O prefeito Dudy encheu o peito de ar, ergueu a cabeça demonstrando um orgulho inquebrantável, ao tempo que falou, na SESSÃO SOLENE da Câmara de Vereadores, em boa tonalidade:
“Minha gestão fechou em 53,60% o índice de pessoal, quando a Lei determina
54%. Os prefeitos anteriores por falta de planejamento inchavam a prefeitura,
quando chegava o final do ano demitia pais de família, que só depois voltavam a
trabalhar. A minha gestão não fez isso.”
Reflita, leitor desse blog! Os prefeitos anteriores inchavam a
prefeitura de empregados. A lei não permite que isso aconteça (não pode
ultrapassar 54% do pessoal). O que fizeram os prefeitos? Demissões em massa, no
final do ano, até alcançarem o índice de 54%. A lei está em vigor e o prefeito
tem que obedecê-la.
Orgulhosamente o prefeito Dudy falou que na sua gestão estas demissões
não aconteceram. Esta é a mais pura verdade. Sua gestão ficou enquadrada nos
ditames da Lei? Não.
O que aconteceu na realidade? Milagre ou esperteza?
A gestão encurralada num índice de 43,60%, qualquer meia dúzia de
contratos ultrapassaria as determinações da Lei. O que fez a gestão? Bananas para
a Lei.
Fez justamente o que ele disse que os outros prefeitos fizeram. A gestão
do prefeito Dudy não só inchou o quadro pessoal da prefeitura, como fez lotação
completa no quadro funcional, fomentando o maior cabide de emprego já visto na
prefeitura de Ipirá. Não demitiu ninguém e continuou batendo na trave com um
índice amarrado em 53,60 %.
O que aconteceu na realidade? Boa administração ou esperteza?
A gestão driblou a Lei (burlou seria o termo correto). Licitou uma
empresa, que contrata os funcionários para a prefeitura. Esses funcionários não
entram na folha da prefeitura e recebem da empresa contratante. Que mal há
nisso? A prefeitura paga em dobro e trata-se de dinheiro público.
A prefeitura paga dois salários ou mais a empresa que paga um salário ao
trabalhador. Virou uma mamata para a empresa, que não precisa nem ter capital
próprio, trabalha com dinheiro público e quem paga toda a conta milionária é a
prefeitura. Vê lá se empresa vai fazer caridade para o gestor sem morder uma boa
fatia do bolo? São esses empresários que estão fazendo riqueza com o dinheiro
público.
E os trabalhadores? Fazendo o serviço da prefeitura, mas não pertencem
aos quadros funcionais da prefeitura. Terceirizando esse serviço a prefeitura
nunca ultrapassa os 54% e não faz concurso público nem para efetivos ou
trabalho temporário como manda a Lei. Quando o faz, fica no puxa e encolhe da
embromação e não chama ninguém.
Assim nascem e crescem os ‘santos’ da administração pública em Ipirá.
Burlam a Lei para remediar as dificuldades e todos os males que atingem as
pessoas em Ipirá, a troco de nada, apenas do voto. Atendem a Lei para tornar
mais cheio, mais rico ou mais abastados ou, até mesmo, uma loteria acumulada
para apenas meia dúzia de amigos empresários.
Tem certas perguntas que é melhor o prefeito não responder, porque a
resposta vem antes da pergunta ser formulada, embora este momento não seja o apropriado
para o prefeito ficar calado e taciturno.
“Não; de jeito nenhum; nem pense nisso; você tá doido!” A resposta sai
do coração e não pela boca, que fica calada, para uma pergunta que não deveria
ser feita: “prefeito! Você deixaria sua filha viajar nesse transporte?”
A comunidade já sabe como aconteceu. A pergunta que não quer calar é: POR
QUE ACONTECEU?
Prefeito Dudy! Leia a Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990. Não custa
nada e vai clarear a visão de V. Exa. sobre a situação. A bronca tem o tamanho
de uma imensidão e não tem quem consiga travá-la. O esclarecimento da verdade
dos fatos é o que poderá acontecer de mais justo e decente. Nem que tenha que
cortar na própria carne.
“O acolhimento institucional (público) foi estabelecido para amparar e
atender as necessidades da população infantil e jovem do Brasil. Essa é uma
forma de garantir os direitos fundamentais das crianças e dos adolescentes.”
Isso é um corpo sagrado nas intenções projetadas e não pode falhar.
“A educação infantil como direito resulta da importância da proteção
integral das crianças em seu período inicial de vida, fornecendo os meios necessários
para que possam se desenvolver de maneira plena.” Isso é coisa séria e não se
admite um acolhimento precário por parte do município para não soterrar o
direito à educação infantil.
“No Art. 1º Esta Lei dispõe sobre a proteção integral à criança e ao
adolescente. / No Art. 3º A criança e o adolescente gozam de todos os direitos
fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de
que trata esta Lei... / Parágrafo único. Os direitos enunciados nesta Lei
aplicam-se a todas as crianças e adolescentes, sem discriminação de lugar de
moradia...”
“Art. 4º É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do
poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos DIREITOS
referentes à VIDA... / Art. 7º A criança e o adolescente têm DIREITO a proteção
à VIDA...”
