Estilo: ficção
Modelo: mexicano
Natureza: novelinha
Fase: Não sei se vale a pena ver de novo
Capítulo: 20 (mês de janeiro 2016)(atraso de
8 meses) (um por mês)
Uma metade está doida para entrar; a outra
metade está doida para não sair, aí não dá outra, fica tudo alucinado e haja
miolo mole para muita conversa sem jeito. Assim a frigideira fica fervendo e
vamos que vamos.
Não é fácil escrever novelinha nestas
circunstâncias. É artista em demasia e muita perturbação para azucrinar a minha
escrita. Mas, é certo que a notícia chegou com jeito de recado: “Tem um doido
no matadouro e já disse que só sai de lá quando o prefeito por lá aparecer.”
O prefeito que não brinca em serviço, deu um
pinote, pegou o capacete e falou para todos ouvirem: “Vou lá agora!”.
O prefeito escarfunchou o matadouro e nada de
doido: “Isso só pode ser conversa para boicotar minha administração, aqui não
tem nenhum doido e eu vou embora”. Mal terminou o pensamento, o prefeito sentiu
um golpe por trás, quase caiu, esbarrou no portão do matadouro, agüentou firme,
ao tempo que ouvia uma voz: “Não vai não! V. Exa. vai é conversar comigo, prá
gente tirar uns conformes”.
O prefeito ficou assustado com aquele
vozeirão, ao tempo que um calafrio percorria-lhe o corpo de baixo para cima,
mas ainda deu tempo para perguntar:
- Você é o doido?
- Eu sou o Matadouro de Ipirá! Eu não sou
doido, eu estou doido; vocês deixam qualquer um doido e eu não estou entendendo
mais nada. Você é o prefeito que número em um mandato? Eu tenho que contar de
dedo: ex-prefeita Ana, ex-prefeito Déo, ex-prefeito Bal, agora, prefeito J
(prefeito Jotinha) com uma letra só, daqui a pouco entra o prefeito Beto, que
seria um sinal de que estaríamos progredindo, pulando de três para quatro
letras. Não se incomode comigo não, deixa eu fazer uma pergunta: como foi que
V. Exa. prefeito J sentou nessa cadeira de prefeito?
- Eu cheguei chegando e sentei sentando. Eu
sou o prefeito J da cidade de Ipirá e o que é que o senhor está querendo, seu Doido?
- Veja lá como é que V. Exa. fala comigo! Eu
estou meio atravessado com V. Exa. prefeito J, é pru mode de v. Exa.
dizê em seus discursos que vai botá prá fora quem não trabalha.
- Lá isso é verdade, seu Matadouro! Vou demitir
todo mundo que não trabalha – disse o prefeito Jotinha.
- Aí é que eu quero ver! Tenho 23 anos que
não sirvo para nada; nem um bengo, nem mesmo, uma preá é abatida aqui, quem
dera um boi ou um carneiro. Cuma é que V. Exa. vai mim botá prá fora? – indagou
o Matadouro cheio de razão.
- Não trabalhou eu boto prá fora, comigo não
tem tempo ruim – disse o prefeito Jotinha.
- Qolé, prefeito J! Eu não
trabalhei com prefeito de três letras, Cuma é que eu vou trabalha pra um prefeito
de uma letra só?
- Comigo não tem conversa pelo avesso, ou
trabalha ou vai embora.
- Intonce, V. Exa. prefeito J ta querendo
que eu mate boi aqui? Logo não ta vendo que isso não ta certo, isso é uma falta
do que fazer de sua parte, mim deixa em Feira de Santana que eu faço o abate
para Ipirá, aqui eu só vou ficar abanando o fêofo.
- O quê? Comigo ou você trabalha ou você vai
para Pintadas.
- Comigo é diferente, prefeito J!
Eu tenho é 23 anos nesse município e nunca dei um prego numa barra de sabão; 23
anos sem servir para nada; 23 anos sem servir nem para ser inaugurado e não é
um prefeito com uma letra só que vai fazê eu trabalhar – disse aborrecido o
Matadouro de Ipirá.
- Escute aqui, seu Matadouro! Você só serve
para atrapalha Ipirá, bota uma banca danada e não mata um carneiro, vá embora
daqui e procure uma trouxa de roupa para lavar em outras bandas, aqui no meu
terreiro não tem vez para quem não trabalha.
- Não é de hoje nem de ontem que eu não faço
nada nesta terra, não é agora que eu vou fazer coisa alguma e vocês deixam qualquer
um doido, comigo é diferente, vocês vão ter que pagar o meu tempo de serviço,
porque eu não sou trouxa de ter ficado aqui esse tempo todo, perdendo o meu
tempo e depois ser despedido desse jeito, sem levar nem o abano do meu fêofo.
Eu quero meu tempo de serviço, viu seu prefeito J!
“Agora é que é problema!” pensou o prefeito
Jotinha, o mais novo artista dessa novelinha, que tem pouco tempo pela frente,
mas usa capacete de prefeito e não dorme no ponto.
Suspense: e agora, o bicho pega? esse
matadouro vai ou não vai?
Êta novelinha complicada e chata. Tem gente que já cansou dessa novelinha. Eu
não agüento mais escrever esse troço. Será que o prefeito Jotinha vai inaugurar
esse matadouro? De onde menos se espera é que sai o pulo do gato.
O término dessa novelinha acontecerá no dia
que acontecer a inauguração desse Matadouro de Ipirá. Inaugurou! Acabou,
imediatamente.
Observação: essa novelinha é apenas uma
brincadeira literária, que envolve o administrador e o matadouro e, sendo
assim, qualquer semelhança é mera coincidência. Eles brincam com o povo e o
povo brinca com eles.
Um comentário:
Muito bom...
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