sábado, 25 de fevereiro de 2012

HOMENAGEM. (Parte 15)



Pense numa pessoa boa: Dodó da Zabumba. Imagine uma pessoa sem maldade: o zabumbeiro Dodó. Eu começo com a escrita dessa devida maneira para justificar o esquecimento que sofre esse grande tocador de zabumba neste causo, porque uma coisa que ele faz questão de evidenciar e proclamar são os nomes de todos os sanfoneiros, com os quais ele fez parceria, mas neste episódio, ele espremeu a memória, como se torce roupa lavada e não conseguiu lembrar o nome do sanfoneiro, assim sendo, você pode até pensar em ingratidão, mas eu discordo e ratifico: o zabumbeiro Dodó esqueceu o nome deste sanfoneiro porque é um homem de coração grandioso.



Foram seis meses de forró no Nordeste da Bahia. A última apresentação foi em Cícero Dantas e o trio forrozeiro já estava na boca do povo, sendo que o zabumbeiro era a atração que agradava a todos. O sanfoneiro não andava muito satisfeito com os elogios que ouvia e na medida em que enfatizavam o toque magistral da zabumba, ele pensava: “esse zabumbeiro é meia-baquete, tenho que trocá por outro.”



Quando o trio recebeu o dinheiro, sentaram numa mesa de bar e começaram a tomar cerveja e jogar conversa fora. O sanfoneiro dirigindo-se ao zabumbeiro falou:


- Ô Dodó! Tu não acha arriscado ficá cum esse dinheiro aí no bolso, é uma hora qui o bolso ta furado e tu perde esse dinheiro, aí vai fazê falta.



- Qui bolso furado, sanfoneiro! Meus bolso ta mais forte do que os cofre do Banco Econômico de Ipirá.



- Não me leve a mal! Eu tô falando assim é prumode de aparecê um ladrão e passá a mão nesse dinheiro e tu nem apercebê, quando tu for vê já ficou sem ele. Num é nada não, mas si isso acontecer, Deus o livre, eu te empresto do meu, adispois a gente disconta nas festa qui a gente tocá.



- Tu ta pur fora, sanfoneiro! Se aparecer um gatuno, eu mi atraco cum ele, que só vai ficá os pedaço, mas ele não surrupia uma merreca.



- Entenda o que eu quero dizê! Eu quero dizê é qui dinheiro tem qui ficá no lugá mais siguro. Ta nós três aqui, a gente num conhece ninguém; se o dinheiro tive num lugá só ele ta mais garantido.



- Ele aqui nesse bolso, ele ta bem guardado, sanfoneiro, nem cachorro leprento mete a mão.



- Eu quero dizê o siguinte: é si esse amigo sanfoneiro pricisá do dinheiro do amigo zabumbeiro imprestado, o amigo zabumbeiro não mi impresta não? Quando chegá im Ipirá eu lhe dou.



- Um amigo é prá ajudá o outro – falou Dodó, ao tempo que metia a mão no bolso e entregava todo dinheiro ao sanfoneiro.



Na região do Nordeste da Bahia, foi a última vez que o menino Dodô viu o sanfoneiro. Sem um tostão no bolso, o zabumbeiro achou de recorrer ao contratante da festa, que lhe disse:


- Eu já paguei a vocês, não devo nada, agora eu posso dá um conselho a você e conselho sempre é coisa boa para quem sabe receber de coração agradecido, vá para o posto de gasolina Texaco, que fica ali na entrada da cidade e peça uma carona para Feira de Santana, que é fácil conseguir.



Dois dias no bote, parecendo cobra na espreita do rato e, nada. Comia pão conseguido a muito custo, até que apareceu um caminhão carregado de carvão, só com o motorista na boléia.


- O senhor vai pra onde?



- Vou pra Feira de Santana.



- O senhor me dá uma carona? Eu sou duas pessoa, eu e minha zabumba.



- Suba aí na carroceria e se ajeite aí, qui eu já vou siguí viaje.



