quinta-feira, 29 de novembro de 2007


É DE ROSCA.
Estilo: ficção.
Natureza: novelinha.
Capítulo: 03. (mês de dezembro 2007)
Atenção: leia os capítulos 01 e 02, que estão abaixo.

O prefeito Dió foi ao matadouro e começou a observar que a obra encontrava-se no seu início, na capinagem, e pela sua vontade era para estar em ponto de inauguração. Ficou observando tudo com a maior paciência, ao tempo em que anotava todos os detalhes para fazer uma cobrança enérgica aos devidos responsáveis. Quando o sino da Igreja Matriz, na Praça da Bandeira, sinalizou que eram seis horas, o prefeito Dió deixou o matadouro e foi para casa. Deitou-se e acordou precisamente ao meio-dia, novamente sob os acordes do sino da Igreja Matriz. Dirigiu-se a empregada e falou:
- Minha dedicada empregada Natalina, prepare um almoço, que eu vou andar na Praça da Bandeira, êpa, errei o nome ! apaga o que eu falei – respirou fundo e continuou – aliás, eu quero apagar a noite de ontem e esquecer de vez esse Matadouro de Ipirá, que só me tem trazido preocupação.

- Vosmicê tem toda sabedoria, prefeito Dió; ficá com o pensamento em coisa que não vai prá frente só traz fervura na cabeça. Por que vosmicê não bota o pensamento só no campo de futebol, que vai ser desenroscado esse mês ? – sugeriu a empregada.

- Desenroscado não, ele vai ser inaugurado. Veja bem como você fala as coisas, minha empregada Natalina. Eu já estou pensando num time de primeira divisão para inaugurá-lo. Vai ser o tricolor de aço.

- Não prefeito Dió ! é que minha língua ficou atravessada e eu troquei as bola. E se vosmicê não se incomodar, eu vou fazer uma nova pergunta – esperou uma resposta, que veio com o balançar da cabeça – esse tal tricolor de aço sartou da terceira prá primeira ?

- Não é isso, minha grata empregada Natalina, o esquadrão de aço pode estar até na quinta, mas é time de primeira divisão. De futebol você não entende nada.

- Ah ! taí prefeito Dió, uma coisa que eu estou por dentro, igualmente a fazer comida. Eu acompanho jogo de bola desde o tempo do Independente, que quando entrava em campo, ia um bode na frente.

- Eu alcancei esse tempo, minha empregada Natalina, e lembro-me do bode que era mascote do Independente. O Bahia tem como mascote o super-homem. Eu quero descobrir uma pessoa, aqui em Ipirá, para se fantasiar de super-homem no dia da inauguração.

- O único super-homem que eu conheço nessa terra é vosmicê, prefeito Dió. Eu sou de opinião que vosmicê, prefeito Dió, deve vestir a roupa de super-homem, porque vosmicê é merecedor.

- Isso aí não ! eu prefiro não trazer o Bahia no dia da inauguração.

- Vosmicê, prefeito Dió, devia trazer um time com três letrinhas, igualmente ao nome de vosmicê, D – I – Ó, com acento no Ó, para abrir esse campo.

- Minha empregada Natalina ! não me fale em três letrinhas, porque é justamente três letrinhas que tem atanazado minha vida. Tem três letrinhas que mora aí no outro lado da rua, que só fica no meu calcanhar, e tem essas três letrinhas CRA, que pisa no meu calo e está tirando o meu sono.

- Taí prefeito Dió, porque vosmicê não trás o irmão desse CRA, o CRB das Alagoas para abrir o campo ? O CRB vem e joga, mas vosmicê paga ao irmão dele o CRA, aí esse trem ruim tira o pé de riba do seu.

- Não é assim que as coisas acontecem. O CRA não quer vir nesta cidade.

- Êta sujeito pozudo, esse tal de CRA. Vá vê que esse CRA é da quinta divisão do futebol das Alagoas. Eu já tô me vendo naquela arquibancada, que dá pra gente ficar deitada, pra vê o irmão desse CRA, o CRB abrindo o campo de Ipirá e entrando no gramado, com seu mascote na frente do time.

- Qual é o mascote deles ? – perguntou o prefeito Dió.

- É um carneiro – respondeu a empregada Natalina.

