Obs: (antes de ler esse 3B – leia o 3A. logo abaixo).
Sem saber de nada o menino Dodó tocava e os homens ficavam olhando, com os olhos pregados no seu repique. O menino Dodó jogava a baquete para cima e metia o refrão: “Chega pra lá jacaré, eu gosto é de mulé.” O fuzuê estava comendo no coió e o menino Dodó continuava sem saber do que estava acontecendo.
- Vosmicês tão deveno ao coió e vão tê qui pagá, si não eu vou assuspendê as cumida. Quem já se viu um troço desse ? Madame é quem pode butá xoxota prá tomá fresca. É dessa manêra qui vosmicês qué sê mulé de vida fácil, derrubando o coió ? TODO MUNDO JÁ PARA O SALÃO – ordenou Anália.
O grupo de mulheres já estava nervoso e assanhado. Quem começou a falar foi Judite de Casaes, o monumento do coió, reconhecido pela clientela e comprovado pelo par de coxas, que foi dizendo em voz altiva:
- Quem é que a dona pensa que é? A gente num vai ta aqui ralano coxa e só o coió é qui ganha.
- Cala a boca sua puta e vai logo butá esse xibiu no salão, prumode di vê si arranja um zome prá pagá o qui vosmicê deve no coió – falou Anália.
- A gente é puta, mas é gente. E puta tamém num pricisa cumê, não ? Puta num pricisa cumprá batom prus beiço ? Puta num pricisa cumprá corte de xita na loja de seu Oscarino ? Puta num pricisa de ruge e água de chêro ? E cuma é qui a gente vai tê o qui pricisa ? Me arresponda ! Se a gente num tive uma porcaria duns mil réis, a gente num tem o qui pricisa – falou Judite de Casaes, que tomou fôlego e continuou.
- Se a gente pudesse e tivesse querê, a gente era madame. A gente ta nessa vida é pur nicissidade e prá não morrê de fome. Isso aqui num é vida fácil não, isso aqui é vida difice; aqui a gente chora, perde o sonho, perde a vida e não tem consolo. Ainda tem quem adoce a língua e diga que isso é vida fácil. Vida fácil uma porra ! que se foda quem diz isso. Aqui, a gente tem qui guentá os zome nas tampa, uns zome qui a gente nem sente nada. Aqui no coió, quando a lágrima sai dus zolho tem qui sê apagada cum a mão, prumode de qui a gente tem qui ir pru salão. Aqui mulé perde o qui tem di bom no peito: o sentimento. E qual é a vida qui a gente tem aqui ? Quando dá muita sorte vira rapariga de coroné. Nu mais, num pode nem gostá de home, prá num virá sustentadora desses bicho e dá boa vida a cafetão.
Dodó arrocha o som e nem imaginava a complicação que estava causando no coió.
A euforia dominava as mulheres e Anália, a dona do coió, ouvia o que elas falavam, sem rebater até mesmo com medo de levar uma rebombada. Marinalva foi a próxima a usar a palavra:
Sem saber de nada o menino Dodó tocava e os homens ficavam olhando, com os olhos pregados no seu repique. O menino Dodó jogava a baquete para cima e metia o refrão: “Chega pra lá jacaré, eu gosto é de mulé.” O fuzuê estava comendo no coió e o menino Dodó continuava sem saber do que estava acontecendo.
- Vosmicês tão deveno ao coió e vão tê qui pagá, si não eu vou assuspendê as cumida. Quem já se viu um troço desse ? Madame é quem pode butá xoxota prá tomá fresca. É dessa manêra qui vosmicês qué sê mulé de vida fácil, derrubando o coió ? TODO MUNDO JÁ PARA O SALÃO – ordenou Anália.
O grupo de mulheres já estava nervoso e assanhado. Quem começou a falar foi Judite de Casaes, o monumento do coió, reconhecido pela clientela e comprovado pelo par de coxas, que foi dizendo em voz altiva:
- Quem é que a dona pensa que é? A gente num vai ta aqui ralano coxa e só o coió é qui ganha.
- Cala a boca sua puta e vai logo butá esse xibiu no salão, prumode di vê si arranja um zome prá pagá o qui vosmicê deve no coió – falou Anália.
- A gente é puta, mas é gente. E puta tamém num pricisa cumê, não ? Puta num pricisa cumprá batom prus beiço ? Puta num pricisa cumprá corte de xita na loja de seu Oscarino ? Puta num pricisa de ruge e água de chêro ? E cuma é qui a gente vai tê o qui pricisa ? Me arresponda ! Se a gente num tive uma porcaria duns mil réis, a gente num tem o qui pricisa – falou Judite de Casaes, que tomou fôlego e continuou.
