quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

HOMENAGEM (parte 13).




A maconha chegou à Ipirá e alastrou-se como umbu no tempo da safra. Dodó da Zabumba estava animado, pois era o dia da festa da padroeira e ele era devoto de Senhora Santana, coisa que ele primava em sua vida. A animação era maior ainda porque ele iria tocar com o sanfoneiro Zé Bezerra, consagrado e afamado em todo Nordeste e para aumentar ainda mais a animação, o zabumbeiro pensou e resolveu: “vou tomar uma cerveja no bar de Tonho Gordo”. Foi para a rua de Cima, com a zabumba pendurada nas costas, e entrou no bar Cafuçú, logo sendo chamado pela turma que estava sentada em uma mesa no fundo do salão.



- Menino Dodó! Chegue mais meu irmão, venha ficar numa boa, cara – disse um coligado.



- Vou tomar um copo de cerveja, porque daqui a pouco eu vou tocar no show de Zé Bezerra – comentou o zabumbeiro.



- Qolé, minino Dodó, você é um cara cabeça, se quisé ficá legal você tem que tomá um chá, esse negoço de birita é coisa de careta – falou alguém no grupo.



O zabumbeiro não entendia nada daquelas insinuações. Tonho Gordo não deixou por menos e foi falando:


- Dodó é broder. Chegue mais broder, vai rolá um baseado e se você quisé pode dá uns tapa.



- Eu vou tomá um copo de cerveja pra dá animação no forró lá no coreto – disse o zabumbeiro.



- Dodó ta pareceno qui é bunda-mole, meu irmão! Esse zabumbeiro ta pricisano é ficá legal e de cabeça feita. Um broder como você não pode ficá de cara, você é um carinha legal. Acende logo esse morrão, qui Dodó vai dá uns tapa – falou com convicção alguém.



O cheiro tomou conta do ambiente, ao mesmo tempo que a fumaça impregnou-se em volta da mesa, Dodó esperniou.


- Qui fedô da disgraça é esse? Qui diabo é isso?



Em torno da mesa soaram as risadas, cada qual com sua galhofa, sendo que Tonho Gordo falou:


- Isso é a massa, zabumbeiro! Você tem é que curtir com a gente. Se você isperimentá essa massa, você vai ficá legal.



- O que é isso? - Indagou o zabumbeiro.



- É a marijuana, também conhecida por maconha, dê um tapa aqui e você fica logo batizado.



- Chega esse troço prá lá. Isso aí é a fumaça qui os ladrão bota pelo buraco da fechadura, os povo da casa dorme e o ladrão i entra e roba tudo. Eu quero é distança desse bagulho – disse Dodó que se afastou para o quintal, por causa do fedor e da fumaça, mas deixou o copo de cerveja sobre a mesa – quando vocês terminá com esse bagulho eu volto.



Tonho Gordo falou baixinho:


- Bota o produto na cerveja dele.



Botaram Artane e Rupinol no copo. A turma era só risada. Dodó voltou e tomou o copo de cerveja e disse:


- Essa cerveja parece que tá choca! Vou ali, que eu vou tocá no coreto e vocês que fique ai com seus bagulho.



Dodó aprumou as pernas e começou a andar, no batente da porta sentiu a diferença, havia dois metros de altura, fez que ia o passeio pulou para três metros de altura, Dodó parou e recuou, o passeio voltou para 20 cm; Dodó olhou, imaginou e pulou, o passeio não teve tempo de descer, Dodó falou:


- Tu viu passeio! Eu não disse que eu ti pegava, logo não ta veno que tu não vai dá im Dodô Zabumbeiro. Eu sou um cabra arretado – o zabumbeiro falava e dava risada.



As pessoas ficaram olhando com certo espanto para o menino Dodó, que seguia para a Praça da Bandeira, de forma que parecia que ia andando em câmara lenta, sempre sorrindo e vendo coisas e falando alto, para todo mundo e para ninguém:


- Oxente, quem foi que mandou botá ovo istalado no passeio do jardim? Agora, eu tenho qui andá por cima de tanto ovo.



Dodó andava de forma atabalhoada, mas era uma luta que ele travava consigo para pisar e não quebrar nenhuma gema de ovo, ao tempo que as pessoas olhavam e não entendiam porque o zabumbeiro andava com aquele jeito engraçado, como se estivesse pisando em ovos. Dodó começou a ver cobra e gritava:


- SAI DE BAIXO DONA! SE NÃO ESSA CASCAVEL PEGA A SENHORA.



A senhora pulava para depois olhar, como não via nada, não deixava por menos:


- Êta qui esse Dodó hoje, ta num lutrimento.



Quando Dodó chegou no coreto, tinha um palanque de madeira que seria o local do show, o zabumbeiro estranhou aquela altura e indagou:


- Cuma é qui eu vou subir nessas artura?



O sanfoneiro Zé Bezerra, sem perceber nada foi dizendo:


- Vamo lá zabumbeiro qui agorá é com a gente.



O sanfoneiro mandou um xote caprichado, o zabumbeiro cacetou uma valsa. O sanfoneiro não ficou por menos, puxou um xaxado, o zabumbeiro veio com um tango. O sanfoneiro tomou aquele susto e tocou um baião, o zabumbeiro sarrafiou um rock, ai o sanfoneiro olhou nos olhos do zabumbeiro e falou, contrariado e arretado da vida:


- Qui zabumbeiro é esse!



O zabumbeiro Dodó entendeu pelo avesso e aí se soltou de vez, jogava para a direita e rebatia com a esquerda, começou a tocar tamborim, bumbo e zabumba, tudo de uma só vez, era o famoso três em um, inventado e criado naquela hora, o sanfoneiro se atrapalhou; o zabumbeiro lascou a madeira, fez da zabumba, caixa de repique, surdo e berimbau; o sanfoneiro Zé Bezerra parou. Dodó não pestanejou e falou:


- Toca direito sanfoneiro, tu ta quereno mi tirá de tempo.



Terminado a apresentação, o trio desceu do palanque, o sanfoneiro com aquela cara de bolachão que seu Agnaldo vendia, não dava uma palavra. O zabumbeiro encontrou Tonho Gordo e a turma, foi logo dizendo:


- Vocês viu qui show da porra eu dei hoje aí?


A turma não dizia nada, só dava risada. Estavam todos sob o efeito da maconha

Um comentário:

Rogerão da tora disse...

Que peversidade fizeram com nosso herói zabumbeiro. Como dizia "LINGOTE" PERSONAGEM DO GRANDE CHICO ANÍSIO ,DODÓ ficou completamente ESCALIFADO.