“Art. 54. É dever do Estado assegurar à criança e ao adolescente: / IV -
atendimento em creche e pré-escola às crianças de zero a seis anos de idade; / Parágrafo
único. Em caso de reiteradas infrações cometidas por entidades de atendimento,
que coloquem em risco os direitos assegurados nesta Lei, deverá ser o fato
comunicado ao Ministério Público ou representado perante autoridade judiciária
competente para as providências cabíveis...”
Uma criança de cinco anos tem o amparo total e completo desta Lei
retalhada acima. Essa Lei deve ser respeitada e seguida ou burlada e ignorada? O
que você acha, leitor desse blog? Se a Lei for aplicada teremos a Justiça, se a
Lei for burlada teremos a negação da Justiça.
Uma criança de cinco anos, quando em casa, tem a proteção e
responsabilidade dos pais. Quando ela sai e pega o transporte público para ir à
escola, dá-se uma transferência de responsabilidade e a custódia (agora) passa
a ser do ente público, sem a menor sombra de dúvida. Você concorda ou não?
Dentro do transporte escolar público, uma criança de cinco anos, agora, ficará
sob proteção ou guarda da prefeitura municipal. O que se espera dentro da normalidade?
Uma Ida e retorno com segurança e sem traumas. Não se espera nada ao contrário,
mas aconteceu.
A ‘Nota de Pesar da Prefeitura Municipal de Ipirá’ é uma corrida
vergonhosa, escandalosa e enlouquecida para salvar a própria pele e tirar o
redondo da reta: “A princípio, foi averiguada toda a
documentação do carro e do motorista que dirigia o veículo, estando todos os
documentos de acordo com a legalidade.”
A pergunta que interessa: POR QUE ACONTECEU? Não foi por causa dos
documentos do carro e do motorista (estão legais). Também não foi por causa da
criança de cinco anos. Seria uma infâmia.
Metendo o dedo na ferida. O carro era uma FOBICA que era utilizada como
transporte escolar. Ótima para transportar saco de batata, rolo de fumo de
corda ou manta de toucinho de porco. Pasmem, leitores! Transportava alunos da
zona rural. Cabia oito alunos, carregava dezoito.
Como essa FOBICA conseguiu um contrato para servir ao transporte
escolar? Foi contrato direto com a prefeitura ou com a empresa de transportes? Quem
foi o padrinho? Teve inferência, pedido e pressão de algum vereador? Quem
fechou os olhos e negligenciou de forma irresponsável para que o contrato
vingasse? Ocorreu aquela lastimável situação de garantir voto para candidaturas
do grupo, no famoso e carcomido, tudo pelo voto é possível? Agora, famoso,
carcomido e trágico.
Como essa FOBICA passou em uma vistoria? Ou não passou? Quem abriu as
portas da prefeitura para essa FOBICA? Quem facilitou esse contrato? Quem
deixou essa FOBICA carregar alunos? Quem comeu essa narrativa: “Vai rodar lá na
roça, ela não vem aqui na cidade!” Ninguém vai ver, então ninguém vai saber? O
prefeito não sabia?
Denúncias sobre o transporte foram feitas e as autoridades do município
não deram a menor atenção. Eu mesmo já denunciei neste blog, que no povoado das
Umburanas fecharam a única escola, por dar prejuízo. Uma escola é uma
referência salutar em qualquer fazenda, mas no povoado passou a ser prejuízo.
As crianças são levadas para o Malhador e pela tarde ficam pegando carona para voltarem
às suas residências. Nunca aconteceu nada, São crianças vulneráveis na beira do
precipício. Ninguém tomou conhecimento, imagine providência!
Tem um motorista que carrega alunos aqui na rua que é fã de corrida de
Fórmula Um, se atravessar um cachorro na frente ou uma criança, a bagaceira vai
ser de arrombar. Esses motoristas do transporte escolar estão aptos a
transportarem crianças? Eles estão capacitados para o bom acolhimento de
crianças?
Como seria bom para a gestão de Dudy jogar a culpa na FOBICA. Mas,
FOBICA não mata. O motorista seria um ótimo bode expiatório. Mas, o motorista
não tem tanta culpa no cartório, ele é escolhido. Tá difícil não é prefeito
Dudy?
Não podemos negar que a prefeitura foi negligente, ineficaz e
irresponsável. Foi ineficiente para cuidar de gente. Na sua gestão, prefeito
Dudy! Tem uma rede operando nos bastidores de uma maneira que atrapalha mais do
que ajuda a sua administração. Chegou a hora de cortar na carne. Desculpe-me
pelo que eu vou te dizer: o senhor não tem essa coragem.
O seu silêncio, prefeito Dudy! É inquietante e angustiante para o senhor;
para todos nós, para a nossa comunidade. Como a população de Ipirá gostaria de
ouvir de sua boca (faça um pronunciamento na Câmara de Vereadores e nas rádios
locais) que vai ter uma explicação verdadeira do acontecido e que os
responsáveis serão responsabilizados. Se isso não ocorrer, ficamos com a
péssima impressão de que seu silêncio tem cumplicidade com a renúncia de suas
obrigações como gestor público antes do apito final.
Prefeito Dudy! Vou
te fazer um pedido: não se deixe contaminar pela narrativa dos que falam que
uma indenização apaga a dor e que a amnésia da população apaga as recordações,
simplesmente, pense que uma FLOR da caatinga foi arrancada antes do tempo e que
o senhor sentiu na sua sensibilidade de ser humano e na profundeza de sua alma
cristã.
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