quinta-feira, 18 de setembro de 2014

É DE ROSCA. (04)


Estilo: ficção
Modelo: mexicano
Natureza: novelinha
Fase: Não sei se vale a pena ver de novo
Capítulo: 04 (mês de setembro 2014) (um por mês)

NO PÁTIO DA PREFEITURA estavam, jogando conversa fora, dois grandes amigos inseparáveis, melhor dizendo, dois notáveis políticos do grupo do poder: o ex-prefeito Dió e o prefeito Déo que dizia:

- Vamos renovar a política dessa terra, tem bons nomes para prefeito; o de Ra... Ti... Di... O que você acha?

O prefeito Dió, esperto que nem gavião quando bota olho em ninhada de pinto, imaginou : “Mas menino, não é que esse prefeito Déo tá querendo apresentar boi de piranha, pra vê se ele tem vez!” Depois do pensamento não mediu as palavras:

- V. Exa. prefeito Déo, não é bandeirinha ainda e já quer ser juiz! O apito está aqui em minha mão, não esqueça disso.

- É assim que você fala com o prefeito?

- V. Exa. deve prestar bem atenção; quanta papa nós tivemos que passar na boca de Toinho para ele subir no carro de Costa e hoje ele já está Solto novamente. Esse grupo é problema!

- Você tem razão, ex-prefeito Dio! Vamos dar um giro aqui pelas dependências da prefeitura para eu verificar como ficou o sistema de câmeras que eu mandei colocar na cantina. Essa cantina vai quebrar a prefeitura.

- Como assim, prefeito Déo?

- A despesa é demais, mas vamos lá para provar a nova culinária da prefeitura. Se eu não ficar de olho a coisa desanda!

Entraram na cantina e enquanto o prefeito Déo examinava embaixo das mesas, cadeiras, pelos cantos, fazendo uma vistoria minuciosa, o ex-prefeito Dió avançava em direção à funcionária e cochichou-lhe ao pé do ouvido o maior segredo do mundo:

- Oh, minha querida! Tem um cuscuzinho daqueles que só você sabe fazer? Você não sabe como eu sinto falta daquela delícia.

- Deixa cum nóis, ex-prefeito Dió! Deixa esse home saí que o cuscuz fica pronto numa zora, quentinho e derretendo na manteiga, dizendo assim: me coma! – disse a funcionária.

Neste exato momento, o prefeito Déo chamou o ex-prefeito Dió e disse-lhe:

- Ex-prefeito Dio, venha cá! Você vai provar desse ‘manjar dos deuses’, não vou lhe dizer o que é.

Na frigideira estava um palmo recheado de carne, com aquela aparência de vermelho bronzeado, que enchia os olhos e pipocava a boca de desejo. O ex-prefeito Dió deu aquele trato e lambia os lábios:

- Simplesmente divino, parece filhote de avestruz com caldo de polenta francês.

O prefeito Déo chamou a funcionária e mandou trazer o outro prato que estava pronto e se apresentava como um monumento suntuoso. Era um pedaço de carne, parecido com peito de galinha, assado na brasa e escorrendo uma suculenta massa de tomate, que lambuzava feito manteiga derretida. O ex-prefeito Dió deliciou-se com a iguaria:

- Que lembrança majestosa! Parece aqueles galináceos com mostarda dijon servidos nos castelos de Vincennes, à beira do lago d’Idro Azur Camping Rio Vantone! Maravilhoso.

- Traga aquele outro prato – ordenou o prefeito Déo à funcionária.

Chegou aquele bife maciço e mole, derretendo na boca e descendo para o estômago como quiabo com gosto de queijo, de forma suculenta e gelatinosa, parecendo coisa feita no azul celeste do céu e o ex-prefeito Dió estava maravilhado e extasiado.

- Que coisa deliciosa! Isso me sugere aquelas perdizes crocantes na beira do Sena, observando as ondulações das águas levantando os barcos na sua perene tranqüilidade. Magnífico!

- Pode trazer o último prato, funcionária! – ordenou o prefeito Déo.

Apareceu um pernil, delgado e esbelto, coberto por uma camada de tutano que deixava qualquer terráqueo com água na boca. O ex-prefeito Dió caiu dentro. Não sobrou nada.

- Que sensação maravilhosa! Neste momento, deliciei-me com os cervos da floresta de Fontainebleau recheado de miúdos de codornas húngaras e salpicado com molho de chantelly importado. Sem comentários.

O prefeito Déo chamou o ex-prefeito Dió e levou-o para o seu gabinete e disse-lhe:

- O meu governo está fazendo coisa que nenhum prefeito fez nessa terra. Eu transformei essa terra na terra do couro; eu descobri a vocação do couro que tinha essa terra e ninguém nunca viu; foi eu quem transformei essa terra em pólo coureiro internacional.

O ex-prefeito Dió tomou aquele susto, mas continuou ouvindo o discurso do prefeito Déo, ao tempo que olhava e observava aquela quantidade enorme de couro espichado pelas paredes do gabinete.

- Você está vendo esse couro do primeiro prato (couro de gia) vai ser exportado para o mercado americano; esse couro aqui (de largaticha) do segundo prato é melhor do que couro de jacaré, vai para o Japão; esse couro (de sapo cururu) do terceiro prato já tem pedido de uma tonelada para a China.

- O que V. Exa., prefeito Déo, quer dizer com isso? – perguntou o prefeito Dió que sentiu o pé da barriga estremecer de dor.

- Mais ou menos isso. Eu vou resgatar o tanque Velho, o de Santana e o tanque de Beber para o criatório do futuro dessa terra: sapo, rã, giote, caçote, jia, lagartixa, tilápia, tudo isso para produzir couro. Essa terra vai ser o maior pólo de couro que nunca se viu neste mundo.

- Aquele último prato foi o que? – Indagou o ex-prefeito Dió.

- Aquilo foi burrego.

- Burrego! Burrego que é filho de ovelha, que é amasiada com carneiro, que é morto em matadouro! Ui, ui, ui. Essa desgraça de matadouro só fez infernizar minha vida.

Suspense: Depois de comer tanta carne para produzir essa quantidade de couro o ex-prefeito Dió está em São Paulo fazendo tratamento de saúde. Aguardamos o pronto restabelecimento do Digníssimo para que essa novelinha possa prosseguir com seus verdadeiros artistas. E agora, esse matadouro sai ou não sai?

O término dessa novelinha acontecerá no dia que acontecer a inauguração desse Matadouro de Ipirá. Inaugurou! Acabou, imediatamente.

Observação: essa novelinha é apenas uma brincadeira literária, que envolve o administrador e o matadouro e, sendo assim, qualquer semelhança é mera coincidência. Eles brincam com o povo e o povo brinca com eles.

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