostrar que o matadouro tá empacado que nem jegue com medo de assombração.

- E quem é o responsável pela construção desse matadouro de Ipirá ? Sou eu. E quem não quer que esse matadouro seja construído ? Aí você não disse. Você não disse que já roubaram até os blocos que estavam empilhados lá na frente.

- Intonce o prefeito Dió tá nu dizê de qui é o povo qui não deixa construir o matadouro de Ipirá ? Aí o meu amo vai me aperdoá, mas quem tá aprisilhando o dito cujo é meia-dúzia de peixe graúdo que não sorta a caneta e vosmicê tá nu miolo.

- Chega, empregada Natalina ! de uma vez por todas, chega. Você é jacu e eu não vou deixar jacu trabalhando na minha prefeitura. Você está despedida.

- Mas, prefeito Dió ! eu não trabalho na prefeitura, eu trabalho é em sua casa.

- Pior ainda. Eu não quero jacu em minha casa de jeito nenhum. Saia agora mesmo. Com jacu é assim: arrume a mala e rua.


A empregada Natalina abriu o berreiro com um choro espremido e cadenciado, onde as lágrimas desciam em forma de cachoeira. Deixou a residência do prefeito Dió, com uma mala de madeira, dessas usadas por retirantes, e duas trouxas de roupa. Sem lenço e sem documentos, não tinha destino, muito menos para onde ir.

Ao atravessar a rua, a ex-empregada Natalina encontrou-se com a ex-empregada Tonha, que era chefe de cozinha na casa de Luiz do Demo, antigo PFL, travestido de PMDB. A ex-empregada Tonha tinha sido despedida logo após a derrota eleitoral, após uma firme dedução de que teria virado macaca, não merecendo mais confiança. Quando a ex-empregada Tonha avistou a ex-empregada Natalina, indagou-lhe:
- O que é que tá acontecendo cumade ? Prumode de que vosmicê tá nesse derretimento todo ?

- Cumade Tonha, vosmicê nem há de assuntá. O prefeito Dió me empurrou pru olho da rua ? disse a ex-empregada Natalina choramingando.

- Como ? E agora cumade, aonde é que a gente vai conseguir o que comê, se era vosmicê que matava a minha fome ?

- Num sei cumade Tonha, nós estamo intregue nas mão de Deus.

- Cumade Natalina ! veio umas idéia nos meu tutano, que eu vou dizê prá vosmicê.

- Desimbucha logo cumade Tonha.

- Já que dobrou a quantidade de sem-teto em Ipirá, vamo nus organizá. Eu como as comida das casa do doutô e vosmicê come as comida das casa das professora.

- Se assunte cumade Tonha, qui sabedoria é essa qui sai dos teu tutano, hém ! qué dizê, vosmicê come as comida da casa de Dr. Maurício, sarta duas casa cabeça abaixo; da casa de Dr. Gilvan; da casa de Dr. Caio; da casa do Dr. Pereira; deu quatro casa; e eu só fico com as comida da casa de pró Jandira e pró Aline; só duas casa. Se assunte cumade Tonha, vosmicê não deixa de ter as esperteza do jacu.

- Intonce cumade Natalina, prá num tê disavença entre nós duas, vamo fazê um acordo: subindo cabeça arriba, vosmicê fica com as comida da banda da direita e eu com as comida das banda da esquerda. Nada neste mundo vai fazê a gente dismanchá nossa amizade.

- Tá nus conforme cumade Tonha. Não é por pouca coisa que a gente vai se estranhá.

- Mas cumade Natalina, se aperguntá não ofende, prumode de quê o prefeito Dió empurrou vosmicê pru olho da rua ?

- Cumade Tonha ! eu vou arrespondê ao qui vosmicê qué assuntá. Só porque eu defendi os carneiro de Ipirá; só por isso, cumade.

- É o que eu digo, viu cumade Natalina: esses macaco é um cachorro.

- Cachorro não ! viu cumade Tonha. Dobre sua língua, ele paga em dia. Cachorro é aquele jacu, que só pagava com seis meses de atraso e ainda derrubou meio mundo de gente.

- Taí, cumade Natalina ! lave a sua língua prá falá do jacu. Se tem coisa que presta nessa terra é o jacu, o resto é meleca, inclusive vosmicê.

- Me arrespeite sua nigrinha ? - gritou a ex-empregada Natalina, dando um tabefe no rosto da ex-empregada Tonha, e as duas trançaram-se.


A rua estava vazia. Por mera coincidência, destas que só acontecem de século em século, quando o prefeito Dió saiu no portão, por causa do barulho da rua, Luiz do Demo, ex-PFL, travestido de PMDB, apareceu do outro lado. Como não havia ninguém na rua, exceto o bolo formado pelas ex-empregadas, que se engalfinhavam, os dois foram andando, saudaram-se no meio da rua e entraram para tomar um champagne.