- Ai ! ai ! ai! Tira esse carneiro de dentro do campo, ele vai comer o gramado todo e só vai deixar a terra, ai ele vai engordar e vão querer matá-lo e o Matadouro de Ipirá não está pronto. Novamente, esse bicho carneiro atravessando na minha vida; eu não aguento mais isso. O que eu devo fazer para acabar com essa raça de bicho carneiro no município de Ipirá ?

- Eu tenho uma idéia, prefeito Dió. Como tá tudo seco em Ipirá e só tem de verde a grama do campo de futebol, vosmicê deixa todos os carneiro que tem em Ipirá entrá no campo, com as otoridade que persegue os carneiro, e traz as três letrinhas, ECV, o Vitória, para abrir o campo, aí o mascote do time, o leão da barra, come os carneiro e as otoridade, e aí acaba o problema prá vosmicê.

- Ô minha empregada Natalina, com essa enrolação toda de três letrinhas, era para chegar no ECV. Você é Vitória ?

- Desde criancinha, prefeito Dió.

- Em minha casa não, você vai trabalhar no matadouro – disse o prefeito Dió.

SUSPENSE: Será que o prefeito Dió vai botar a empregada vitoreira prá fora ? O que é que faz uma espiã do Vitória na casa do prefeito Dió ? Será que o prefeito Dió já virou Quinta coluna e agora é Vitória ? Quem vai inaugurar o campo de futebol de Ipirá, é o CRA; CRB; ECV; ECB; LCM; DIÓ ?

OBSERVAÇÃO: essa novelinha é apenas uma brincadeira literária que envolve o administrador e o matadouro e, sendo assim, qualquer semelhança é mera coincidência.
Leia o próximo capítulo no mês de janeiro 08

sexta-feira, 23 de novembro de 2007


UNHA ENCRAVADA.

Abrem-se as cortinas no sertão ipiraense; no cenário, aparece a terra nua à mostra, o chão está rachado e esturricado; e neste instante, recomeça, novamente, o velho e surrado drama: a seca. Invariavelmente, ainda não aprendemos a lição da convivência com esta milenar incidência, que fica ao crivo das possibilidades individuais de cada personagem envolvido. O drama trágico desenvolve-se na angústia sentida pelo ser humano catingueiro, encravado nesta situação, que se vê negativado diante dos grandes problemas colocados à sua capacidade de ser gente e devido ao temor de desintegrar-se no nada. Aí, fica olhando para o céu em busca da ajuda divina e esperando que a natureza atenda
com abundantes chuvas as suas preces.

Enquanto as chuvas não caem, a nordestina indústria da seca faz a festa e suga a seiva que ainda resta. A estiagem chupa as reservas de água e a necessidade de água para beber passa a ser um tormento para o ser humano catingueiro. Aqui, o drama vira uma tragédia diabólica, porque os olhares ficam esperando o "Água para todos" e todo ser vivente está enfastiado de saber que a burocracia traceja com a desgraça humana e alheia, sendo que, neste triste cenário desenrola-se o já batido enredo das mulheres e crianças com latas de água nas cabeças; dos carros pipas atendendo às filas de gente com vasilhames, numa cena tão costumeira e de uso geral, que pouco importa ao sertanejo pagar o bem ou todo direito com o que se deposita nas urnas em tempo de eleições. Até as cisternas, que são reservatórios que atendem as unidades familiares, estão lacradas a diversos interesses e não consegue deixar de lado essa moeda de troca, e aconteceu até casos, em que o candidato que influenciou para que se fizesse a cisterna, perdesse o voto para o candidato que colocou a água na cisterna, que ele não influenciou para que fosse feita. Essa é a engrenagem em que está o ser humano carente da caatinga. Tudo é política, politicagem, favores, dependência, cabresto e unha encravada.

