sábado, 8 de novembro de 2008

É DE ROSCA.


Estilo: ficção.
Natureza: novelinha.
Capítulo: 12. (mês de setembro 2008, com dois meses de atraso)

A empregada Natalina preparava as iguarias para o grande banquete da vitória, que será realizado na residência do prefeito Dió, para os ilustres (só os ilustres) convidados. O prefeito Dió gritou da sala onde estava descansando:
- Ô minha idolatrada empregada Natalina ! venha até aqui, porque eu preciso perguntar-lhe uma coisa.

- Pronto prefeito Dió, já tou na sua inteira adisposição para a sua indagação.

- A minha eficiente empregada Natalina já preparou – pediu para Natalina aproximar-se com mão e falou baixinho ao seu ouvido – você já preparou aquele galeto de carne de urubu que eu encaminhei o pedido à minha extraordinária cozinheira ?

A empregada Natalina pensou, "êta que a vitória deixou o prefeito Dió sem os tutano. Isso deve sê as pressão do Luís do Demo fantasiado de 15 que deixou o prefeito Dió apertado de medo", mas a empregada Natalina não queria desapontar o prefeito Dió no seu pedido de carne de urubu; pensou muito no que ia dizer, porque não queria contrariá-lo depois daquela grande vitória e sabia que ele estava eufórico com a cacetada que deu na jacuzada e no sujeito do blog. Estava na maior dúvida: se falava a verdade ou ia pelo caminho da brincadeira.

- Ui! Ui! Uiiiiiiiiiiiiiiiii! prefeito Dió – retorceu a boca – urubu ! vosmicê esqueceu de comprá na feira, mas não se avexe não, homem de Deus, que eu vou lá no matadouro e laço um pelo pescoço, porque é lá que tem um bando.

- Ui !, Ui !, Uiiiiiii ! – gritou o prefeito Dió, extrapolando alegria.

- Vosmicê não arria de comemorá a vitória prá riba da jacuzada ?

- Não Natalina eu tô é gemendo mesmo. Ui ! Ui ! Uiiii! – gemeu o prefeito Dió, retorcendo o corpo, depois completou indagando – como é que eu vou acabar com tanto urubu naquele matadouro ?

- Intonce é prumode disso que vosmicê tá nesse avexamento prá comê carne de urubu. Se vosmicê num se importá eu tenho uma boa idéia prá dá. Agora, só posso dissimbuchá se vosmicê me autorizá – disse a empregada.

- Pode dizer, diga logo.

- É só fazer de Ipirá um exportador de urubu.

- Como assim ? Quem vai querer urubu ? solte a língua e diga logo.

- Óia, seu prefeito Dió ! quem gosta de urubu é a torcida do Flamengo, aí é só mandá os bicho lá prá o Rio de Janeiro, que eles vão comprá prá criar, do mesmo modo, que a gente cria galinha aqui em Ipirá.

- Ora minha querida empregada Natalina, se era para dar uma idéia estapafúrdia dessa seria melhor você ficar calada. Logo não está vendo que o Ibama não vai permitir que isso aconteça.

- O que sai da minha cabeça vosmicê pode fazê bom uso, agora eu não tenho curpa do Ibama e do CRA ser seu calo na cabeça do dedão do pé esquerdo.

- Tá certo minha inestimável empregada Natalina.

- Eu me aderreto toda quando o prefeito Dió diz essas coisa e fico até mais acesa nos pensamentos, prá pensá as coisa boa. Por que vosmicê não ensina o povo a comer carne de urubu ?

- Só eu mesmo para aguentar um disparate desse. É proibido carne de carneiro; imagina carne de urubu. Como era que ia ser o abate desses urubus ?

- Vosmicê me apergunta as coisa, porque qué aperguntá, e eu arrespondê porque eu tenho que arrespondê. Quem proibe carne de carneiro é porque adesconhece o que é comida de pobre. Me diga seu prefeito Dió, se tem nada mió do que um fresco de carneiro, com angú de farinha e com aquele cardo bem amarelo por riba ?. Agora, quem adisconhece é que fica aprisilhando a barriga do pobre.

- E como é que vai abater os urubus ? É disso que eu quero saber, não é de carneiro não.

- É só matá como se mata galinha. Entorta o pescoço, passa a faca afiada no dito cujo, deixa o sangue escorrer, bota o corpo na panela com água fervendo, arranca as pena...

- Pára, minha empregada Natalina !. Isso aí é abate clandestino e isso é crime; e quem faz isso aí é criminoso, e você é uma criminosa, que não tá vendo que eu já estou enrolado com um matadouro e quer que me enganche com outro.

- Bom seu prefeito Dió, aí num é mais com a minha pessoa; aí é com as otoridade da cidade. Isso aí quem vai desalinhavá é vosmicê que é otoridade nessa comarca. Meu negoço é matá do jeito que minha mãe me ensinou; que é do jeito que a mãe dela, que é minha vó, ensinou a ela; e a avó dela, que é minha bisavó, ensinou a avó dela...

- Pára, empregada Natalina ! Você quer parar e fechar essa matraca, não tem quem te aguente. Eu estou com um problema imensurável, que está atormentando minha cabeça, que é o Matadouro de Ipirá, que é os urubus, e você fica querendo colocar-me numa arapuca maior ainda.

- Olha prefeito Dió ! mim veio uma matutação na cabeça, qui vosmicê como bom administrador e vencedor que é vai gostá. Por que não fazê de Ipirá um pólo turístico ?

- Como assim ? Diga logo empregada Natalina.

- Não tem esse povo tirado a besta, que sai daqui de Ipirá e vai para São Paulo e, com uma semana lá, aprende falar a língua deles; e quando volta mais tarde, os guri deles, quando vê os urubu, pergunta prus pais: " ô maêê ê! quis penosa preta é aquelas qui avoa ?" aí a mãe arresponde: "é os orobós ! não apergunta o que tu não sabe na vista de gente, porque tu já tá acivilizado". Aí, prefeito Dió, é só vosmicê colocá uma placa "Venha conhecer os urubus, antes que morra", aí o Matadouro de Ipirá vai encher de turista.

- Antes que quem morra ? Desse jeito quem vai morrer sou eu. Já não sei o que é pior: se é governar Ipirá mais quatro anos ou ter você como empregada !

- Vosmicê diz isso prefeito Dió, mas o pió é qui vosmicê não larga nenhum dos dois.

- Vamos acabar com essa conversa, que eu já tenho com que me preocupar. Vá cuidar de seus afazeres na cozinha. Vá correndo preparar o banquete para os meus convidados.

SUSPENSE: o que será que vai acontecer nesse tão comentado e aguardado banquete da vitória ? o que será que o prefeito Dió vai servir no banquete da vitória: carne clandestina de carneiro ou carne de urubu ? Será que as autoridades vão gostar ?
Leia o capítulo onze: mês de agosto 2008, com três meses de atraso.

OBSERVAÇÃO: essa novelinha é apenas uma brincadeira literária que envolve o administrador e o matadouro e, sendo assim, qualquer semelhança é mera coincidência.

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