domingo, 14 de agosto de 2011

ADIVINA QOLE MINA PROFISSONE (2)



Fato no.1 ocorreu quando os meninos da Vila (do Santos), em seus arroubos infantis, ou quem sabe, vislumbrados na presunção cotidiana, mostravam uma predileção pelo grandioso. Comemoravam na Internet e arrotavam uma grandeza desmedida, mas real e concreta. Comentavam: “O que você ganha num mês, eu gasto de ração com meu cachorro”.



O lógico: “Não é que é verdade! O que eu ganho em minha profissão em um mês, essa meninada gasta em numa saída noturna; em meia hora de curtição; ou mesmo, levando o cachorro para passar um pente nos pelos.”



Vamos ao dia-a-dia do meu trabalho: na minha sala ficam varias pessoas de ambos os sexos, são pessoas pobres, embora, considerar que uma pessoa seja pobre esteja no enquadramento do preconceito, afinal, acabaram a pobreza do país, mas em Ipirá, a pobreza é avassaladora, 45,42% da população é considerada pobre; 37,54% situa-se abaixo da linha de pobreza (até 1 dólar por dia) – (dados do IBGE)



Vamos ao meu trabalho. Todas as pessoas que estão em minha sala possuem celular. Todos. Ouvi até o comentário de um deles:


- Qolé doidim! dei um baculejo no celular de um preiboizim, ta ligado, ta em cima, é a maió baguio, véi...


Não possuir celular é o descredenciamento numa espécie de “status de fingimento”; ‘mostra-me o teu celular e eu direi quem tu és’. Tem um caso de amostragem de um celular quebrado para suprir aparentemente um vazio que não pode esvaziar; ‘saco vazio não fica em pé’. Saquei até uma conversa: “pô meu! Iscapuliu, hoje, e bateu numa pedra; parou, num qué funcioná”. Tinha uns dois meses que era apresentado mudo.



É um atrativo fatal e devasta qualquer atenção. Toca quando é menos esperado; conversa num momento que não é de muito conversar; é digitado como um imã dilacerante. É inconveniente e inconseqüente. Tornou-se uma espécie de fetiche.



O que eu falava, em meu trabalho, não originava aplicativo. O interesse estava canalizado para aquela ferramenta da imprevisibilidade. Olhinhos dirigidos; concentração completa. Meu esforço era infrutífero. Observei o alvo de tanto interesse coletivo. Peguei o celular. Era um homem transando uma jega. O que se faz, em meu trabalho, é por mero divertimento e não por necessidade.



Você acha que eu deveria falar da bestialidade humana, mesmo sem os ouvidos estarem abertos? É coisa para se pensar, pois eu iria pregar num deserto. Uma coisa eu fiz: não falei da jega, nem mesmo que ela era descarada, para não ter o IBAMA no meu encalço. Também, não discriminei quem gosta de comer jega; vê se eu seria tão infantil para cometer um preconceito dessa natureza! Isso poderia dar um processo do tamanho de uma semana nas minhas costas. Não tem outra, eu tenho que aprender a situar-me nos tempos de hoje, posso terminar provocando injustiças ou causando prejuízos aos freqüentadores de minha sala, afinal são senhores de si.



Não dá outra, tenho que recorrer ao fato no. 2: O Imperador estava sentindo-se muito triste e infeliz, aí não pensou duas vezes, largou tudo como se fosse um nada. Esse tudo era uma coisa simplesinha, mais de um milhão por mês, a cidade de Milão, a vida mansa, mordomia, etc.



Aí eu vou ter que pensar mais do que o que eu penso, ou seja, o que eu ganho num mês é uma bufunfa em comparação com o que o Imperador mandou para os ares, assim sendo, vamos supor que eu esteja infeliz no meu trabalho e se eu não tiver a coragem de jogar tudo para os ares como fez o Imperador, significa que eu estou aprisionado por grilhões escravizadores, que me deixam subalterno ao Reino da Necessidade.


Um comentário:

gusmão disse...

PROFESSOR ESTÁ SEMPRE ERRADO
Jô Soares
O material escolar mais barato que existe na praça é o professor!
Se É jovem, não tem experiência.
Se É velho, está superado.
Se Não tem automóvel, é um pobre coitado.
Se Tem automóvel, chora de "barriga cheia'.
Se Fala em voz alta, vive gritando.
Se Fala em tom normal, ninguém escuta.
Se Não falta ao colégio, é um 'Caxias'.
Se Precisa faltar, é um 'turista'.
Se Conversa com os outros professores, está 'malhando' os alunos.
Se Não conversa, é um desligado.
Se Dá muita matéria, não tem dó do aluno.
Se Dá pouca matéria, não prepara os alunos.
Se Brinca com a turma, é metido a engraçado.
Se Não brinca com a turma, é um chato.
Se Chama a atenção, é um grosso.
Se Não chama a atenção, não sabe se impor.
Se A prova é longa, não dá tempo.
Se A prova é curta, tira as chances do aluno.
Se Escreve muito, não explica.
Se Explica muito, o caderno não tem nada.
Se Fala corretamente, ninguém entende.
Se Fala a 'língua' do aluno, não tem vocabulário.
Se Exige, é rude.
Se Elogia, é debochado.
Se O aluno é reprovado, é perseguição.
Se O aluno é aprovado, deu 'mole'.
É o professor está sempre errado, mas, se conseguiu ler até aqui,
agradeça a ele!

Jô Soares retratou bem o que passa o professor