domingo, 17 de janeiro de 2010

ABCDL




Eu estava com a intenção de saltar 2010 e chegar o mais rápido possível a 2012, e com essa preocupação, ouvia o relato de uma professora, que me contava um caso sobre um menino que ao dizer o alfabeto, não conseguia entender que o E vinha depois do D e só dizia L. Então ela explicava com sinceridade:
- Depois do D é um E, e não L. Preste bem atenção, é assim: A, B, C, D, E. Entendeu ? Repita.
- A, B, C, D, L. – disse o menino.
- Seu burro! Não é L, é E.
Eu observava atentamente aquele relato e num estalo repentino busquei um exemplo para amenizar o fato e disse-lhe:
- Ele é igual à população de Ipirá.
- Como assim ? – perguntou a professora com um ar de perplexidade.

Iniciei uma explicação meio vaga na tentativa de justificar o que em minha mente ainda era uma idéia vaga:
- Em Ipirá, quando falta muito tempo para as eleições de prefeito, o alfabeto todo, de A a Z, é candidato à prefeitura, mas quando chega na reta final, na hora de oficializar as candidaturas, só ficam A, B, C, D, L e mais ninguém tem chance.

A professora nada entendeu e eu fiquei na obrigação de detalhar mais ainda aquele pensamento que, naquele instante, eu não sabia nem por onde começar, mas tinha que ir em frente, não podia retroagir, fui dizendo:
- Observe bem professora! No frigir dos ovos, as candidaturas à Prefeitura de Ipirá ficarão estabelecidas nesse minúsculo círculo A, B, C, D, L. Vou esclarecer melhor: A de Antônio, B de Brandão (Maurício), C de Carlos (Luiz), D de Dudy, e L de Lady.

A professora arregalou os olhos e eu fiquei entusiasmado com minha suposta tese e continuei:
- Tem duas letras, um A e um L que são cartas fora do baralho: L de Lady e A de Ademildo. L de Lady porque D de Diomário não tem pedrigee político para impor seu nome e A de Ademildo porque é debutante na macacada e uma vice ta de bom tamanho para o PT, aliás, seria uma boa disputa para a vaga de vice.

Neste ponto, sentindo que havia necessidade de uma explicação mais detalhada, prossegui com meu ponto de vista:
- O PT de Ipirá quando fazia aliança no campo da esquerda, apresentava-se como força majoritária e sempre defendia como princípio a tese da escolha do candidato a prefeito ser feita por votação, mas quase sempre não era necessário. Agora, que o PT de Ipirá é uma tendência minoritária da macacada, essa tese de escolha democrática não tem nenhuma serventia. Vai ter que se afinar com o velho “método” de escolha das candidaturas à prefeito das oligarquias ipiraenses: “acordos de bastidores”. Porque na escolha por votação, o PT de Ipirá é infinitamente pequeno e cairá no pau.

A professora estava atenta e curiosa, espremia-se na cadeira, mas escutava o meu ponto de vista, o que me deixava mais a vontade para prosseguir:
- O PT de Ipirá só tem A de Ademildo em condições de ser um candidato a prefeito da macacada lá na frente, mas para isso acontecer, vai ter que comer muita farinha e fazer buraco na sola do sapato. Primeiro, vai ter que fazer muita ginástica nos bastidores da macacada para ganhar confiança. Essa é uma trajetória na qual o pretendente tem que vender a alma ao diabo e render-se aos interesses escusos até o gogó.

A professora não batia os olhos. Percebi que estava agradando e ia adiante:
- O PT de Ipirá para ter candidato a prefeito de Ipirá pela macacada vai ter que rasgar a ética e jogar o jogo dos caras, por isso, os princípios terão que ir para a lata de lixo. O poder municipal de jacu e macaco fundamenta-se na negociata. Vai ter que fazer acertos, nem que seja da boca pra fora, com oligarcas, vereadores, empreiteiros, comerciantes, profissionais liberais, picaretas, aproveitadores, oportunistas, trampolineiros, para ganhar confiança do grupo macaco, e este, vestir a camisa e partir pra cima.

A professora fez cara de pouco entendimento, e eu dizia:
- Nessa trajetória de candidatura à Prefeitura de Ipirá, o apoio externo do governador Jaques Wagner (se eleito), nos bastidores, terá força, mas não será o suficiente para impor um nome à macacada. Os interesses são muitos e diversificados. É internamente que se puxa o freio de mão e se arrumam as diferenças. Nos bastidores, o pretendente do PT terá que buscar, bajular, implorar e humilhar-se ao apoio incondicional do prefeito Diomário, que, decididamente, não terá a mesma força, habilidade e esperteza que teve nos dois pleitos passados. Terá que ter o consentimento do cacique da macacada, Antônio Colonnezi, assim sendo, terá que ser uma conversa “mui amiga”, o que para quem era até pouco tempo um áspero adversário, terá que haver muitos dedos apertando o nariz de ambos os lados. Muito pouco adiantará as pressões que trazem à evidência o freio de arrumação, do tipo: “se eu não for escolhido, vou apoiar o jacu” ou até mesmo “eu garantí a vitória da macacada, agora é minha vez” ou, quem sabe, “o PT é quem tem competência para administrar Ipirá”, porque nesta altura do campeonato, em Ipirá, nada disso importa; a maneira de administrar, transparência, ética e boas intenções fazem parte de um surrado amontoado que jogaram na lata de lixo.

A professora olhou-me de forma incisiva, sua face estava inflexível, e disse-me:
- Seu jumento ! Antes de 2012, teremos 2010 e 2011, além do mais, o candidato a prefeito de Ipirá para 2012 será Zé.

Um comentário:

Lilian Simões disse...

KKKKKKKK Agildo,o final foi apoteótico!!Encontrei o "Zé" e ele já está em campanha,pediu inclusive meu voto,magina!!!Meu voto é de Ventania!!!
Abração,amigo.