O zabumbeiro fez o sinal da cruz, agradeceu a Nossa Senhora e aconchegou-se em cima da carroceria, naquele instante imaginou-se passeando no confortável automóvel “Aero Wiles” de seu Júlio. Estrada de chão. A cada buraco ultrapassado, um saco de carvão caía em sua cabeça, ele ajeitava o saco; quando o carro passava numa costela de vaca, a nuvem de carvão encobria o zabumbeiro; quando o caminhão freava bruscamente, o pó de carvão vinha todo para cima do menino Dodó. Foi uma viagem longa, difícil e sofrida. Estava encharcado de pó de preto, o cabelo, nariz, boca, ouvidos, dedos e unhas, nada escapava.



O caminhão foi parar na padaria Boa Sorte, no Sobradinho. O zabumbeiro saltou, agradeceu ao motorista e agora tinha que ir andando até o Hotel Caroá, onde ficava hospedado Jacinto Limeira, o Homem do Sapato Branco, para narrar sua situação, na certeza de que teria um ombro amigo para dar anteparo. Quando passava pelas ruas, era alvo de sorrateiras piadas:


- Olha um pau-de-fumo andando!



- Ô picolé de betume!



- Abriram a porta do inferno e deram folga ao diabo.



- Vem vê o tribuzu do Tomba.



- Tu ta fazeno o que aqui, Buziguim de Oxossi?



- Vai procurá tua friguisia, Zumbi!



O zabumbeiro Dodó passava pelo seu calvário; sentia a força do desprezo humano. Era uma humilhação que batia no fundo da alma e a insensibilidade das pessoas massacravam-no sem dó nem piedade. Chacoteado, ferido na alma e no coração, mas mantendo o semblante erguido e a dignidade preservada. Ia passando e a zombaria acompanhando-o. Quando chegou ao Hotel foi colocado para fora, como um cachorro sem-guia:


- Aqui não se hospeda nenhum Jacinto! Vai saindo, prá fora vira-lata, vai, vai.



As pessoas riam querendo e sem querer. O zabumbeiro estava determinado, sabia que o Homem do Sapato Branco estava em Feira e se hospedava naquele hotel. Esperou e não foi em vão, pela manhã, apareceu o Jacinto tão esperado, que tinha terminado uma apresentação de forró. Dodó foi em sua direção:


- Seu Jacinto! Eu sou Dodó da Zabumba.



Jacinto Limeira, o Homem do Sapato Branco, sentiu algo próximo naquela voz, olhou e viu um distanciamento muito grande naquela imagem e disse:


- Essa cidade está cheia de trambiqueiro querendo enganar as pessoas, logo não ta vendo que uma figura encardida da sua marca não é o grande Dodó da Zabumba – nem terminou de pronunciar, deu as costas e caminhou.



- Seu Jacinto! Eu sei que o senhor é um homem de coração generoso, não me leve a mau, mim dá dois réis para eu tomá um banho.



Jacinto Limeira parou, meteu a mão no bolso, tirou cinco cruzeiros, entregou ao desconhecido e disse:


- Toma cinco cruzeiros, vá embora e não me aborreça.



Dodó foi para o Tomba, tomou um banho que durou seis horas, comprou um cento de pão e dez litros de refresco de maracujá. Bufou à vontade para expelir aquele vento preto que estava dentro de seu corpo. Revitalizado partiu para o hotel. Quando chegou, observou que Jacinto Limeira estava sentado em um sofá da recepção conversando com um grupo de empresários, mesmo assim ele entrou e foi na direção do mesmo, que, ao avistá-lo, levantou-se e veio ao seu encontro:


- Meu amigo, Dodó da Zabumba! Que honra recebê-lo aqui em meu hotel. Ainda, ontem, apareceu um tribufeiro aqui, querendo se passar por sua pessoa, eu botei ele pra fugir daqui. Temos que ter muito cuidado nessa Feira de Santana, que é cheia de gente escopeteira. Mas, que prazer em ver o grande amigo! Senta aqui conosco.



Quando o funcionário do hotel chegou à recepção e viu aquele sujeito sentado no meio daqueles graúdos, veio em sua direção para solicitar que ele saísse do ambiente, ao que foi retrucado por Jacinto:


- Você sabe quem é esse? Esse aí é o grande zabumbeiro Dodó da Zabumba.



