sábado, 14 de setembro de 2024

CARRO ATROPELA CAVALO

Dia 7 de setembro, às 16h. A cavalgada invadiu e tomou conta do centro da cidade de Ipirá. Um bom momento para uma enquete. Entrevistar quem? Não quero e não pretendo entrevistar pessoas. Não quero saber quem vai ganhar as eleições municipais de 2024. Tanto faz como fez.

 

Cavalo não fala e não tem placa. Os cavaleiros não trazem santinhos de candidatos grudados na testa. Não tem como a entrevista ir adiante. Por aí não dá para descobrir nada.

 

Tomei a decisão de entrevistar automóveis. Carro tem a língua solta e fala muito. Acompanhei de perto 365 carros e, simplesmente, 300 carros não estão carimbados. O que está acontecendo na politicagem de Ipirá?

 

Por que será que 82% dos carros não estão carimbados, ferrados e rastreados? Evidente que são vários fatores. Certos carros não seguraram o repuxo e soltaram a língua: “não vamos nos sujar com porcarias.” Outros carros afirmaram que: “candidaturas lisas, sem mexer no bolso e na sacola, sem investimentos significativos e de milhões na campanha não merecem espaço VIP para aparecerem”. Parecem respostas conclusivas.

 

Os carros são frios, calculistas e espertos pra caramba; carro não tem paixão nem coração; os carros possuem uma engenharia complexa com uma manufatura avançada, que não comem H e sabem o que querem.

 

Os carros sabem que, no esquema de Ipirá, só 20 carros serão transformados em Rolls-Royce, Lamborghini, Ferrari, Mercedes-Benz, BMW. Por que vão colocar perfurado eleitoral ou adesivo estampado na sua cara?

 

Só vinte carros serão agraciados com contratos acima de um milhão de reais/ano. Só vinte! Só vinte carros estarão dentro do poder e atingirão o símbolo de status e refinamento. Quem sabe disso, não participa de buzinaço para beneficiar os grandes desfrutadores do erário público, que não é o povo.

 

Contratos de cem mil reais até novecentos mil reais/ano não é para todo mundo, suponho que fique em torno de cinquenta carros ou melhor cinquenta empresários de carros. Cinquentinha! Se o seu carro não está nessa ordem, paciência! Será que o seu carro não está no grande engarrafamento, fora da tutela do poder municipal?

 

Contratos que vão de um salário mínimo até noventa mil reais/ano tem um número maior de carros participantes. Cento e cinquenta a duzentos carros. Aqui aumentou a chance do seu carro, caso ele não esteja nesse bloco; aí, paciência! Você não está passando nem perto da cozinha do poder de mando.

 

Chega de estacionar carros na beirada do poder! Observe bem e não seja vacilão. O estacionamento da prefeitura não cabe mais ninguém. A enquete agora é com o dono do carro. Quero saber do proprietário de carro: onde você vai estacionar seu carro?

 

Junto do financeiro e perto do cofre estão vinte carros, transformados na casta do poder de mando. O seu está aí?

 

No gabinete da gestão encontram-se uns cinquenta carros num tipo de paparicagem que deixa bons resultados nos bolsos. Se o seu não está lá em cima; ele está nesse aqui?

 

No pátio da prefeitura de prontidão estão uns duzentos carros que abarrotam todo espaço engarrafando todo o pátio. Ninguém entra nem sai. Tá tudo dominado, comprado, solapado, amarrado, acorrentado. O seu está aqui? Vamos que vamos para a novelinha.

 

LAÇOS DE FAMÍLIA

O sobrinho entrou avexado e foi questionando a tia:

 

- Minha tia! A senhora não vai gastar cascalho na campanha, não?

 

- Meu sobrinho! Mais do que eu já gastei é impossível. Eu estou esperando o ‘bicho de pena’ fazer uma fezinha para dar um empurrão na minha campanha e até agora nada.

 

- Minha tia! Eu não canso de dizer para quem quiser ouvir, que o ‘bicho de pena’ tá numa situação tão difícil que está chupando prego dizendo que é picolé; tá tudo quebrado e dinheiro não nasce em pé de quiabo; a senhora vai ter que debulhar a espiga de milho para o povo comer canjica.

 

O deputado Oliveira acompanhava e ouvia aquele converseiro sem mover os lábios, mas a língua começou a coçar e o deputado teve que dar seu parecer sobre o assunto:

 

- Meu sobrinho, deixe de atrevimento! Você não está vendo que a torneira do ‘bicho de pena’ está fechada, não pinga nada, não tem vazamento e eles estão pensando que minha esposa é besta para gastar o dela para levantar o grupo deles; lá isso ela não é não! Então vai ficar desse jeito: cágado caminha devagar, mas chega na linha de chegada.

 

- Mas tio, eu estou compreendendo tudo isso! Mas, o povo tá numa chiadeira nunca vista, dizendo que nunca viram uma campanha desse jeito, que não rola um bacurauzinho, nem mesmo uns bambás para a compra de uns filhotes de calango; que isso não é campanha e que desse jeito só quem perde é o povo que não morde nem a pelanca do gambá e o povo é quem se lasca.

 

- Meu sobrinho! Eu já gastei um dinheirão na compra de carretas de marmelada. O povo gosta de marmelada; não tem nada melhor do que um atoleiro de marmelada! Agora, você não quer entender que nós estamos vivenciando uma política nova e na marmelada que estamos vivendo o importante é a nossa família Oliveira dar a bocada maior, isso é que é gostoso! Se o povo vai gostar ou não, isso é problema deles, não é problema da nossa família Oliveira.

 

- É meu tio, o senhor tem toda razão!

 

FAMÍLIA É TUDO

- Por que nessa novela só tem três artistas? – perguntou o sobrinho,

 

- Meu sobrinho! Não fique igual a esses menino remelento, que chora de manhã porque não mama no peito; chora meio dia porque não gosta de caroço de feijão; chora de noite porque só tem bolachão prá cortar no dente e ele quer tudo mastigado. Meu sobrinho, quem vai ganhar as eleições em nossa terra? A nossa família Oliveira. E você quer mais do que isso?

 

- Eu sei meu tio! O povo tá pensando uma coisa e é outra coisa. Eu sei que só tem o ‘bicho de pelo’ 1 e o ‘bicho de pelo’ 2; eu sei que a família Oliveira jogou no jogo do bicho e ganhou na ‘loto fácil’; mas não é o caso de ter mais uma personagem nessa novelinha prá gente sentar a ripa.

 

- Só se for do ‘bicho de pena’. Nem dinheiro prá campanha eles têm; para substituir o vice, tiveram que abrir a gaveta e jogar tudo que tinha dentro em cima da cama; não tem militância; não tem puxa-saco; não tem linguarudo. Meu sobrinho, aqui prá gente, não conte prá ninguém! Minha esposa já me falou por diversas vezes: “onde eu fui amarrar minha égua?” – disse o deputado

 

- Eu disse a minha tia, que não basta ter onde colocar a carga, também precisamos saber onde colocar as nossas cobiças, por isso eu amarrei meu burro na viúva – disse o sobrinho.

 

- Você é um menino muito esperto; não bate prego sem estopa; não dá um espirro sem aparar com o lenço; não senta gangorra na parte de baixo; como é que você tá querendo mais protagonista nessa novela? É nóis, meu sobrinho! Tá tudo dominado; só dá nossa família na pesquisa. Família Oliveira é tudo.
 

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