sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

UMA VERGONHA.




Quanto custa uma obra como o Matadouro de Ipirá? Três milhões de reais.


Quanto precisa gastar para terminar o Matadouro de Ipirá? Três milhões de reais.


Quanto já se gastou no Matadouro de Ipirá? Três milhões de reais.



Você entendeu alguma coisa? Evidentemente que não. Não coloquei esses valores aleatoriamente, mas também não contém uma precisão absoluta, até mesmo, porque a população ipiraense não tem conhecimento dos números na sua verdadeira concretude. Falta transparência e vergonha com a coisa pública.



Como pode uma obra como o Matadouro de Ipirá levar 20 anos( 4 de Antonio + 8 de Luis Carlos + 8 de Diomário, já estou dando como finalizado) para ser construído e nada? Podendo


Como pode uma obra como o Matadouro de Ipirá ficar pronta e não funcionar; depois sofrer uma reforma após ficar pronta e nunca terminar, para ficar pronta e funcionar? (é para não entender mesmo) Podendo.


Como pode tanto descaso com a coisa pública? Podendo


Transparência neste caso, só para a questionável e dubitável capacidade administrativa dos jacus e macacos na condução dos destinos de Ipirá.



A matéria oficial do prefeito: “Havia uma pendência relativa ao Certificado de Regularidade Previdenciário (CRP) que estava negativando o município e impedindo Ipirá de receber recursos do Governo Federal.”



Mais uma vez o velho e surrado choro do prefeito Diomário. Essa negativação foi causada pelo governo de Luis Carlos ou pelo seu? Porque seu governo recebeu verbas federais recentemente (reforma das praças).



A matéria oficial do prefeito: “o município tem pleitos importantes como a liberação de mais recursos para o Matadouro, proposta no MDA. Estando o município inadimplente, este convênio e contrato não poderiam ser liberados. O prefeito conseguiu a liberação e a expedição da Certidão de Regularidade Previdenciária.”



Mais uma vez a velha e surrada tática do prefeito super-herói, que conseguiu tirar o município do buraco, sendo que ninguém sabe, na verdade, se jogado por Luís ou por ele próprio.



A matéria oficial do prefeito: “O prefeito manteve contato com técnicos do MDA apresentando a proposta para a liberação de mais R$ 1.250.000,00 NECESSÁRIOS para concluir e dar funcionalidade ao Matadouro Municipal de Ipirá.”



O antigo problema. Merece ou não merece ser questionado?


Tinha que haver desde a vigência do primeiro contrato, técnicos para acompanharem a execução por meio de análise de documentos e inspeções presenciais para não acontecer o que ocorreu: veio o dinheiro público e a obra não foi concluída.



O prefeito Diomário tem que dá explicações à população ipiraense: O que aconteceu com as verbas que vieram para o Matadouro de Ipirá, nas outras e na sua gestão? Quem é esse construtor H.B? Quem indicou esse construtor? Ele tem ligação a quais personalidades políticas? A população tem o direito de saber o que aconteceu e está acontecendo.



É necessário que o Ministério Público no seu atributo de exercer atividade fiscalizadora dos atos administrativos do poder executivo acompanhe a aplicação dos recursos públicos advindos para o Matadouro de Ipirá e procure suspender esse tapete para que se possa dirimir as dúvidas existentes, desde quando o poder executivo em Ipirá mostra-se incompetente, ineficaz e perdulário com a aplicação do dinheiro público.



Consta ao Ministério do Desenvolvimento Agrário um maior rigor no acompanhamento da aplicação dos recursos, desde quando existem indícios de irregularidades e de malversação do dinheiro público numa obra que é um elefante-branco e está sendo mal gerida. O fato do prefeito Diomário ter sido cabo-eleitoral do deputado-ministro Afonso Florence exige um acompanhamento mais acentuado quanto a execução desses recursos.



Consta ao senador Walter Pinheiro, que exija com veemência que o prefeito Diomário, pessoa de sua confiança, faça a aplicação correta e adequada dos recursos oriundos da União para que essa obra tão necessária e prioritária para o município de Ipirá seja concluída, inaugurada e colocada em funcionamento. É só isso o que a população aguarda.