- Seu Jacinto! Esse discarado me botou pra fora daqui do hotel, ontem.



- O quê? – indagou Jacinto, que olhando para o funcionário, foi dizendo - Considere-se demitido agora mesmo.



- Seu Jacinto! Eu peço que o senhor faça uma reconsideração e deixe ele aí no emprego, que ele precisa.



- Ta certo, Zabumbeiro Dodó! Ele vai ficar porque você pediu – deu um sinal para o funcionário afastar-se – Dodó da Zabumba! Você vai fazer uma temporada de show comigo aqui em Feira e você vai ficar hospedado aqui no meu hotel.



Jacinto deu uma ordem para que todos os funcionários fossem reunidos no salão do restaurante do hotel e disse-lhes:


- Esse aqui é o grande Dodó da Zabumba, ele tem que ser tratado aqui igualmente ao dono do hotel.



Dodó sentava nas confortáveis poltronas da recepção, chamava o funcionário que ele salvou o emprego e dizia:


- Traga uma cerveja bem gelada.



- Sim, senhor! Seu Dodó da Zabumba!



- Essa que você trouxe ta gelada, mas leve essa e traga uma que seja véu de noiva, você sabe cuma é.



- Sim, senhor! Seu Dodó da Zabumba!



Depois de um show no Feira Tênis Clube, Dodó apaixonou-se e convidou uma graciosa morena para ir até o hotel:


- Você é um pedaço de mal caminho e eu vou caminhá pra sempre no caminho da perdição. Eu to cum uma suíte lá no Hotel Caroá à sua espera minha paixão.



- Onde? No Hotel Caroá! Meu noivo trabalha lá e hoje ele está fazendo hora extra – disse o Pedaço de Mau Caminho.



- Sim! Mas ele já levou você na copa do hotel?



- Não.



- Eu estou levando você é para a suíte e lá é bem parecido com o céu.



Quando o funcionário viu o zabumbeiro com aquela mulheraça conhecida, tomou um susto e seu sangue gelou, o zabumbeiro disse-lhe sem muito estardalhaço:


- Leve uma champanhe até a suíte e não esqueça de levar três cálices, eu faço questão de brindar com sua pessoa.



- Sim, senhor! Seu Dodó da Zabumba!



Jacinto Limeira vendeu o hotel e voltou para São Paulo. O zabumbeiro Dodô foi para Ipirá e não falou mais com o sanfoneiro, que fazia questão de comentar, pela cidade, que o zabumbeiro Dodó não tocava nada. O zabumbeiro Dodó perdoou-lhe, mesmo sem receber o dinheiro emprestado e vida que segue.

sábado, 18 de fevereiro de 2012

POSSO NÃO!

Até que enfim aprovaram a Lei do Povo. Está valendo: o sujo não pode falar do mal lavado. A Lei passou o cutelo nos dois fichas sujas ipiraenses e ambos estão fora do ringue. Foi preciso uma Lei do Povo, porque pela paixão do povo de Ipirá ia ficar nesse rem, rem, rém a vida toda (Antônio ou Luiz; Luiz ou Antônio) nem que isso empurrasse Ipirá para as profundas.

É interessante que, até a paixão do povo ipiraense não enxerga nesse corte de cabeças um acaba mundo, ou mesmo, uma grande injustiça, a maior do outro mundo, muito pelo contrário, o povo reconhece que cortaram as cabeças das duas administrações mais irresponsáveis e ordinárias que já houve em Ipirá. Você pode questionar: “mas, não são os dois líderes da localidade?” São, e daí? Simplesmente controlam um sistema que “bota ferros” na cidadania do povo ipiraense e o PT de Ipirá não vê mal nisso e foi reforçar esse sistema, sendo que, agora, sem os dois fichas sujas, o PT de Ipirá pensa assim: “eu sou o único ficha limpa, chegou a minha vez”.

