quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

PETROBRÁS, UM CASO DE SOFRÊNCIA.

Tempos atrás.
Domingo - RPBA-DISUL-Candeias / São Francisco do Conde.
Vai saindo da área, um caminhão de uma empresa terceirizada; na gurita, o vigilante deu o sinal para o motorista parar: “Tem alguma coisa aí em cima da carroceria?”
- Um tonel vazio – respondeu o motorista.
- Um momento! – disse o vigilante que subiu na carroceria para examinar o tonel.
- Encosta o carro – gritou o vigilante enquanto descia.

 
Chegaram dois Volks do setor de vigilância e o caminhão foi escoltado para a delegacia de São Francisco do Conde. O motorista e o capataz (chefe de setor / turma) foram trancafiados numa cela depois de lavrado o Ato de Infração. O capataz Zé C. de Santo Amaro ficou preso uns dois meses, além de ser demitido por justa causa e proibido de entrar na área da empresa. Era um tonel de nafta, um produto que na oficina era utilizado para limpeza de peças sujas de óleo. Esse caso foi para a Justiça e eu não sei exatamente qual foi o desfecho final.

 
Naquele tempo, nem de longe se conhecia quem dirigia aquela empresa, a maior e mais importante do Brasil; na proximidade, o contato maior da peãozada era com a casta de engenheiros, mesmo assim, esporadicamente e mantendo uma distância razoável, de forma que não manchasse o status e a bendita hierarquia daquele digníssimo setor dirigente. Era tudo separado. Uns lá, outros cá.

 
Essa era a fronteira invisível estabelecida para que a nódoa do óleo não espezinhasse aqueles almofadinhas de colarinho branco. Nem pensar, nem imaginar, que ‘aqueles lá’ estavam do outro lado. Era uma elite dirigente na empresa, mas que comungava com a base operária na inquestionável valorização da empresa, que todos carregavam com um orgulho imenso no peito, principalmente, por ser uma empresa do Estado brasileiro e da nação brasileira.

 
Aqui começa uma grande encrenca. Setores do capitalismo neo-liberal não aceitam o Estado intrometido na economia, querem entregar todas as atividades à iniciativa privada e com o petróleo não é diferente. O Brasil tinha muitas empresas estratégicas estatais. Os setores governistas privatistas e entreguistas criaram diversas estratégias para minar a força e a potencialidade dessas empresas, até no crivo do gerenciamento de encomenda com a finalidade de boicotar para não dá certo. Em seguida, a campanha de difamação, do perjúrio, da quebra de credibilidade e a potencialização da incompetência e da ineficiência formaram o tapete que descambaram nas privatizações. Um dos maiores escândalos desse país. A Petrobrás escapou. Naquele tempo, escapou por pouco.

 
Tempos atuais.
As investidas continuaram. Eu nunca vi tanto ladrão junto na direção de uma empresa. Na alta direção, é bom que se diga. Encharcaram a Diretoria Executiva de propineiro, salafrário, bandido e mercenário. Detonaram a empresa. Teve diretor que devolveu oitenta milhões de reais que se serviu no propinoduto. A compra de Pasadena causou um prejuízo à empresa de 792 milhões de dólares. A refinaria de Abreu Lima é outra cacetada. Calcula-se um acumulado de dez bilhões de dólares desviado por essa quadrilha.

 
O assalto aos bens da empresa patrimônio dos brasileiros ocorre no preço pago por Pasadena, no superfaturamento, nas negociatas escandalosas, na rolagem de propina. O roubo escandaloso está no desvio e na falcatrua. A cupidez e o canalhismo estão em cláusulas contratuais omitidas no relatório. As desculpas esfarrapadas e as ilações estão na boca e no cinismo dos envolvidos.

 
Gabrielli pede para ser excluído do processo, juntamente com outros dez ex-integrantes da Diretoria Executiva da estatal. Sem dúvida, por inocência. O processo determinou o bloqueio de bens dos executivos responsáveis pela compra da refinaria de Pasadena, nos EUA. Ele deve achar que não tem nenhuma responsabilidade.

 
Gabrielli defende a compra de Pasadena como algo normal e natural das transações comerciais, sempre há propensão a risco, dizendo que na época foi um bom negócio e que os lucros já cobriram os gastos. Um pedido para passar a esponja. Lembra-me aquela história do sujeito que rouba o leite de vaca, mas no dia seguinte o peito está cheio, então, não aconteceu nada.

 
Gabrielli diz que em momento algum foi demonstrado dolo ou culpa da direção da Petrobrás. Pense num sujeito bem intencionado! É esse aí. Tudo indica que a culpa é do rabudo Satanás! Tem um porém, eu estou achando que ele não quer é sofrer sozinho, aí ele solta a língua e diz: “Caso o seu pedido não seja aceito, solicita que o Conselho de Administração, que autorizou o negócio em 2006, seja responsabilizado pelo prejuízo da compra e tenha o mesmo tratamento dos ex-diretores: todos precisam ser ouvidos no processo e ter o patrimônio congelado.” Lembro-me daquela música: O Olodum pirou de vez. Botou todo mundo na boca da bigorna.

 
Sede da Petrobrás, Rio de Janeiro. A Limousine preta e reluzente levando o presidente da empresa vai saindo, o vigilante indica para o motorista parar e solicita que a mala do carro seja aberta para averiguação, o motorista retrucou dizendo que estava vazia, o motorista foi conferir e, logo após, ordenou que a Limousine ficasse estacionada. O vigilante pirou de vez, ficou louco. O presidente pegou um revolver e deu um tiro na própria cabeça. Teve seu momento de fraqueza, mas tinha vergonha na cara. Era um grande e honesto cidadão! Era.

Nenhum comentário: