Sábado, a partir das 19 h, em Ipirá, era noite de quermesse movida por programa de calouros, leilão, bingo, rifa, teatro mambembe e outras fuzarcas, de modo que, a população apreciava de bom grado. Tudo isso era organizado por Roque Leão com o objetivo de angariar fundos para a compra de presentes, que seriam distribuídos com as crianças carentes da cidade, na noite de natal.
Logo pela manhã, em frente ao estabelecimento de Paulo Marinho, local que servia de ponto para a marinete, que fazia linha entre Feira de Santana e Rui Barbosa e era guiada por Besourinho, saltou um sujeito franzino, de pequena estatura, carregando uma sanfona nas costas: era Isaac, que vinha do Bravo. Logo, deu de frente com o menino Dodó que perambulava pela área, observando o movimento proporcionado pelo burburinho provocado pela marinete.
- Tu sabe disafronhá esse sete-baixo ? – indagou o menino Dodó.
- O freguês é quem incomenda a missa, o istribucho eu aprumo – falou Isaac.
- Já vi que de prosa vosmicê tá nus conforme, agora eu me intendo como o melhor zabumbeiro de Ipirá e prá deixá de conversa mole disapei essa istrovenga e me tire um dó de lá menor e arranque um Asa Branca do meu mestre Gonzagão prá eu vê se vosmicê é do ramo – disse o menino Dodó, que ficou na escuta do acorde.
O menino Dodó acertou com Isaac para participarem do Programa de Calouro daquela noite, que seria realizado no meio da rua, em frente à loja de seu Júlio Dantas. O Programa de Calouros reunia as melhores vozes da cidade: Zeco de Arlinda, Nane, Pedrito, Raimundo de Pijú, Ivambergue e o vencedor de toda edição, Delsuc Dultra, a voz mais querida e apreciada de Ipirá.
O menino Dodô fez a inscrição no bar de Roque Leão e dirigiu-se para a Praça da Bandeira, parando em frente ao local onde Zequinha Guarda alugava bicicleta e foi conversando com uma penca de meninos: Bua, Zé Grilo, Tonho Bocão, Babão, Luiz Barata e outros mais:
- O prêmio de hoje é comida de granfino, vai ser um queijo de cuia, se eu ganhá, cada um de vocês vai pegá uma lapada de queijo – compactuava o menino Dodó.
Quando começaram as apresentações dos calouro não havia mais espaço junto à carroceria do caminhão, enfeitada de bandeirolas de papel crepom. Raimundo de Pijú apresentou uma modinha de Juca Chaves com muito estilo e sarcasmo:
“ Cagar é bom quando a gente tá em paz,
Ouvindo n’água o som,
Que a merda caindo faz.
Cagar molinho,
Cagar durinho,
Cagar soltinho”...
Chegou a vez do trio: Isaac na sanfona, Guri no triângulo e o menino Dodó na zabumba. Na primeira batida do menino Dodó, a renca de menino começou a gritar: “já ganhou, já ganhou... é Dodó e ninguém tira... ei, ei, ei, Dodó é nosso rei... é primeirão, é primeirão”
Logo em seguida chegou a vez de Delsuc Dultra apresentar um bolero que era cantado por Altemar Dutra e na voz de Delsuc ganhava vida e força, fazendo a platéia enxugar as lágrimas dos olhos:
“Alguém me disse
Que tu andas novamente
De novo amor
Nova paixão toda contente
Conheço bem tuas promessas
Outras ouvi iguais a essas”...
Quando o organizador começou a anunciar o resultado, o silêncio era predominante, com palmas e protestos após cada anúncio. “Em segundo lugar, esse menino prodígio de Ipirá, essa figura espetacular de nossa cidade: Dodó da Zab”. Não conseguiu terminar o resto. A penca de menino começou a vaiar e atirar pedras, areia, terra e o que tivesse nas proximidade em cima do caminhão, atingindo os jurados e o organizador Roque Leão, que desceu para pegar uma arma na boléia do caminhão.
A penca de meninos subiu na carroceria. Roque Leão pegou uma espingarda de chumbo. A luz apagou naquele justo momento, porque as luzes da cidade eram apagadas às 11 h da noite. Ouviu-se o primeiro tiro. A polícia chegou, com o delegado Zé Roque à frente e disparando chumbo. O menino Dodô desceu desembestado, seguido por Isaac e Guri em direção à Praça da Bandeira, rua Riachuelo. Aumentaram os tiros. Quanto mais o trio do menino Dodô ouvia tiros, mais as pernas corriam. Passaram perto do tanque Velho e ganharam a caatinga. A polícia perdeu a pista. Roque Leão bufava de raiva e espumava ódio pelas ventas.
O trio do menino Dodó passou três dias andando pela caatinga, sobrevivendo à base de queijo e água de gravatá. Chegaram à Pintadas e procuraram a pensão de dona Amália, que de forma hospitaleira franqueou hospedaria para aqueles ilustres visitantes e em conversa dizia:
- Aqui em Pintadas, chegou umas conversa, qui ta nas boca do povo, qui im Ipirá, teve uma tiroteio, qui tem bala zunindo até hoje, qui até a puliça quis pegá uns metraquefe qui apareceram pur lá, diz o povo qui chuveu bala até umas hora.
- Foi mermo dona ! ainda bem qui eu não sei nem onde fica esse lugá. Onde é mermo que fica esse lugá, dona ? Eu não quero nem passá perto de um lugá desse. Dona ! lugá de valentão num é comigo não, embora eu num sou sujeito de tê medo nem de onça com boca de jacaré. Como é o nome desse lugá ? Ipi o quê ? Te discunjuro, lá ele é que quer tocá num lugá qui só tem onça. Quem vai lá é o cão não eu – disse o menino Dodó com a cara mais lavada desse mundo.