A multidão tomou conta da rua. Os ônibus chegavam abarrotados de gente dos povoados e da zona rural. O povo acotovelava-se para dar uma espiada no Big Brother ipiraense. Nada apartava a briga. Tentaram de tudo e nada. Alguém na multidão deu a idéia: "Vamo chamá o delegado". Um voluntário disparou para a delegacia:
- Doutô Delegado ! o mundo tá se acabando na rua de doutô Delorme. Tá pió do que a invasão da Faixa de Gaza. Se o doutô Delegado não for lá, prá acabá com aquela ingrizilhada, pode ser o começo da terceira guerra no mundo.

- O que é que está acontecendo ? - perguntou o delegado.

- É uma briga de duas mulé. Tá pió do que os judeus com os palestinos lá no Oriente. Leve reforço, metralhadora, fuzil; leve a catinga; telefone prá O'brama; que o panavueiro tá um inferno.

- O que ? duas mulheres ? - o delegado, na maior paciência do mundo, olhou para o lado e pediu a um auxiliar - ô Lampião ! traga um cafezinho aí, depois você pega aquela garruncha enferrujada, de dois tiros, e traga prá eu botar na cintura.

- Mas doutô Delegado, o senhor vai com essa pistola velha ?


O delegado olhou fundo nos olhos do mensageiro e com toda seriedade desse mundo, disse-lhe:
- Eu vou acabar com esse fricote dessas duas mulheres com um grito; se isso não acontecer eu vou mudar meu nome para Carlos.

SUSPENSE: e agora ? o que será que vai acontecer à empregada Natalina ? O que será que o delegado vai fazer ? Natalina e Tonha para a cadeia ?

Leia o capítulo 15 ? dezembro 2008 - logo abaixo.

OBSERVAÇÃO: essa novelinha é apenas uma brincadeira literária que envolve o administrador e o matadouro e, sendo assim, qualquer semelhança é mera coincidência.

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

É DE ROSCA.


Estilo: ficção.
Natureza: novelinha.
Capítulo: 15. (mês de dezembro 2008, com um mês de atraso)

O banquete na residência do prefeito Dió continuava farto. Observe que vem acontecendo desde o dia da grande vitória e não adianta ficar com a gemedeira do ui ! ui ! uiiiiiiiiiii, que não vai terminar de uma hora para outra. A carne mais apreciada e extensivamente consumida era a de carneiro, naturalmente carne clandestina. Desde quando Ipirá não possui um matadouro de ovinos e caprinos, vai ter que ser assim. É a sobrevivência que mostra onde a tripa aperta. Enfim, são dezesseis anos para a simples construção de um matadouro de bovinos e, até hoje, não apareceu um prefeito de verdade para dar um basta nesta situação. O bicho é de rosca.

O governador mostrava-se pançudo, mas também, alegre e satisfeito, ao tempo que, derretia-se em suor e elogios ao trato que recebia na casa do prefeito Dió. Até aquele instante, tinha digerido uma banda de carneiro e o garfo não se aquietava e a boca dizia:
- Excelente... hum ! um primor ! prefeito Dió, a sua empregada Natal... Natalina está de parabéns

A empregada Natalina sentia um formigamento subir pela espinha e aqueles elogios transformaram-se num reconforto para o seu altruísmo de secretária da cozinha, muitas vezes, alvo de pouco reconhecimento. Dizia em um só fôlego:
- É bondade de sua excelença. Vosmicê tá nu aprovamento, prumode de qui vosmicê tá saboreano as delícias do Camisão e neste mundo, não tem nada qui se aparelhe a essas delícias.

- Prezada Natal...Natalina ! mate a minha curiosidade. De que é feito as Delícias do Camisão ? – indagou o governador.

- De carne clandestina de carneiro.

Naquele instante, com aquela frase e com aquela clareza, o mundo da empregada Natalina caiu. O governador passou a mão na barba branca impecável e com uma fisionomia imperturbável e rígida, sem dar um sorriso, olhou nos olhos do prefeito Dió e conversaram sem trocar uma palavra.

O governador girou o olhar em busca do intempestivo e oblíquo olhar da dona justiça de Ipirá, que se empanturrava com a graciosa e maciça carne de carneiro e que, neste preciso instante, tinha os olhos vendados para qualquer problema social e, também, para o governador. Não surtindo efeito a confluência de olhares, o governador atinou para o mando dirigido numa ligação imperceptível da mente ao ouvido. Ninguém percebeu a mensagem sub-reptícia.

A empregada Natalina tinha caído na sua própria arapuca e não levou em conta que no mundo das autoridades de ontem e de hoje, não se pode ser transparente, ao ponto de mostrar o corpo desnudo, muito pelo contrário, tem que ter o brilho fosco do michelin, assim todos se sentiriam felizes. O universo do escamoteamento é também realidade. A empregada Natalina disparou:
- Não é de ontem, nem de hoje, que esse matadouro de boi tá encafrunhado, não tem serventia, não abate um bengo. Isso deve ter ingrisilha com empresário graúdo. Não tá vendo esse desassunto com o matadouro de ovelha em Ipirá, é prumode do matadouro de carneiro que fizeram em Pintadas poder ter uso. Esse Ipirá tá num miserê que num é corquer pulítico meia-sola que vai botá nos eixo.