A população de Ipirá quer a verdade e a transparência em relação a esse Matadouro de Bovinos em Ipirá. Com tanta irresponsabilidade, imprecisão e descaso não vai demorar esse Matadouro de Ipirá virar caso de escândalo na imprensa nacional e respingar em muita gente graúda nas esferas governamentais. É necessário que os responsáveis expliquem: POR QUE ESSA OBRA ESTÁ EMPACADA?

domingo, 18 de dezembro de 2011

É DE ROSCA.




Estilo: ficção


Natureza: novelinha


Capítulo: 39 (mês de dezembro 2010) – incrível, apresentação do novo capítulo da novelinha esculhambada com, simplesmente, um ano de atraso e não acaba. Nem satanás acaba essa novelinha.



O prefeito Dió e o irmão Lu estavam saciados depois da saborosa comida do Rincão e reiniciaram a viagem em direção à Ipirá. Quando chegaram ao Marajó, o irmão Lu fez uma advertência ao prefeito Dió:


- Se você tocar na politicagem de Ipirá, eu boto você pra fora do meu carro e você vai ter que se virar para ir de ligeirinho.



- Deus me livre, irmão Lu! Já pensou, eu pegar um ligeirinho jacu e ele dá uma queda de asa, a porta abrir, eu cair e morrer! Lá ele, te desconjuro! Eu juro que não vou falar na política de Ipirá. Vamos que vamos.



Saíram do Marajó e o prefeito Dió calado, mas com o juízo pegando fogo e a língua coçando. Ia imaginando a situação em que tinha chegado a sua atuação na política de Ipirá: “botei todo mundo na mão, sou o líder e o chefe do processo sucessório e num piscar de olhos estou mais enrolado do que charuto de bêbado, por causa de uma candidatura que não solicitou a minha permissão e que vai sair pelo lado do jacu.” Estavam chegando à Anguera, o prefeito Dió não resistiu e indagou:


- Ô irmão Lu, por que você quer sair candidato a prefeito de Ipirá?



- Para fazer uma auditoria na sua prefeitura – respondeu friamente o irmão Lu.



O prefeito Dió tremeu, o carro saiu derrapando pela estrada, rrrrrrrrr, saltou uma cerca, tibummmmmm, e saiu por dentro do pasto fazendo o juntamento da boiada que estava naquele pasto na entrada de Anguera. Neste justo momento, passava um ligeirinho Ipirá-Feira e alguém comentou:


- Veja o progresso que nós chegamos, hoje o povo junta o gado com corolla zero.



Nem imaginava que era o prefeito Dió trazendo o progresso para a região. Depois de uma hora por dentro do pasto o carro retornou para a estrada e retomou viagem para Ipirá. No entroncamento do Bravo, o prefeito Dió resolveu, por displicência e sem querer, tocar num assunto que estava instigando o seu juízo:


- Por que o irmão Lu quer fazer uma auditoria na minha prefeitura que é a mais limpa do Brasil?



- Para ver o que você colocou embaixo do tapete – respondeu o irmão Lu friamente.



O carro saiu do asfalto, pra ca tum, pra ca tum, saltou a cerca, ti bum bum bum, daquele pasto que tem um morro de pedra perto da entrada do Bravo, saiu derrubando tudo quanto era pau que encontrava pela frente e começou a fazer um túnel no morro. Neste justo momento, retornava um ligeirinho Feira-Ipirá e alguém comentou:


- Veja o progresso que nós chegamos, hoje o povo faz os pastos é com corolla zero, nem precisa mais de trator.



Nem imaginava que era o prefeito Dió trazendo o progresso para a região. Depois de uma hora por dentro do pasto o carro retornou para a estrada e retomou viagem para Ipirá. O prefeito Dió estava taciturno, foi quando o irmão Lu quebrou o silêncio:


- Que lugar é esse, prefeito Dió?



- É o Pau-ferro, irmão Lu! Já esqueceu? Eu vou rememorar a sua cabeça com as obras que eu já fiz em Ipirá.



Quando lembrou de suas obras, o prefeito Dió acelerou o carro e botou 300 por hora, ao tempo que fechou os olhos, estava dormindo, era a hora de sonhar. O irmão Lu observou os olhos fechados do prefeito e gritou:


- QUE DEUS TOME CONTA DESSE PREFEITO.