- Se a gente pudesse e tivesse querê, a gente era madame. A gente ta nessa vida é pur nicissidade e prá não morrê de fome. Isso aqui num é vida fácil não, isso aqui é vida difice; aqui a gente chora, perde o sonho, perde a vida e não tem consolo. Ainda tem quem adoce a língua e diga que isso é vida fácil. Vida fácil uma porra ! que se foda quem diz isso. Aqui, a gente tem qui guentá os zome nas tampa, uns zome qui a gente nem sente nada. Aqui no coió, quando a lágrima sai dus zolho tem qui sê apagada cum a mão, prumode de qui a gente tem qui ir pru salão. Aqui mulé perde o qui tem di bom no peito: o sentimento. E qual é a vida qui a gente tem aqui ? Quando dá muita sorte vira rapariga de coroné. Nu mais, num pode nem gostá de home, prá num virá sustentadora desses bicho e dá boa vida a cafetão.
Dodó arrocha o som e nem imaginava a complicação que estava causando no coió.
A euforia dominava as mulheres e Anália, a dona do coió, ouvia o que elas falavam, sem rebater até mesmo com medo de levar uma rebombada. Marinalva foi a próxima a usar a palavra:
- O que sobra prá gente nesse coió ? Só tapa na cara dado pur vagabundo; a barriga cheia de gala; o disaforo cuspido na cara e algum resto de vintém qui num dá nem prá pagá o qui si deve no coió. Vida de puta é só umilhação. A aligria é suportá os zome na tampa. Quem arranjá um sordado ainda pode mandá de vorta as umilhação sufrida, fora isso, vai tê qui ficá nos isporro e surra dos vagabundo.
O clima estava tenso com aqueles desabafos emocionados e acalorados, quando Tatuzinha, baixinha, mas de uma valentia impressionante, desde quando, não havia estaca que ela não derrubasse e, ganhou fama por isso e, também, pelo jeito arrastado de falar:
- Lá vem Anália cum esse papo de madama. Se madama come, a gente também pricisa cumê; se a gente dá a xereca, madama tamém dá. A gente ta nessa vida é pur pricisão e não pur discaramento. Bota uma madama nessa vida qui tão dizeno qui é faci, prá gente vê cum quanto pau se faz uma cangaia. O qui eu tenho prá dizê e num peço assegredo, quano os zome injoa de cumê as carne nova, fica só us osso prá sê cumida dus cachorro e, ainda mais, tem qui guentá disaforo de quem num pricisa nem lavá o xibiu prá vivê.
Anália, a dona do cabaré, não conseguiu manter-se calada como até então tinha feito, foi dizendo:
- Lugar de choro é no Monte Alto, aqui é lugá de butá a xoxota pra trabaiá e pagá u qui deve.
Neguinha, uma quenga desaforada e barraqueira, saltou na frente de Anália e disse:
- Vida de rameira é mermo qui tirá água de cesto no tanque de Santana. É uma vida de merda. Num é prumode di qui fica butano os zome nas tampa qui num é vida de merda. Num si tem mais nem o querê di sê filiz. É pura pricisão e quano si pricisa a carne fica remosa e podre. Apudrece pur dentro e pur fora. Quano a carne é nova os zome vira urubu e arranca até as tripa, quano vira pelanca os zome vira carcará de arribação e vai im busca de carniça nova. Qoli é a aligria qui tem uma rameira ? Tem qui guentá bafo de pinga e fedô de suó incravado nus zome incardido. Lá isso é vida de gente ? Lá isso é vida de bicho ferrado cum ferro im brasa pur dono de gado. Rameira é qui nem gado, recebe um ferro quente no lombo e vara nas costa, é bicho e propriedade de dono.
Maria Relógio, que entrou naquela vida desde criança, aos sete anos, também não perdeu a oportunidade de dar o seu depoimento:
- Quano acontece sê rapariga de coroné, inda tem farrapo de chita prá si cubrí, quano não, só tem sete parmo de terra prus zotro por pur riba. Isso lá é vida de gente ? Preá tem vida mió qui a de quenga, pelo menos num pricisa dá canseira na xoxota e a gente não, a gente perde sustança e vai dexano de sê gente prá virá bicho sem alma, bicho duro, bicho das loca dus mato.
