domingo, 2 de abril de 2023

ORUBAS E OTARIPANOS

Não tenham dúvidas, os orubas vieram para ficar e vou dizer porque:

 

Na prefeitura, os orubas estavam reunidos para mais um pregão presencial, naquela fuzarca de sempre: “eu não sei como o pobre de Ipirá consegue viver com um salário mínimo, eu tenho uma renda de mais de cinqüenta mil reais e ainda passo aperto!”

 

Num instante, a euforia caiu por terra, quando avistaram um oruba chegante do município de Riachão de Jacuípe. O sujeito era vistoso, aparentava um aspecto de homem rico, sem perder a galhardia adquirida pela astúcia e esperteza. Caminhava de braços abertos e portava uma pasta de empresário graúdo, bem lustrosa e gorda de papelada.

 

Os orubas da localidade, não perderam o trisco e o visco da palavra, com aquela presença nada agradável: “lá vem aquela aparição de satanás ciscar no nosso terreiro, vamos coçar o bolso e afugentar esse custipiu!”

 

Chamaram o oruba estrangeiro para uma conversa e com um pacote de cinco mil reais no bolso do brim, a ‘persona non grata’ nem abriu a pasta vistosa para mostrar as armas, se é que havia. Retornou pisando no próprio rastro.

 

O problema dos orubas é que eles não se unem nem a pau. Minto! Se unem na alegria esfuziante ao saber que a prefeitura faturou 13 milhões de reais no mês. Pulam e pululam sobre o cofre abarrotado. Fora isso, quem tiver a unha maior que suba na parede; aí há de prevalecer o olho grande, o bico afiado e garras expostas.

 

Quando a carne é de pescoço, eles dividem numa boa, mas quando a carne é filé mignon, aí entra em campo o dito popular: ‘farinha pouca, meu pirão primeiro’. É solavanco prá tudo quanto é lado.

 

Imagine, dez milhões de reais para um ano em cima da mesa para contrato! Não faltam pretendentes, sobra esporada por toda banda, bicuda nem se fala, lapadas prá lá e prá cá. Não tem jeito, com tanto garangau na disputa, as almas dos orubas ficam em polvorosas.

 

Não pode ser de outra maneira, a desunião é contingencial, mesmo com tanta facada no bucho, até revirar o fato. Desse modo, quando a esmola é grande até o santo desconfia. Já dá para imaginar o tamanho da encrenca. Quem perdeu a boquinha e não conseguiu dá uma mordida termina por ficar desesperado e ziriguidim da vida. Não tendo o que fazer, nem a quem reclamar, eles apelam para o blog do Agildo Barreto.

 

- Ô sujeito do blog! Eu estou entrando em contato para dizer que aqui na prefeitura tem um favorecimento discarado; quando a obra é carne de pescoço aí fica prá gente; quando é a obra filé com gordura fica prus afilhado. Eles tão pensando que eu sou otaripano, prá ficá calado, é!? Vê aí o que você pode fazê por nóis.

 

É assim que a gente fica sabendo das coisas. Mas eu posso dizer que ele bateu na porta errada, eu não posso fazer nada. A única coisa que eu posso fazer, dentro dos conformes, é solicitar aos vereadores que fiscalizem ‘bem fiscalizado’ esses contratos milionários da prefeitura com os orubas, porque se o vereador ficar preocupado com o kg de prego que foi surrupiado pela gatunagem vai terminar se engasgando com um mosquito, ao tempo que engole um elefante.

 

Tudo isso acontecendo e lá no meio da caatinga, quem não tem nada a ver com isso, sentado no banco de madeira, posto na varanda da fazenda, o pai escuta o filho viajado por esse ‘Brasil de meu Deus,’ com passagem pelo território paulista, dizer: “ô, paê! O qui é aquilo ali, com tanto orubas na boca do cofre, parece até a torcida do Flamengo?”

 

- Como? Aquilo ali é um bando de urubu na carniça. Tu passa quinze dias em São Paulo e chega aqui se achando dotô e nessa granfinagem toda nem conhece mais urubu!? Tu toma jeito, sujeito abestaiado! Se tu continuar desse jeito, o povo daqui vai dizê que tu é um otaripano! – respondeu o pai catingueiro.

 

A base e a essência de tudo o que acontece aqui é o oportunismo, podemos até dizer que é a regra. Nada melhor do que algumas narrativas: “aqui em Ipirá só tem jacu e macaco!” Nada mais falsificado do que isso; se bicam e se odeiam, mas uma desgraça não vive sem a outra. É a cara mais nefasta do cinismo oportunista.

 

“O candidato a prefeito tem que ter dinheiro!” Por que pensam assim? Por que tem que ser assim? Essa é a máxima que garante o monopólio do poder municipal para as duas oligarquias (jacu e macaco). Os amigos do Dudy costumam dizer que ele gastou um milhão e meio de reais do próprio bolso, sem precisar da ajuda de ninguém. É dinheiro, dinheiro e dinheiro! Pela vontade de muita gente, a próxima campanha em 2024 ficará em torno de 5 milhões de reais. Tudo isso, para aumentar a ‘comidilha’.

 

Os candidatos à prefeito das duas oligarquias: são escolhidos pela família Martins na jacuzada e um grupelho de quatro na macacada. E para a surpresa de alguns, o prefeito Dudy não quer deixar por menos e tenta imitar a jacuzada em tudo; desde a ruindade da administração, até na formatação de uma família para mandar na macacada. Não basta a família aristocrática Martins, agora aparece a família pequeno-burguesa Dudy. É tudo oligarquia, endinheirada ou não, atrás do dinheiro público.

 

Os vereadores: podemos dizer que se tornaram a peça fundamental e essencial do sistema jacu e macaco. É o faz-tudo que garante a manutenção do voto para as oligarquias, custeando as despesas com a própria renda. Se situação recebem alguma ajuda do poder. Se oposição gastam do próprio bolso.

 

Quem tem mais vantagem com o sistema jacu e macaco, o vereador que garimpa votos ou o empresário de prefeitura que abocanha 10 milhões de reais para sua empresa e só tem o voto de meia-dúzia de familiares?  Quanto custará uma eleição para vereador em 2024? Fala-se em 500 mil reais. Para o sistema jacu e macaco, o empresário de prefeitura é um oruba e o vereador é um otaripano.

 

Os professores: mesmo com 13 milhões de reais nos cofres públicos; mesmo com o dinheiro da Educação sendo uma verba carimbada; os prefeitos do sistema jacu e macaco insistem em não pagar o piso dos profissionais da Educação. Pela vontade e desejo dessas oligarquias, esses profissionais ganhariam um salário-mínimo. A diferença salarial fica por conta das conquistas através da luta e mobilização dos professores e seu sindicato. Para os prefeitos do sistema jacu e macaco, o empresário de prefeitura é um oruba e o profissional da Educação é um otaripano.

 

A população de Ipirá está enfiada até o pescoço no reino da necessidade. Quanto desassossego! Quem bem sabe disso são os vereadores. A população exige pouco: um calçamento; um trabalho; um remédio; um pouco de dignidade e o máximo de respeito. Só isso. Os prefeitos do sistema jacu e macaco oferecem o sonho milagroso para os orubas e as migalhas da mesa para os otaripanos. Depois, os orubas ficam sem saber como o povo de Ipirá consegue viver ganhando um salário mínimo ou até mesmo sem trabalho.

 

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