Na entrada do Centro de Abastecimento, o prefeito Dió fez a sua primeira apresentação:


- Você está vendo essa entrada e essa drenagem, foi eu quem fiz, isso custou-me um dinheirão. Lá na frente tem umas casas populares espetaculares; são tão boas e bem feitas que já estou fazendo oito anos construindo-as para que saíam de primeira qualidade, se você quiser eu posso ceder uma para você morar, desde que você não mora aqui. Lá, ao lado está uma grande obra que eu inaugurei: o Centro de Abastecimento, que tem até sanitário público. Eu fui o único prefeito que construí sanitário público nesta cidade.



- É esse o Centro de Abastecimento que tem medo de água, quando chove é o maior lameiro, coisa que você não sabe, porque você não faz mais feira em Ipirá, é só em Salvador – disse o irmão Lu, meio aborrecido.



O prefeito Dió continuava com os olhos fechados. O carro continuava a 300 por hora. Na entrada da cidade, o prefeito Dió comentou:


- Olhe por cima das casas e veja o grande Centro Cultural de Primeiro Mundo, com um palco em cima, foi obra do meu governo.



- Ah! É o Centro Cultural que tem uma piscina no meio, basta chover que a água inunda toda a área, também com a cachoeira que você mandou construir, não tem chuvisco que não faça uma melança – criticou o irmão Lu.



Em frente ao Hospital de Ipirá, o prefeito Dió voltou a falar:


- Que UTI de última geração eu fiz nesse hospital, só falta inaugurar. Veja essa grandiosa e bela avenida que eu fiz do hospital à fabrica, se bem que não terminei ainda, mas, também, só tem três anos que venho fazendo e ainda falta um ano para terminar o meu mandato, tenho tempo de sobra para terminá-la.



O irmão Lu estava pasmo com o que ouvia, mas preferiu não questionar, ainda não era hora. Em frente à fábrica o prefeito Dió apontou com os lábios na direção ao Sudoeste e disse:


- Veja que belo Campus Universitário eu construir lá daquele lado, justamente para a juventude de Ipirá ter uma formação de Primeiro Mundo aqui na nossa terra.



O irmão Lu não agüentou e interpelou o prefeito Dió.


- Lá não! lá é a fazenda Cágados do meu irmão Kainho e o Campus que tem lá é para botar a boiada, não venha com essa enrolada não que não cola.



- Mas, irmão Lu, você sabe que minha prefeitura está sem recursos e eu tenho que fazer das tripas coração, sendo que neste caso, por uma boa e justa ação, eu achei melhor utilizar o logradouro de nossa família, para o bom desfrute da nossa juventude.



- Sem essa, prefeito Dió! E eu tinha dito para você não falar de política, não foi?



O carro disparou para 500 por hora, na entrada do matadouro fez a curva, emburacou e estancou na porta da obra, o prefeito Dió abriu os olhos. Quando o prefeito Dió observou um rabo abanando na porta da construção, saltou do carro e foi dizendo:


- É por isso que essa obra não acaba, um cachorro fica dormindo aqui dentro e abanando o rabo bem na porta, isso é sinal de atraso.



Quando puxou o bicho pelo rabo, não era um cachorro, era o bicho carneiro, que olhou para o prefeito Dió, sem entender bem aquele atrevimento de alguém puxá-lo pelo rabo na hora do seu repouso e foi falando:


- Beée! O que é isso? Por que você puxou o meu rabo? Qual de vocês dois quer construir um matadouro de ovelha aqui, neste local, beée?



- É ele, que é o prefeito – disse o irmão Lu apressado.



- Eu não! É ele que quer ser o prefeito – disse o prefeito Dió, mais apressado ainda.



- Beée, qual de vocês dois, é o prefeito Dió, beée? – perguntou o bicho carneiro.



- É ele – apontou o irmão Lu.



O carneiro deu quatro passos para trás. Quando o prefeito Dió viu aquilo, fez o giro, aprumou as pernas e se picou para Ipirá com o bicho carneiro atrás. No posto Augustus, num ligeirinho que tinha ido abastecer, alguém comentou:


- Olha o pique que vai o prefeito Dió na caminhada! Ainda leva um carneiro de estimação de companhia. Rapaz, não sei como prefeito Dió agüenta um pique desse! O sujeito está em forma.



