quinta-feira, 6 de julho de 2023

A JACUZADA TÁ NO MATO SEM CACHORRO

Vamos começar nossa postagem de hoje com uma fábula que fala de duas ilhas e um rio. Ela inicia da seguinte forma: “era uma vez, um lugar bem na curva que vai para o fim do mundo, que tinha um rio e duas ilhas, uma chamava-se Ninho do Jacu e a outra Toca do Macaco.”

 

O leitor atento vai logo dizendo: “vai ficar nisso, jacu prá lá e macaco prá cá? Que coisa mais monótona! Bota pimenta nisso.” É verdade, o leitor tem razão, vou tentar dinamizar mais essa coisa, colocando alguns bichos nessa parada.

 

Um escorpião apareceu, ninguém sabe de onde e como, na ilha Ninho do Jacu, na qual foi muito bem recebido e habitou neste local por muito tempo. Depois de certo tempo, passou a atacar os ninhos dos jacus, na base do ferrão. Logo após, mudou-se para a ilha Toca dos Macacos levando consigo ninhadas de filhotes de jacus.

 

Fez um estrago medonho. A ilha Ninho dos Jacus nunca mais foi a mesma. A jacuzada que era dona, que mandava e desmandava na ilha ficou espatifada e desorientada, tendo perdas significativas de poder. Em 25 anos, perdeu 21 e ainda está atordoada.

 

Na ilha Toca dos Macacos havia um sapo que, certo dia, pensou em visitar a ilha Ninho dos Jacus. Sabendo disso, o escorpião prontificou-se para acompanhá-lo até a outra ilha atravessando o rio. O sapo inchou de ar e pensou: “hum, aí tem coisa!”, mas não se fez de rogado e aceitou que o escorpião fosse nas suas costas. No meio do rio o escorpião murmurou no seu ouvido: “a escolha do pré é agora; não se veta o nome de la Ele; unidade é conosco e não convosco; temos que ajudar o nosso governo e não falar da saúde atual.” Aí sentou a ripa e tome-lhe ferrão. É a natureza! O escorpião não se salvou ao liquidar o sapo. Ambos morreram.

 

O ex-prefeito Dió deu um xeque-mate no líder Antônio Colonnezi. O Dió dizia que era loucura antecipar a campanha eleitoral ano e meio, mas incendiou as primárias dentro da macacada. Lançou um nome, porque o líder Antônio Colonnezi tinha lançado o seu, ao tempo, que criticou o líder por falar do atual governo da macacada. Esticou a corda, vamos ver quem tem mais força.

 

Não duvide, Ipirá vive uma crise de lideranças sem precedentes. Isso tem uma raiz cúbica de difícil solução devido à prática do PT no governo da Bahia. Quando o petismo que governa a Bahia desconhece e não considera a liderança local, dando preferência ao deputado e ao prefeito de plantão, isso tirou o crédito de Antônio Colonnezi como líder e, na medida em que não era e não foi mais prefeito no nosso município, caiu sua cotação na bolsa petista.

 

Sendo a macacada um grupo pulverizado, o Dudy na condição de prefeito veio para a cabeça da pule, naturalmente, com o apoio de algum estrategista que atua com desenvoltura nas alcovas dos bastidores, que é onde tudo se define, com quatro gatos pingados. O povão da macacada é massa de manobra. O prefeito Dudy está com a mão na taça, só falta botar a coroa na cabeça.

 

Do outro lado da moeda está a jacuzada, que não tem tempo mole. Estou procurando um comparativo para enquadrar a jacuzada, que seria mais ou menos o seguinte: no meio da caatinga, sol à pino, um calor insuportável; o catingueiro está à procura urgente de uma sombra e se entocou embaixo de uma árvore frondosa; ao lado, estava um mandacaru. Por que ele não foi para o mandacaru? Tem espinho e não tem sombra. Assim está a jacuzada.

 

O pior troço que o sujeito pode fazer em Ipirá é se encostar na jacuzada: não tem presidente; não tem governador e não tem prefeito municipal. Vai dá o quê?

 

Quando os seis vereadores da jacuzada estiveram na boca da bigorna para perderem os mandatos, o líder da jacuzada não moveu um palito, não deu um picolé. Os vereadores se viraram e salvaram os seus mandatos. O líder da jacuzada não deu nem parabéns. Essas lideranças só olham para o próprio umbigo. Na hora do aperto, convém certa distância, porque tem a despesa do processo, que poderá cair nas suas costas e bolsos. Assim, atua a liderança.

 

A jacuzada fez sua grande aposta na última eleição. Correta por sinal. Apoiou ACM Neto para governador; vitorioso, o líder Luiz Carlos Martins seria o candidato do grupo à prefeitura de Ipirá. Mas, deu no que deu, ACM Neto perdeu uma eleição ganha. O cara tinha 65% a 5%; esnobou prá cima de Zé Ronaldo; colocou a vice que quis; queria ser negão de qualquer jeito através do bronzeamento artificial; sendo ‘um almofadinha do litoral’, que olha com desdém para o interiorano, acabou recebendo o troco. Hoje, ninguém é besta e terminou perdendo. A próxima Eleição para governador vai ter que chupar osso de cachorro doente para ver como a vida é dura.