A base econômica do município de Ipirá é a pecuária. Na estiagem, essa base começa a declinar. Toma dimensões trágicas porque é formada por pequenos proprietários, sem apoio, carentes de recursos e de técnicas de convivência com a seca e sem capacidade para quitar dívidas sem dificuldades; mesmo nas unidades produtivas mais organizadas e preparadas para o enfrentamento da estiagem, esse é um período em que ocorrem perdas das reservas obtidas nos tempos mais favoráveis, assim sendo, esvaem-se as riquezas dos produtores e do município. Os carentes de recursos fazem das tripas, coração, e estendem as mãos em busca de uma ajuda. Poucos aguentam o tranco; só aqueles que retiram recursos de outras atividades para sustentar a pecuária, suportam a peleja. É uma fase de baixo ou nenhum rendimento e muita e alta despesa. É uma coisa que está amarrada no mourão de cada fazenda. Como um município pode prosperar com uma economia tão frágil e precária como esta ? Como um município pode ir para frente com uma base produtora tão vulnerável como essa ? Como um município pode aguentar o tranco, quando a esmagadora maioria de seus produtores rurais não possuem recursos para auto-sustentar-se ou nestes momentos, só fazem dilapidar a sua base de sustentação ?

Dessa dramaturgia barata da vida sertaneja, desponta os dramalhões de sempre nesse encantado reino ipiraense, quando a Prefeitura Municipal recebe 1 milhão de reais de convênios: 877 mil reais do Ministério do Turismo/CEF/TUR para a construção do mercado eventos pavimentação de vias/ruas em Ipirá – 130 mil reais do Ministério das Cidades/CEF para infra-estrutura urbana comunitária e apenas 740 mil reais para reformar o matadouro de animais, uma obra necessária, elementar e urgente para salvar a pecuária local. Não é uma inversão de prioridades ?

Mesmo vivendo um momento crítico para a economia do município, a preocupação está voltada para a feitura da praça mais bonita do interior da Bahia, para o deleite dos olhos que brilham com as flores na primavera, mas que, muitas vezes, não conseguem enxergar os galhos secos da vida e, também, daquelas pessoas que ouvem música estrangeira e a suadeira, mas que não se tocam com o que está em sua volta, porque estão cagando para o mundo. Dessa forma a realidade é o que é; depois não digam que a seca é crua e cruel.
O drama prossegue seu lento desenrolar. A pecuária de Ipirá, com seca ou sem seca, mastiga grandes dificuldades e está tomando uma topada que pode tirar-lhes os pés, porque está fechada em vontades estranhas às suas estruturas íntimas, que são sinuosas e frágeis, por isso precisam de mudanças, como o matadouro e um parque de venda de animais, coisas que não têm em Ipirá, mas a unha está encravada

terça-feira, 13 de novembro de 2007


É DE ROSCA.
Estilo: ficção.
Natureza: novelinha.
Capítulo: 02. (mês de novembro 2007)
Observação: Antes, Leia o primeiro capítulo logo abaixo.

O prefeito Dió só conseguiu sair do seu gabinete, na Prefeitura Municipal, depois da meia-noite. Estava exausto. Foi direto para casa, tomou um banho e deitou-se. Com meia hora de sono já estava envolvido com um sonho, no qual discutia-se qual seria o primeiro animal a ser abatido na inauguração do matadouro de Ipirá.
- Tem que ser uma vaca – dizia um fazendeiro.
- Por que vaca ? tem que ser um boi – falava um negociante de carne.
- Tem que ser uma vaca; por ser a vaca um animal sagrado lá na Índia e que representa a fertilidade que vai nutrir esse matadouro. Tem que ser uma vaca; porque a vaca tem uma anca sinuosa e apetitosa. Quem não tem vontade de comer uma vaca ? a vaca tem a docilidade e o frescor da feminilidade. Tem que ser uma vaca; porque a vaca tá no jogo do bicho e o boi não. Tem que ser uma vaca...

Neste instante foi interrompido pelo comerciante, que disse em voz alta:
- Só você pode falar ? você também tem que ouvir. Não tem nada a ver isso que você falou. Tem que ser um boi, por ser uma espécie robusta e cheia de vitalidade, a vaca tem que ir é para o brejo. O boi é o maior representante mamífero da caatinga; é um ruminante de aparência indolente, mas é de um temperamento indócil e é disso que os valentes catingueiros precisam. Não tem outro artiodáctilo que mereça a primazia diante do boi...