- Também pudera, leva a semana toda dando pique na praia em Salvador, tu queria que ele chegasse aqui morto! – comentou outra pessoa.



Quando chegou ao hospital, o prefeito Dió foi em direção à recepção. Não teve jeito, o carneiro pegou de jeito e deu-lhe uma marrada daquelas de desconjuntar até os ossos. O prefeito Dió caiu em uma maca e o atendente foi dizendo:


- Esse tem que ir direto para a UTI, até que enfim parece que a gente vai inaugurar esse troço.



- Esse não precisa nem entrar, pelo jeito já bateu as botas, vou levar ele lá dentro só para descarrego de consciência – disse um maqueiro.



O prefeito Dió abriu um olho de mansinho, observou a movimentação do ambiente e pensou: “Eu acho que vou tirar uma onda de morto, só na novelinha, é bom lembrar, só na novelinha, vou lembrar de novo, é só na no-ve-li-nha, ai eu livro-me dessa coisa chata e sem graça, essa tal novelinha e de lambuja eu inauguro a minha UTI, que vai me ressuscitar, aí o povo vai saber que eu fiz uma obra de grande UTI-lidade para a população de Ipirá. E viva eu.”



Suspense: e agora ? o que será que vai acontecer ? Em quem o prefeito Dió vai dar a próxima facada? Na macacada ou no irmão? Será que não vai ter sangue e morte nessa novelinha? Ou vai ser tudo de mentirinha para aumentar a audiência. Agora é que essa novelinha vai ter briga de irmãos e não acaba nunca. Duas coisas de rosca, essa novelinha e o Matadouro de Ipirá.



Leia o capitulo 38 (novembro 2010) bem abaixo.



Observação: essa novelinha é apenas uma brincadeira literária, que envolve o administrador e o matadouro e, sendo assim, qualquer semelhança é mera coincidência.

sábado, 10 de dezembro de 2011

HOMENAGEM (PARTE 11)


Tratava-se de uma inauguração importante e o prefeito José Leão estava sentindo-se gratificado pelo cumprimento de uma promessa de sua administração e, também, pela alegria das pessoas, que se sentiam contempladas naquilo que se transformou numa expectativa muito grande e que seria equacionada naquela noite. Estava tudo preparado para ser uma grande festa. Tinha que ser uma grande festa.




19 h. Muitas gambiarras clareavam a área da praça das casas populares, que seria inaugurada. Um caminhão estava estacionado e seria o grande palco do evento. O prefeito José Leão e seus secretários já estavam à postos, aguardando o início das festividades com um forró da gota serena, depois um pequeno falatório e a continuidade do rala-bucho até o amanhecer do dia. Esta era a impecável e insubstituível programação, que não podia ter falhas, por hipótese alguma.




19:30 h. O sanfoneiro Isaac estava pronto. Guri preparado com o triângulo. Só faltava ele, o famoso zabumbeiro, que estava com um pequeno atraso, mas era uma figura indispensável, tanto pela capacidade como pela popularidade. O prefeito estava incomodado e começava a reclamar pelo cumprimento britânico do compromisso, o que deixava o sanfoneiro com uma dose de impaciência e o pessoal presente começava a ficar meio arredio.




19:31. Faltava o zabumbeiro, que estava chegando, pois naquele instante descia apressado pela rua Riachuelo em direção às Populares, que ficava perto e era questão de poucos minutos, quando passou pela venda de Políbio, ouviu alguém chamando-o:


- Zabumbeiro Dodó, venha cá! Eu quero contá uma prosa prá vos-mi-cê.




Dodó parou, olhou e encostou. Foi seu erro. Era Antão, um negro alto, com dois metros de altura, magro e forte, que nem jumento da mata da Caboronga; era um pigunço inveterado, desses que acorda cedo para beber e bebe para dormir e acordar cedo para beber. Quando Antão ia comprar farinha levava, em média, quatro horas para comprar uma quarta, ficava bambo, com as mãos na cintura e dizia:


- Na razura – virava a cara e o corpo – eu só quero se for na razura.




Ia na barraca de seu Antônio da Cacimba, tomava uma e voltava para junto do saco de farinha com a mesma ladainha:


- Pela razura, se não for pela razura eu não levo.




Sempre com o corpo empenado e as mãos na cintura tornava-se uma figura tragicômica e haja conversa:


- O home dessa terra é doutô Delois.



