domingo, 12 de fevereiro de 2012

HOMENAGEM (parte 14).




O Trio Estrela do Norte foi contratado para fazer um forró na fazenda Caipora, num leilão, que o dono da fazenda Temístocles vinha organizando fazia três meses. O trio era transportado em cima de uma caminhonete, que passou pelo bar de Carlito e pegou um isopor grande cheio de gelo e algo mais.



Na estrada de chão, uma poeira desembestada embaçava todos que estavam em cima da caminhonete e um pequeno incidente fez a caminhonete parar por meia hora, motivo que jogou o zabumbeiro Dodó num lampejo de curiosidade e manha, que fez com que ele abrisse o isopor para verificar o que continha, notou que estava com cerveja, o que o levou a sugerir:


- Essa cerveja é para dar aos convidados, então se a gente vai receber lá, vamo tomá a nossa parte logo aqui.



Sem pestanejar o trio caiu dentro e mandou ver, Dodó comentava:


- Êta que eu hoje tô bebendo igual a pinto com sede e esse isopor eu tomo é numa sentada.



Era só pegar a garrafa, abrir utilizando os dentes e o líquido escorregava pela garganta. Meia hora foi o suficiente para o trio fazer um estrago possante. Pegaram as garrafas vazias, colocaram as tampas e botaram-nas no isopor.



Quando chegaram na fazenda Caipora, a malhada estava abarrotada de cavalo. Temístocles, que estava acostumado a pegar boi remetedor com a unha, mostrava um corpo musculoso e uma valentia inigualável, sendo o mesmo, muito temido pelos peões da região, aproximou-se da caminhonete e pediu para dois vaqueiros carregarem a caixa de isopor, ao tempo que comentava:


- Com a venda dessas cervejas, eu quero pagar ao trio de tocadô; com a quantidade de gente qui ta aqui hoje, não vai sobrá nada. Vamo desceno meus tocadô e pode ir puxano o fole que é prá dá animação a esse povo.



O zabumbeiro Dodó só ouviu o início da conversa e deduziu para si: “a cerveja é prá vender e não prá dá!”. Seu sangue gelou, a garganta apertou e deu uma dor na barriga, que não queria parar.



O Trio Estrela do Norte começou a tocar. As moças solteiras passaram o olho no zabumbeiro e começou uma concorrência para ver quem seria a princesa contemplada por aquele pop star da música forrozeira na região de Ipirá. Uma trouxe um peito de peru; outra um pedaço de doce goiabada; alguém trazia um sorriso; teve delas que soltou um psiu e por aí a coisa andava, ao tempo que a barriga do zabumbeiro apertava de dor. Maria do Beiço Preto logo mostrou-se saliente e manifestou-se abertamente e sem subterfúgio para cima do zabumbeiro, sendo direta a sua pergunta:


- Eu posso lá saber a graça do galão de Roliude?



- Dona eu num sou eu e num posso a dizê meu nome pra não ficar mal afamado – falou o zabumbeiro.



- Oxente, meu boi zebu! Se vos-mi-cê num ta prá dizê o nome, euzinha aqui vai batizá vos-mi-cê e bem batizado – falou Maria do Beiço Preto.



- Num é isso não dona! É qui eu tô cum uma ingrisilha na barriga, que hoje num sobe nem vara prá derrubá imbú – disse o zabumbeiro.



- Eu duvi-d-odó, que um saruê da tua qualidade, butano uns zóio de marruás numa galinha butano ovo, que num queira prová da canja – falou Maria Beiço Preto.



- Ô dona! Sabe cuma é, eu nem sou de injeitá nem jumenta cismada, mas tem dia qui cobra num dá bote nem em bengo de gravatá.



- Oxente, meu marruás! Eu tenho uns mode de fazê cum que meu galo de terrêro num fique de crista baixa de manêra arguma.