Naquele fustigamento de revirar pelo avesso, Chinha não agüentou e falou:
- Rampeira num dêxa de sê mulé. O pió e qui a gente vai perdeno istima e vai ficano sem gostá. O pió é quano a gente nem dá o xibio pur prazê e dá pur nicissidade e pur dinhêro, e quano a gente dá pur nicissidade perde a honra e na iprocrisia das pessoa, quem lava a honra é dinhêro, i si a gente num tem um prá lavá o ôtro, a gente fica sem us dois. Aí, tem gente qui cospe quano rameira passa; basta avistá a gente qui bate a porta na cara. Im Igreja a gente num ientra, cuma se a gente fosse filha de satanás. Tem gente qui vira a cara quano vê a gente, pariceno qui a gente tem duença pegajosa. Tudo o qui tem de ruim nu mundo é filho de puta, como se puta num parisse minino, dotô, deputado, prisidente e ôtros bicho mais.
Tatuzinha, esbaforida, voltou a falar:
- Dêxa eu falá uma coisa qui ta aqui istatelada na minha garganta: até a liberdade de dá o xibiu a quem nós qué, nós num tem esse direito, prumode de tê qui defendê o pirão na dianteira e o xodó nós tem qui iscondê, como bizerro de apartação e sê aproveitado pur úrtimo, quano a gente já ta ismuricida e prumode di tudo isso, nós arriba tudo daqui desse Coió e vai pru Cabaré de Nascimento ou pru Puteiro de Maria José, desde quano tudo é pirdição du mermo jeito.
Era um desabafo no coió. As quengas estavam em estado de greve e não compareceram ao salão, por mais que Anália mandasse ou suplicasse. Nas conversas de quarto surgiu o diagnóstico do problema e a solução para o impasse:
- Tudo isso acomeçou adispois qui esse zabumbeiro Dodó veio tocá aqui.
- Foi mermo, vamo acabá logo cum isso.
Quando o menino Dodó passou em frente ao quarto, ouviu:
- Psiu, meu Dodozinho venha cá – chamou Marinalva.
Quando o menino Dodó saiu do quarto e passou pelo outro, foi puxado:
- Venha cá, meu neguinho – falou Judite de Casaes.
Saindo do quarto, o menino Dodó foi atraído para o outro quarto:
- Dodozinho, meu filho, vambora fazê um xodó – disse Maria Relógio.
Dodó sem entender nada foi pensando “ Oxe ! essas mulé ta tudo doida pur mim”. Dodó passando e repassando o mulherio do coió ficava cada dia mais convencido. Nesse sai e entra em quartos; abrindo e fechando portas; escorregando e lambuzando com o mulherio do Coió, o menino Dodó levou quinze dias; pela manhã, tarde, noite e de madrugada para variar e não perder o costume. Quando o menino Dodó ficou banzo, o jeito foi colocá-lo num lençol, suspenso por um caibro forte de madeira e levá-lo até o médico Dr. Pinho.
No trajeto, os curiosos aproximavam-se e aumentavam o cortejo:
- Quem é esse ?
- É o menino Dodó.
- O que aconteceu com ele ?
- Tomou uma surra de xibio.
- Oh ! Cuma é qui faz isso com o minino Dodó ! A puliça já prendeu xibio ?
No diagnóstico, o médico foi categórico:
- O problema dele é fraqueza, vai ter que tomar muita vitamina e ficar de repouso por um bom tempo e não pode fazer nenhum esforço.
Foi nesse período que surgiu o refrão: “Ai que saudade do Coió de Anália”. Com o menino Dodó em convalescença, o Coió de Anália voltou a ser o que era.
O clima estava tenso com aqueles desabafos emocionados e acalorados, quando Tatuzinha, baixinha, mas de uma valentia impressionante, desde quando, não havia estaca que ela não derrubasse e, ganhou fama por isso e, também, pelo jeito arrastado de falar:
- Lá vem Anália cum esse papo de madama. Se madama come, a gente também pricisa cumê; se a gente dá a xereca, madama tamém dá. A gente ta nessa vida é pur pricisão e não pur discaramento. Bota uma madama nessa vida qui tão dizeno qui é faci, prá gente vê cum quanto pau se faz uma cangaia. O qui eu tenho prá dizê e num peço assegredo, quano os zome injoa de cumê as carne nova, fica só us osso prá sê cumida dus cachorro e, ainda mais, tem qui guentá disaforo de quem num pricisa nem lavá o xibiu prá vivê.
Anália, a dona do cabaré, não conseguiu manter-se calada como até então tinha feito, foi dizendo:
- Lugar de choro é no Monte Alto, aqui é lugá de butá a xoxota pra trabaiá e pagá u qui deve.