Antão, com o olhar vidrado, ainda meio em pé, mas com uma bambeza nas pernas, embora, ainda, até aquele instante, em que viu o zabumbeiro Dodó, dava uma aparência de que, ainda, tinha espaço para mais uma dosagem. Quando o zabumbeiro encostou, ele disse:


- Vamo tomá uma, vos-mi-cê não paga nada, qui eu quero contá um causo prá vos-mi-cê.




- Eu tô com pressa qui eu vou tocá nas popular.




- Não me apronte uma disfeita dessa, é só uma, e quem paga sou eu – virou para o dono da venda e completou – seu Políbio bote duas talagada de Abaíra aí.




Seu Políbio colocou os copos em cima do balcão, caprichou na talagada, copo cheio, e Antão desceu de um gole, era profissional; o zabumbeiro Dodó tentou imitá-lo, engasgou, mas desceu.




Antão grudou o zabumbeiro e deu um gancho no seu pescoço, Dodó tentou escapulir, mas estava grudado. Antão começou a contar o tal causo e dava um cochilo, acordava, voltava a contar o causo e Dodó seguro:


- Vos-mi-cê sabe, Dodó da Zabum... (cochilava)...




- Me sorta Antão! Qui os zome ta me isperano – dizia Dodó e nada adiantava.




Antão recobrava os sentidos e ia falando:


- Cuma eu ia dizeno, eu fiquei aonde... (cochilava)...




- Me larga Antão! Qui eu tou no cumprumisso de tocá zabumba nas populá – dizia o zabumbeiro.




- Eu vou dizê prá sua pessoa, qui vos-mi-cê é... (dormia)...




- Oxente, Antão! Tu toma jeito, isso é lá trabaio que se faça! Me sorta, home de Deus! – esperneava Dodó e nada de conseguir escapulir.




- Dodó zabum... tu é o mió zabumb... (dormia) – aí era que apertava o pescoço de Dodó.





22 h. Na praça, o evento não tinha começado e a impaciência já começava a ser notada, principalmente no prefeito, que já deixava transparecer:


- O qui é que ta acontecendo?




- É esse irresponsave do filho de Pijú que não chegou ainda, esse elemento deve ta trampuzinando em arguma trampizuma pur aí – explicava um assessor.




O povo estava ficando impaciente, mas o grau de tolerância só era amortizado porque tratava-se do querido zabumbeiro, se fosse outro, nessa altura dos acontecimentos, não haveria perdão para as bandeirolas que estavam enfeitando a praça.




Meia-noite. Antão grudado no pescoço de Dodó, não tinha esforço que conseguisse desfazer o gancho:


- Zabu... Dodô, vós-mi-cê.. eu ia ti dizeno qui.. (dormia e o nó no pescoço do zabumbeiro apertava).




Dodó esperniava e gritava:


- Mi sorta, fie de uma jega! Tu qué mi istrepá.




Duas da manhã. Antão bambeava e se aprumava no corpo dominado do zabumbeiro:


- Zabumb... Dodó... vos-mi-cê sabe qui...




- Me sorta disgraça! Eu num sei disgraça de nada não. Tu num ta veno qui eu vou tocá zabumba.




- Meu amigo Dodó da Zab... eu vou te contá um causo...




- Me larga trem ruim! Eu não quero sabê de cabrunco de causo nenhum, não! Eu vou inaugurá a praça das populá – dizia o zabumbeiro.




- Escuta aqui Dodó, vos-mi-cê mora no meu... (não completava a frase, dormia)




- Ô seu custipiu do cranco! Sorta meu pescoço sua misera. Tu mora é na casa da disgraça.




- Zabum... Dodó... o qui eu vou aproseá é muito import...




- Conta logo disgraça e mi sorta, qui eu vou tocá.




3 h da manhã. Não tinha jeito. O zabumbeiro Dodó esperneava e chorava. Quando pensava na bronca que ia levar do sanfoneiro, chorava mais; pensava na bronca do prefeito, aumentava o choro; pensava no pai Pijú, aí desabava o chororô. Políbio já estava com pena do sanfoneiro e aporrinhado porque só tinha vendido duas Abaíra, ao tempo que tinha que suportar aquela conversa de bêbado, já por oito horas, assim, virou para Dodó e disse:


- Por que vos-mi-cê num passa arguma coisa qui iscorregue no pescoço e escapole?




