terça-feira, 20 de janeiro de 2009

É DE ROSCA.


Estilo: ficção.
Natureza: novelinha.
Capítulo: 15. (mês de dezembro 2008, com um mês de atraso)

O banquete na residência do prefeito Dió continuava farto. Observe que vem acontecendo desde o dia da grande vitória e não adianta ficar com a gemedeira do ui ! ui ! uiiiiiiiiiii, que não vai terminar de uma hora para outra. A carne mais apreciada e extensivamente consumida era a de carneiro, naturalmente carne clandestina. Desde quando Ipirá não possui um matadouro de ovinos e caprinos, vai ter que ser assim. É a sobrevivência que mostra onde a tripa aperta. Enfim, são dezesseis anos para a simples construção de um matadouro de bovinos e, até hoje, não apareceu um prefeito de verdade para dar um basta nesta situação. O bicho é de rosca.

O governador mostrava-se pançudo, mas também, alegre e satisfeito, ao tempo que, derretia-se em suor e elogios ao trato que recebia na casa do prefeito Dió. Até aquele instante, tinha digerido uma banda de carneiro e o garfo não se aquietava e a boca dizia:
- Excelente... hum ! um primor ! prefeito Dió, a sua empregada Natal... Natalina está de parabéns

A empregada Natalina sentia um formigamento subir pela espinha e aqueles elogios transformaram-se num reconforto para o seu altruísmo de secretária da cozinha, muitas vezes, alvo de pouco reconhecimento. Dizia em um só fôlego:
- É bondade de sua excelença. Vosmicê tá nu aprovamento, prumode de qui vosmicê tá saboreano as delícias do Camisão e neste mundo, não tem nada qui se aparelhe a essas delícias.

- Prezada Natal...Natalina ! mate a minha curiosidade. De que é feito as Delícias do Camisão ? – indagou o governador.

- De carne clandestina de carneiro.

Naquele instante, com aquela frase e com aquela clareza, o mundo da empregada Natalina caiu. O governador passou a mão na barba branca impecável e com uma fisionomia imperturbável e rígida, sem dar um sorriso, olhou nos olhos do prefeito Dió e conversaram sem trocar uma palavra.

O governador girou o olhar em busca do intempestivo e oblíquo olhar da dona justiça de Ipirá, que se empanturrava com a graciosa e maciça carne de carneiro e que, neste preciso instante, tinha os olhos vendados para qualquer problema social e, também, para o governador. Não surtindo efeito a confluência de olhares, o governador atinou para o mando dirigido numa ligação imperceptível da mente ao ouvido. Ninguém percebeu a mensagem sub-reptícia.

A empregada Natalina tinha caído na sua própria arapuca e não levou em conta que no mundo das autoridades de ontem e de hoje, não se pode ser transparente, ao ponto de mostrar o corpo desnudo, muito pelo contrário, tem que ter o brilho fosco do michelin, assim todos se sentiriam felizes. O universo do escamoteamento é também realidade. A empregada Natalina disparou:
- Não é de ontem, nem de hoje, que esse matadouro de boi tá encafrunhado, não tem serventia, não abate um bengo. Isso deve ter ingrisilha com empresário graúdo. Não tá vendo esse desassunto com o matadouro de ovelha em Ipirá, é prumode do matadouro de carneiro que fizeram em Pintadas poder ter uso. Esse Ipirá tá num miserê que num é corquer pulítico meia-sola que vai botá nos eixo.

O governador olhava sério para a empregada Natalina e indagou sem pestanejar:
- Você é assim mesmo ou está assim porque hoje é quarta-feira ? Eu só tenho a dizer o seguinte: depois de ouvir a nossa empregada Natal... Natalina e depois dessa comida deliciosa, o que eu mais quero é deleitar-me com um maravilhoso banho.

O governador foi conduzido ao banheiro pela grande comitiva de convidados presentes e com todo cerimonial que faz jus. Tirou a roupa, abriu o registro e ficou esperando a água cair. Nada. A empregada Natalina que estava na porta do banheiro, do lado de fora, naturalmente, junto à comitiva, gritou:
- Excelença ! aproveite e tome um banho de vento bem tomado e espere a água da Embasa chegar no próximo mês.

O governador vestiu a roupa e saiu resmungando:
- Que água é essa meu povo ! só aparece daqui a um mês. Eu vou embora dessa cidade.

- Isso é a água da Embasa, excelença. Um monte de gente chegou no Natal e Ano Novo num dia e foi embora no outro, sem tomar banho, devido a falta de água e tudo por causa dessa Embasa pipoqueira – completou a empregada Natalina.

SUSPENSE:o que será que vai acontecer à empregada Natalina ? O prefeito Dió não ficou nada satisfeito com a empregada Natalina. O que será que ele vai fazer ? Natalina pode ser dispensada do trabalho ou não ?

Leia o capítulo 14: mês de novembro 2008, logo abaixo.

OBSERVAÇÃO: essa novelinha é apenas uma brincadeira literária que envolve o administrador e o matadouro e, sendo assim, qualquer semelhança é mera coincidência.

Um comentário:

Lilian Simões disse...

Agildo,já naveguei por todos os cantos pela net à procura de uma foto "fashion" sua e não consigo encontrar.Será que eu vou ter que colocar uns paparazzi na sua cola pra conseguir a fotinha?...
rsrsrsrsrs brincadeiras à parte,tô sempre aqui ligada nos fatos.Do contrario, a gente perde o fio da meada e aí a coisa fica sem nexo porque essa luz só você sabe nos dar.
Um abraço.