Por ironia do destino quem borrou a ficha de Luiz e Antônio pleiteia a vice e a vereança nos grupos e são bem recebidos. A política é um tapa-nariz do cão, embora a Lei do Povo tenha enterrado a Lei Severino da Paraíba, que dizia: “renunciou ta limpo”, ou “pagou ta limpeza” “se foi no tempo do português Cabral é limpeza”. Severino que se exploda nos quintos.

Outro que teve a cabeça cortada foi o ex-deputado Jurandy Oliveira. Você perplexo e surpreso indaga: “o homem era ficha suja?” Não. O homem é ficha limpíssima. A ficha do homem foi lavada com sabão OMO, aquele que lava mais branco. Esse teve a cabeça cortada pela Lei Diomário. Entendeste? Essa mesmo: “Quem com ferro fere com ferro será ferido”. Sim, é lei antiga, da campanha passada. Mas, “o deputado... seria o fechamento com chave de ouro... etc e tal”. Nada. “quem com ferro... e acabou”.

Eu sei que o deputado lê esse blog (fico honrado, deputado) e eu vou dar um modesto conselho ao deputado: “Excelência! Pegue o seu título eleitoral, juntamente com o de sua turma, e transfira para “aquela cidade” do deputado titular, ele será eleito com seu apoio e o suplente assumirá, aí será Jurandy Octono”. Entendeste, deputado! Eu fico imaginando: a seleção brasileira para ser octona tem que esperar até 2022 e o deputado poderá ser octono em 2012, seria um esplêndido desfecho.

Em outro computador, o deputado Jurandy fica vermelho e esbraveja educadamente: “mas, eu sou Jurandy 70!” Calma, deputado! È impossível ser deputado 70 vezes, agora, oito vezes está de bom tamanho, tenho a impressão, não a certeza, que só Manoel Novais, o Rei do São Francisco, conseguiu isso.

Do outro lado do computador, o deputado Jurandy é determinado e insiste: “são 42 anos de carreira política e antiguidade é posto”. É verdade, o deputado está usando o mesmo argumento do PT de Ipirá para pleitear cabeça de chapa: “nós temos 30 anos de luta e queremos ser protagonistas na política de Ipirá”. Esse argumento cai por terra diante do tempo do deputado. Esse argumento da temporalidade é o mesmo que será usado pela Lei Diomário à cúpula da macacada: “ bem, diante da Lei da Ficha Limpa, o nosso grupo macaco ficou sem candidato, por isso eu quero apresentar ao nosso grupo macaco, a candidatura do nosso companheiro PT de Ipirá para ser candidato do nosso grupo macaco, porque o nosso companheiro PT de Ipirá tem 30 anos de luta e uma ficha bem limpinha.” Na Lei Diomário 30 > 42.

Do outro lado do computador, o PT de Ipirá fica retado comigo. Não! Não fica, porque o PT de Ipirá não lê esse blog, mas mesmo assim, eu vou dar a notícia, que neste mês de fevereiro, o PT de Ipirá vai escolher o seu pré-vice para o próximo pleito e aceita conversar com jacu e macaco. Ôpa! Pera aí! Eles foram para a macacada argumentando que: “Diomário tinha um jeito de administrar petista e que Luiz não podia governar Ipirá” agora, muda de blá, blá, blá e acende uma vela para Deus e outra para o diabo. Esse PT de Ipirá ta virado do cão, quer que o jacu e macaco levante a bola petista e coloque o PT de Ipirá num andor. Acorda PT de Ipirá! É o sistema que impera, vocês, ou melhor nós, estamos na periferia do sistema, com o peão na mão e entregando-o de mão beijada ao menino malvado, depois, ficando com a cara de menino chorão, buá, buá! Acorda PT de Ipirá.

Alegre mesmo, quem ficou, pressuponho, foi Antônio Colonnezi. O “quero não” do pretendente era mais forte do que o “quero sim” do pré-candidato. Antônio, penso eu, sabe muito bem que se livrou de uma batata quente e que sua vida ia ser um inferno na condição de prefeito de Ipirá, porque eles criaram e alimentam esse monstro, que é o sistema jacu-macaco, que foi implantado em Ipirá e inferniza a vida de qualquer prefeito ou pelo menos suja a sua ficha.

