Aos SENHORES vândalos.
Não peço muita coisa não, só um pouco de
paciência. Eu sei que é verdadeiro que a Mata da Caboronga caminhava à passos
largos para um processo de extinção e inevitavelmente iria sucumbir, por não
suportar a força das mãos que devastam e destroem; destroem e devastam, até
conseguirem o deserto impermeável e indestrutível que irá sufocar as mãos
cansadas e sem forças, que não encontrarão o que devastar.
Só um pouco de calma, é muito pouco o
que lhes peço. O caminho da revitalização da Mata da Caboronga não é um
trabalho que se possa executar com o milagre da multiplicação, nem do dia para
a noite, muito pelo contrário, é no trabalho do dia a dia, de mãos que vão
cavar o barro e plantar planta por planta, uma a uma, esperar o tempo que é do
tempo, para ver e perceber que tudo o que se queria não estava por acabar.
Só uma oportunidade, nada mais do que
isso. Permitam que mãos que plantam árvores tenham a chance de preservar o que
resta e acrescentar mais e mais árvores, até fazer da mata uma floresta, nem
que seja em sonho. Permitam que se faça. Permitam! Sabemos da força das mãos
que arrancam as árvores, as mudas de árvores, os brotos das árvores. Em muito
pouco tempo, centenas. Em pouco tempo, milhares. Em um pouco mais de tempo, uma
mata. É só uma oportunidade o que se pede.
Só uma chance, não é mais do que isso.
Todo mundo sabe que a mata tinha água potável, doce e cristalina, jorrando
constantemente. Era minação. A salvação do oásis. As mãos arrancaram as
árvores. A fonte secou. A Mata da Caboronga perdeu a doçura da água. Secou,
perdeu Caboronga! Não é uma retomada simples e da noite para o dia. Quem for
visitar a bica da Caboronga, não encontrará nada, porque não tem água, não tem
nada. A recuperação da fonte da Caboronga é possível dentro de um tempo de
cinco ou seis anos, depois que se fizer toda a recuperação vegetal do entorno
da minação. Quando mãos arrancam uma muda, o tempo pula para sete ou oito anos.
É só uma chance; só isso!
Só um pouco de respeito, nada mais do
que isso. A Reserva Ecológica Caboronga Rachel
Carson é uma propriedade privada. Tem dono, sim! Mas, caminha para ser uma
propriedade ecológica da humanidade, de todo povo da mata, de todo povo de
Ipirá, de todos os que amam a natureza. Uma propriedade de todas as mãos; mãos
dadas, entrelaçadas, suadas, sujas de barro, enlameadas e com as unhas
alimentadas pela terra fértil da Caboronga.
Quando Jolival Soares chegou à
Caboronga não trouxe nas mãos tratores e correntes, que possuem a obsessão das
pastagens, como aconteceu no fundo do Monte Alto e não apareceram as mãos do
PARE! Com um pouco de respeito, perceberemos, todos nós, que Jolival Soares
está chegando à Mata da Caboronga nas pontas dos pés, para não perturbar seus
semelhantes, para os quais ele só deseja estender as mãos.
Procurei uma pessoa, em Ipirá, para
assinar essa carta-manifesto e não encontrei. Não que eu tenha sido muito
exigente, não é isso, é que teria que ser alguém muito especial e muito
importante, alguém que não pode ficar de fora nessa majestosa tarefa de salvar
a natureza e a vida. Só podia ser você, não podia ser outra pessoa. Você!
Assinado: a CONSCIÊNCIA das mãos que
estão arrancando mudas e árvores na Reserva Ecológica Caboronga Rachel Carson.
2 comentários:
Belíssimo texto Professor.
Quero aqui fazer um relato.
Quando cheguei a Ipirá, à aproximadamente 22 anos, tinha como lazer, de vez em quando, visitar a Caboronga. Outrora um lugar de extrema e rara beleza da nossa querida Ipirá. Via sempre no trajeto seus moradores carregando no lombo dos burros "carotes" de água mineral pra vender nas ruas da cidade. Alguns devem se recordar com carinho. Mas, com o passar dos anos tudo isso fui se acabando, mesmo com o alerta das entidades como a AGAI e AGAB que ano após ano alertavam sobre a devastação daquele lugar. Na última vez que estive na Caboronga lágrimas correram dos meus olhos por ver qua da bica não pingava uma gota sequer da tão preciosa água, que um dia já abasteceu a antiga "Santana do Camisão".
Hoje vejo o carinho do Dr. Julival com a Mata da Caboronga, denominada agora Reserva Rachel Carson, que a propósito digo não ser conhecedor da biografia. Observo com "Esperança" de que um dia possa levar meus filhos pra visualizar toda a beleza que um dia vi quando aqui cheguei.
Como bem disse o Professor Agildo, a água pode voltar a jorrar na Caboronga. Basta, para isso, devolver a ela as árvores que lhe foram tiradas. Pois não foi por falta de chuva que a água da fonte da Caboronga parou de jorrar. Foi a falta de árvores nos topos e nas encostas dos morros que impediu que a água da chuva reabastecesse o lençol freático que alimentava as suas nascentes e os riachos, fazendo com que o nível da água no lençol baixasse e a água deixasse de fluir.
Se todo mundo ajudar na revitalização da mata da Caboronga, a natureza, agradecida, fará jorrar de volta a água, tão rápido quanto formos no replantio, e tudo voltará a ser maravilhoso como antes.
No meio das árvores de maior porte se pode plantar cacau, café, caju, bananeiras e diversas outras árvores frutíferas e que elas, além de ajudarem no sustento das famílias residentes, ajudam também na alimentação dos pássaros e animais, na proliferação deles e das próprias plantas e, consequentemente, na revitalização da Caboronga.
Para ajudar a revitalizar a mata da Caboronga não basta só querer plantar árvores. É preciso saber plantar e também cuidar delas, para que elas cresçam rápido e saudáveis.
Foi pensando nisso que, em 5 de dezembro de 2013 foi criada, em Ipirá, a ARECA - Associação Reserva Ecológica da Caboronga, para cuidar da sua revitalização e da preservação.
Conclamo a todos (amigos da Caboronga, amantes da natureza, povo de Ipirá) a conhecerem a ARECA e se juntarem a ela nesta grandiosa tarefa. A natureza, penhorada, agradece!
Gabriel Eustáquio de Rezende
ARECA
(75) 3024-7957
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