- Tem manteiga aí, seu Políbio? – perguntou o zabumbeiro.




- Eu tenho banha, custa cinco mil réis.




- Bote prá cá – disse apressado o zabumbeiro.




- Me pague logo – falou o dono da venda.




- Tome aqui, mi ajude a passar no percoço.




4 h da manhã. Passaram a banha no pescoço e Dodó subiu e desceu, não deu outra, escapuliu. Antão, dormindo, ficou com o braço na posição de gancho. Dodó chegou na praça, o sanfoneiro Isaac tinha pressa, mandou ver, o zabumbeiro acompanhava, mas seu pescoço estava torto e ele ficava inclinado com o olhar na direção do Monte Alto. O prefeito gritou:


- Vai tocá até meio-dia. Se não tocá de maneira arguma eu vou pagá.




- A praça tem gente? – perguntava o zabumbeiro, com o pescoço torto, ao sanfoneiro.




O povo desconfiou do zabumbeiro e um malandro gritou, chamando à atenção:


- O ZABUMBEIRO DODÓ TÁ PARECENO GALO COM GÔGO, SÓ FICA OIANDO PÁ RIBA.




6 h de manhã. A turma tomou conta e o côro da torcida ensaiava: “ô, ô, ô! O zabumbeiro ta de gôgo”. Por uma subida da praça chegou Antão, que já tinha dormido e preparava-se para tomar uma, avistou Dodó e chamou-o:


- Zabumbeiro Dodó! Vamo tomá uma, vos-mi-cê não paga nada, é tudo pur minha conta, eu tenho uma prosa prá contá pra vos-mi-cê.




8 h da manhã. O pescoço de Dodó estava mais torto ainda e seu olhar já estava para o céu.

sábado, 3 de dezembro de 2011

O SISTEMA.




Uma questão capaz de produzir o efeito pretendido, embora irrelevante, mas sintomática e emblematicamente incorporada à mentalidade de nossa sociedade, porque as pessoas em Ipirá adoram indagar ou opinar sobre quem tem mais votos no município de Ipirá, ou melhor, quem é o dono dos votos de Ipirá.



Alguns dizem que é Antônio Colonnezi, outros, que é Luiz Carlos Martins; ninguém diz que é Diomário Sá, que é o manager do sistema. Apegam-se ao fato de que em qualquer pesquisa, os dois estão sempre à frente. Quanto a Diomário, ninguém pensa no potencial do prefeito como possuidor de votos, embora tendo conseguido a reeleição. Diomário só é alguma coisa na politicagem de Ipirá dentro do sistema, fora deste não representa nada mais além do que qualquer cidadão em nossa terra e isso já é muita coisa.Tudo tem sentido, mas nas minhas discordâncias, eu digo que não é bem assim e que nem todo gato é pardo, como pensam que é.



Também, é bom que fique claro que não é o dono e amigo do computador que disparou na enquete do site Ipirá Negócios, porque sabemos que enxerto não é feito só com galho de laranjeira.



Vamos começar pela enquete do Ipirá Negócios, que foi a intenção mais aberta e democrática que ocorreu em nosso município, ao lançar 17 nomes como prefeituráveis, o que demonstra que Ipirá não tem só Antônio Colonnezi e Luiz Carlos Martins com capacidade e condições de administrar esse município, inclusive é bom que se deixe claro, foram os dois piores administradores que passaram pelo Executivo local nos últimos tempos.



Seria interessante até que o site tivesse colocado mais nomes, alguns vereadores, outros profissionais liberais, mais comerciantes, fazendeiros, mais professores, estudantes, mulheres, negros, ou seja, um leque muito mais amplo de prefeituráveis, para mostrar que Ipirá não está circunscrito, na questão de governar o município, à ditadura do nome retirado do bolso do paletó; ou ao desejo de duas famílias oligárquicas; ou ao capricho de dois nomes (Antônio e Luiz); se assim fosse, Ipirá estaria em estado de esgotamento ou de extremo enfraquecimento, pois não teria uma população viva, com capacidade, qualidade e atributos de conduzir seu desenvolvimento, aí seríamos uma comunidade atrofiada, sem atividade e desprovida de movimento próprio, que não dá sinal de vitalidade, permanecendo na mesmice de cinqüenta anos atrás, com os mesmos representantes oligárquicos de sempre, de forma que esse disco a população já sabe de cor e salteado. Não se pode precarizar e violentar uma população aos desígnios de duas pessoas (Antônio e Luiz) que na função da ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA (não tem nada a ver com administração particular) foram verdadeiros desastres.