 

Essa derrota deixou a jacuzada no mato sem cachorro. O líder Luiz Carlos Martins não seria mais candidato. Partir para o enfrentamento de tomada do poder, com a candidatura do ex-prefeito Marcelo Brandão seria malhar em ferro frio. O ex-prefeito sofreu uma derrota aniquilante e humilhante de mais de seis mil votos, isso foi uma mensagem clara do povo de Ipirá. Ficar querendo uma comparação desta gestão com a sua gestão é querer que o povo de Ipirá pense com a cabeça do dedão do pé. Já foi, teve sua chance e não passou no teste, foi reprovado pelo povo de Ipirá. Se meter a cara toma uma rebombada de dez mil votos. Duvidas? Mete a cara!

 

Uma das causas do grupo da jacuzada encontrar-se nessa situação deve-se à administração do ex-prefeito Marcelo Brandão. Em grande dificuldade, o líder Luiz Carlos Martins cogita a pré-candidatura de Joan do Posto São João. Um bom nome; é uma pessoa séria e decente. Mas nesse esquema jacu e macaco que levou Ipirá ao caos, uma candidatura dessa vai entrar de gaiato, numa festa que não é sua. Isso aí é samba atravessado.

 

Onde eu quero chegar? Eu quero que você entenda que Ipirá vive uma crise de liderança. Só tem um jeito de salvaguardar as lideranças de Luiz Carlos Martins e Antônio Colonnezi: se um fosse candidato da jacuzada e o outro da macacada. Isso pode acontecer? Não acontece porque ninguém quer e aceita isso novamente. Estou mentindo? A crise é de liderança e não de grupo. Eles querem que continuem os grupos (jacu e macaco), mas com esses líderes só de fachada, só no nome, sem uma penetração real e efetiva de mando no poder municipal. Isso aconteceu na gestão do ex-prefeito Marcelo Brandão e está acontecendo na gestão do prefeito Dudy.

 

É um novo momento. Não cabe mais aquela política tensionada e cheia de ódio do século passado, quando o macaco não entrava no Clube Caboronga e o jacu não entrava no Clube Ipiraci. Já foi! E ninguém vai conseguir trazer isso de volta. Não se consegue mais líder como antigamente, na base do “um manda e todos obedecem”. Por isso a crise de líderes em Ipirá é uma coisa pulsante. A polarização não é do líder tal contra o outro líder. A polarização é entre grupos (jacu x macaco).

 

Na macacada isso aflorou mais cedo, agora os filhotes querem o pescoço do chefe. Na jacuzada, por ser um grupo mais fechado, que palpita em torno da família Martins isso retardou um pouco, mas vai acontecer mais cedo ou mais tarde. Luiz Carlos Martins tem muito menos força de liderança do que o pai. Mas, essa é a natureza dos tempos atuais.

 

O grupo jacu mandou em Ipirá por mais de meio século. Na última década ganhou uma eleição e perdeu quatro. O grupo tem um patamar de treze mil votos. O grupo da macacada está na casa dos dezenove mil votos. Evidente, que nada disso é imutável. Mas, quantas eleições a jacuzada perderá para retomar o poder? Quantas aguentará perder? Tem resiliência para perder, até quando? Tudo tem um limite e o tempo é um fator implacável nesta questão.

 

O grupo jacu não tem poder de atração, neste momento. Se permanecer enxuto e fechado na sua bolha não logrará êxito e poderá ter baixas na sua base eleitoral. Sem ter como oxigenar o grupo perderá a próxima Eleição municipal em 2024. Ninguém será escada para alavancar a jacuzada, simplesmente porque ela é aristocrática, tem tradição e navega sem rumo no maremoto da politicagem. Ninguém pegará em alça de caixão!

 

Dentro da sua agonia a jacuzada não tem saída; mas fora, talvez encontre uma brecha. Na química da composição política, se for receptivo para ser um bom recipiente poderá contar com um elemento químico de grande potencial para sua projeção: Ni ou Ne, Pela primeira vez, a jacuzada teria uma mulher na cabeça de chapa. Mudaria o slogan “é ELA e não La ELE.”

 

Dentro da família não tem futuro. Dentro de casa poderá lançar a candidatura do vereador Divanilson na cabeça e o vereador Jaildo na vice e será uma chapa competitiva na batalha política. Isso daria um fôlego à liderança de Luiz Carlos dentro da jacuzada. E para o líder Antonio Colonnezi a sua influência no lançamento de uma chapa com Jaildo na cabeça e Divanilson na vice revigoraria a sua predominância na liderança no grupo da macacada.

 

Reflitam! A polarização política na conjuntura atual do Brasil é entre a esquerda e a direita. Bolsonaro ficou inelegível tomando 5 a 2 no TSE. Esse placar de 5 a 2 remete ao placar do jogo Brasil x Suécia, quando o Brasil ganhou o seu primeiro caneco, graças à elegância de Didi no meio de campo; à capacidade de drible de Garrincha e à genialidade de Pelé. Essas lideranças de Ipirá estão em declínio, só manterão o bastão de líder se tiverem a elegância, a capacidade e a genialidade que os capacitem a dar a volta por cima, num momento muita agonia.

 

A liderança que se colocar acima do limite nefasto de seu grupo (jacu ou macaco); que visualizar uma Ipirá mais aberta e democrática, distanciando-se do ranço do jacu e macaco poderá sobreviver num patamar mais elevado. Dentro do seu grupo, terá que botar a ordem e o respeito do século XX. Uma tarefa quase impossível. Estamos na terceira década do século XXI. Continuaremos essa matéria na próxima postagem.
 

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