O vaqueiro encostou em Temístocles e deu a triste e péssima notícia:


- O isopor de cerveja tá quase vazio, arguém tomou toda cerveja e butou os casco vazio prá inganá a gente.



Temístocles virou uma arara, esbravejou, parecia uma trovoada cortando o céu da fazenda Caipora:


- Vamo butá os secreta pra discubrí quem foi o salafrário que fez isso e eu garanto que esse traste que cometeu essa disorde num vai saí daqui intêro, pelo menos dois cunhão eu jogo na malhada prá Duque e Biriba inchê a barriga.



O zabumbeiro ouviu aquela conversa e tremeu. A dor na barriga ficou insuportável. Olhou para os cachorros Duque e Biriba, que estavam com os olhos em sua direção, e os dentaços salientes faziam a baba descer pela boca, ouviu os cachorros falarem: “vou te comer”. Sua barriga dava pontada, virou para o sanfoneiro e falou:


- Essa festa tá sem graça, num tem mulé e nem uma cachaça truxeram prus tocadô, bota um zabumbeiro im meu lugá, qui eu vou caí na lapa do mundo.



O zabumbeiro estava com a cabeça pesada e não sabia nem pensar direito, virou para Maria do Beiço Preto e falou:


- Ô dona! Hoje eu tô derrubado e eu tenho que ir às pressa prá Ipirá, pra fazê uma reza cum Miro Buziguim, sinão eu vou ficá ismuricido.



- Eu posso até ajudá vos-mi-cê, mas vos-mi-cê tem qui dá uma prova pra mim de qui é um marruás montadô e qui num fica ismuricido – disse Maria do Beiço Preto.



- Mas, dona! Hoje eu num posso dizê nada, cuma é qui a dona qué qui eu diga arguma coisa, se hoje eu tô nus trimilique – disse o zabumbeiro.



Maria do Beiço Preto pegou uma vela do tipo que leva um mês queimando para depois ficar o pitôco, mostrou ao zabumbeiro e depois falou:


- Vou ajudá vos-mi-cê, mas com uma condição, se eu te pegar no caminho, vos-mi-cê vai tê que mostrá qui é marruás, se não fô dessa devida manêra, vos-mi-cê pode disconsiderá de minha ajuda.



- No aperto qui eu to aqui, a dona pode acendê logo essa vela prá vê si quando eu chegá im Ipirá eu vorte a sê o Dodó de Pijú. Ô dona! Mi aponte logo o caminho prá Ipirá e seja o qui a dona ta astuciano.



- Vos-mi-cê vai pur aquele caminho que vai dá in Ipirá, vá andando do jeito qui vos-mi-cê quisé, se eu pegá vos-mi-cê no caminho, vos-mi-cê já pode ir arriano as calça – explicou Maria do Beiço Preto.



- Ta feito Dona! Intonce o caminho é aquele? – indagou o zabumbeiro.



Pelo caminho levava cinco horas para chegar à Ipirá, por uma vereda eram duas horas e meia. Maria do Beiço Preto seguiu pela vereda, carregando a vela, e esperou Dodô na encruzilhada, olhou o rastro e observou que ele não tinha passado, preparou-se, ficando do jeito que veio ao mundo. Quando o zabumbeiro Dodó surgiu, não teve nem tempo de se assustar, Maria do Beiço Preto avançou que nem carcará pegando pinto e jogou o zabumbeiro no chão, dando uma chave na sua cintura. O zabumbeiro caído, sem roupa, procurava explicar-se:


- Ô dona! É a primeira vez que me acontece uma disgrameira dessa, num vá ficá pur aí falano as coisa qui num deve sê falada prumode das língua grande.



- Ó, meu É Roflin! Num se aveche não qui o seu negoço vai funcioná agora mermo – afirmou Maria do Beiço Preto.