O governador olhava sério para a empregada Natalina e indagou sem pestanejar:
- Você é assim mesmo ou está assim porque hoje é quarta-feira ? Eu só tenho a dizer o seguinte: depois de ouvir a nossa empregada Natal... Natalina e depois dessa comida deliciosa, o que eu mais quero é deleitar-me com um maravilhoso banho.

O governador foi conduzido ao banheiro pela grande comitiva de convidados presentes e com todo cerimonial que faz jus. Tirou a roupa, abriu o registro e ficou esperando a água cair. Nada. A empregada Natalina que estava na porta do banheiro, do lado de fora, naturalmente, junto à comitiva, gritou:
- Excelença ! aproveite e tome um banho de vento bem tomado e espere a água da Embasa chegar no próximo mês.

O governador vestiu a roupa e saiu resmungando:
- Que água é essa meu povo ! só aparece daqui a um mês. Eu vou embora dessa cidade.

- Isso é a água da Embasa, excelença. Um monte de gente chegou no Natal e Ano Novo num dia e foi embora no outro, sem tomar banho, devido a falta de água e tudo por causa dessa Embasa pipoqueira – completou a empregada Natalina.

SUSPENSE:o que será que vai acontecer à empregada Natalina ? O prefeito Dió não ficou nada satisfeito com a empregada Natalina. O que será que ele vai fazer ? Natalina pode ser dispensada do trabalho ou não ?

Leia o capítulo 14: mês de novembro 2008, logo abaixo.

OBSERVAÇÃO: essa novelinha é apenas uma brincadeira literária que envolve o administrador e o matadouro e, sendo assim, qualquer semelhança é mera coincidência.

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

A MISSIVA


O prefeito Diomário, do município de Ipirá, recebeu uma carta do presidente Lula, deixando bem claro, que está prestigiado e tem média com o "homem de Brasília".

Nas entrelinhas do presidente Lula não houve nenhuma menção à crise internacional do capitalismo, que tanto esquenta a cabeça do prefeito de Ipirá.

O presidente Lula quer que o prefeito de Ipirá seja um parceiro para acelerar investimentos e diminuir a pobreza. Aspectos que o prefeito Diomário é de uma fraqueza de dá dó. Seus investimentos estão dispostos na assistência precária e na maquiagem, não geram e nem garantem o emprego permanente.

O prefeito Diomário não deixa de vangloriar-se com os louros da vitória e insiste que sua proposta é a melhor para Ipirá. Vai ter que provar a veracidade disso e deixar de tanta conversa mole.

A carta do presidente Lula, além de trazer um convite para um encontro de dois dias em Brasília, 10 e 11 de fevereiro, assegura que dez ministros e os presidentes do BB, CEF, BNDES estarão à disposição do prefeito de Ipirá. Não é possível que ele venha com a mala vazia ou traga somente bolacha quebrada.

As obras do prefeito Diomário não significam a criação de empregos continuados e consistentes. Sua administração é fraca nesse aspecto. Não adianta ir para Brasília mendigar a vinda de fábricas para Ipirá, desde quando, a indústria na Bahia está sofrendo com a crise internacional do capitalismo.

Se o prefeito Diomário deixar de lado a empáfia e olhar sem tanta presunção para o município de Ipirá, poderá observar que, aqui mesmo, na nossa realidade, encontraremos meios e recursos para garantir o desenvolvimento e o crescimento do município de Ipirá, na forma auto-sustentável.

Não precisa ir longe e de cuia na mão. É necessário terminar e botar para funcionar essa matadouro de Ipirá, esse é um ponto essencial. É fundamental que construa o Campo de Gado de Ipirá, para a venda de animais. Essas duas obras irão impulsionar a base econômica de Ipirá, que é a pecuária; acelerar investimentos; garantir o crescimento de empregos e reduzir a pobreza, como deseja o presidente Lula.

O prefeito Diomário não trouxe nem trará nenhuma fábrica para Ipirá. Não existe condições objetivas para tal pleito. Vamos deixar de lado esse sonho quimérico. Nessa área, o essencial seria concentrar e organizar o fabrico dos artefatos de couro numa determinada área para impulsionar o setor.

Afora isso, o povo de Ipirá ficará observando a deterioração da Praça da Bandeira, que não absorveu nem o emprego de alguns famélicos vigias noturnos.

Enquanto a economia de Ipirá não sai do buraco, desejamos ao prefeito Diomário uma boa estadia em Brasília e que usufrua dos memoráveis banquetes regados a deliciosos vinhos, mas não esqueça de Ipirá, porque a conta já está paga.