Tempos atrás.
Domingo - RPBA-DISUL-Candeias /
São Francisco do Conde.
Vai saindo da área, um caminhão
de uma empresa terceirizada; na gurita, o vigilante deu o sinal para o
motorista parar: “Tem alguma coisa aí em cima da carroceria?”
- Um tonel vazio – respondeu o
motorista.
- Um momento! – disse o vigilante
que subiu na carroceria para examinar o tonel.
- Encosta o carro – gritou o
vigilante enquanto descia.
Chegaram dois Volks do setor de
vigilância e o caminhão foi escoltado para a delegacia de São Francisco do
Conde. O motorista e o capataz (chefe de setor / turma) foram trancafiados numa
cela depois de lavrado o Ato de Infração. O capataz Zé C. de Santo Amaro ficou
preso uns dois meses, além de ser demitido por justa causa e proibido de entrar
na área da empresa. Era um tonel de nafta, um produto que na oficina era
utilizado para limpeza de peças sujas de óleo. Esse caso foi para a Justiça e
eu não sei exatamente qual foi o desfecho final.
Naquele tempo, nem de longe se
conhecia quem dirigia aquela empresa, a maior e mais importante do Brasil; na
proximidade, o contato maior da peãozada era com a casta de engenheiros, mesmo
assim, esporadicamente e mantendo uma distância razoável, de forma que não
manchasse o status e a bendita hierarquia daquele digníssimo setor dirigente.
Era tudo separado. Uns lá, outros cá.
Essa era a fronteira invisível
estabelecida para que a nódoa do óleo não espezinhasse aqueles almofadinhas de
colarinho branco. Nem pensar, nem imaginar, que ‘aqueles lá’ estavam do outro
lado. Era uma elite dirigente na empresa, mas que comungava com a base operária
na inquestionável valorização da empresa, que todos carregavam com um orgulho
imenso no peito, principalmente, por ser uma empresa do Estado brasileiro e da
nação brasileira.
Aqui começa uma grande encrenca.
Setores do capitalismo neo-liberal não aceitam o Estado intrometido na
economia, querem entregar todas as atividades à iniciativa privada e com o
petróleo não é diferente. O Brasil tinha muitas empresas estratégicas estatais.
Os setores governistas privatistas e entreguistas criaram diversas estratégias
para minar a força e a potencialidade dessas empresas, até no crivo do
gerenciamento de encomenda com a finalidade de boicotar para não dá certo. Em
seguida, a campanha de difamação, do perjúrio, da quebra de credibilidade e a
potencialização da incompetência e da ineficiência formaram o tapete que
descambaram nas privatizações. Um dos maiores escândalos desse país. A
Petrobrás escapou. Naquele tempo, escapou por pouco.
Tempos atuais.
As investidas continuaram. Eu
nunca vi tanto ladrão junto na direção de uma empresa. Na alta direção, é bom
que se diga. Encharcaram a Diretoria Executiva de propineiro, salafrário,
bandido e mercenário. Detonaram a empresa. Teve diretor que devolveu oitenta
milhões de reais que se serviu no propinoduto. A compra de Pasadena causou um
prejuízo à empresa de 792 milhões de dólares. A refinaria de Abreu Lima é outra
cacetada. Calcula-se um acumulado de dez bilhões de dólares desviado por essa
quadrilha.
O assalto aos bens da empresa
patrimônio dos brasileiros ocorre no preço pago por Pasadena, no
superfaturamento, nas negociatas escandalosas, na rolagem de propina. O roubo
escandaloso está no desvio e na falcatrua. A cupidez e o canalhismo estão em
cláusulas contratuais omitidas no relatório. As desculpas esfarrapadas e as
ilações estão na boca e no cinismo dos envolvidos.
Gabrielli pede para ser excluído
do processo, juntamente com outros dez ex-integrantes da Diretoria Executiva da
estatal. Sem dúvida, por inocência. O processo determinou o bloqueio de bens
dos executivos responsáveis pela compra da refinaria de Pasadena, nos EUA. Ele
deve achar que não tem nenhuma responsabilidade.
Gabrielli defende a compra de
Pasadena como algo normal e natural das transações comerciais, sempre há
propensão a risco, dizendo que na época foi um bom negócio e que os lucros já
cobriram os gastos. Um pedido para passar a esponja. Lembra-me aquela história
do sujeito que rouba o leite de vaca, mas no dia seguinte o peito está cheio,
então, não aconteceu nada.
Gabrielli diz que em momento
algum foi demonstrado dolo ou culpa da direção da Petrobrás. Pense num sujeito
bem intencionado! É esse aí. Tudo indica que a culpa é do rabudo Satanás! Tem
um porém, eu estou achando que ele não quer é sofrer sozinho, aí ele solta a língua
e diz: “Caso o seu pedido não seja aceito, solicita que o Conselho de
Administração, que autorizou o negócio em 2006, seja responsabilizado pelo
prejuízo da compra e tenha o mesmo tratamento dos ex-diretores: todos precisam
ser ouvidos no processo e ter o patrimônio congelado.” Lembro-me daquela
música: O Olodum pirou de vez. Botou todo mundo na boca da bigorna.
Sede da Petrobrás, Rio de
Janeiro. A Limousine preta e reluzente levando o presidente da empresa vai
saindo, o vigilante indica para o motorista parar e solicita que a mala do
carro seja aberta para averiguação, o motorista retrucou dizendo que estava
vazia, o motorista foi conferir e, logo após, ordenou que a Limousine ficasse
estacionada. O vigilante pirou de vez, ficou louco. O presidente pegou um
revolver e deu um tiro na própria cabeça. Teve seu momento de fraqueza, mas tinha
vergonha na cara. Era um grande e honesto cidadão! Era.
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