segunda-feira, 5 de novembro de 2012

UMA CARTA.


Exma. Prefeita do Município de Ipirá
Dra. Ana Verena.
 
Tomo a audácia da missiva com extraordinária franqueza e com o intuito de primar pela bem-aventurança para estas terras de Ipirá.
 
V.Exa. é depositária da vontade popular. Foi a escolhida para conduzir nossos destinos por estes quatro anos vindouros. Pleiteio e faço votos que os conduza da melhor forma possível, no contento de prover estas terras do progresso necessário.
 
 Acaso, o município tivesse a sua vida exclusivamente limitada à área da saúde, eu estaria perfeitamente tranquilo com a perspectiva de sua administração, evidentemente, eliminando-se as promessas exageradas e impossíveis de campanha, caso da UTI no Hospital de Ipirá, e na promessinha da ambulância do SAMU, que V.Exa. fará um esforço para trazê-la e implantá-la. Se fosse só e somente só a saúde, não tinha porque estas linhas; seria desnecessária esta escrita.
 
Mas, a realidade de Ipirá é mais complexa, aguda e preocupante do que se imagina. Assim sendo,  e com a inequívoca pretensão de manter-me na oposição crítica e construtiva para o bem do município, visualizo que tenho o direito e o dever de colocar-me nesta direção com algumas sugestões.
 
Não sei se V.Exa. tem a profunda clareza da situação crítica em que vive o município de Ipirá neste devido momento. Está chovendo desde o dia 2 de novembro, isso ameniza e muito a situação da zona rural quanto à questão da água, mas não elimina o problema por completo, desde quando, não estamos livres das consequências do flagelo desta seca, que foi uma das maiores do século.
 
A seca que assolou a nossa região vem, insistentemente, há dois anos consumindo, dilapidando e mortificando a nossa zona rural. A produção rural estagnou e está em queda. Necessitará de muitos anos para recuperar-se. É uma crise forte e avassaladora. A pequena propriedade rural está literalmente falida. Falta alimento para o gado e a ração é escassa. Eram os últimos suspiros. Dentro de 15 dias a situação será abrandada quanto à ração animal. O produtor não tinha mais condições, nem recurso para sustentar o rebanho por mais algum tempo, desde que vinha muito e por um tempo imprevisto mantendo os animais.
 
 A falta água para o consumo humano e animal foi eliminada pelas trovoadas. Fica uma lição clara: a questão da água em Ipirá é vergonhosamente terrível e lastimável, pois a escassez foi aguda e extensiva.  É necessário que o Poder Público ponha em ação um plano de emergência eficaz e que atenda e viabiliza a auto-subsistência e auto-suficiência nesta problemática da água. A administração que não tiver entendimento desta questão e não tiver disposição e ação para eliminá-la terminará perfilando e sacramentando o  preconceito e a exclusão de todos os que necessitarem desse líquido como meio de vida.
 
Os açudes que estavam  secos e entupidos de lama e não foram limpos constituem a marca do descaso público. Com as chuvas, esses açudes receberam água e por negligência do poder municipal estarão secos em poucos meses. Isso não podia e não pode acontecer. É esse tipo de descaso que atrofia o nosso município.
 
 A chuva deste início de novembro aliviarão (nestes 15 dias) a situação imediata, mas não eliminarão a gravidade e as consequências de uma estiagem de dois anos. O espectro da pobreza avança e estende as suas asas sobre a nossa região. A vida da gente ligada ao campo está tensa e angustiada. Sem a produção rural, o município de Ipirá torna-se inviável. Por mais que se tente mostrar a realidade, esta é mais crua, dura e instigante do que imaginamos. É dever de V. Exa. melhorar as condições de vida do nosso sertanejo pobre. Tirando uma lição com Aristóteles, podemos dizer que: “um pouco mais de possível a cada instante se torna real.”
 
Não sei se V.Exa pensa assim ou vê o problema dessa maneira, mas uma coisa é certa, a administração do nosso município não pode ficar distante do domínio da vida real, pois neste domínio consta os direitos do povo e impõe grandes deveres públicos.
 
Se V.Exa. deseja realizar uma administração voltada para o desenvolvimento e o progresso será obrigada a aplicar idéias justificadas pela razão e experiência ligadas ao domínio da vida real. E a produção rural é a sustentação de qualquer município que tem por base econômica a pecuária. Isso é fundamental. Ipirá precisa retomar a sua produção rural e desenvolver a sua logística nesta área. O Parque de Vendas de Animais e o Matadouro são possíveis.
 
Esta questão de poder é por demais complicada. V. Exa. tem que ter cuidado, coragem e inteligência para atuar nessa área. Tem muito abutre à espera do rega-bofe. Olho aberto com os oportunistas que estão ao seu lado. Não é pouco cuidado não, é um imenso cuidado com os oportunistas que estão ao seu lado.
 
V. Exa. tem que manter o controle e implantar com determinação um projeto vinculado à realidade do município, caso contrário, o município correrá o perigo de esbarrar na significação do nada e no preconceito místico, bem fora da realidade, assim teremos um caminho inverso ao desenvolvimento tão necessário e cairemos no amargo e triste destino da esfinge propondo enígmas tão ao agrado de uma sociedade de malfeitores. Cuidado! Eles estão mais próximos do que os problemas.  Esse é o grande perigo para Ipirá. Não decepcione essa gente ipiraense.
Saudações democráticas.
Um cidadão que gosta um pouco de Ipirá.


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