quinta-feira, 23 de junho de 2016

AI DE TI, IPIRÁ! (parte 3)

Ipirá tem uma área de 3.060,263 km2. Esse  pedaço de chão não cresce mais, nem que o GPS queira, só pode diminuir. Você tem interesse por Ipirá? Seu interesse é de rocha ou de H? Estou procurando futucar uma discussão sobre a realidade deste município. Não é fácil, porque a maioria das pessoas está com a cabeça vedada para esse assunto; os ipiraenses estão, muito mais, preocupadas com o número do sapato que irão calçar no dia do pleito eleitoral municipal: se 48 ou 49, não tem outra opção, nem a da mais vaga esperança. Em alguns espertalhões ficarão folgados; mas, na imensa maioria do povão produzirá calo no pé e na vida.


Observe bem, a foto da Praça da Bandeira. Representa a nossa tônica de urbanismo. Nesse tempo, a luz vinha de um motor a diesel, candeeiro e fifó eram alternativas; a água vinha da caixa de Dé Fonseca ou do  chafariz, o pote de barro era a alternativa para água da chuva; a comunicação mais rápida era o telegrama dos Correios pelo código  Morse; as residências, em sua maioria, tinham fossas, com uma base e um buraco para as pessoas cagarem de cócoras, o penico e cagar no mato eram alternativas. Contava-se de dedos os veículos automotivos: o Simca de seu Júlio Dantas, o caminhão de seu Quincas, o caminhão de Zé de Jonas; o FNM de seu Tote. Uma viagem de Ipirá a Feira em estrada de chão consumia cinco horas cortando costela de vaca e dando pinote em buraco. A maconha não tinha chegado por estas bandas.


As políticas públicas do Estado trouxeram as mudanças que o município necessitava: a água veio do Paraguaçu; a luz procedeu de Paulo Afonso; chegou o telefone fixo; a estrada asfaltada do Feijão cortou o município.


Pelas políticas públicas municipais apareceu o Ginásio “do Cenec”; a urbanização foi contemplada com o calçamento e o jardim de flores em sua praça; a rede de esgoto teve as suas primeiras linhas no centro da cidade.


A modernidade se encarregou do restante: saímos da boca do buraco da fossa, quando o vaso sanitário apareceu para prestar um serviço sanitário essencial na questão da saúde e higiene; não dava mais para contar com os dedos a quantidade de veículos motorizados que tinha na cidade; a maconha invadiu a cidade.


Você pode achar que essas mudanças aconteceram devido ao pedido de alguma liderança sagrada ou por obra de uma benção divina e que Ipirá é uma sociedade abençoada, de pessoas de bem e são recompensadas com o desenvolvimento. Não é bem por aí. As políticas públicas de um Estado populista atendiam as demandas municipalistas e provocavam mudanças cabíveis no espaço e no tempo. A roda do século XIX não fez o século XX andar.


O século XXI deixou para trás o séc. XX. Ipirá tem energia em toda zona rural, mas é insuficiente para dar suporte a um empreendimento mais robusto que necessite de muita força motriz; tem água em vários povoados, mas não tem água na torneira todo dia e o dia todo; tem estrada asfaltada com uma buraqueira de estrada de chão; está pistiada com a comunicação pelo celular e via Internet, o povo está ficando mais modernizado; tem uma fábrica de calçados, mas não atendeu à solicitação de mais um galpão; não conseguiu concluir sua rede de esgoto por obra da quebradeira do Estado; Ipirá tem 14.688 veículos motorizados (2015), vai faltar estacionamento; não tem faculdade; não tem IFBA; mas tem maconha, cocaína, crack e tem muito carro de som numa altura de trovão para desrespeitar os direitos da maioria da população.


Você pode achar que as mudanças não acontecem devido à falta de um pedido de alguma liderança iluminada ou por este município não ter a bênção divina e a sociedade ser formada por pessoas más, que  têm de padecer do castigo da escassez de obras. Não é bem por aí. As políticas públicas de um Estado que não atende às demandas municipalistas e não provocavam mudanças necessárias no espaço e no tempo são causas mais reais. Querem fazer a roda do século XXI andar com a roda do século XX.


Nosso grande problema está nas políticas públicas do Estado, com resquícios neoliberal, que contaminaram até o ar que se respira. O Estado está em situação de quebradeira. Não tem recurso sobrando, com dinheiro curto só investe onde tem retorno, de preferência capital e pólo produtor.

São doze obras prioritárias no Estado, (nenhuma em Ipirá) como o Metrô de Salvador e a ponte Salvador / Itaparica que nem começou por falta de grana. Ipirá é produtor de quê? É pólo de quê? Esse negócio de pólo coureiro é invencionice, temos é uma manufatura secular e necessitando de apoio concreto, não de conversa mole.  Assim sendo, para o nosso desespero, vamos ser realistas, Ipirá não consta na agenda do governo do Estado.


Ipirá não existe para o Estado? Existe, como área de contenção populacional. Não deixar acontecer o êxodo para os grandes centros e evitar problemas para eles lá. Para cá, a coisa é canalizada para as condições mínimas, com o objetivo de fixar as apessoas aqui, com moradias populares, creches e matrículas escolares, uma saúde precária e insuficiente, mas, de forma, a não deixar as pessoas escapulirem. Na zona rural, a energia, a residência rural, cisternas, quatro ovelhas e um carneiro para manter o homem preso à terra. A sobrevivência sendo mantida por aposentadoria e programas assistenciais. Assim, fica mais barato. O investimento no desenvolvimento requer muito mais recursos e é libertador das mentes e corações.


Aí o bicho pega. Ipirá ficou num mato sem cachorro? Não, Ipirá está entregue ao poder municipal, ao povo de Ipirá e de quem queira investir nestas bandas. E as autoridades desta província? Estão achando que vão resolver o problema de Ipirá pegando uma fita do locutor e entregando-a ao governador: “Ouça o que ele fala de V. Exa!” e o governador zangado e revoltado vai fazer tudo por Ipirá. Quanta bobagem! O Territorio Bacia do Jacuipe tem mais valor na agenda governamental do que Ipirá e recebe as coisas que necessita por conta-gotas e pulverizadas. Ipirá não vai receber UTI, Samu, faculdade, asfalto. Ipirá vive de conversa fiada. Isso não tem consistência.



Depois de tudo isso exposto, vamos a uma terceira pergunta bem simples aos candidatíssimos Aníbal Ramos e Marcelo Brandão: No ponto de vista dos senhores candidatíssimos, qual é a grande ou média obra que o poder público municipal poderá fazer, com recursos próprios, em nosso município na sua gestão?   


Se o poder municipal não tiver nenhuma condição para tal, significa que Ipirá está entregue a sua gente e aos que enxerguem esta terra como promissora. Infelizmente, a grande maioria da população está e vai continuar com o sapato apertado fazendo calo, mas aliviada com a ilusão de que estamos entrando no paraíso. Coisas da cabeça.

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