Dia 7 de setembro, às 16h. A cavalgada invadiu e tomou conta
do centro da cidade de Ipirá. Um bom momento para uma enquete. Entrevistar
quem? Não quero e não pretendo entrevistar pessoas. Não quero saber quem vai
ganhar as eleições municipais de 2024. Tanto faz como fez.
Cavalo não fala e não tem placa. Os cavaleiros não trazem
santinhos de candidatos grudados na testa. Não tem como a entrevista ir
adiante. Por aí não dá para descobrir nada.
Tomei a decisão de entrevistar automóveis. Carro tem a língua
solta e fala muito. Acompanhei de perto 365 carros e, simplesmente, 300 carros
não estão carimbados. O que está acontecendo na politicagem de Ipirá?
Por que será que 82% dos carros não estão carimbados,
ferrados e rastreados? Evidente que são vários fatores. Certos carros não
seguraram o repuxo e soltaram a língua: “não vamos nos sujar com porcarias.”
Outros carros afirmaram que: “candidaturas lisas, sem mexer no bolso e na
sacola, sem investimentos significativos e de milhões na campanha não merecem
espaço VIP para aparecerem”. Parecem respostas conclusivas.
Os carros são frios, calculistas e espertos pra caramba; carro
não tem paixão nem coração; os carros possuem uma engenharia complexa com uma
manufatura avançada, que não comem H e sabem o que querem.
Os carros sabem que, no esquema de Ipirá, só 20 carros serão
transformados em Rolls-Royce, Lamborghini, Ferrari, Mercedes-Benz, BMW. Por que
vão colocar perfurado eleitoral ou adesivo estampado na sua cara?
Só vinte carros serão agraciados com contratos acima de um
milhão de reais/ano. Só vinte! Só vinte carros estarão dentro do poder e
atingirão o símbolo de status e refinamento. Quem sabe disso, não participa de
buzinaço para beneficiar os grandes desfrutadores do erário público, que não é
o povo.
Contratos de cem mil reais até novecentos mil reais/ano não é
para todo mundo, suponho que fique em torno de cinquenta carros ou melhor
cinquenta empresários de carros. Cinquentinha! Se o seu carro não está nessa
ordem, paciência! Será que o seu carro não está no grande engarrafamento, fora
da tutela do poder municipal?
Contratos que vão de um salário mínimo até noventa mil
reais/ano tem um número maior de carros participantes. Cento e cinquenta a
duzentos carros. Aqui aumentou a chance do seu carro, caso ele não esteja nesse
bloco; aí, paciência! Você não está passando nem perto da cozinha do poder de mando.
Chega de estacionar carros na beirada do poder! Observe bem e
não seja vacilão. O estacionamento da prefeitura não cabe mais ninguém. A enquete
agora é com o dono do carro. Quero saber do proprietário de carro: onde você
vai estacionar seu carro?
Junto do financeiro e perto do cofre estão vinte carros,
transformados na casta do poder de mando. O seu está aí?
No gabinete da gestão encontram-se uns cinquenta carros num
tipo de paparicagem que deixa bons resultados nos bolsos. Se o seu não está lá
em cima; ele está nesse aqui?
No pátio da prefeitura de prontidão estão uns duzentos carros
que abarrotam todo espaço engarrafando todo o pátio. Ninguém entra nem sai. Tá
tudo dominado, comprado, solapado, amarrado, acorrentado. O seu está aqui?
Vamos que vamos para a novelinha.
LAÇOS DE FAMÍLIA
O sobrinho entrou avexado e foi questionando a tia:
- Minha tia! A senhora não vai gastar cascalho na campanha,
não?
- Meu sobrinho! Mais do que eu já gastei é impossível. Eu
estou esperando o ‘bicho de pena’ fazer uma fezinha para dar um empurrão na
minha campanha e até agora nada.
- Minha tia! Eu não canso de dizer para quem quiser ouvir,
que o ‘bicho de pena’ tá numa situação tão difícil que está chupando prego
dizendo que é picolé; tá tudo quebrado e dinheiro não nasce em pé de quiabo; a
senhora vai ter que debulhar a espiga de milho para o povo comer canjica.
O deputado Oliveira acompanhava e ouvia aquele converseiro
sem mover os lábios, mas a língua começou a coçar e o deputado teve que dar seu
parecer sobre o assunto:
- Meu sobrinho, deixe de atrevimento! Você não está vendo que
a torneira do ‘bicho de pena’ está fechada, não pinga nada, não tem vazamento e
eles estão pensando que minha esposa é besta para gastar o dela para levantar o
grupo deles; lá isso ela não é não! Então vai ficar desse jeito: cágado caminha
devagar, mas chega na linha de chegada.
- Mas tio, eu estou compreendendo tudo isso! Mas, o povo tá
numa chiadeira nunca vista, dizendo que nunca viram uma campanha desse jeito,
que não rola um bacurauzinho, nem mesmo uns bambás para a compra de uns
filhotes de calango; que isso não é campanha e que desse jeito só quem perde é
o povo que não morde nem a pelanca do gambá e o povo é quem se lasca.
- Meu sobrinho! Eu já gastei um dinheirão na compra de
carretas de marmelada. O povo gosta de marmelada; não tem nada melhor do que um
atoleiro de marmelada! Agora, você não quer entender que nós estamos
vivenciando uma política nova e na marmelada que estamos vivendo o importante é
a nossa família Oliveira dar a bocada maior, isso é que é gostoso! Se o povo
vai gostar ou não, isso é problema deles, não é problema da nossa família
Oliveira.
- É meu tio, o senhor tem toda razão!
FAMÍLIA É TUDO
- Por que nessa novela só tem três artistas? – perguntou o
sobrinho,
- Meu sobrinho! Não fique igual a esses menino remelento, que
chora de manhã porque não mama no peito; chora meio dia porque não gosta de
caroço de feijão; chora de noite porque só tem bolachão prá cortar no dente e
ele quer tudo mastigado. Meu sobrinho, quem vai ganhar as eleições em nossa
terra? A nossa família Oliveira. E você quer mais do que isso?
- Eu sei meu tio! O povo tá pensando uma coisa e é outra coisa.
Eu sei que só tem o ‘bicho de pelo’ 1 e o ‘bicho de pelo’ 2; eu sei que a
família Oliveira jogou no jogo do bicho e ganhou na ‘loto fácil’; mas não é o
caso de ter mais uma personagem nessa novelinha prá gente sentar a ripa.
- Só se for do ‘bicho de pena’. Nem dinheiro prá campanha
eles têm; para substituir o vice, tiveram que abrir a gaveta e jogar tudo que
tinha dentro em cima da cama; não tem militância; não tem puxa-saco; não tem
linguarudo. Meu sobrinho, aqui prá gente, não conte prá ninguém! Minha esposa
já me falou por diversas vezes: “onde eu fui amarrar minha égua?” – disse o
deputado
- Eu disse a minha tia, que não basta ter onde colocar a
carga, também precisamos saber onde colocar as nossas cobiças, por isso eu
amarrei meu burro na viúva – disse o sobrinho.
- Você é um menino muito esperto; não bate prego
sem estopa; não dá um espirro sem aparar com o lenço; não senta gangorra na
parte de baixo; como é que você tá querendo mais protagonista nessa novela? É
nóis, meu sobrinho! Tá tudo dominado; só dá nossa família na pesquisa. Família
Oliveira é tudo.
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