quarta-feira, 22 de outubro de 2014

COURO ESPICHADO.


Ipirá é uma grande vítima do devaneio. Ultimamente, definiram a vocação econômica desse município por decreto. É a coisa mais imponderável que possamos imaginar. Imponderável e fantasiosa. Por capricho não se atinge a face real das coisas, apenas aplica-se um ato de fazer modificações superficiais para melhorar-lhe o aspecto.

Os números que Ipirá apresenta são desfavoráveis em relação a Itaberaba e Feira de Santana, nossos vizinhos sombreadores. Quem tira a corda do pescoço de Ipirá é a fábrica de calçados, que não tem nada a ver com produção de couro no município. Ipirá é fornecedora de mão-de-obra.

Com o fabrico de carteiras acontece a mesma configuração. A matéria-prima das carteiras vem de longe. Ipirá é fornecedora de mão-de-obra. Em Ipirá é estabelecida a modelagem e confecção das carteiras dentro de um processo de barateamento da mão-de-obra para uma produção de grande poder  de competição no mercado.

Esse mesmo sistema poderia ser utilizado para um setor têxtil com possibilidade de manter perspectivas semelhantes ao das carteiras. Capacita-se e oferta-se treinamento aos trabalhadores. O tecido vem de fora. O empresariado organiza a produção e o poder municipal faculta o uso do Mercado de Arte (fracassou nesse sentido) para a comercialização. Isso pode dar certo.

A festa é fenomenal e foi um sucesso. Mede-se pela quantidade de gente e pela fuzarca. A feira para o artesanato do Malhador foi estarrecedora, teve gente que não descolou. O termômetro da feira são as vendas. Se as vendas não aconteceram, a feira não funcionou.

Fica difícil içar Ipirá sem projeto. Sem projeto Ipirá fica a deriva, como se dependesse do jogo de búzios, da sorte, de presságios e augúrios. Na tentativa de acerto incorre-se em equívocos.

O couro beneficiado em Ipirá é o dos curtumes do Malhador para o artesanato local, que vive uma crise persistente. A transformação requer uma operacionalidade simples (costura, colagem, etc) e muita destreza, aproveitando-se uma mão-de-obra com qualificação média e de rudimentos tecnológicos simples. Ipirá não é pólo neste setor. Não tem fábricas nesta área como Franca em São Paulo. Temos fabricos em garagem. Não temos uma área apropriada para a atividade. Está bastante desorganizado, desestruturado e desconexo para ter o rótulo de pólo. Isso é uma simples abstração.

Insistem em dizer que Ipirá tem vocação para bacia leiteira. A realidade da seca nega veementemente essa abstração. Produção de leite não é condizente com a nossa realidade. Se Ipirá ficar nesse patamar de abstração estará fadado ao fracasso  mais cedo do que imaginamos. Qual é a produção viável para Ipirá? Qual seria a atividade de produção para Ipirá abrir o lacre do éclair e ter produção, beneficiamento, transformação e venda em progressão?

A realidade é imprevidente, dura e  causticante e não será submetida com abstrações. Na visão do jacu e do macaco, Ipirá é uma miragem, no formato de uma galinha gorda, apetitosa e recheada por seis milhões de reais mensais, com alguns espertalhões querendo comer sua batatinha.

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