Logo pela manhã, em frente ao estabelecimento de Paulo Marinho, local que servia de ponto para a marinete, que fazia linha entre Feira de Santana e Rui Barbosa e era guiada por Besourinho, saltou um sujeito franzino, de pequena estatura, carregando uma sanfona nas costas: era Isaac, que vinha do Bravo. Logo, deu de frente com o menino Dodó que perambulava pela área, observando o movimento proporcionado pelo burburinho provocado pela marinete.
- Tu sabe disafronhá esse sete-baixo ? – indagou o menino Dodó.
- O freguês é quem incomenda a missa, o istribucho eu aprumo – falou Isaac.
- Já vi que de prosa vosmicê tá nus conforme, agora eu me intendo como o melhor zabumbeiro de Ipirá e prá deixá de conversa mole disapei essa istrovenga e me tire um dó de lá menor e arranque um Asa Branca do meu mestre Gonzagão prá eu vê se vosmicê é do ramo – disse o menino Dodó, que ficou na escuta do acorde.
O menino Dodó acertou com Isaac para participarem do Programa de Calouro daquela noite, que seria realizado no meio da rua, em frente à loja de seu Júlio Dantas. O Programa de Calouros reunia as melhores vozes da cidade: Zeco de Arlinda, Nane, Pedrito, Raimundo de Pijú, Ivambergue e o vencedor de toda edição, Delsuc Dultra, a voz mais querida e apreciada de Ipirá.
O menino Dodô fez a inscrição no bar de Roque Leão e dirigiu-se para a Praça da Bandeira, parando em frente ao local onde Zequinha Guarda alugava bicicleta e foi conversando com uma penca de meninos: Bua, Zé Grilo, Tonho Bocão, Babão, Luiz Barata e outros mais:
- O prêmio de hoje é comida de granfino, vai ser um queijo de cuia, se eu ganhá, cada um de vocês vai pegá uma lapada de queijo – compactuava o menino Dodó.
Quando começaram as apresentações dos calouro não havia mais espaço junto à carroceria do caminhão, enfeitada de bandeirolas de papel crepom. Raimundo de Pijú apresentou uma modinha de Juca Chaves com muito estilo e sarcasmo:
“ Cagar é bom quando a gente tá em paz,
Ouvindo n’água o som,
Que a merda caindo faz.
Cagar molinho,
Cagar durinho,
Cagar soltinho”...
Chegou a vez do trio: Isaac na sanfona, Guri no triângulo e o menino Dodó na zabumba. Na primeira batida do menino Dodó, a renca de menino começou a gritar: “já ganhou, já ganhou... é Dodó e ninguém tira... ei, ei, ei, Dodó é nosso rei... é primeirão, é primeirão”
Logo em seguida chegou a vez de Delsuc Dultra apresentar um bolero que era cantado por Altemar Dutra e na voz de Delsuc ganhava vida e força, fazendo a platéia enxugar as lágrimas dos olhos:
“Alguém me disse
Que tu andas novamente
De novo amor
Nova paixão toda contente
Conheço bem tuas promessas
Outras ouvi iguais a essas”...
Quando o organizador começou a anunciar o resultado, o silêncio era predominante, com palmas e protestos após cada anúncio. “Em segundo lugar, esse menino prodígio de Ipirá, essa figura espetacular de nossa cidade: Dodó da Zab”. Não conseguiu terminar o resto. A penca de menino começou a vaiar e atirar pedras, areia, terra e o que tivesse nas proximidade em cima do caminhão, atingindo os jurados e o organizador Roque Leão, que desceu para pegar uma arma na boléia do caminhão.
A penca de meninos subiu na carroceria. Roque Leão pegou uma espingarda de chumbo. A luz apagou naquele justo momento, porque as luzes da cidade eram apagadas às 11 h da noite. Ouviu-se o primeiro tiro. A polícia chegou, com o delegado Zé Roque à frente e disparando chumbo. O menino Dodô desceu desembestado, seguido por Isaac e Guri em direção à Praça da Bandeira, rua Riachuelo. Aumentaram os tiros. Quanto mais o trio do menino Dodô ouvia tiros, mais as pernas corriam. Passaram perto do tanque Velho e ganharam a caatinga. A polícia perdeu a pista. Roque Leão bufava de raiva e espumava ódio pelas ventas.
O trio do menino Dodó passou três dias andando pela caatinga, sobrevivendo à base de queijo e água de gravatá. Chegaram à Pintadas e procuraram a pensão de dona Amália, que de forma hospitaleira franqueou hospedaria para aqueles ilustres visitantes e em conversa dizia:
- Aqui em Pintadas, chegou umas conversa, qui ta nas boca do povo, qui im Ipirá, teve uma tiroteio, qui tem bala zunindo até hoje, qui até a puliça quis pegá uns metraquefe qui apareceram pur lá, diz o povo qui chuveu bala até umas hora.
- Foi mermo dona ! ainda bem qui eu não sei nem onde fica esse lugá. Onde é mermo que fica esse lugá, dona ? Eu não quero nem passá perto de um lugá desse. Dona ! lugá de valentão num é comigo não, embora eu num sou sujeito de tê medo nem de onça com boca de jacaré. Como é o nome desse lugá ? Ipi o quê ? Te discunjuro, lá ele é que quer tocá num lugá qui só tem onça. Quem vai lá é o cão não eu – disse o menino Dodó com a cara mais lavada desse mundo.
Um comentário:
Muito bom
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