A campanha dos pré-candidatos a prefeito em Ipirá vai começar num novo patamar, agora com a Lei Antônio e a Lei Luiz imperando e fazendo valer na prática, a Lei da Ficha Limpa dentro dos seus respectivos grupos. Vamos Renovar Ipirá.




domingo, 12 de fevereiro de 2012

HOMENAGEM (parte 14).




O Trio Estrela do Norte foi contratado para fazer um forró na fazenda Caipora, num leilão, que o dono da fazenda Temístocles vinha organizando fazia três meses. O trio era transportado em cima de uma caminhonete, que passou pelo bar de Carlito e pegou um isopor grande cheio de gelo e algo mais.



Na estrada de chão, uma poeira desembestada embaçava todos que estavam em cima da caminhonete e um pequeno incidente fez a caminhonete parar por meia hora, motivo que jogou o zabumbeiro Dodó num lampejo de curiosidade e manha, que fez com que ele abrisse o isopor para verificar o que continha, notou que estava com cerveja, o que o levou a sugerir:


- Essa cerveja é para dar aos convidados, então se a gente vai receber lá, vamo tomá a nossa parte logo aqui.



Sem pestanejar o trio caiu dentro e mandou ver, Dodó comentava:


- Êta que eu hoje tô bebendo igual a pinto com sede e esse isopor eu tomo é numa sentada.



Era só pegar a garrafa, abrir utilizando os dentes e o líquido escorregava pela garganta. Meia hora foi o suficiente para o trio fazer um estrago possante. Pegaram as garrafas vazias, colocaram as tampas e botaram-nas no isopor.



Quando chegaram na fazenda Caipora, a malhada estava abarrotada de cavalo. Temístocles, que estava acostumado a pegar boi remetedor com a unha, mostrava um corpo musculoso e uma valentia inigualável, sendo o mesmo, muito temido pelos peões da região, aproximou-se da caminhonete e pediu para dois vaqueiros carregarem a caixa de isopor, ao tempo que comentava:


- Com a venda dessas cervejas, eu quero pagar ao trio de tocadô; com a quantidade de gente qui ta aqui hoje, não vai sobrá nada. Vamo desceno meus tocadô e pode ir puxano o fole que é prá dá animação a esse povo.



O zabumbeiro Dodó só ouviu o início da conversa e deduziu para si: “a cerveja é prá vender e não prá dá!”. Seu sangue gelou, a garganta apertou e deu uma dor na barriga, que não queria parar.



O Trio Estrela do Norte começou a tocar. As moças solteiras passaram o olho no zabumbeiro e começou uma concorrência para ver quem seria a princesa contemplada por aquele pop star da música forrozeira na região de Ipirá. Uma trouxe um peito de peru; outra um pedaço de doce goiabada; alguém trazia um sorriso; teve delas que soltou um psiu e por aí a coisa andava, ao tempo que a barriga do zabumbeiro apertava de dor. Maria do Beiço Preto logo mostrou-se saliente e manifestou-se abertamente e sem subterfúgio para cima do zabumbeiro, sendo direta a sua pergunta:


- Eu posso lá saber a graça do galão de Roliude?



- Dona eu num sou eu e num posso a dizê meu nome pra não ficar mal afamado – falou o zabumbeiro.



- Oxente, meu boi zebu! Se vos-mi-cê num ta prá dizê o nome, euzinha aqui vai batizá vos-mi-cê e bem batizado – falou Maria do Beiço Preto.



- Num é isso não dona! É qui eu tô cum uma ingrisilha na barriga, que hoje num sobe nem vara prá derrubá imbú – disse o zabumbeiro.



- Eu duvi-d-odó, que um saruê da tua qualidade, butano uns zóio de marruás numa galinha butano ovo, que num queira prová da canja – falou Maria Beiço Preto.



- Ô dona! Sabe cuma é, eu nem sou de injeitá nem jumenta cismada, mas tem dia qui cobra num dá bote nem em bengo de gravatá.



- Oxente, meu marruás! Eu tenho uns mode de fazê cum que meu galo de terrêro num fique de crista baixa de manêra arguma.



