domingo, 25 de outubro de 2015

GRANDES EVENTOS, PEQUENAS SOLUÇÕES (3).


‘Ói nóis na área Marcelão, se derrubá é penalte!’ Vamos começar com um ponto de vista que chega a ser notório e consenso: a festa do interior é o São João. É o acontecimento maior e quando acontece uma arribação de gente da capital para o interior.

Os festejos juninos fazem com que haja uma migração massiva para o interior e as cidades interioranas que fizerem uma programação atrativa são invadidas, mas não vou focar no São João nesta postagem, o farei em outros artigos, em breve.

A pauta desta postagem é a abordagem de uma festa popular, o carnaval, e um festejo genérico, a micareta. No século passado, que não se distancia duas décadas ainda; duas festas populares, uma profana e outra misturada com a religiosidade, faziam a animação, a alegria e a festividade da população de Ipirá: o São João e o carnaval, ambos realizado no formato tradicional.

O carnaval em Ipirá era simples, mas participativo e era um bom carnaval na região. Realizado com batucadas, cordões, bandinhas de músicos, pequenos blocos de mascarados que saiam de casa em casa para tomar mé, as cantigas da moda e da dança eram as marchinhas, sendo que o ápice era o grande baile à noite. Tudo isso realizado a custo acessível a qualquer pessoa e ao poder público. O clima era de carnaval e a tônica era a alegria e a confraternização entre as pessoas. Era um festejo popular feito pelas pessoas por livre e espontânea vontade, com a participação das famílias, onde prevalecia a solidariedade, a interação, a espontaneidade e o congraçamento humano. Virou coisa do passado.

Quem jogou a pá de terra foi a jacuzada. Acabou o carnaval e veio a micareta. Venhamos e convenhamos, é necessário que se analise os acontecimentos. Neste período, era a fase inicial da incrementação do carnaval de Salvador em um enquadramento capitalista para que o espaço urbano fosse privatizado pela indústria de entretenimento e os investidores auferissem lucros estratosféricos. Assim foi feito.
 
O tripé (mídia; empresários de trios, blocos, camarotes e cervejaria; com o apoio do poder público) montou a estrutura de uma festa gigantesca, que aglomera mais de dois milhões de pessoas, num espaço que vai do Pelourinho à Ondina, e que vomita lucro em todo seu percurso e esta grande massificação humana perdeu a ingenuidade e a alegria natural, transformando-se numa aventura que pode ter o sabor de doce veneno para a alegria ou tristeza. Esse tsunami carnavalesco nesta fase de implantação e consolidação varreu e acabou todo o carnaval do interior.

Coube a jacuzada jogar a pá de terra no carnaval de Ipirá. O trio elétrico da capital era a bola da vez no espaço público. Fizeram a micareta, um carnaval fora de época. Morreu na terceira tentativa. Ipirá ficou sem micareta e sem carnaval. Botar trio na rua não é e nunca foi micareta. Micareta é clima.

Outro fator saliente nesta produção articulada em busca do lucro foi a transformação de cantores de trio em estrelas com um custo superfaturado, o que inviabiliza eventos grandiosos com superstar do axé para que o poder público banque sozinho essa dinheirama com um orçamento municipal apertado e comprometido com outras questões sociais necessárias e prioritárias.

As grandes micaretas são bancadas por foliões que pagam o bloco, que contrata a estrela a peso de ouro. Alagoinhas que tem uma micareta tradicional não teve condições de realizá-la este ano, devido ao custo elevado. Feira de Santana cambaleia nesta questão. Carnaval é feriado nacional, micareta não, isso faz com que se reduza drasticamente o turismo. E o poder público de Feira não tem condições e por que bancar sozinho um grande evento? Isso já demonstra muita coisa.

Na minha opinião, Ipirá tem mais campo para um carnaval do que para uma micareta, desde que, seja bem planejado, bem organizado e com uma ótima divulgação. O grandioso e gigantesco carnaval de Salvador não está conseguindo atropelar o carnaval de mascarados de Maragogipe que, com três meses antes, não deixa uma diária hoteleira disponível. São os espaços e oportunidades se oferecendo.

Marcelo Brandão, uma coisa é certa! Pelo menos nós dois temos a coragem de colocar nossas opiniões e propostas a respeito de Ipirá. Seria ótimo que outras pessoas assim o fizessem. De forma aberta, democraticamente, para o engrandecimento de Ipirá. E, também, aproveito a oportunidade para colocar esse blog como um espaço de exercício democrático à sua valiosa e importante participação, bastando para tal, um clique em comentários e a digitação de suas brilhantes opiniões. Uma Ipirá desenvolvida será fruto do debate livre, respeitoso e democrático e não da mudez conveniente.

4 comentários:

Ney Blz@ disse...

Jacu=Macaco e Macaco é igual a Jacu, modelos de gestões semelhantes; já ocupam a administração totalmente engessados com conveniências previamente comprometidas. Interesses particulares(individuais) sobrepõem os interesses públicos(coletivos) e assim seguem essa novela.#minhaopinião

Fred disse...

Mais uma reflexão oportuna ainda que guiada pelo saudosismo de uma feliz lembrança de tempos que não voltarão. Infelizmente hoje não entendo a " micaretização" dos carnavais do interior como fato cultural e sim como uma oportunidade de se produzir documentos contábeis sob a condição imaterial das atrações levadas para esses eventos que torna mais difícil se contestar os valores efetivamente investidos. Picaretagem conhecida e praticada pelos quatro cantos do país para justificar, quem sabe, gastos de campanha??

Unknown disse...

Prezado Agildo,
Muito preciosa sua análise. Sua descrição do antigo carnaval de Ipirá é perfeita. Não consigo dissociar minha puberdade juventude do Carnaval de Ipirá.
Parabéns.
Normando Leão Sampaio

Rogerão da tora disse...

Assino em baixo no comentário postado por NORMANDO LEÃO!!