domingo, 9 de setembro de 2007


FALTOU A FOTO DA VERGONHA DE IPIRÁ.

A CRÔNICA.
Quem chegar ao Banco do Brasil, agência Ipirá, para enfrentar aquela terrível fila do caixa, terá a oportunidade de observar uma Mostra de Fotos direcionada ao público. Depois de uma hora na fila, olhando aquelas fotos, observei que um senhor, que estava ao meu lado, começou a contorcer-se e a ficar verde. Segurei-o pelo braço, ao tempo que lhe indagava:
- O senhor está bem ?
- Tô sentindo um embrulhamento na boca do estômago, só pode ser as oitenta arrobas dessa carne aí, que eu comi – respondeu o senhor.
Fiquei assombrado diante daquela situação e perguntei-lhe em cima da bucha, para não perder tempo:
- Como ? o senhor comeu oitenta arrobas desta carne ? aqui em Ipirá até hoje, só teve Zé Bigorna que comeu dois quilos de carne de uma só sentada e o senhor tá dizendo que comeu oitenta arrobas. Como assim ?.
- Não foi de uma sentada não. Foi de bife em bife, de lombo em lombo, e isso foi desde criancinha – explicou o senhor.
Eu estava perplexo e comecei a fazer minhas deduções: "não é que essa minha barriga grande, que eu pensava que era barriga-d’água, só pode ser resultado dessa carne aí, afinal de contas, eu já comi mais de noventa arrobas desse treco". Estava nessa meditação profunda, quando um sujeito magro que estava ao meu lado deu uma tremedeira, que parecia que o bicho estava custipiado, pequei-o pelo braço e já fui perguntando:
- Foi essa carne ?
- Não. Eu não como carne, sou vegetariano.
Pensei rápido e disse: - Então deve ser aquelas verduras e legumes ensopados de agrotóxicos que são vendidos no Centro de Abastecimento.
Neste instante, aproximou-se um rapaz que estava branco feito folha de papel e ao vê-lo, questionei-lhe:
- Você está branco assim é por causa desta carne ?
- Não. Eu não toco em carne, só tomo vitamina de banana pela manhã, no almoço e na janta – disse o branquelo.
Não disse mais nada, mas pensei no pior: "leite saído do peito da vaca com banana no carbureto vendida na feira de Ipirá, depois da branquidão vem a ferrugem". Nesse momento, veio um sujeito alto, com pinta de magarefe, saído de não sei onde, e falou:
- Morreu mais gente de vaca-louca na Inglaterra do que aqui.
- Quantos morreram lá na Inglaterra ? – perguntei-lhe.
- Não sei – respondeu e perguntou-me – e aqui, quantos tiveram óbitos ?
- Não sei, mas sei que sem dados corretos não esquento mais a panela – respondi.
Saímos os cinco da agência do banco, um amparado no outro e todos com um destino duvidoso.
Deixando de lado a brincadeira literária, afirmo que o assunto é seríssimo, porque tem que haver ótima qualidade nos gêneros alimentícios consumidos pela população. Ninguém duvida disso e toda população é favorável a que isso aconteça.

A VIDA.
A exposição de fotos na agência de Ipirá, do Banco do Brasil, é sintomática. Demonstra de forma transparente e cabal que Ipirá é um município atrasado; indubitavelmente atrasado; vergonhosamente atrasado; lamentavelmente atrasado. Em pleno século XXI, estamos amargurando as práticas de abate de animais do século XIX, enquanto o desenvolvimento, a modernidade e o progresso estão ali adiante, a 100 km de distância, ali em Feira de Santana, com seus moderníssimos frigoríficos e aparelhadíssimos matadouros de alta tecnologia (se assim não for, que assim se entenda). Que triste sina a de Ipirá. Aqui, do lado de cá, é a falta e a carência; lá, do lado de lá, é o desenvolvimento.

Se estancarmos e circunscrevermos as nossas posições e idéias na observação imediata e intuitiva destas fotos como única e pura verdade, cairemos na fácil constatação e demarcação da autoria do crime: o marchante clandestino.

Será que chegamos ao fim de linha ? será que encerrou a discussão com o argumento irrefutável do estabelecimento do culpado através das fotos, neste preciso momento ? está correto colocarmos nosso foco neste ponto e encerrá-lo neste instante ? pronto, acabou, a solução foi encontrada e está aí, problema resolvido, fim de papo, já fui e que se dane o mundo.

É fácil perceber e visualizar o que acontecerá ao setor trabalhista dos marchantes: ou aceita abater o boi em Feira e o carneiro em Pintadas ou sai do ramo. Não deixa de ser uma solução implacável e rigorosa com esta parcela de prováveis ou supostos culpados. Será que são os únicos e verdadeiros culpados ?

Será que não convém que verifiquemos o que está além das fotos ? e se formos além das fotos, o que veremos ? sem dúvida, ultrapassando os limites das fotos teremos um problema social agudo para um setor trabalhista, que não dispõe de outros recursos para a garantia de sobrevivência e sustento das suas famílias, e neste caso, estarão sendo empurrados para a exclusão social milhares de pessoas, tornando o campo social em Ipirá mais miserável do que é. Isso também é muito preocupante, embora diga-se que o sacrifício de poucos serve para o benefício de muitos.

Está mais do que evidente, que esta situação vai ficando mais complexa. Será que essa situação não atira estilhaços para todas as bandas ? sim, porque ao atingir os marchantes, atinge-se também o município de Ipirá, queiram ou não, e tudo isso vai respingar diretamente sobre o coração de Ipirá, que é a pecuária, o seu principal setor produtivo e daí, canalizado para toda a economia. Desde quando, todas as medidas até agora tomadas foram superficiais, simplesmente não fizeram mais do que "descobrirem os pés para cobrir a cabeça de Ipirá". Está bastante claro e todo mundo entende que Ipirá não pode e não deve ser duramente condenada ao atraso. Ipirá não pode ficar nessa situação de carência e necessidade.

A REALIDADE.
Onde está a pendência ? numa solução que atenda a todas as demandas, tanto a da qualidade, quanto a do abate local.

A foto da vergonha é esta que você vê aqui no blog. Eu não sei o que é, dizem por aqui, que é um matadouro. RAIO X DA OBRA.

LOCALIZAÇÃO: fica na zona oeste, a 4 km de Ipirá, junto à estrada do Feijão. PROJETO: do governo do Estado da Bahia. CUSTO DA OBRA: estimativa (minha) de um milhão e meio de reais. CUSTO DA REFORMA: estimativa (deles) de dois milhões de reais. OBRA CONCLUÍDA: há mais de doze anos. INAUGURAÇÃO: num período de eleição. FUNCIONALIDADE: não tem. Até hoje, nunca foi abatida uma rês aqui. UTILIDADE: é uma obra inútil. CRIME: aí tem prevaricação e má aplicação do dinheiro do povo ( ou não é crime ?). CONCLUSÃO: aí está uma prova incontestável de desperdício do dinheiro público, que escorre para a vala comum do esgoto da ineficiência ou para os bolsos de alguns empreiteiros. Existe uma clara distorção do custo/benefício, e isso é de uma maldade que não tem tamanho, desde quando o governo mendiga ajuda para o FOME ZERO e deixa escorrer rios de dinheiro pelo gargalo da incompetência, ineficiência ou da descaração.
Só tenho a dizer que Ipirá precisa de um matadouro para bovinos e ovinos, caprinos e suínos. Esta é a verdadeira solução, para todas as pendências.

Um comentário:

LAURA disse...

Será que o foco da fiscalização não está errado?