Tratando-se de prefeituráveis, pessoas com capacidade, honradez e responsabilidade para administrar Ipirá, eu percebo mais de cinqüenta nomes e não é difícil se chegar a mais de cem. Esse é um potencial adormecido e lacrado em nossa terra; essa é a riqueza de nosso município: a sua gente à frente de seu destino.



Tratando-se de dono de voto, o buraco é mais embaixo. Aí a lista fica reduzida a alguns vereadores e alguns cabos eleitorais. Estes são os verdadeiros donos dos votos. Antônio e Luiz controlam o sistema. Diomário dirige o sistema.



O que é um cabo eleitoral e um vereador em Ipirá? Um “assistente social” que resolveu sustentar uma comunidade com favores e prestação de serviço em troca de apoio político, ou seja, do voto. A maioria dos vereadores dedica-se exclusivamente ao assistencialismo no seu reduto eleitoral e na sua ampliação. Não é à toa que possuem votos.



O vereador tira uma de bom samaritano, com uma bondade infinita, paga a conta de luz e água atrasada; leva o doente para Salvador; paga a conta da farmácia; oferta água no carro-pipa; organiza torneio de futebol, vaquejada, etc, etc e etc; faz tudo por conta do voto. Isso tem um custo altíssimo e os proventos da vereança são insuficientes para tal cobertura, então o vereador humilha-se ao Executivo de plantão e aceita os seus caprichos; vive submisso e aceita servilmente os seus ditames. O vereador perde a independência e a Câmara perde a autonomia, assim sendo, ocorre o rebaixamento do poder que tem a cara do povo.



O vereador e o cabo eleitoral tornaram-se figuras paternalistas, que cuidam e protegem o povo da localidade com um afinco primoroso, embora objetivando o voto. Como representante de determinada região faz uma vigília constante e nenhum projeto público (água e luz para todos) poderá ocorrer sem uma ligação ao seu nome, é a forma mais barata, ou sem custo, de prestar serviço, de forma que a obra tem que ter o carimbo de seu nome.



O vereador amarra-se à ação do Executivo municipal nos seus redutos como um enfermo que necessita de uma gota de sangue para continuar vivo. É uma dependência crônica. A necessidade coletiva passou a ser uma necessidade particularizada. A reivindicação coletiva tornou-se uma reivindicação de um indivíduo. Atendida, entra para a lista de serviços do vereador e à população consta reconhecer e agradecer com o pagamento do voto. Existe uma simbiose entre o Executivo e o vereador, que vira um representante de si mesmo. Nada pode ser direito que liberta o cidadão.



Vereador é uma vítima inconsciente do sistema da politicagem e um consciente obsessivo na busca do voto de cabresto, que não percebe a inconseqüência de sua política e enterra-se nesse labirinto perigoso, onde o final é a trágica situação em que se encontram ex-vereadores, que sem mandato, sem dinheiro, perderam os votos, mas em compensação, caíram na realidade da vida e devem perceber que não passaram de marionetes nas mãos dos líderes oligárquicos, os grandes beneficiados de sua ação e que ainda ficam com a fama de serem donos dos votos, ainda mais que aquele eleitorado que era seu e somente seu, migrou em direção a outro salvador da pátria.



E o pior de tudo: é quando o vereador vira uma “mercadoria”. Enfim chegamos ao sistema. Dizem que se alguma celebridade ou algum picareta chegar com um, dois, três milhões de reais, compra quantos vereadores ou cabos eleitorais for possível a 100 mil reais, agora, para eles liquidarem suas dívidas e mais tarde, com mais 100 mil reais para cada um, para eles projetarem o candidato a prefeito, que esse elemento tornar-se-á o dono dos votos por mérito do sistema. Com toda desgraça e desventuras que possa ocorrer, prefiro acreditar na cidadania plena e no humanismo, que suponho essencial para uma sociedade sem pobreza e sem seus abutres ou vice-versa.