O prefeito Dió acompanhava toda aquela embolação sobre o boi e a vaca de forma displicente e já estava impaciente com aquela converseira toda, que não apresentava uma definição precisa, imediata e prática para que se inaugurasse logo aquele matadouro. Era preciso um rumo definidor. O prefeito Dió apenas ouvia, mas seu olhar esta petrificado na direção da navalha e quando o responsável gritou:
- Atenção ! neste exato momento, vai ser abatido o primeiro animal no Matadouro de Ipirá – pegando a alavanca e...
- Nãããããão – gritou o prefeito Dió, na tentativa de parar a ação do abate, antes que fosse tarde.

O prefeito Dió acordou, deu um salto da cama, atormentado e suando barbaridade, ao tempo que, sua esposa, assustada, indagava-lhe:
- O que foi prefeito Dió ?
- São os carneiros que querem tomar conta do matadouro.
- Foi um sonho prefeito Dió. Prá que a família Carneiro quer o matadouro ?
- Não é a família Carneiro não; é o bicho carneiro que botou a cabeça na guilhotina do matadouro para inaugura-lo e isso não pode acontecer e eu não vou deixar. Vou lá para ver como está a obra.
- Mas, prefeito Dió, é uma e meia da madrugada. O que é que você vai fazer lá, homem de Deus ? – perguntou a esposa.

SUSPENSE: O prefeito Dió vai ou não vai ao matadouro, acompanhar a obra ?
Ele vai ou não vai observar de perto ?
Leia o terceiro capítulo no mês de dezembro 2007.
OBSERVAÇÃO: Essa novelinha é apenas uma brincadeira literária que envolve o administrador e o matadouro e, sendo assim, qualquer semelhança é mera coincidência.

sábado, 10 de novembro de 2007

PARADA MÉDICA

A população ipiraense é obrigada a engolir cada caroço de manga-mamão, que não sei como passa pela garganta. Algumas idéias ficam embutidas nas cabeças das pessoas do mesmo jeito como o mandacaru está fincado na terra árida, como uma fortaleza. Mesmo sendo dessa maneira, nada é irremediavelmente verdadeiro, nem tão necessariamente correto.

Afirmava-se e acreditava-se que: "médico era imbatível nas eleições em Ipirá". Muito acreditou-se nisso, porém, esta proposição já caiu por terra e nem é levada em consideração, pois, por duas vezes, candidato médico foi derrotado por candidato advogado.

Reformularam a afirmativa, que tomou o formato de: "candidato a prefeito em Ipirá, para ser potencialmente forte tem que ser médico". Não duvido que seja forte, mas também, não me abstenho de fazer uma verificação da veracidade e legitimidade de tal proposição.

Se nenhum dos médicos, que atuam em Ipirá, é especialista em administração de cidades, então, os médicos, que aqui trabalham, não são portadores de um requisito que lhes dariam a preponderância diante de outros segmentos sociais.

Certas assertivas, como "médico é candidato forte" que são alavancadas para determinados fins, atendem muito mais aos interesses corporativos de determinado setor social, do que à essência das necessidades do município.Contrapõe-se à afirmativa "médico é candidato forte" um valor que contém muito mais substância do que o anterior, seria: "candidato com preparo". Então, a proposição anterior demonstra ser vulnerável diante de um olhar mais apurado e vai diluindo-se diante de uma inferência mais atenta, deixando de ser absolutamente verdadeira e muito menos legítima para as amplas aspirações municipais. Para o corporativismo da categoria que almeja o poder público é altamente satisfatória, útil e necessária; para o município, em sua complexidade, é de uma inutilidade a toda prova.

Se nenhum desses médicos, que atuam em Ipirá, possui uma compreensão total do município, o que é totalmente impossível; e se nenhum deles possui um conhecimento amplo dessa complexidade socioeconômica, então, esses fatos, por si só, já pressupõem uma deficiência e uma carência que os iguala a qualquer outro postulante, de qualquer outro segmento da sociedade ipiraense, e dessa forma, adeus superioridade e pretendente forte, ficaria eliminada a primazia.

Será que os pretendentes candidatos à prefeitura de Ipirá, que são médicos, debruçam-se diante de uma análise das raízes dos nossos problemas ? Será que eles pretendem buscar soluções com vistas ao bem comum ? Será que já extirparam da alma, os interesses pessoais ou de pequenos grupos ? Será que já estão convencidos da necessidade de uma prática política voltado para o bem comum ? Será que eles conseguem visualizar o traçado de uma infra-estrutura capaz de tirar Ipirá do fundo do poço ?

