domingo, 6 de dezembro de 2015

ACUNHA!

A Praça da Bandeira está infestada de mosquitos, o tal do Aedes aegypti. Digo, afirmo e provo. Estava eu, assistindo à sessão do Conselho de Ética pela televisão, é claro, numa boa, de bermuda e sem camisa; o calor era intenso, lá e cá. Na Comissão reclamavam do calor e o advogado reclamava da admissibilidade contra Cunha dizendo: “Eduardo não mentiu. Ele disse que não tem conta no exterior, ele disse que todas as suas contas estão registradas na declaração do Imposto de Renda. Qual a mentira que tem nisso?” Eu estava ligado na televisão.

“Não tem lei que obrigue qualquer brasileiro a declarar conta no exterior, se não é exigido por lei não é obrigatório. Onde é que está a mentira?” indagava o advogado. Eu observava a televisão e vi que um mosquito desceu em vôo livre e sentou no calombo do meu joelho. Eu desviei o olhar para ele e ele olhou para mim. Notei que aquele mosquito era transmissor do vírus chicungunia. Ele balançou a cabeça negativamente e lascou a picada. Dei-lhe um tabefe e senti dores e mais dores nas juntas e no braço esquerdo.

“Não, não, ele não tem conta do exterior, é tudo em nome da mulher dele, da filha dele, é trust (ou qualquer outro troço com esse nome), não é dele, ele só, somente só, é beneficiário, mas não é dele. Onde é que está a mentira? Indagava o advogado pela televisão. Outro mosquito desceu da televisão e aterrissou na batata da minha perna, era forte e musculoso, olhou para minha cara, sorriu maliciosamente, levantei a mão para dar um tabefe, ouvi: “sob tortura não vale”.

Na televisão, o advogado de Cunha argüia que a delação premiada sob tortura não podia ser levada em consideração. Pensei: ”Estão obtendo delação sob tortura?” O mosquito olhou para mim com aquela carinha descarada e eu percebi que ele dizia que “sob tortura não vale!” Eu coloquei o dedo em riste na sua cara e falei: “Que mentira mais deslavada!” e o mosquito inclinou a cabeça como querendo dizer: “Cadê a ética?” Senti que tinha que ser ligeiro e antecipei o tapaço, dei e matei o bicho, não nego, mas antes disso senti a alfinetada. Meu cérebro comprimia-se e diminuía, era a microcefalia.

Meio tonto, observei que estava sendo dominado por uma amnésia, que me levou a mudar de canal na televisão e parei num campo de futebol que ficava na rota do lamaçal de Mariana. Era um jogo misturado. O bandeirinha É Cunha, que escorregou e ficou todo sujo, mais sujo do que pau-de-galinheiro e, lá pelas tantas, não é que esse bandeirinha marcou um impeachment. Não entendestes? Marcou um impedimento. Não deu para entender? Marcou uma banheira. Tá dito.

Cinco mosquitos saltaram da televisão e deu para sacar que o que sentou na minha barriga transmitia dengue; o da coxa propagava chicungunya; o do dedão do pé era condutor do zica; o da perna era transmissor de microcefalia e o do braço era tirado a bacana e  transmitia Guillain-Barré. Observei claramente que Ipirá estava sendo dominada pela mosquitaria.

A banheira foi marcada por causa do nariz ou do dedão do pé da centro-avante Dilma, que fez um gol de bicicleta. Foi ou não foi banheira? O crivo é do bandeirinha É Cunha. É pessoal. Pode ser reflexo do ódio ou da cafajestagem. Se tivesse sido, comprovadamente, banheira de corpo inteiro com intenção de gatunear e o bandeirinha É Cunha não quisesse marcar, não marcaria, engavetava. Se a centro-avante Dilma soltasse “um por fora” para esse bandeirinha É Cunha, conhecido pela torcida pelo vulgo pombo-sujo, ele fecharia o par de olhos.

E aí a torcida tem razão porque sabe que esse bandeirinha É Cunha é um desses trampolineiros de marca maior e um chantagista cara-de-pau com pose de homem probo. Em campo, o goleiro P reclamou; também o zagueiro M não deixou por menos; o beque D esbravejou e o meio-campista B não deixou de graça. Vê lá se tem quem suporte essa falta de democracia em campo? É muito poder de decisão na vontade de um só pregoeiro! O jogo vai ser jogado com bicuda na canela, com o acinte das torcidas organizadas, mas golpe do sujo não passará.

Minha situação era vaxaminosa. Dominado e sob a batuta de cinco mosquitos. Sofrendo de dores na junta deixada pelo chicungunia e em processo de microcefalia, ainda resta pensar que para cada cinco mosquitos em 1m quadrado, existe um comando de um exército de 50 mosquitos combatentes que atacam uma casa; para uma ala de 500 mosquitos-bombas fuzileiros que partem para cima de um quarteirão; uma divisão de 5000 mosquitos que atuam como camicases atacando uma rua; não deixando de pensar em 50000 mosquitos que praticam atos terroristas nas praças; sem deixar de verificar que tem 500000 mosquitos de prontidão para atacar com mísseis um bairro; nunca esquecendo que 5000000 mosquitos estão invadindo Ipirá, uma cidade que tem que ter reservatório de água nas casas por necessidade premente, por questão de vida ou morte.

E eu! Com meu pensamento embotado, querendo saber: ONDE É QUE NESTA CIDADE DE IPIRÁ VENDE UMA DESGRAÇA DE UM VENENO PARA EXTERMINAR MOSQUITOS. E eu, com este pensamento pouco perceptível, fico indagando coisa sem coisa: hoje em dia, o pai não pode tocar a mão no seu de menor e a polícia de São Paulo dá cacetetada, joga bomba de gás lacrimogêneo e prende o de menor das escolas, pode ou não pode? Eu sei que um mosquito acaba com uma pessoa, mas será que um rebanho de mosquito pode acabar com uma cidade? Será que um verme psicopata, cínico e sem ética pode abalar uma nação?

Enquanto eu pensava desordenadamente, os cinco mosquitos começaram a cantar uma musiquinha: “Rará, rurú, o Ipirá é nosso”. E um deles bradou: “Tudo isso que você leu acima é mentira, a Praça da Bandeira não existe, vamos prá cima meu povo, vamos acunhar esse sujeito!” O outro afirmava: “Vamos que vamos, vamos acunhar essa cidade de Ipirá!” E eu pensando: “Quanto tempo dura uma amnésia de um povo?”

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