domingo, 23 de novembro de 2014

O SISTEMA.

O prefeito Ademildo não perde oportunidade para dizer que Ipirá está virando pólo. Como? De que? Não esclarece, divaga. Talvez pense que é fazendo qualquer obra ou pela boa vontade que a coisa vai acontecer. Como impulsionar o desenvolvimento de Ipirá? Eis a questão.

O dilema é o de sempre: fica no que está, vai para o atraso ou desenvolvimento? No aspecto regional estamos engolidos pela proximidade com Feira e Itaberaba que absorvem possibilidades e encaminhamentos jogando Ipirá na contramão, ao tempo, que impede ou inviabiliza investimentos públicos e privados relevantes em nosso município. Tudo ou o filé é canalizado para lá. Quase nada ou a carne de pescoço vem para cá.

A economia de Ipirá é o ponto que merece atenção, pois sendo um município rural vem sendo dilapidado pelas constantes secas. Buscar resultado em áreas de semi-árido é tarefa árdua e extenuante. O investimento tem que ser bem maior do que em regiões de chuvas permanentes. Aqui o investimento é exigente e a produção é precária. É uma agricultura familiar que fica na dependência da cobertura das políticas do Estado. Não se tem uma definição clara e transparente para o setor econômico produtivo em Ipirá. Falta um plano apropriado e auto-sustentável.

No plano social a fragilidade é uma constante. Mais de 80% da sociedade aufere rendimento de um salário para baixo. Mais de 15 mil famílias dependem da ajuda de políticas assistenciais, sendo que isso representa mais da metade da população. Então o município sobrevive da injeção da bolsa família e dos ganhos da aposentadoria. Suficiente para garantir a sobrevivência, mas inconsistente na fomentação de uma dinâmica desenvolvimentista equilibrada.

Onde está o gargalo que atrofia o município? Na precariedade da infraestrutura (água, energia, esgoto, lixões, aterro sanitário, resíduos seletivos, descarte, manipulação, abatedouros de animais, etc) que não atende e não permite que venha investimentos significativos no campo econômico para o município. Está na fraqueza da estrutura social que não preenche requisitos para dar sustentação ao crescimento e ao avanço necessário, por debilidade e carência de uma força de trabalho qualificada que a impulsão requer.

Não adianta crescer como rabo de cavalo. Não adianta inchaço de um bolo que leva muito fermento. Os problemas crescem mais do que aparecem na saúde e educação. O campo de trabalho é minguado. A renda é precarizada. A falta de segurança está incontida. Não podemos ficar na fantasiosidade de uma importância insignificante num território ilusório que é consumido pela realidade de Feira e Itaberaba. Não temos poder de competição e nem voz política popular consistente.

Estamos num campo de batalha. Ipirá necessita ter uma política concreta de geração de emprego e renda. Ipirá precisa de produção. A sustentabilidade das políticas públicas não é suficiente para promover o desenvolvimento econômico. Ipirá tem que ter capacidade para enfrentar essa disputa. Tem que saber o que é que quer. Os números podem ser suavizados, mas a realidade é cruel. É preciso fechar as contas e os investimentos. Onde está o ponto de estrangulamento de Ipirá? Na politicagem.

A politicagem deixou Ipirá com a cuia na mão. Montaram um esquema perverso de politicagem que se tornou devastador para o município. Essa politicagem de grupo ( tanto faz jacu ou macaco) que foi implementada e é reproduzida com as características que predominam tornou-se um câncer para o município de Ipirá. O município sofre uma espécie de seqüestro por um bando a cada quatro anos, deixa a prefeitura refém e o poder público paga o resgate.

A politicagem do grupismo: o grupo é tudo, é o mais importante e é a prioridade, inclusive a sua permanência e continuidade. Pelo grupo vale tudo, emprega-se acima do Índice da folha de pessoal em desrespeito à lei, porque é do grupo; empresários genéricos se locupletam, mas é do grupo e tem que ser assim. É a transformação do poder público em poder privado, solapando em nome de uma ética e legalidade grupal.

O caciquismo do grupo: o chefe se seguir a cartilha do grupo será bajulado, adorado e endeusado. O grupo tem dono e patrão, “quem pode manda, quem tem juízo e interesse obedece.” O chefe político e o gerente administrativo tratam o poder municipal como um condomínio privado do grupismo.

Uma politicagem particularista: empregar, beneficiar, agradar e agraciar os amigos; perversa, odienta e separatista para os inimigos. Enxergam Ipirá no crivo do amigo e inimigo do grupo. Esse particularismo dilacera o município. Subtrai-se dos munícipes a autenticidade de um poder popular e coletivo porque o atendimento aos interesses particulares do grupo é a essência e a prioridade. Esse é o projeto.

Uma politicagem cancerosa: uma campanha de milhões para se chegar ao poder. Tendo por base o assistencialismo e o clientelismo. A lógica é retribuir com apoio político os benefícios que recebem, significa o estabelecimento do estado de compromisso. Custa caro, muito caro e vira um gargalo. Tem que ter milhões para ganhar as eleições. Criou-se o monstro e o monstro engole todos os polítiqueiros.

Uma porta aberta para os oportunistas: “ganha a política quem tem dinheiro” é o lema consagrado do canalhismo. Um bando de oportunista cria uma galhofa na campanha, faz zoada e zoeira, depois querem virar empresários para atender as demandas e serviços da prefeitura, pior que conseguem, aí começa a divisão do espólio, saque e butim do dinheiro público, tudo conforme a lei e dentro da legalidade. É o preço cobrado pelos interesses individuais. Ipirá paga um preço caro. O custo elevado e dilacerante cria entraves gigantescos. Esse é um município cheio de proezas da boca para fora e carregado de dificuldades nas suas entranhas.

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