segunda-feira, 25 de junho de 2007


SUA EXCELÊNCIA, O CARNEIRO.

Quarta-feira é dia de feira na cidade de Ipirá,é dia de botá pirão no prato e cum aligria trabaiá.O catingueiro pergunta avexado: "Muié o qui tá em farta?".Responde a muié sem pestanejá: "Tá in farta de tudo". O catingueiro dá uma paulada im sua excelença, qui cai sem bodejá.Arranca o couro de lado; puxa o bofe e a triparia;em duas banda vira a carcaça e os miúdo vira iguaria,prus barrigudim sustentá. O catingueiro vai à feira e leva a pele e duas banda desua excelença pra niguciá.Pode paricê primitivismo, mas há uma fila de gente isperando prá levá um taco de carne, sinônimo de boa qualidade, pra quem tá isperando pra fome amenizá. Essa é uma imagem que se encontra em milhares de povoados e cidades deste Nordeste sem par, inclusive em Ipirá.Com dinheiro comprá açúcar, café, farinha e outras necessidades;além de pagá a quem deve e deixá o nome limpo, no comércio de Ipirá. Sua excelença tá nu coração, na barriga e na razão do povo alegre do sertão,que sabe que sua excelença é, portanto, moeda de troca,e que vale mais que uma dúzia de doutor incambitado com juiz, delegado e promotô. Sua excelença não permite mão de catingueiro estirada,pedindo em nome do Senhor uma esmola abençoada.Quem tá vendo e nada faz, não perde por esperá,seja prefeito, governador, deputado ou vereador. Deus no céu é tistimunha da lambança aprontada,por quem não tem o qui fazê,perseguindo sua excelença,para o nosso disprazê.

Quero chamar sua atenção para a difícil encruzilhada em que se encontra a ovinocultura em Ipirá.
Temos um mercado interno que necessita do abate de mais de 500 carneiros por semana e envolve mais de mil pessoas nessa atividade, tornando-se, desta forma, uma questão social relevante.
Na medida em que se exige uma abate diferente sem fornecer a infra-estrutura necessária, cria-se uma dificuldade em larga extensão no campo social, com a exclusão de milhares de pessoas e este fato é preocupante.
A ovinocultura de Ipirá tem necessidade urgente de um matadouro e de um campo de venda decente, organizado e estruturado, para uma comercialização diária, permanente e geradora de emprego e renda.
Que o "causo" acima tenha tocado teu coração, porque abater carneiro em Pintadas ou Feira de Santana não é solução, é atrapalhação

domingo, 17 de junho de 2007


A TRISTE CRÔNICA DA MORTE DE UM CARNEIRO.

A grama do jardim da Praça da Bandeira estava alta e para apara-la eu trouxe um carneiro da roça para fazer um bom serviço. Só queria colaborar. Foi quando o simples jardineiro veio em minha direção e falou alto: - É proibido carneiro aqui.
Como num lance de sorte, no mesmo instante, passou um cachorro e perguntei-lhe:
- E porque cachorro pode andar solto pelas ruas de Ipirá ?
Ele apenas respondeu: - Carneiro não pode e acabou.

Não sei qual é a birra que ele tem contra carneiro, mas não é só ele. Na justiça, até portaria existe proibindo a venda de carne de carneiro na "forma tradicional", mas não tem nenhuma norma exigindo e cobrando do poder público medidas ou a iniciativa de construir ou reconstruir o matadouro em Ipirá, quando, inclusive, o dinheiro já chegou, segundo afirmativa da assessoria do deputado Walter Pinheiro.

A corda está quebrando no lombo do mais fraco e dá para perceber que as autoridades desconhecem o significado e a importância do carneiro para Ipirá. Quem sustenta Ipirá é a pecuária e principalmente a de pequeno porte. Ipirá possui, em torno, de 2.300 propriedades rurais e mais de 80% são de pequenas propriedades e o seu sustento básico é o criatório de ovelhas.

Quando se fala em desenvolvimento com inclusão social, não se pode desprezar esses números acima, além do mais, há mais de mil pessoas no município envolvidas na comercialização da carne de carneiro e que, neste momento, encontram-se em dificuldades para sustentarem as suas famílias e isto significa um trajeto em direção à exclusão social.

