A Praça São José é
virtual, abstrata, tridimensional, sua existência consta do desejo do prefeito
e de uma projeção vistosa, não cheira e não fede; não infecta. (acima)
O canal de esgoto é
real, tem cheiro acre, gosto de lama podre e é encardido na cor; infecta.
(abaixo)
O prefeito Marcelo
Brandão apresentou, esta semana, a uma parcela da população ipiraense a
fantástica obra da Praça São José, num grandioso telão, em três dimensões de
forma giratória e apoteótica.
Eu juro que pensei que
fosse o Jardim do Éden, mas era a obra do Puxa, com cara de Jardim da
Babilônia, faltando apenas os pardais para dar o tom burlesco e de
magnificência. É a modernidade chegando a Ipirá.
Fico observando que a
modernidade vai bater de cara com o atraso. Quem vai levar a melhor? O atraso é
resistente, malcriado, teimoso e malvado. Tem o formato de um canal de esgoto,
comprido feito uma avenida, que corta a cidade por inteiro, pelo leste e oeste,
e tem muitos filhotes (filetes e riachinhos de esgoto) por muitos lugares. A
modernidade gosta de se apresentar como a dona do pedaço, chega bem lustrosa,
vestida com a domingueira e cheia de conversa-mole, parecendo que tem assento
no lugar, mas vem que vem e a gente nem sabe se acontecerá.
O mundo tem muito jogo
de cena, tem quem vive de marketing e tem quem se embala e encontra a
felicidade em falsas promessas. A realidade do esgoto enoja; a virtualidade do
Puxa sublima e exalta.
A coisa foi apresentada
em novo estilo, retumbante e pirotécnico (faltou o foguetório), mas com a velha
roupagem oligárquica do macaco/jacu; um embrulho, um pacote pronto, amarrado,
definido por alguém (urbanista/arquiteto/prefeito), descendo goela abaixo da população,
sem ouvir, sem escutar um parecer e sem a co-autoria da comunidade, do mesmo
jeito como foi a reforma de ‘um milhão de reais’ na Praça da Bandeira com
Diomário (uma esculhambação) e a Praça Santana com a agência do INSS na gestão
de Ademildo (um monstrengo no meio da praça). A sacramentação da velha e
maldita desdita: ‘o povo não serve para dar palpite é para dizer amém e
obrigado meu senhor’.
Quantas árvores serão
derrubadas? Tem algumas árvores no Puxa que vale muito mais do que qualquer
prédio de vidro. A obra é do prefeito Marcelo Brandão e cairá no seu colo o
ônus do acerto ou do desacerto. Ele assumiu de bate-pronto a responsabilidade
pelo que vier acontecer. Ele terá a obrigação de realizar esta obra do jeito,
nos moldes, no modelo exposto ao público, para que o virtual tenha vida e
existência, senão o virtual não passará de um embuste.
Fico na observância de
dois problemas: o prefeito Marcelo Brandão vai tapar a boca de muita gente (eu,
inclusive) que diz que a prefeitura não tem dinheiro para realizar grandes
obras com recursos próprios. Se esse projeto não é Convênio estadual ou
federal, de onde sairá esse dinheiro da Praça do Puxa? Tenho a impressão que o
prefeito quer jogar com as contas dos servidores, tira de um banco joga no
outro, um puxa e estica prá lá e prá cá, ganha uns trocados e banca a conta. A
gestão passada fez o asfalto da entrada do Malhador com recursos próprios e se
enrolou toda, não conseguiu fazer mais nada. Mas, isso já passou. O prefeito
Marcelo Brandão já deve ter essa grana garantida para a sua primeira obra, ele
não iria dar um chute desse quilate sem a verba garantida.
O outro problema, eu
tenho a impressão que vai esquentar o juízo do prefeito: quem será o felizardo
jacu que ganhará a lanchonete da Biblioteca de mão beijada, como os macacos
ganharam os quiosques do prefeito Diomário? Vai ter licitação ou vai ser no
sorteio do ‘bog do vispa’ da sede do Independente? Só saia a pedra que Osmar
Careca queria. Não é duvidando do jogo limpo de ninguém, porque eu só não
entendo porque a prefeitura de Ipirá não tem dinheiro para fazer uma ponte de
cimento no esgoto, só faz de madeira, de forma precária e, sempre, justificando
que não tem dinheiro no cofre para tal. A realidade é mais difícil e menos
fantasiosa.
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