Ter o município de Ipirá administrado por médicos, não pressupõe de forma alguma progresso e desenvolvimento, também podem ser acompanhados de grandes escândalos. A prática tem nos mostrado essa realidade, o município de Ipirá está sendo obrigado a desembolsar mais de um milhão de reais em precatórios para a família de um médico despedido da Prefeitura Municipal, pelo prefeito de plantão, que era médico, nada mais, nada menos, por arrogância, prepotência, estupidez e irresponsabilidade. É dinheiro que está faltando para o matadouro, calçamento, escolas e hospital.

No meu entendimento, esse ponto de vista é insustentável e bem que poderia ser um princípio para uma boa discussão, e quem sabe, talvez desmanche alguns pedestais e apague algumas chamas da mais pura vaidade. O desenrolar dos acontecimentos leva a crer, que em Ipirá, no ano que vem, todos os candidatos a prefeito, serão médicos. Isso não significa a redenção deste município.

quinta-feira, 1 de novembro de 2007


É DE ROSCA.
Estilo: ficção.
Natureza: novelinha.
Capítulo: 01 (mês de outubro 2007)

Ipirá vivia mais um dia calorento, como sempre, e sem grandes novidades, não tinha acontecido nenhum crime e, nem ao menos, uma traição, daí não haver grande burburinho entre os munícipes. Nesse ar de monotonia, algo relevante tinha acontecido e quem mais vibrava e comemorava exaustivamente era o prefeito Dió, que reuniu em seu gabinete, na Prefeitura Municipal, seu secretariado e alguns puxa-sacos, ao tempo, que dizia eufórico:
- A batalha foi difícil, mas alcancei grande êxito na minha empreitada e posso afirmar com toda convicção, que já está disponível 740 mil reais para o matadouro de Ipirá.
A platéia presente não economizou os calorosos e efusivos aplausos:
- Viva o prefeito Dió – gritavam.
- O prefeito Dió conseguiu o que nenhum outro prefeito conseguiu: o matadouro para Ipirá – bradava um secretário.
- Vamos abrir uma garrafa de champagne para comemorar – gritou um puxa.
- Só que aqui não tem champagne – retrucou outro puxa fazendo deboche.
- Eu vou comprar agora mesmo – afirmou o puxa que fez a proposta e saiu em disparada do gabinete, voltando em dois preciosos minutos e, cansado, disparou a língua:
- Aqui está o champagne e quem vai abrir é o prefeito Dió.
O prefeito Dió pegou a garrafa e tentou abri-la, mas não conseguia.
- Prefeito Dió ! ela é de rosca e desenrosca ao contrário – orientou o puxa.
O prefeito Dió, meio sem jeito, e querendo fazer uma gracinha para a turma divertir-se, comentou:
- É verdade, para desenroscar esse troço e o matadouro – frisou bem – eu tenho que fazer o contrário do que fizeram meus antecessores.
Neste espaço de tempo de interminável labuta para abrir o champagne, ouviu-se um foguetório ensurdecedor que vinha do pátio da prefeitura. Um funcionário entrou no gabinete e disse o que estava acontecendo:
- Prefeito Dió, os perseguidos marchantes de carneiro estão festejando o matadouro de Ipirá e querem parabenizá-lo por isso. É uma alegria só.
O prefeito Dió deu um pinote e foi ordenando ao funcionário:
- Não deixe essa gente entrar aqui não. Vamos fechar a porta e as cortinas. Ninguém fala nada, vamos fazer o maior silêncio até eles saírem. Diga a eles, que eu estou em Salvador e que dei a notícia por telefone. Não deixe ninguém entrar aqui. Não quero ver esse povo.

SUSPENSE: Por que o prefeito Dió não quer encontrar os perseguidos marchantes de carneiro ? O que está acontecendo ? Debaixo desse angu tem carne.
Leia o SEGUNDO CAPÍTULO no mês de dezembro 2007.

OBSERVAÇÃO: Como nas novelas da Globo, nesta novelinha É DE ROSCA, tem personagens do bem e do mal (senão não é novelinha), agora só tem um artista, o prefeito Dió. Essa novelinha é apenas uma brincadeira literária que envolve o administrador e o matadouro, sendo assim, qualquer semelhança é mera coincidência.