Maria do Beiço Preto pegou a vela de dois metros e colocou nas costas do zabumbeiro e foi descendo, quando chegou na posição tentou introduzir a vela. O zabumbeiro mais esperto do que Satanás em época de Quaresma, trancou o que devia ser trancado e a vela encontrou a porta fechada, o zabumbeiro saltou fora:


- Oxente, dona! Qolé a sua, dona? A dona ta mi estranhano ou a dona é maluca? Querê butá uma vela desse tamanho no meu furico, ta pensano o que dona? Ta mi achano cum cara remelenta! Se oriente dona! No meu orbílio num ientra nem vento de peido que dirá um dismantelo desse. A dona num cunhece o qui é um cabra arretado, virado da disgraça, que disputa jega cum cavalo garanhão e um rebanho de cabrita eu toro com dois bodego, prá dona vim querê atravessá uma vela no meu butiá, é mermo qui querê derrubá o nome do zabumbeiro conhecido im todo o Brasil como o maió garanhão.



- Mas, meu É Roflin de Roliude! Vos-mi-cê tá brocha, eu queria sará vos-mi-cê – disse Maria do Beiço Preto.



- Oi, dona! Só tô na pricisão de uma reza, adispois qui Miro Buziguim fizé isso, nem buraco de formigueiro vai escapá – disse o zabumbeiro.



Na quarta-feira, dia da feira livre, Temósticles procurou seu Pijú e apresentou a prestação de contas, mostrando o contrato do Trio Estrela do Norte, constando um valor de 5 mil cruzeiros e uma nota com as despesas das cervejas, no valor de 15 mil cruzeiros, sendo que seu Pijú teria que reembolsá-lo em 10 mil cruzeiros.



O menino Dodó estava doente com uma dor de barriga que durava três dias e as dores ficavam mais agudas, neste exato momento, ao tempo que, o menino ouvia toda aquela conversa, tremia e pensava, chegando a uma conclusão clara e evidente em seu pensamento: “É assim que uma pessoa se lasca.”

Um comentário:

Rogerão da tora disse...

AGILDO, ESSA FOI DE ARROMBAR E O NOSSO HERÓI ZABUMBEIRO, POR POUCO NÃO FOI "ENRRABADO" POR MARIA DO BEIÇO PRETO. O GALÃO DE RULIUDE IA SE LASCAR POR TER TUMADO "NA TORA" TODO ISOPOR DE SEU TEMÍSTOCLES.O PIOR É QUE DODÓ FICOU NA SITUAÇÃO "SE FICAR, O BICHO COME(OS CACHORROS DE SEU TEMÍSTOCLES JÁ TAVA LAMBENDO OS BEIÇOS PREPARADOS PRÁ SABOREAR E COMER OS CUNHÃO DE DODÓ).SE CORRER, O BICHO PEGA(A MARIA DO BEIÇO PRETO JÁ TAVA DE "BUTUCA" NA ENCRUZILHADA ESPERANDO O ZABUMBEIRO "CAGÃO" PRÁ ENFIÁ NO FI-Ó-FÓ DE DODÓ UMA VELA TAMANHO GIGANDE E AINDA POR CIMA ACESA.LOGO ELE FILHO DE PIJÚ E IRMÃO DE RAMIRO "TACO ROXO" PASSAR POR UMA ENRASCADA DESSA E IMAGINA SE ESSA ESTÓRA CAÍSSE NAS LÍNGUAS FERINA DE ZÉ PAPAGAIO E NENEM MAÇARICA,OS MAIORES FOFOQUEIROS DE IPIRÁ NA ÉPOCA. EM DEZ MINUTOS TODA A CIDADE JÁ ESTARIA INFORMADA DO OCORRIDO E DODÓ, NOSSO ZABUMBEIRO GARANHÃO,INDOLATRADO POR TODOS,ESTARIA ATÉ HOJE LASCADO COM SUA RE-PUTA-ÇÃO TERÍVELMENTE ABALADA. UM GRADE ABRAÇO, AMIGO AGILDO E PARABÉSN POR MAIS ESTE GRANDE CAUSO.