O vaqueiro encostou em Temístocles e deu a triste e péssima notícia:


- O isopor de cerveja tá quase vazio, arguém tomou toda cerveja e butou os casco vazio prá inganá a gente.



Temístocles virou uma arara, esbravejou, parecia uma trovoada cortando o céu da fazenda Caipora:


- Vamo butá os secreta pra discubrí quem foi o salafrário que fez isso e eu garanto que esse traste que cometeu essa disorde num vai saí daqui intêro, pelo menos dois cunhão eu jogo na malhada prá Duque e Biriba inchê a barriga.



O zabumbeiro ouviu aquela conversa e tremeu. A dor na barriga ficou insuportável. Olhou para os cachorros Duque e Biriba, que estavam com os olhos em sua direção, e os dentaços salientes faziam a baba descer pela boca, ouviu os cachorros falarem: “vou te comer”. Sua barriga dava pontada, virou para o sanfoneiro e falou:


- Essa festa tá sem graça, num tem mulé e nem uma cachaça truxeram prus tocadô, bota um zabumbeiro im meu lugá, qui eu vou caí na lapa do mundo.



O zabumbeiro estava com a cabeça pesada e não sabia nem pensar direito, virou para Maria do Beiço Preto e falou:


- Ô dona! Hoje eu tô derrubado e eu tenho que ir às pressa prá Ipirá, pra fazê uma reza cum Miro Buziguim, sinão eu vou ficá ismuricido.



- Eu posso até ajudá vos-mi-cê, mas vos-mi-cê tem qui dá uma prova pra mim de qui é um marruás montadô e qui num fica ismuricido – disse Maria do Beiço Preto.



- Mas, dona! Hoje eu num posso dizê nada, cuma é qui a dona qué qui eu diga arguma coisa, se hoje eu tô nus trimilique – disse o zabumbeiro.



Maria do Beiço Preto pegou uma vela do tipo que leva um mês queimando para depois ficar o pitôco, mostrou ao zabumbeiro e depois falou:


- Vou ajudá vos-mi-cê, mas com uma condição, se eu te pegar no caminho, vos-mi-cê vai tê que mostrá qui é marruás, se não fô dessa devida manêra, vos-mi-cê pode disconsiderá de minha ajuda.



- No aperto qui eu to aqui, a dona pode acendê logo essa vela prá vê si quando eu chegá im Ipirá eu vorte a sê o Dodó de Pijú. Ô dona! Mi aponte logo o caminho prá Ipirá e seja o qui a dona ta astuciano.



- Vos-mi-cê vai pur aquele caminho que vai dá in Ipirá, vá andando do jeito qui vos-mi-cê quisé, se eu pegá vos-mi-cê no caminho, vos-mi-cê já pode ir arriano as calça – explicou Maria do Beiço Preto.



- Ta feito Dona! Intonce o caminho é aquele? – indagou o zabumbeiro.



Pelo caminho levava cinco horas para chegar à Ipirá, por uma vereda eram duas horas e meia. Maria do Beiço Preto seguiu pela vereda, carregando a vela, e esperou Dodô na encruzilhada, olhou o rastro e observou que ele não tinha passado, preparou-se, ficando do jeito que veio ao mundo. Quando o zabumbeiro Dodó surgiu, não teve nem tempo de se assustar, Maria do Beiço Preto avançou que nem carcará pegando pinto e jogou o zabumbeiro no chão, dando uma chave na sua cintura. O zabumbeiro caído, sem roupa, procurava explicar-se:


- Ô dona! É a primeira vez que me acontece uma disgrameira dessa, num vá ficá pur aí falano as coisa qui num deve sê falada prumode das língua grande.



- Ó, meu É Roflin! Num se aveche não qui o seu negoço vai funcioná agora mermo – afirmou Maria do Beiço Preto.