A crise que vive a pecuária em Ipirá é profunda e tem uma causa clara, visível e fundamental, que desencadeia toda essa situação : É A FALTA DE UM MATADOURO NO MUNICÍPIO. Esse é o pivô de toda a situação, mas as autoridades não entendem assim e quebram a vara nas costas dos mais fracos, na medida em que condenam a venda da carne de carneiro na "forma tradicional", sem apertar quem tem a obrigação de providenciar os meios (matadouro) para um abate dentro do rigor sanitário. É daí que vem o grande impasse.

Para a venda da carne de carneiro ser diferente da "forma tradicional" só com a existência do matadouro em Ipirá, isso é lógico e indispensável. Mas sem a obrigação da lei para o poder público providenciar o matadouro local e com o arrocho da lei proibindo a venda da carne na "forma tradicional", o desfecho não pode ser outro, que não seja: o benefício de comerciantes atravessadores e dos matadouros de outras cidades (Feira – Pintadas) em detrimento das famílias que vivem do abate e que se transformam em "traficantes de carne de carneiro". E todos nós sabemos que abater em outro lugar não é solução, é atrapalhação.

O que se quer é simplesmente: o ABATEDOURO LOCAL e um CAMPO DE VENDA DE ANIMAIS decente, estruturado e organizado. Depois disso, produzir
e trabalhar em paz, seguindo todas as normas sanitárias necessárias.

Aqui, ninguém come carne de cachorro, que pode adquirir raiva e transmitir outras
doenças com suas fezes espalhadas pelas ruas da cidade, o que demonstra o desleixo da vigilância sanitária. Não entendo a discriminação contra o carneiro, o produto nobre da produção agropecuária de Ipirá.

quinta-feira, 7 de junho de 2007

A MARRADA DO CARNEIRO.

Até a década de 50, Ipirá era conhecida como a "terra do bode". A comunidade ipiraense participou daquele embate (bode x boi) com acaloradas discussões e um grande acirramento dos ânimos. Com o decreto do PÉ-ALTO e outros interesses venceu o boi. O bode praticamente desapareceu, juntamente com o incômodo e depreciativo pejorativo de "terra do bode". Eram bons tempos, pelo menos, houve o bom combate e não aconteceu o engessamento das idéias.

A base econômica de Ipirá é a pecuária, com mais de 120 mil bovinos e uma estimativa de 240 mil ovinos. Esta base produtiva não está para ser implantada, ela já existe e fomenta um mercado interno que necessita de um abate de mais de 500 ovinos, por semana, e garante trabalho e renda para mais de mil pessoas, só na comercialização de carne. Este é o grande potencial de Ipirá e a sua capacidade produtiva não precisa ser provada para mais ninguém.

Acontece que o criatório de ovinos em Ipirá vive uma crise profunda e afeta sensivelmente todo o comércio local. O boi tem que ser abatido em Feira de Santana e o carneiro tem que ir para ... ? Dizem que o dinheiro do abatedouro de bovinos já chegou e essa conversa já faz mais de 9 meses.
A causa dessa crise acentuada é a falta de um abatedouro em nosso município e, também, de um local de comercialização decente, estruturado e organizado para a venda de animais. Está faltando infra-estrutura para consolidar a cadeia produtiva de Ipirá e ações nesse sentido tem que ser tomadas pelas autoridades públicas, ou não ?

Que o abatedouro de ovinos em Pintadas, que ainda não está funcionando, na medida em que estabeleça venda com a EBAL, ou até para o mercado externo, que não é fácil, venha a ser um canal a mais na comercialização, tornar-se-á um benefício para os dois municípios, mas não nega nossas necessidades. Agora, fazer com que a idéia de território engula o "pensar pequeno" da municipalidade, que tem os seus naturais e justos interesses, sem uma discussão com as mais amplas parcelas populares do território é uma contradição, pois o município não pode ficar a mercê do "pensar graúdo" de um "pequeno grupo" e isso significa negar o amplo debate. Vou ser sincero, não presenciei o debate das idéias divergentes.

Ah ! tem uma portaria. É bem verdade, mas as pessoas necessitam sobreviver, como toda gente trabalhadora e honrada. É só isso o que se quer. A postura impositiva provoca o surgimento do "traficante" (não é o que você está pensando). É o "traficante de carne", que diz bem baixinho, "vai um quilo aí ?". O carneiro, que é nosso produto nobre, chegou a esse ponto lastimável.
Agildo Barrêto.