segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

HOMENAGEM (parte12)




O zabumbeiro Dodó narrou este episódio, mesmo tendo sido atingido por um lapso do de memória, pois esqueceu o nome do deputado que lhe arranjou o emprego, pois, nesta época, Ipirá tinha dois deputados: A.M. e J.O. Como ele não se lembra qual foi, mesmo fazendo um longo exercício de memória, vamos à narrativa, que não perderá o brilho pela prevalência do lapso.



O deputado estava confabulando numa roda de correligionários, numa conversa amistosa e entusiasmada, quando aproximou-se o zabumbeiro Dodô e disse:


- Deputado! Eu sou Dodô Zabumbeiro, me arranje um emprego.



O deputado olhou o intruso de cima para baixo e virou o rosto, voltando-se para a roda de amigos na tentativa de retomar a conversa. O zabumbeiro Dodó não percebeu sua indiferença, muito menos o olhar de desprezo de que fora vítima e voltou a falar:


- Na minha família tem mais de duzentos votos e eu posso dizê um a um: tem Ramiro Taco-Roxo, Chiquinho, Joel...



- O que é isso meu amigo Dodô da Zabumba? Você acha que eu vou duvidar da sua hombridade? Um homem do seu quilate, que possue uma família como a sua, não pode ser preterido em um pedido como este seu. Tem mais, procure-me quarta-feira no meu gabinete, lá na Assembléia, que seu emprego é garantido – disse o deputado tentando remediar o descaso inicial.



Na quarta-feira, Dodó, de peito estufado, colocou a zabumba pendurada nas costas e partiu rumo à Salvador, mas, antes, teceu um comentário que repetiu inúmeras vezes: “o deputado vai mim dá um emprego de zabumbeiro.”



Na Assembléia Legislativa do Estado encontrou o primeiro e grande obstáculo, justamente, no saguão, os seguranças e o pessoal da portaria não queriam deixar Dodó subir com a zabumba, fato que gerou o primeiro entrevero entre o zabumbeiro e o pessoal do poder:


- E tem gente aí em cima melhor do que minha zabumba? Eu vou subir cum minha zabumba e não quero xiada.



- Eu tenho que dizer ao senhor, que o senhor tem que cumprir as normas regimentais e qualquer atitude que o senhor venha tomar de forma exacerbada, o senhor poderá estar infligindo a lei e estará sujeito à detenção.



- Vocês aqui, sabe quem sou eu? Eu sou é Dodó da Zabumba e vou dá mais de duzentos voto ao deputado e vocês ainda tão prezepano cum um cabra conhecido como eu!



Tudo indicava que o tempo iria fechar, mas o destino resolveu dar uma ajuda e esfriar aquela situação, que estava tornando-se tensa, pois justamente neste exato momento, apareceu o deputado no saguão e foi gritando:


- MEU ILUSTRE DODÔ DA ZABUMBA! O QUE É QUE TRAZ ESTE ILUSTRE IPIRAENSE À CASA DA CIDADANIA?



- O deputado não me mandou vim aqui hoje? Já esqueceu deputado? – indagou Dodó.



- Você acha que eu ia esquecer uma coisa grandiosa e significativa como esse assunto nosso? Vamos subir para o meu gabinete.



- Essas pessoa aí, num qué deixá eu subir com minha zabumba.



O pessoal da portaria comentou reservadamente ao deputado:


- V. Exa. sabe que estamos vivendo um momento de exceção, porque o terrorismo está agindo de forma instigante e essa pessoa que tem todas as características de um terrorista queria adentrar ao prédio com um bagulho desse tamanho, que podia ser uma bomba disfarçada, com poder para destruir Salvador.



- Não, Não! Você sabe que eu sou deputado do governo e esse amigo aí é uma boa pessoa, um trabalhador de boa índole, pode confiar em minha pessoa.



No elevador, o deputado confidenciou ao zabumbeiro:


- Se eu não chego agora, o amigo zabumbeiro ia ficar estrepado, porque os seguranças já estavam planejando jogá-lo num camburão e colocá-lo num pau-de-arara, mas amigo de verdade não deixa o leite derramar e eu cheguei no momento certo.



No gabinete, o zabumbeiro indagou:


- E meu emprego de zabumbeiro?



Está aqui, consegui com meu prestígio junto ao governador, um REDA para você, pode se considerar professor na escola Albina Cunha.


- Mas, deputado! Eu mal sei fazer um O com o copo, cuma é qui eu vou insiná prá mininada? O qui eu sei fazê e bem feito é tocá zabumba.



- Não se avexe não zabumbeiro! Os meninos de lá sabem menos do que você, tudo que você ensinar pra eles é lucro. Vá e faça o que você tem condições de fazer. Ensine prá ele aquela conta: nada vezes nada é nada e ta tudo arrumado.



Na escola G.C., o entusiasmo era generalizado, pois a diretora alardeou que chegaria um professor catedrático nos próximos dias, era um tal de professor Dorneles. O zabumbeiro Dodó apresentou-se na escola com uma zabumba nas costas e entregou o Termos de Assunção. A diretora atrapalhada, perplexa e acabrunhada, apresentou o professor à turma e desceu para a sala da diretoria, onde desmaiou.



O professor Dodó Zabumbeiro pegou um giz e escreveu no quadro “ vamo cumeçá azaula” e soltou o verbo. A meninada estava extasiada. As outras turmas largaram suas professoras e correram para a sala do professor Dodó, que lascava a porrada na zabumba e apresentava um variado repertório de dança.



A meninada comentava: “ô zaula boa é a do fessor Dodó”, “eu quero istudá cum o fessor Dodó”, “eu num vou querê a pró chata, eu vou querê istudá é cum o fessor Dodó”. A escola virou um pandemônio e o que se via era birra e pirraça da meninada. A diretora colocou as mão na cabeça e comentou:


- A perdição tomou conta do mundo, nem o Senhor dá mais jeito nisso!



Mas, alguém tinha que fazer algo e esse alguém era a diretora, que estava vivenciando aquela bagunça fazia uma semana. Mandou fazer uma farda verde-cana e entregou-a ao zabumbeiro dizendo:


- Professor Dodó! A Secretaria de Educação mandou esta farda para o senhor, agora tem o seguinte, quem veste essa farda tem que trabalhar na portaria da escola.



O zabumbeiro caiu na besteira e vestiu aquela bela e vistosa farda. Deixou de ser professor e virou porteiro. A meninada não gostou, queria por que queria, Dodó na sala de aula como instrutor. Fizeram birra e uma pirraça medonha, que virou greve .


Transferiram o porteiro Dodó para a portaria da escola A.B. Num trabalho sem emoção, sem calor humano e sem fuzarca, o que deixou o menino Dodó entristecido. Três meses depois entregou o emprego do deputado de volta. Era um zabumbeiro, um homem de vida livre.

2 comentários:

Rogerão da tora disse...

Agildo, esse Dodó é muito "atrevido" depois de botar o Brasil em risco quando quase provocou uma "guerra" contra o Paraguai,"trocar tiros"co o hoem mais valente de Ipirá à época, Roque Leão,como é que esse "DOIDO" vai prá Salvador, em pleno REGIME MILITAR tentar entrar com sua zabumba "NA TORA" no recinto dos Deputados?. Esse Dodó só podia ser mesmo filho de Pijú e irmão de Ramiro Taco-Roxo. HÔ LÔCO MEU!!!!

Rodrigo Ribeiro disse...

Obrigado Agildo, Parabéns!