Maria do Beiço Preto pegou a vela de dois metros e colocou nas costas do zabumbeiro e foi descendo, quando chegou na posição tentou introduzir a vela. O zabumbeiro mais esperto do que Satanás em época de Quaresma, trancou o que devia ser trancado e a vela encontrou a porta fechada, o zabumbeiro saltou fora:


- Oxente, dona! Qolé a sua, dona? A dona ta mi estranhano ou a dona é maluca? Querê butá uma vela desse tamanho no meu furico, ta pensano o que dona? Ta mi achano cum cara remelenta! Se oriente dona! No meu orbílio num ientra nem vento de peido que dirá um dismantelo desse. A dona num cunhece o qui é um cabra arretado, virado da disgraça, que disputa jega cum cavalo garanhão e um rebanho de cabrita eu toro com dois bodego, prá dona vim querê atravessá uma vela no meu butiá, é mermo qui querê derrubá o nome do zabumbeiro conhecido im todo o Brasil como o maió garanhão.



- Mas, meu É Roflin de Roliude! Vos-mi-cê tá brocha, eu queria sará vos-mi-cê – disse Maria do Beiço Preto.



- Oi, dona! Só tô na pricisão de uma reza, adispois qui Miro Buziguim fizé isso, nem buraco de formigueiro vai escapá – disse o zabumbeiro.



Na quarta-feira, dia da feira livre, Temósticles procurou seu Pijú e apresentou a prestação de contas, mostrando o contrato do Trio Estrela do Norte, constando um valor de 5 mil cruzeiros e uma nota com as despesas das cervejas, no valor de 15 mil cruzeiros, sendo que seu Pijú teria que reembolsá-lo em 10 mil cruzeiros.



O menino Dodó estava doente com uma dor de barriga que durava três dias e as dores ficavam mais agudas, neste exato momento, ao tempo que, o menino ouvia toda aquela conversa, tremia e pensava, chegando a uma conclusão clara e evidente em seu pensamento: “É assim que uma pessoa se lasca.”

domingo, 5 de fevereiro de 2012

ESTACA ZERO




O que é ESTACA ZERO? Alguém poderá responder: é uma banda de forró. Acertou. Mas, falando sério, estaca zero é a condição dos pré-candidatos à prefeitura de Ipirá. Zerou tudo, novamente. Eu não disse que eram coelhos. Era uma corrida de coelhos.



Mas o fato concreto é que estamos em fevereiro e, até agora, nada, vai começar tudo novamente, sempre dentro dos conformes, pelos nomes. Nomes e nada mais.



Quem não se lembra do nome de Luciano Cintra, um pré-candidato que veio lá de cima, das nuvens, dos pináculos do poder, parecia um vendaval estabanado que ia encharcar Ipirá, pelo menos, pelas bocas dos seus, era o que diziam, encharcar Ipirá de dinheiro. Notícia alvissareira, que levanta até candidato-defunto.



- Só a Odb vai dar a Luciano, quinhentos mil reais, o homem vem com muita bala na agulha – diziam eles de boca cheia, sem constrangimento, nem pedindo segredo.



Os seus, nem pensavam e muito menos, preocupavam-se com a esparrela em que estavam botando o pré-candidato. Naturalmente, estavam bem intencionados quando procuravam projetar o candidato a uma condição de um Bill Gattes na política ipiraense, com tanta bufunfa seria imbatível. Seria a verdadeira vitória realíssima, ou da realeza, ou da realidade, sem disfarce, do real. Sem intenção, nem maldade colocaram o pré-candidato num ninho de vespa.



O pré, em uma reunião no vespeiro, sentiu que arroz doce na boca de menino tem gosto de papa de farinha, o primeiro vereador foi logo mostrando o enredo do samba:


- Minha campanha é cem mil reais.



O pré deu um salto e mostrou-se estupefato:


- Quanto! O quê? Cem mil!



- Não! Pode ser cinqüenta no início e cinqüenta no meio – disse o futuro correligionário, na mais pura inocência, como se duas de cinqüenta não fosse cem mangarotes.