Neguinha, uma quenga desaforada e barraqueira, saltou na frente de Anália e disse:
- Vida de rameira é mermo qui tirá água de cesto no tanque de Santana. É uma vida de merda. Num é prumode di qui fica butano os zome nas tampa qui num é vida de merda. Num si tem mais nem o querê di sê filiz. É pura pricisão e quano si pricisa a carne fica remosa e podre. Apudrece pur dentro e pur fora. Quano a carne é nova os zome vira urubu e arranca até as tripa, quano vira pelanca os zome vira carcará de arribação e vai im busca de carniça nova. Qoli é a aligria qui tem uma rameira ? Tem qui guentá bafo de pinga e fedô de suó incravado nus zome incardido. Lá isso é vida de gente ? Lá isso é vida de bicho ferrado cum ferro im brasa pur dono de gado. Rameira é qui nem gado, recebe um ferro quente no lombo e vara nas costa, é bicho e propriedade de dono.
Maria Relógio, que entrou naquela vida desde criança, aos sete anos, também não perdeu a oportunidade de dar o seu depoimento:
- Quano acontece sê rapariga de coroné, inda tem farrapo de chita prá si cubrí, quano não, só tem sete parmo de terra prus zotro por pur riba. Isso lá é vida de gente ? Preá tem vida mió qui a de quenga, pelo menos num pricisa dá canseira na xoxota e a gente não, a gente perde sustança e vai dexano de sê gente prá virá bicho sem alma, bicho duro, bicho das loca dus mato.
Naquele fustigamento de revirar pelo avesso, Chinha não agüentou e falou:
- Rampeira num dêxa de sê mulé. O pió e qui a gente vai perdeno istima e vai ficano sem gostá. O pió é quano a gente nem dá o xibio pur prazê e dá pur nicissidade e pur dinhêro, e quano a gente dá pur nicissidade perde a honra e na iprocrisia das pessoa, quem lava a honra é dinhêro, i si a gente num tem um prá lavá o ôtro, a gente fica sem us dois. Aí, tem gente qui cospe quano rameira passa; basta avistá a gente qui bate a porta na cara. Im Igreja a gente num ientra, cuma se a gente fosse filha de satanás. Tem gente qui vira a cara quano vê a gente, pariceno qui a gente tem duença pegajosa. Tudo o qui tem de ruim nu mundo é filho de puta, como se puta num parisse minino, dotô, deputado, prisidente e ôtros bicho mais.
Tatuzinha, esbaforida, voltou a falar:
- Dêxa eu falá uma coisa qui ta aqui istatelada na minha garganta: até a liberdade de dá o xibiu a quem nós qué, nós num tem esse direito, prumode de tê qui defendê o pirão na dianteira e o xodó nós tem qui iscondê, como bizerro de apartação e sê aproveitado pur úrtimo, quano a gente já ta ismuricida e prumode di tudo isso, nós arriba tudo daqui desse Coió e vai pru Cabaré de Nascimento ou pru Puteiro de Maria José, desde quano tudo é pirdição du mermo jeito.
Era um desabafo no coió. As quengas estavam em estado de greve e não compareceram ao salão, por mais que Anália mandasse ou suplicasse. Nas conversas de quarto surgiu o diagnóstico do problema e a solução para o impasse:
- Tudo isso acomeçou adispois qui esse zabumbeiro Dodó veio tocá aqui.
- Foi mermo, vamo acabá logo cum isso.
Quando o menino Dodó passou em frente ao quarto, ouviu:
- Psiu, meu Dodozinho venha cá – chamou Marinalva.
Quando o menino Dodó saiu do quarto e passou pelo outro, foi puxado:
- Venha cá, meu neguinho – falou Judite de Casaes.
Saindo do quarto, o menino Dodó foi atraído para o outro quarto:
- Dodozinho, meu filho, vambora fazê um xodó – disse Maria Relógio.
Dodó sem entender nada foi pensando “ Oxe ! essas mulé ta tudo doida pur mim”. Dodó passando e repassando o mulherio do coió ficava cada dia mais convencido. Nesse sai e entra em quartos; abrindo e fechando portas; escorregando e lambuzando com o mulherio do Coió, o menino Dodó levou quinze dias; pela manhã, tarde, noite e de madrugada para variar e não perder o costume. Quando o menino Dodó ficou banzo, o jeito foi colocá-lo num lençol, suspenso por um caibro forte de madeira e levá-lo até o médico Dr. Pinho.
No trajeto, os curiosos aproximavam-se e aumentavam o cortejo:
- Quem é esse ?
- É o menino Dodó.
- O que aconteceu com ele ?
- Tomou uma surra de xibio.
- Oh ! Cuma é qui faz isso com o minino Dodó ! A puliça já prendeu xibio ?
No diagnóstico, o médico foi categórico:
- O problema dele é fraqueza, vai ter que tomar muita vitamina e ficar de repouso por um bom tempo e não pode fazer nenhum esforço.
Foi nesse período que surgiu o refrão: “Ai que saudade do Coió de Anália”. Com o menino Dodó em convalescença, o Coió de Anália voltou a ser o que era.
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