Estilo:
ficção
Modelo:
mexicanoNatureza: novelinha
Fase: Não sei se vale a pena ver de novo
Capítulo: 04 (mês de setembro 2014) (um por mês)
NO
PÁTIO DA PREFEITURA estavam, jogando conversa fora, dois grandes amigos
inseparáveis, melhor dizendo, dois notáveis políticos do grupo do poder: o
ex-prefeito Dió e o prefeito Déo que dizia:
-
Vamos renovar a política dessa terra, tem bons nomes para prefeito; o de Ra...
Ti... Di... O que você acha?
O
prefeito Dió, esperto que nem gavião quando bota olho em ninhada de pinto,
imaginou : “Mas menino, não é que esse prefeito Déo tá querendo apresentar boi
de piranha, pra vê se ele tem vez!” Depois do pensamento não mediu as palavras:
-
V. Exa. prefeito Déo, não é bandeirinha ainda e já quer ser juiz! O apito está
aqui em minha mão, não esqueça disso.
-
É assim que você fala com o prefeito?
-
V. Exa. deve prestar bem atenção; quanta papa nós tivemos que passar na boca de
Toinho para ele subir no carro de Costa e hoje ele já está Solto novamente.
Esse grupo é problema!
-
Você tem razão, ex-prefeito Dio! Vamos dar um giro aqui pelas dependências da
prefeitura para eu verificar como ficou o sistema de câmeras que eu mandei
colocar na cantina. Essa cantina vai quebrar a prefeitura.
-
Como assim, prefeito Déo?
-
A despesa é demais, mas vamos lá para provar a nova culinária da prefeitura. Se
eu não ficar de olho a coisa desanda!
Entraram
na cantina e enquanto o prefeito Déo examinava embaixo das mesas, cadeiras, pelos
cantos, fazendo uma vistoria minuciosa, o ex-prefeito Dió avançava em direção à
funcionária e cochichou-lhe ao pé do ouvido o maior segredo do mundo:
-
Oh, minha querida! Tem um cuscuzinho daqueles que só você sabe fazer? Você não
sabe como eu sinto falta daquela delícia.
-
Deixa cum nóis, ex-prefeito Dió! Deixa esse home saí que o cuscuz fica pronto
numa zora, quentinho e derretendo na manteiga, dizendo assim: me coma! – disse
a funcionária.
Neste
exato momento, o prefeito Déo chamou o ex-prefeito Dió e disse-lhe:
-
Ex-prefeito Dio, venha cá! Você vai provar desse ‘manjar dos deuses’, não vou lhe
dizer o que é.
Na
frigideira estava um palmo recheado de carne, com aquela aparência de vermelho
bronzeado, que enchia os olhos e pipocava a boca de desejo. O ex-prefeito Dió
deu aquele trato e lambia os lábios:
-
Simplesmente divino, parece filhote de avestruz com caldo de polenta francês.
O
prefeito Déo chamou a funcionária e mandou trazer o outro prato que estava
pronto e se apresentava como um monumento suntuoso. Era um pedaço de carne,
parecido com peito de galinha, assado na brasa e escorrendo uma suculenta massa
de tomate, que lambuzava feito manteiga derretida. O ex-prefeito Dió
deliciou-se com a iguaria:
-
Que lembrança majestosa! Parece aqueles galináceos com mostarda dijon servidos
nos castelos de Vincennes, à beira do lago d’Idro Azur Camping Rio Vantone!
Maravilhoso.
-
Traga aquele outro prato – ordenou o prefeito Déo à funcionária.
Chegou
aquele bife maciço e mole, derretendo na boca e descendo para o estômago como
quiabo com gosto de queijo, de forma suculenta e gelatinosa, parecendo coisa
feita no azul celeste do céu e o ex-prefeito Dió estava maravilhado e
extasiado.
-
Que coisa deliciosa! Isso me sugere aquelas perdizes crocantes na beira do
Sena, observando as ondulações das águas levantando os barcos na sua perene
tranqüilidade. Magnífico!
-
Pode trazer o último prato, funcionária! – ordenou o prefeito Déo.
Apareceu
um pernil, delgado e esbelto, coberto por uma camada de tutano que deixava
qualquer terráqueo com água na boca. O ex-prefeito Dió caiu dentro. Não sobrou
nada.
-
Que sensação maravilhosa! Neste momento, deliciei-me com os cervos da floresta
de Fontainebleau recheado de miúdos de codornas húngaras e salpicado com molho
de chantelly importado. Sem comentários.
O
prefeito Déo chamou o ex-prefeito Dió e levou-o para o seu gabinete e disse-lhe:
- O meu governo está fazendo coisa que nenhum prefeito fez nessa terra. Eu transformei essa terra na terra do couro; eu descobri a vocação do couro que tinha essa terra e ninguém nunca viu; foi eu quem transformei essa terra em pólo coureiro internacional.
O
ex-prefeito Dió tomou aquele susto, mas continuou ouvindo o discurso do
prefeito Déo, ao tempo que olhava e observava aquela quantidade enorme de couro
espichado pelas paredes do gabinete.
-
Você está vendo esse couro do primeiro prato (couro de gia) vai ser exportado
para o mercado americano; esse couro aqui (de largaticha) do segundo prato é
melhor do que couro de jacaré, vai para o Japão; esse couro (de sapo cururu) do
terceiro prato já tem pedido de uma tonelada para a China.
-
O que V. Exa., prefeito Déo, quer dizer com isso? – perguntou o prefeito Dió
que sentiu o pé da barriga estremecer de dor.
-
Mais ou menos isso. Eu vou resgatar o tanque Velho, o de Santana e o tanque de
Beber para o criatório do futuro dessa terra: sapo, rã, giote, caçote, jia,
lagartixa, tilápia, tudo isso para produzir couro. Essa terra vai ser o maior
pólo de couro que nunca se viu neste mundo.
-
Aquele último prato foi o que? – Indagou o ex-prefeito Dió.
-
Aquilo foi burrego.
-
Burrego! Burrego que é filho de ovelha, que é amasiada com carneiro, que é
morto em matadouro! Ui, ui, ui. Essa desgraça de matadouro só fez infernizar
minha vida.
Suspense:
Depois de comer tanta carne para produzir essa quantidade de couro o
ex-prefeito Dió está em São Paulo fazendo tratamento de saúde. Aguardamos o
pronto restabelecimento do Digníssimo para que essa novelinha possa prosseguir
com seus verdadeiros artistas. E agora, esse matadouro sai ou não sai?
O
término dessa novelinha acontecerá no dia que acontecer a inauguração desse
Matadouro de Ipirá. Inaugurou! Acabou, imediatamente.
Observação:
essa novelinha é apenas uma brincadeira literária, que envolve o administrador
e o matadouro e, sendo assim, qualquer semelhança é mera coincidência. Eles
brincam com o povo e o povo brinca com eles.
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