Foi isso o que plantaram o Sr. Diomário, o Sr. Antônio, o Sr. Luiz Carlos, o Sr. Jurandy e outros mais, nessa terra. Criaram um monstrengo gelatinoso que passa a excrescência gordurosa em todos eles. Contudo, eu estava aguardando para ver na prática como ia ficar um candidato, irmão de um desembargador, com pretensões de presidir o TRE no Estado da Bahia, com a função de coibir e fazer valer a LEI contra o crime de compra de voto, tendo no irmão-candidato, um verdadeiro campeão de arrecadação de contribuição para a campanha (alardeado pelos seus), o que é permitido por LEI, mas com contribuições oriundas de fontes absolutamente alheias e sem nada, nada mesmo ter, nem um interessezinho bem pequenininho, por Ipirá, a esmola ia fica maior do que a capacidade milagrosa do santo nessas terras longínquas do Ipirá . São essas coisa que fazem o céu desabar e depois fica todo mundo gaguejando, com voz presa e com cara de sabido-trouxa, que pensa que o mundo das pedras não desaba de vez em quando.



Até então, o maior lançador de nomes é o prefeito Diomário. Tanto lança como deslança e cortando pelo pescoço. O ex-deputado Jurandy Oliveira é um dos decepados. Muito entusiasmado e animado, Jurandy lançou seu nome no dia 7 de setembro, no dia seguinte o prefeito passou o cutelo, já foi. Pensa em Antônio e Dudy. Pensa e não pensa. Pensa mais no governador. Agradar o governador é mais compensatório e como seria do agrado do governador um candidato do seu PT com o apoio da macacada. Seria a maior vitória do grande articulador Diomário em todos os tempos: a apresentação de um petista na cabeça da chapa dos macacos. Valeria dois litros de whiski, um para o prefeito e outro para o governador, depois, só risos.



O macaco se pensar um pouco mais do que o que pensa, deve ficar igual a jegue quando vê rodilha de cascavel na beira do caminho. Diomário diz dizendo para desfazer desfazendo. Diomário ainda espera fritar lideranças macacas na manteiga, sem triturá-las, para em cima da hora apresentar um nome petista, para ser acatado pela cúpula macaca. Um bom sinal para o governador. Os macacos continuam lambendo as benesses do poder e Diomário consagrado: o líder que entregou o poder municipal ao petismo em Ipirá.



Por isso que as coisas não vão se desdobrar por estes meses. Para tudo acontecer, é melhor esperar pela prorrogação do jogo. Se o candidato do macaco sair agora, o PT de Ipirá cai fora. Por falar em PT de Ipirá, é bom que se diga que continua encalacrado. Continua porque quer. Para se juntar ao macaco perdeu uma banda. Para deixar a macacada perde outra banda. Tinha tudo para ser o partido com maior poder de atração de pessoas em Ipirá, devido ao presidente Lula, Dilma e governador Wagner, mas preferiram entrar num barco furado e vão ter que assumir o passo em falso, mas não da forma como estão querendo fazer, lançando um nome para prefeito. Não é por ai, um nome petista não contagia nem o seu coligado macaco, imagine a população de Ipirá. Este momento é de estaca zero, os petistas têm que compreender isso.



O Movimento Renova Ipirá tem que entrar em campo. É chegado o momento da mobilização, da discussão sobre os inúmeros e graves problemas do município de Ipirá. É chegado o momento de entrar em campo. Ipirá tem necessidade de um programa de políticas públicas para o município. Isso é o mais importante. Ipirá precisa de um projeto de governo para viabilizar o município de Ipirá como um município próspero, justo e humano para sua gente. Aguardamos o PT de Ipirá para essa construção.



O nome do candidato do Renova? Nossa preocupação é o nosso debate para construirmos, juntamente com as pessoas, o nosso projeto para Ipirá. Nosso nome será escolhido, democraticamente, dentro desse processo de cinco meses (para o nome), com o maior elenco possível de nomes, inclusive dos companheiros do PT de Ipirá, coisa que não acontecerá, por hipótese alguma, nas hostes da macacada. Petista ser candidato na cabeça dos macacos é mais do que estaca zero, é um zero do tamanho, não de uma estaca, mas do buraco negro que ameaça chafurdar a vida no planeta Terra. Ipirá necessita de ser pensada, caso contrário, a estaca continuará zero.